segunda-feira, dezembro 14, 2009

Crónica da Ronda dos Aliados - 6.11.09

A noite começou com a habitual distribuição de comida, das padarias e pastelarias, pelos sacos.
1-Lá fomos nós(eu, Joana e Nádia) para a nossa primeira paragem em C., já estavam à nossa espera o Sr. A. e o Sr. A.. Como não ia nenhum homem ficámos a pensar que falar de futebol nesse dia não daria certo e ainda por cima o porto tinha perdido, mas lá nos desenrascámos estivemos a falar sobre o aniversário do filho do Sr.A. Parece que o filho fez festa de aniversário e o convidou para ir almoçar lá a casa e o Sr. A. foi até lá. Posteriormente chegou o J. e o R. que como é habito vinham todos animados. O J. continua com aquela conversa das namoradas e todos nos rimos com ele. O R. não fala muito sobre ele só sabemos que trabalha numa fábrica. O Sr. A. esteve a dizer-nos que ia a duas consultas, uma no dia 25 e outra no dia 26, disse-nos ainda que já não bebe nada em casa, mas quando vai para casa da filha bebe um copito.
2- O Sr. Manuel já estava a dormir e não quis falar connosco. Pelo que parece da última vez que o resto da ronda foi lá (eu não estava) ele falou um bocadinho mais sobre ele. Falou do inchaço das pernas e ia começar a falar sobre a família mas depois fechou-se em copas.
3- Estávamos nós mesmo a chegar perto do Sr. F. quando nos apercebemos que estavam demasiadas pessoas para pedir saco, inclusive aquele rapaz que já foi várias vezes mal educado para connosco, como éramos só raparigas decidimos dar a volta e ir embora para não nos colocarmos em risco, até porque só tínhamos 3 sacos.
4- Parámos debaixo da ponte da rua do J.N. entregámos dois sacos a um casal que dorme por lá e um outro saco a um rapaz que dorme mesmo debaixo da ponte, esse último rapaz já estava a dormir. Entretanto umas pessoas que estavam lá na rua disseram-nos que o rapaz às vezes não aceita os sacos, que é um rapaz bom mas que de vez em quando lhe dão ataques de fúria...
Assim foi mais uma ronda, a Nádia, que veio substituir o Raul, ainda se está adaptar mas acho que está a correr mesmo muito bem a sua integração na equipa, tem muito jeito para falar com os nossos amigos e está cheia de vontade de dar, tentemos também nós aproveitar vontade que ela traz para também nós nos podermos dar mais.
Queria aproveitar ainda para em nome da equipa agradecer ao Raul pelos 2 anos e meio(acho eu!) de uma colaboração muito positiva e que o futuro lhe reserve muitas coisas boas com esta nova profissão.

Maria João Pato

terça-feira, dezembro 01, 2009

Crónica da Ronda da Boavista

Uma boa história é sempre uma boa história! Hoje não será protagonizada pelo Sr. A ou o Sr. G, nem terá lugar na noite do Porto.


Esta história que vos proponho ganhará vida numa sala de cinema, bem próxima das vossas casas, imagino, e conta-nos a amizade que se desenvolve entre um jornalista do L.A. Times, Steve Lopes, e um sem-abrigo, Nathanlel Ayers, envolto num misterioso passado musical.
À medida que a trama se vai adensando várias questões são colocadas ao espectador: Será possível a "amizade" entre duas pessoas tão distintas? Quais os limites da ajuda ao próximo? Será possível transformar o outro?
O filme chama-se "O Solista" e transpõe para o grande ecrã um retrato biográfico de Steve Lopes inspirado em factos reais.
Fica o convite!

Um grande abraço,

Rui

Crónica da Visita às Aldeias - 21.11.2009

Onze horas, o ponto de encontro ainda não conta com muita gente…
Hoje somos apenas 8 voluntários, que apesar do dia invernoso mantemos o ânimo. A viagem corre bem e chegamos a Candemil. Cá o tempo parece querer dissuadir-nos, mas o almoço retempera-nos as forças e a boa disposição aumenta. "Fio dentário ou fio dental?" Eis o início de divergências… Nada que não tenha servido para soltar umas gargalhadas e partirmos mais sorridentes para as nossas aldeias.
Nem sempre as disponibilidades são o que queremos, e desta vez Candemil e Basseiros estão apenas com uma pessoa. E como é melhor irmos acompanhados para sermos também melhor companhia, lá nos dividimos e vamos aos pares.
Eu tenho a companhia da Marta, cá em Candemil.
Começamos como sempre, pela casa da D. Aurélia. Hoje ainda está a acabar de limpar a cozinha e diz-nos para nos sentarmos. Puxamos conversa, as histórias surgem, ficamos a saber mais da semana que passou, do frio, de si. Folheamos um álbum de fotografias antigas, e com gosto diz-nos como eram as colegas de trabalho, as saídas pelo Marão, falou dos filhos, do irmão, da família do Brasil. Ganha brilho, vida, e nós com ela.
Hoje é dia de missa e, por isso, esperamos que se arranje para a cerimónia. Ao contrário das outras vezes, demorámo-nos mais nesta casa. Mas ainda há tempo para irmos a casa da D. Alda, vamos as três. Recebe-nos apressada, a missa que é daqui a 45 minutos, mas que é preciso sair com antecedência, pois os paralelos não ajudam à caminhada.
Enquanto troca a roupa, ouvimos "as meninas vieram com esta chuva?!". Fica contente por nos ver, mas a pressa não deixa sermos companhia muito tempo. Ficam os cumprimentos e a certeza de outras vindas.
Ficamos as duas novamente, e ainda temos de passar pela casa da D. Maria do Carmo. Desta vez está no quarto, no sofá. Está bem, satisfeita com a nossa companhia. Vai contando como passa os dias, de como os filhos insistem para que vá para o pé deles, fala do Natal com alegria, a possibilidade de estar com quem ama, de se sentir bem acompanhada. Apesar da conversa fluir bem, na hora de se levantar para comer, fica, mais uma vez, a sensação de impossibilidade… Andar é mais do que um grande esforço, é um desafio que nem sempre corre bem. Despedimo-nos com um "até breve!".
A chuva continua a cair quase até ao Porto, o corpo cede ao cansaço e ao escuro que se pôs. Vêm aí mais dias para recebermos o sol, ou, pelo menos, para levarmos o brilho às nossas aldeias.

Isabel | Candemil

Crónica das Aldeias - 07.11.2009

O frio chegou e um piquenique no jardim atrás da Igreja já se torna inviável. Fomos então para uma casa onde normalmente se dá a catequese. Depois de uma sopinha quentinha, entre outras coisas, partimos para as nossas visitas.

Desta vez começamos por visitar a D. Conceição, que se encontrava em casa e sentia-se engripada. A lareira já estava acesa e foi junto a ela que durante algum tempo conversamos sobre os mais diversos assuntos. Desde o marido que faleceu há alguns anos, dos problemas que teve com um dos filhos, da forma como vivia antigamente,… e de quanto lhe faz bem receber as visitas dos vários voluntários, … Vimos também algumas fotos e fez questão de mostrar o seu enxoval. Muito contente está por saber que brevemente irá receber o que pede já algum tempo – um cão.
Perguntou-nos como fazíamos para almoçar e assim que soube do nosso piquenique fez questão de nos oferecer presunto para podermos fazer umas boas "sandocas".
 A seguir fomos ter com a D. Deolinda e a D. Maria (a D.Aurora encontra-se em França).
Ambas se encontravam na cozinha junto à lareira que não estava acesa (pois a chaminé tinha de ser limpa).
Mais uma vez fomos surpreendidas ao ver a D. Maria "fora da sua cama" e vestida!! Durante algum tempo esteve acamada mas parece que agora deu um rumo diferente à sua vida. Ambas estavam bem-dispostas se bem que com algum frio.
Próxima e última visita foi às irmãs D. Dulce e D. Arminda. Em casa apenas estava a D. Dulce e a D. Arminda que lhe estava a fazer companhia enquanto restante família tinha ido à missa. Como estava frio e estava a descansar acabamos por conversar durante algum tempo no seu quarto.
Assim que terminamos as visitas e a nossa oração, partimos rumo ao Porto.


Ana Machado | Basseiros

terça-feira, novembro 24, 2009

precisamos voluntários!

Olá!

Queres dedicar dois minutos do teu tempo e ganhar algo com a visualização deste vídeo:

Experimenta, clica no link: 



O FASRondas é um grupo de voluntariado social, que actua em cinco vertentes diferentes Famílias, Aldeias, Sem Abrigo, Imigrantes e Séniores.
Neste momento estamos a precisar de pessoas que tenham vontade de ajudar, dar um pouco de si e cuidar do outro. Todos juntos poderemos fazer mais e melhor e contribuir para uma cidade mais solidária e fraterna.
Se te identificas com esta missão junta-te ao nosso grupo!
Precisamos de:
Vertente Aldeias
6 vagas
Nesta vertente efectuámos visitas a 4 aldeias de Amarante, com uma população idosa maioritariamente feminina, que nos recebe com um grande sorriso, e apenas precisamos de tempo para estar e ouvir. Estas visitas marcam a diferença na vida de todas as pessoas que acompanhámos. São criados laços de amizade, onde está presente a partilha e com o intuito de tornar a solidão menos notória.
As visitas são efectuadas mensalmente, ao sábado, com partida do Porto pelas 11h e chegada às 19h.

 Vertente Sem Abrigo
5 vagas
Sendo que quatro delas, têm de ser preenchidas por voluntários do sexo masculino, e um deles com carro.
Na vertente temos cinco trajectos diferentes, sendo cada um deles composto por cinco voluntários, as visitas são feitas todos os domingos à noite, com saída junto ao CREU na Rua Nossa Senhora de Fátima, pelas 21h45 e término entre as 24h00/ 01h00 dependendo do trajecto.
Aos nossos amigos da rua levamos carinho, amizade, vontade de estar e ouvir!
Se nos quiseres conhecer um pouco melhor espreita o blog:
http://fasrondas.blogspot.com/

Podes enviar um e-mail para, no caso de estares interessado(a) especificamente nestas vertentes, ou em qualquer uma das outras, até ao dia 05 de Dezembro.
 A sessão de esclarecimento será no dia 10 de Dezembro no CREU, pelas 20h00.


Esperamos por ti!
Um abraço.

FASRondas
Porto, 23 de Novembro de 2009

segunda-feira, novembro 23, 2009

Crónica da Visita aos Imigrantes - 15.11.2009

No arranque deste ano conseguimos garantir a visita à Unidade Habitacional de Santo António (UHSA) todas as semanas, com o grupo estável, embora sintamos ainda que há falta de voluntários para esta vertente.
Chegámos ao portão debaixo de uma chuva torrencial, ao atravessarmos o jardim ficámos completamente encharcados, mas, como sempre, fomos visitar pessoas que se calhar contavam connosco, não os podíamos desiludir.
Depois das apresentações reparámos que a maior parte não conseguia falar connosco, não sabemos falar russo, alemão, crioulo, chinês, …….. Tentámos, como sempre fazemos, encontrar um dos elementos que nos sirva de intérprete, mas os que havia não queriam deixar de ver o jogo que estava a ser transmitido na televisão.
Não desistimos e começámos o jogo do quebra-gelo, a pedir a cada um que se apresentasse.
Começámos nós a jogar, e fomos arranjando companhia, conversámos um pouco, e descobrimos que ainda estavam mais, e foram chegando, aos poucos. Foi o dia em que encontrei mais gente, e que muitos estavam lá há um dia, ou dois, tão pouco tempo.
Croatas, Romenos, Russos, Angolanos, Nigerianos, Guineenses, Marroquinos, Chineses, Brasileiros, Cabo Verdianos, estas foram as nacionalidades, que no meio da conversa e do convívio consegui saber, porque alguns deles não quebraram o gelo.
Despedimo-nos, como sempre, sem saber se nos voltamos ou não a encontrar da próxima vez, e com a sensação de que para uma boa parte deles proporcionámos um bocado de tarde diferente, assim o esperamos.

Valentina


Crónica da Visita aos Imigrantes - 8.11.2009

Mais um domingo à tarde, mais uma visita à USHA. São três os voluntários que, acompanhados por uma viola, se deslocam à unidade para passar a tarde na companhia dos "nossos" queridos imigrantes.
Como sempre, somos bem recebidos pelos seguranças, que já nos conhecem. Dirigimo-nos à sala onde guardamos o nosso material e já pelo corredor vemos caras familiares de indivíduos que, infelizmente, ainda aguardam a decisão do tribunal quanto à sua saída, quer da UHSA, quer de Portugal.
Dos cerca de 20 e poucos detidos presentes na sala de convívio, pelo menos 15 já nos são conhecidos, recebendo-nos ora com um sorriso, ora com um abraço. Alguns, até do nosso nome se lembram, o que nos deixa bastante orgulhosos do nosso trabalho: a nossa presença não lhes passa despercebida e é apreciada. Como já nos foi dito várias vezes…"obrigado por virem cá, ter connosco! é bom ver caras novas, faz com que o tempo passe mais rapidamente…". Sim, porque o tempo ali é como que se estivesse parado.
Conversamos com eles, partilhamos as suas preocupações, aborrecimentos, queixas, mas também rimos com eles: ouvimos as suas alegrias, coisas engraçadas que aconteceram nas suas histórias de vida tão turbulentas e, no final, apercebemo-nos de que, afinal, cada um de nós voluntário tem coisas em comum com cada um destes imigrantes ilegais detidos, o que nos relembra o quão iguais todos nós seres humanos somos.
Na despedida, estamos conscientes de que possivelmente algumas daquelas faces nunca mais veremos na vida (ou quem sabe, e por ironia do destino, os encontremos quer noutro contexto, quer, por exemplo, numa visita nossa aos seus países de origem). Contudo, sentimos que embora o nosso contacto tenha sido efémero, não foi sem dúvida supérfluo ou inútil, e ainda que nada possamos fazer para melhorar as suas situações cá fora, acreditamos que as nossas palavras de força, optimismo e coragem fazem diferença nas suas vidas.

Cláudia Henriques

Formação toxicodependência dia 3 de Dezembro 21h15 CREU

Olá a todos!
 
A formação em toxicodependência está agendada para dia 3 de Dezembro, pelas 21:15h, na biblioteca do CREU, com o Fernando Couto, técnico do CRI Matosinhos.
Esta será uma formação de carácter muito prático, o Fernando tem cerca de 15 anos de trabalho de rua, pelo que poderá esclarecer muitas das nossas dúvidas, e dar-nos algumas informações preciosas para o trabalho que desenvolvemos.
 
A formação é obrigatória para todos os voluntários da vertentes dos Sem Abrigo, e para os voluntários da vertente das Famílias que trabalhem directamente com casos de família que estão ligados a toxicodependência. No entanto, a formação é aberta a todo o FAS.
 
Pedimos que confirmem por favor a vossa presença / ausência para podermos tratar de todos os detalhes de logística, até porque a formação vai ser aberta a outros grupos que tenham interesse em participar.
 
Um beijinho e uma excelente semana para todos!
 
Sara

quinta-feira, novembro 19, 2009

Crónica das Aldeias 24.10.2009

Vamos lá falar um bocadinho das senhoras de Bustelo


Começando pela D. Maria, admiro a sua força de vontade. Estando "presa" a uma cadeira de rodas, surpreende-se a ela própria e aos outros quando faz as suas "caminhadas" agarrada ao varandim ou mesmo ao seu andarilho. Ela adora vestir-se com cores garridas e dos tons quentes - vermelho e laranja. Foi com estas cores que fez as suas primeiras pinturas com aguarelas. Sempre bem-disposta e alegre, gosta de recordar os tempos em que se dedicava ao trabalho no campo e da casa onde vivia, um grande quartel.

A D. Celeste gosta e precisa de se manter ocupada e foi com grande genica e entusiasmo que fez as vindimas deste ano, juntamente com a família. Tem a sorte de ter uma vizinha e amiga que mora em frente (D. Maria, também) que lhe faz muita companhia. Ela tem muita preguiça para comer, mas parece-me que faz uns bons petiscos quando quer!

A D. Fernanda adora os netos e preocupa-se muito com eles. Encontramo-la desta vez a dar de comer às galinhas e a uns lindos pintainhos, outra das suas paixões. Quando voltamos com ela para casa estava o jantar já ao lume, deviam ser umas 16:30 – que cedo! E era cá um cheirinho. Estivemos a conversar junto à lareira e passamos ali uns minutos agradáveis.

E chegamos a casa do nosso querido casal – D. Emília e Sr. Aurélio. Ele estava um pouco atrapalhado com a asma e também voltou a falar da leucemia que o obriga a ir periodicamente ao hospital. Estiveram a contar os tempos difíceis que passaram e os sacrifícios que ambos tiveram que fazer para sustentar a família, mas é com orgulho que o Sr. Aurélio percebe que conseguiu passo a passo fazer o melhor por eles.

Sofia Meister | Bustelo

terça-feira, novembro 10, 2009

Crónica da Ronda da Areosa - 1.11.2009

Começa a chegar o frio... Todos o sentimos, mas com certeza sentirão mais aqueles com quem estamos! Acima de tudo é bom ver como os minutos pautados pelas conversas, ora de como correu a sua semana, ora das suas histórias e vontades, pautados pelos sorrisos mas também pelos olhares, lhes aquecem o coração!
E mesmo com o frio, lá estaremos, sempre para mais uma semana!

Joana Sampaio

segunda-feira, novembro 09, 2009

Crónica das Famílias - 10.09

Retomamos as Crónicas mensais desta vertente, depois de uns meses sem partilhas virtuais.

Comecemos pelos rostos novos. No momento presente inicia-se mais um ano no FASrondas, estamos na "estação dos novos voluntários". Nas Famílias temos seis pessoas recém chegadas. Sejam todos muito bem-vindos!

Ao longo deste tempo os casos acompanhados também adquiriam novos estados e novos corpos.
A F., por exemplo, é uma família "fresca" já que o acompanhamento e as visitas regulares começaram em Agosto deste ano. A F. tem demonstrado grande apatia com as voluntárias e sincero gosto em poder contar com elas na sua vida. Além disso parece-nos que já foram importantes os esclarecimentos dados em matérias de Novas Oportunidades.
A B., por outro lado, optou por prescindir da presença dos "seus" voluntários na sua vida. Fê-lo com toda a liberdade e legitimidade a que tem pleno direito. Este foi um dos casos que regrediu bastante. Como em qualquer outra história do nosso quotidiano e das nossas relações uns com os outros, também nas Famílias as vidas, e seus trajectos, não são lineares. E nós devemos (temos que) respeitar e aceitar.
O E. mantém-se como um caso especial, onde o papel dos voluntários não passa tanto por uma ajuda sistemática, mas sim por uma espécie de  "provocação" que nutra reacções do mesmo perante a vida. Os encontros não têm sido ocorrentes, mas há um contacto relativamente regular que permite saber como está. Actualmente mantém-se no trabalho que tinha conseguido arranjar e… o contrato foi renovado por mais uma temporada! Está de parabéns!
No caso D.E. e Sr. F. nada de novo há a apontar. Mantém-se como uma família essencialmente acompanhada pelas rondas de domingo.
A família F. tem tido alguns precalços na continuidade dos voluntários, o que tem deixado a Filomena um pouco sobrecarregada, dado tratar-se de um caso com muito elementos na família. Tenta-se iniciar novos voluntários neste acompanhamento.
A L. mantém os seus problemas de sáude, o que  infelizmente é habitual desde a nascença.
A L. esteve uma temporada prolongada no Alentejo. Já regressada ao Porto, veremos como tudo corre daqui em diante…
O M. acabou o tratamento de desintoxicação alcoólica e das drogas (10 dias), com sucesso. No entanto acabou por surpreender toda a gente ao renunciar a sua ida para a comunidade terapêutica, e a querer arriscar-se sozinho no caminho muito difícil que é "manter limpo" sem um trabalho direccionada e especializado nesse sentido... Aguardando e vendo como tudo evolui.
A M. conseguiu, finalmente, adquirir os desejados dentes novos! O  regressai à família em Vila Real poderá ser um teste complexo, mas ela parece indicar o desejo de abraçar esse desafio. Assim, poderá este ser o passo final para o início da integração familiar de alguém que há dois anos visitávamos nas rondas e que andava pelo Aleixo….
O Sr. O. aguarda a vinda de novos voluntários.
A D. R. tem tido menos visitas, já que a Inês aguarda pela ajuda de mais voluntários. Actualmente parece também viver uma fase de maior necessidade económica.
O ZM1 está há um mês sem medicação, o que é muito preocupante. Já conseguiu pagar as dívidas e a sua casa tem vindo a ganhar recheio. O Miguel aguarda a entrada de um novo voluntário para o ajudar neste caso.
O ZM2 aparenta estar mais estável… É hora de velar com calma.

O voluntariado é um permanente estado de respeito, apoio, atenção e consideração. Não são só eles quem "pede". Também nós sentimos a permanente condição de aprendizes. Creio que é bom que assim seja. No fundo é sinal de que lidamos com os próprios desafios da individualidade de cada um, o que poderá igualmente significar que o fazemos então de modo realmente vivo.

Bem hajam a todos.
Raquel H.

sexta-feira, outubro 30, 2009

Crónica Boavista – 25.10.2009

Foi há um ano que entrei para o FASrondas, mais propriamente para a vertente dos Sem-abrigo.
Durante este ano os meus domingos à noite foram preenchidos com encontros e desencontros com aqueles a quem um dia a vida pregou uma partida. Sim, porque também há desencontros: o Sr. Ar que nem sempre estamos com ele e que há 2 meses que tem agrafes na cabeça e ainda não os foi tirar; o Sr. An que não encontramos há já muito tempo e que da última vez que estivemos com ele estava completamente embriagado; o ZC que anda sempre a correr para ajudar a estacionar mais um carro ou até com flores na mão para vender e assim arranjar mais algumas moedas. Mas também há os encontros com a partilha da semana, com os sorrisos que encontramos apesar da vida que levam. E são tantos os sorrisos que recebemos… O JP que esta muito mais comunicativo; o Sr. Al que está sempre a nossa espera; o Sr. G que continua com as suas mezinhas; a D. Fátima que passou a dormir na rua por causa dos ratos que estavam na sua barraca e que continua a espera de uma casa; o Sr. Z que tem andado mais triste desde que foi “desalojado” do seu T0+0 (como ele mesmo dizia) e que neste domingo recebeu a boa notícia de que a bicicleta que dois polícias lhe tiraram vai-lhe ser devolvida por ordem do tribunal; a D. G que já obteve o 9º ano pelas Novas Oportunidades e que continua entusiasmada e com vontade de apostar na sua formação a informática e também a obter o 12º ano. Foi e são assim as noites de domingo…
E, como sempre, o que não se diz, não se escreve, sente-se!

Manuela Seixas

quinta-feira, outubro 29, 2009

Crónica da Ronda da Batalha - 18.10.2009

Olá a todos
Chamo-me Francisco, e estou nas Rondas desde Abril deste ano. E embora o receio de não ser capaz de cumprir a tarefa me tivesse assaltado antes de a começar (por nunca a ter feito), a verdade é que as palavras que o Jorge me dirigiu na sessão de esclarecimento se revelaram muito verdadeiras. Dizia-me ele que se eu tinha MESMO vontade de fazer este género de voluntariado, ainda que  pensasse não ter a capacidade de o fazer, o melhor era lançar-me em frente, e talvez viesse a descobrir que afinal as ferramentas já cá estavam, eu é que as não conhecia.
Durante este tempo ganhei amigos e amigas, no FAS e na rua, e tenho descoberto todas as noites de Domingo (mas também durante a semana) o que é afinal isto de ser voluntário, quer nos bons momentos de boa conversa e sorrisos, mas também (e sobretudo) quando as coisas não correm como desejaríamos, quando as dificuldades aparecem. Para mim, tem sido precisamente aí que tenho descoberto quais são realmente as ferramentas que eu e todos temos (ou desencantamos) para fazer face aos silêncios, ao sofrimento, à vida dos amigos que encontramos na rua.
No início encontrámos o N. Costuma estar sozinho, no seu lugar habitual, mas hoje estava com outra pessoa. O N. tem 25 anos, é toxicodependente, e deixou a casa dos pais já há alguns anos, e conhecemo-lo há alguns meses. Diz-nos que está farto desta vida, que quer mudar, que já está à espera de uma vaga numa comunidade. No N. chamou-nos sempre à atenção o factor idade, e a possibilidade de uma vida que o mesmo ainda tem pela frente. Insistimos com ele para não desistir de se tentar tratar. Um dia encontrámo-lo tão em baixo, que ficámos cerca de 1 hora a conversar com ele, e o tempo passou quase sem darmos por isso, com poucas palavras, mas com a nossa presença e a procura de deixar alguma luz de esperança. Hoje essa esperança parece maior. Despedimo-nos com trocas de sorrisos, e um obrigado.
 Depois, fomos ter com o Sr. F., que tem 57 anos, e tem problemas de alcoolismo. Embora não muito conversador, conseguimos, na última semana, bater o record de tópicos de conversa abordados. Sendo a nossa intenção unicamente ganhar o "à vontade" das pessoas para melhor as poder ajudar, o desenrolar de algumas perguntas foi o suficiente para ouvirmos do Sr. F. algumas coisas da sua vida passada e presente, com algum humor à mistura. É visível uma grande revolta do Sr. F. para com a vida e o mundo, mas também já vamos sentindo que a nossa presença vai contando para ele nestas noites. Nesta, porém, encontrámo-lo a dormir profundamente, e depois de algumas tentativas para nos ouvir, assim o deixámos.
A seguir encontrámos o Sr. F., já conhecido desta ronda há anos, mas que presentemente tem a sua situação ainda mais complicada. O Sr. F. tem vivido num conjunto de papelões onde guarda todas as suas coisas, com uma higiene muito deficiente, e sabemos nós, com uma alimentação também ela limitada. Sofre de esquizofrenia, e alterna momentos de lucidez, com aqueles em que se embrenha nos seus escritos e histórias que dificilmente conseguimos compreender o sentido, e outros momentos em que o álcool faz a sua entrada. No entanto, recebe-nos sempre de uma forma simpática, gentil mesmo, e se não nos quer junto dele naquela noite, diz-nos que se quisermos não temos que ficar, que sabe que temos que ir ter com mais gente que precisa. Hoje estava fora do seu local habitual, porque junto ao seu sítio abriu um Hotel e uma loja, que o obrigaram a ficar sem sítio, e assim vagueia pelo passeio abaixo e acima, na rua. Encontrámo-lo lúcido, mas apreensivo com o que está a acontecer, para além de não conseguir dormir por o lugar onde está ser inclinado. Falámos-lhe então da hipótese de ir para uma habitação. Estando há tantos anos na rua, e à espera de uma resposta negativa, surpreendeu-nos com um sim, tal o medo que sente neste momento. Dissemos-lhe que, sem compromisso, iremos ver as possibilidades. No final, oferecemos-lhe um chá quente, que agradeceu com um sorriso a que já nos habituou, e que nos aquece o coração. Disse-nos que tinha sido uma boa ideia. Despedimo-nos.
Para terminar, rumámos até junto do J. Outro rapaz novo, também toxicodependente, que na semana passada fez anos, mas que não encontrámos. Desta vez sim, demos-lhe os parabéns, e ele brindou-nos com a notícia de que se inscreveu no programa da metadona. Já será um começo. O J. é de Estarreja, fez 31 anos, e até há algumas semanas estava acompanhado de um irmão, também visitado por nós naquele mesmo sito, o L, mais velho, e que presentemente está preso em Aveiro por acumulação de multas de comboio sem pagar. "Pecados" inevitáveis devido ao sorvedouro de dinheiro que é canalizado para uma dependência sempre acima de necessidades básicas como alimentação ou transporte para visitar a família. Ambos ainda a têm em Estarreja. Perguntamos ao J. pelas suas filhas que lá estão, e disse que as visitou no seu dia de anos. Aqui sentimos que não são muitas mais as ferramentas que temos, que a nossa presença e o nosso conselho são praticamente o que de melhor podemos fazer. O mais importante terá que ser feito por eles.
No fim da noite, encontramos outro caso semelhante ao do J. Trata-se do P., com 36 anos, que costuma andar nas suas lides de arrumador também por aqueles lados. Uma personalidade mais complicada de entender, mas que mesmo tendo a noção de que nem tudo o que diz é exacto, sabemos que a nossa presença pode ajudar a alterar alguns comportamentos, e quem sabe, como uma gota num regato, encaminhar para uma mudança que poderá ocorrer mais cedo ou mais tarde, mas que não podemos prever.
Até Domingo.
Francisco

segunda-feira, outubro 19, 2009

Crónica das Aldeias 10.10.2009

Olá =)
Eu sou o Diogo, desde Setembro de 2007 que faço voluntariado nas Aldeias, entrei para o FAS, para uma experiência diferente, Ser Voluntário!, desde então, que acordo, aos sábados, de quinze em quinze dias, ou uma vez por mês, para algo diferente, para algo que sei que aquele dia vai ser para aquilo, e sobretudo para aquelas queridas pessoas. Lembro as primeiras vezes que visitei as aldeias, toda aquela cumplicidade que já se sentia,... os rituais,... algo que ainda hoje é assim... e que é sempre bom e é sempre novo, de cada vez que fazemos mais alguns quilómetros até lá, conversas na viagem, o almoço, o cafézinho ou então a sorna, depois a partida para as nossas queridas senhoras, depois um encontro e a partida para o Porto... isto é mesmo giro...
Gostava hoje de partilhar uma história que me lembro muitas vezes durante as nossas visitas... os rituais...

O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito.
São precisos rituais.
- O que é um ritual? - perguntou o principezinho.
- Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - respondeu a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, têm um ritual. À quinta-feira, vão ao baile com as raparigas da aldeia. Assim, a quinta feira é um dia maravilhoso. Eu posso ir passear para as vinhas. Se os caçadores fossem ao baile num dia qualquer, os dias eram todos iguais uns aos outros e eu nunca tinha férias.
- Adeus - disse a raposa. - Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
[Saint-Exupéry, O Principezinho]


Muitos conhecem... mas é mesmo isto... Chegamos a Casa da D. Alda, chamamos cá de fora... e lá está ela... à nossa espera...
Com a D. Aurélia... nem precisamos de ir ter com ela... encontra-nos sempre, sabe sempre por onde estamos e por onde vamos,...
Com a D. Maria do Carmo... lá está ela... com a sua mantinha sobre as pernas à nossa espera na entrada da sua casa... e é isto... é este o ritual que nós levamos... para estas senhoras... é o bastante... saber que nós lá vamos... para poderem vestir o coração com um sorriso, e "É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas."
Aproveito também a crónica para lembrar a D. Cândida... e as suas histórias, e os seus suspiros...
Na última visita foi um dia de muitas recordações, falamos de quando começou o grupo a ir às visitas... a D. Alda lembrou todos os rapazes que por lá passaram nas visitas... o Tiago, os "Joões", o Nuno... das meninas também se falou...
no meio da conversa... falamos de política (eram as autárquicas no dia a seguir), notou-se ali entre a D. Alda e a D. Aurélia, umas pequenas divergências de opiniões, mas ambas sabiam em quem votar no dia a seguir, foi então que eu e a Isabel, decidimos desafiar a D. Alda e a D. Aurélia a um pequeno passeio, que acabou por ser bem maior do que eu julgava, a D. Alda, afinal estava cheia de força, e queria ir sempre "mais ali à frente" dizia ela que já não fazia aquele caminho à muito tempo, e a D. Aurélia... sempre fina... nem parece os seus 94 aninhos, não imaginam o quão forte ela é... é uma grande mulher.
Por fim fomos visitar a D. Maria do Carmo, e como é claro, acompanhados pela D. Aurélia, ali... a conversa rolou muito bem entre elas... enquanto eu aproveitei também para por a conversa em dia com a Isabel =)
Foi assim... mais um dia... um dia marcado pelas recordações, e pela força de jovens senhoras que visitamos.
Com muito mais a dizer... mas talvez fique para uma próxima...

diogoCosta

sábado, outubro 10, 2009

Crónica da Ronda da Areosa - 4.10.2009

Ser voluntário

Em vez do formato habitual, decidi escrever-vos sobre o que é para mim ser voluntária nos Sem-Abrigo.

1º - é preciso muita entrega e vontade

2º - mais ouvir do que falar

3º - compromisso

4º - estar lá

Depois desta lista parece difícil tudo o resto… mas na verdade é muito fácil… Desde que comecei a fazer rondas, há mais de 2 anos, que não paro de me surpreender com tudo o que acontece à minha volta e com tantos sorrisos e tantas lições que as pessoas que visitamos nos dão. Fui percebendo que as ligações que se criam são muito fortes e que essas pessoas também se interessam por mim, por saber que eu estou bem! Assim, depois de cada Domingo e antes de me deitar, penso em tudo o que aquela ronda me trouxe… é verdade que umas vezes me deito mais contente do que outras mas no Domingo seguinte lá estou para mais uma conversa, mais um copo de leite, mais um monte de novidades ou de notícias repetidas… para visitar os amigos da rua!

Maria Freitas

quinta-feira, outubro 08, 2009

Crónica das Aldeias 26.09.2009

Olá a todos!

Eu sou a Joana, a mais nova do grupo de visitantes das nossas queridas tias e, se não me engano, tio de Amarante.
Depois de já dois meses de férias, regressei às Aldeias. Apesar de um regresso um bocado confuso, pois só consegui ir ter a Amarante depois do almoço, estava bastante entusiasmada por conhecer as novas senhoras de Ansiães (a "minha" Aldeia). Fui com a Marta e o Adriano e começámos logo pela D. Ondina, uma senhora fora de série, cheia de energia, que falou literalmente a visita toda. Entre política (estavamos em véspera de eleições), mortes, a sua enorme família (tem 8 filhos a viver entre Porto, Lisboa, Algarve e França) e ensinamentos linguísticos, foi difícil conseguir acompanhar o ritmo speedado desta engraçadíssima senhora. Para terminar em beleza, espetou-nos aos três 4 beijos "à francesa" , disse-nos ela.
Em seguida, fomos a casa da D. Aldina, também a minha primeira vez, e fomos recebidos com um enorme sorriso desta tia sentada na varanda a apreciar a vista e o alto dia de sol que estava. Conversámos um bom bocado e tratou-nos como se fossemos da família. Insistiu imenso para que bebêssemos a água pura da fonte ao lado da sua casa.
Já atrasados, fomos bater à porta da Tia Rita (por quem eu tenho uma especial empatia, se me é permitido) que estava a lanchar. Ficou furiosa por só estamos a vir agora, já pensava que não vínhamos. Ao contrário das outras tias, a Tia Rita é completamente autónoma e é ela que cozinha e limpa a casa. Além disso, tem a vida toda organizadinha e por isso não gostou muito que lhe viéssemos interromper o lanche. No entanto, depois de nos por na linha, insistiu imenso e lá nos ofereceu um chá de hortelã divinal. Conversámos sobre as eleições, o seu amor (irónico) ao Sócrates, entre outras coisas. O que teve mais piada foi o facto de achar que conhecia o Adriano de algum lado, dizia ela: "Eu tenho a certeza que já vi alguém igual a ele". Sem chegarmos a nenhuma conclusão, tivemos de sair à pressa, porque ainda nos faltava a D. Carminda, com a promessa de na próxima visita estarmos lá às 15h.
Com a Tia Carminda já não conseguimos estar muito tempo, mas ainda conseguimos trocar umas palavras com ela e com os familiares que estavam. Não falou muito, porque estava fraquinha, mas surpreendeu-me carinhosamente com um beijinho na mão. Sentir as mãos daquela senhora, com aquele sorriso encheu-me o dia!
Cansados, mas felizes, juntámo-nos a grupo que nos esperava em Basseiros a comer uvas.
Conversámos um bocado e despedimo-nos cada um de volta ao seu dia-a-dia, mas sempre com estas senhoras connosco, prontos para voltarmos daqui a um mês ou até antes...


Joana Leite de Castro | Ansiães

quarta-feira, outubro 07, 2009

Sessão de Esclarecimento

Sessão de esclarecimento a novos voluntários:

Dia 08 (quinta-feira), às 20h no CREU.

Se estás interessado(a) em fazer voluntariado, aparece!

Vem conhecer-nos!

Podes enviar um e-mail para:

fasrondas@gmail.com

sexta-feira, setembro 25, 2009

Crónica da Ronda da Boavista - 20.09.09


No Sábado, o José Luís Artur, s.j., contactou-nos dizendo que adoraria acompanhar-nos numa das nossas rondas. O José Luís esteve estes últimos 3 anos em Braga a estudar filosofia e aí, junto do CAB, foi um grande dinamizador das rondas junto dos sem-abrigo.
Obviamente aceite a sua proposta (!) foi com grande entusiasmo que combinamos com o José Luís logo para o dia seguinte!
Já no Domingo, aproveitamos a presença de um s.j. para lhe "cravar" a celebração da nossa oração antes da partida!
No final da ronda, ainda lhe "cravamos" uma "pequenas palavras" em jeito de crónica!
São aquelas que seguem:


Há muito que tinha vontade de conhecer as rondas do Porto. Durante algum tempo fi-las em Braga e tinha curiosidade de ver como é numa cidade bem maior, a uma escala diferente, e com fama de funcionarem muito bem. Na verdade essa escala acabei por não a notar muito, no sentido de que a cidade é dividida por 5 (aí sim) rondas, mas cada uma delas acaba por ser parecida em vários aspectos ao que se faz em Braga. O que claramente me chamou a atenção foi o tempo que dedicam a cada pessoa. Há tempo para cada um se sentir escutado e isso marca a diferença. Num tempo em que se tem pouco tempo de qualidade para escutar o outro, fazê-lo com quem quer que seja, e neste caso particular com os mais pobres é motivo de louvor e um exemplo vivo da mais saudável compaixão. Continuem assim.

José Luís Artur s.j.
João Varela

quinta-feira, setembro 24, 2009

Crónica das Aldeias 12.09.2009

O Recomeço ...
Regressadas e regressados das tão merecidas férias laborais/estudantis, eis-nos de volta às "nossas" aldeias.
Desta vez, a partida deu-se com a triste noticia de que 3 companheiros não mais nos poderiam acompanhar, por diversos motivos e, por tal, deixo um abraço à Luísa, ao Jorge e ao Frederico, com a devida nota de que as "nossas portas" estarão sempre abertas ao vosso regresso.
Chegados ao local do repasto habitual, tínhamos a nossa espera o "Super cão" que fez questão de nos acompanhar durante as palavras da Cláudia na retrospectiva do ano de visitas de 2008/2009.
Tomadas as novas decisões e dados os respectivos recados e depois de saciada a fome, partimos para as nossas aldeias.
Basseiros, a minha aldeia, da Gina, da Ana e da Beatriz, encontrava-se na mesma pacatez de sempre e claro, mui caliente!
A primeira visita é sempre as três senhoras: a D. Deolinda, a D. Aurora e a D. Maria.
E que bela surpresa tivemos nesta visita! A D. Maria, que se encontrava "acamada" há bastante tempo, estava nem mais nem menos, sentadinha cá fora à sombra e veio pelo seu próprio pé!!!
Segundo a D. Deolinda, que aparentava estar bem e estava bastante conversadora, o que trouxe a D. Maria cá para fora foi mesmo o calor, pois não aguentava mais estar na cama.
Foi uma bela surpresa!
Para esmorecer esta alegria soubemos que a sempre bem disposta D. Aurora foi para França para casa da filha e que só deverá regressar lá pela Páscoa!!!
Aguardemos o seu regresso e o regresso das suas cantigas e histórias!
Mais uma vez não encontramos a D. Glória, mas o marido assegurou-nos que está bem de saúde.
Também a D. Conceição não estava em casa! Terá ido para casa do filho para Amarante.
Dadas as ausências das nossas senhoras, e o facto de que àquela hora a nossa última visita, a D. Dulce, costuma estar a descansar, também nós decidimos descansar da íngreme subida para casa da D. Conceição.
Sentadas a sombrinha e a desfrutar das belas vistas estivemos na "converseta"!.
De novo partimos, desta vez para a visita às irmãs, a D. Dulce e a D. Arminda! A subida nunca é fácil! Se já custa a subida para casa da D. Conceição, para casa da D. Dulce é sem palavras!
A D. Dulce já tinha feito a sesta e estava sentada na sua cadeira de rodas à sombrinha, a ver os netos e as filhas a prepararem-se para ir até ao rio refrescar. A D. Arminda estava em casa de uma filha.
Terminadas as visitas regressamos ao Porto, não sem antes fazermos uma oração especial à D.Cidália, uma das senhoras que recentemente começara a ser visitada em Ansiães, que partiu para junto do Pai.

Antonieta Oliveira | Basseiros

quinta-feira, setembro 17, 2009

Crónica da visita à UHSA - 13-09-2009

Depois do Verão, fomos apenas três, ainda com parte do grupo em férias e a precisar de reforços com todo o gosto em receber novos voluntários.
Logo à entrada fomos bem recebidas por quem estava no exterior pois alguns continuam lá desde a visita de Agosto. Ao entrar na sala de convívio todos pareciam não querer deixar os filmes e séries. A pouco e pouco fomos conversando com cada um e começaram a aderir, fazendo a apresentação habitual com o jogo do novelo. Mesmo os que de início não queriam participar acabaram por se juntar. Além das nacionalidades que costumamos encontrar havia duas presenças curiosas: da Libéria e da Eritreia, países que depois fomos procurar a localização no mapa.
A maioria do grupo participou no jogo das bolas. Com os restantes fomos conversando, entre pedidos de ajuda e partilha de histórias de vida.
Nesta tarde sentimos em especial uma alegria e união que surgiram naturalmente, sem ser necessário qualquer esforço para "quebrar o gelo".
Despedimo-nos cumprimentando pessoalmente cada um e todos se revelaram agradecidos, alguns com pena de a visita ser curta.
Ao sair já os imigrantes estavam a voltar às suas actividades e nós às nossas vidas mas todos com o coração mais enriquecido com gestos simples que o preenchem.

Amélia Aleixo

terça-feira, setembro 08, 2009

Acolhimento de Novos Voluntários - 17 de Setembro

Olá a todos!
É já para a semana (Quinta-Feira | 17 de Setembro) que quem quiser conhecer e inscrever-se no FAS o poderá fazer.
O local de encontro será às 21h30, no CREU.
Estaremos lá à espera de todos os interessados para dar a conhecer um pouco o que é, e o que faz o FAS.

Todos os interessados poderão aparecer, e convidem pessoas que vos sejam próximas e que achem que poderão estar interessados no trabalho deste nosso grupo.

Cumprimentos,

FASRondas

segunda-feira, agosto 03, 2009

Crónica das Aldeias 18.07.2009

Mais um ano...

Chegou ao fim mais um ano das nossas visitas às Aldeias do sopé do Marão.
Um ano cheio de boas recordações, um ano cheio de saudades … um ano cheio de desafios!
A missão que me propuseram para este ano não foi nada fácil. Ter de "gerir pessoas" é uma tarefa muito árdua, principalmente quando está em causa o bom funcionamento de um grupo e, consequentemente, o perfeito cumprimento de uma missão tão nobre quanto a nossa – levar alegria e amor às pessoas que visitamos. Num ano de novas pessoas, novas metodologias, novas regras tudo parecia, no inicio, um emaranhado de novidades e problemas para testar a nova coordenação.
Tivemos sábados mais complicados, em que o risco de não ter voluntários para as aldeias foi iminente, mas também tivemos outros em que conseguimos encher as casas das pessoas com um número muito elevado de voluntários. Registamos faltas, atrasos, assuntos discordantes! Organizamo-nos, ajustamo-nos, crescemos como grupo.
No final, o mais importante é que correu tudo bem! E, por isso, deixo aqui uma palavra a todos os voluntários das aldeias - aos que entraram, aos que saíram e aos que continuam – "obrigada pela vossa dedicação!".
Este ano ficou marcado por mais uma perda das "nossas senhoras". A nossa querida centenária de Ansiães, a D. Olívia, partiu. E com ela partiu o prazer de vermos uma nobre senhora envolta nas suas vestes negras (não esquecendo o típico chapéu), sentada na sua habitual cadeira a apanhar sol nas tardes quentes e que sempre nos lembrava que era a "pessoa mais velha do concelho". Ficará para sempre nos nossos corações. Obrigada D. Olívia por todo o seu amor.
Fomos, já quase no final do ano, "bater à porta" de mais três senhoras de Ansiães para iniciarmos as visitas. Foram apenas dois sábados, mas saímos com a sensação de que estas visitas pareciam existir desde sempre. "Eles fazem parte da minha família", podemos ouvir de uma das senhoras já com uma lágrima no olho. Será que merecemos todo este carinho? Obrigada "minhas (nossas) senhoras" pelo vosso afecto e ternura!
Não podia terminar esta crónica sem uma menção, e muito honrosa, ao fundador deste grupo. Não sei bem o que escrever, como também não soube o que dizer na nossa última oração partilhada - felizmente tenho uma "afilhada" que disse o que eu gostaria. Não estarás connosco fisicamente, mas em espírito jamais deixarás este grupo. Espero que todos saibamos seguir o teu exemplo.
Obrigada Jorge, por tudo!
Obrigada a todos.

Claudia Gonçalves | Ansiães

quinta-feira, julho 09, 2009

Crónica da visita aos imigrantes - 20.06.2009

Pelas 17:00 h, começaram a chegar ao portão grande da entrada os 7 voluntários para mais um encontro…não se sabia bem com quem. Sabia-se sim, que esse encontro seria feito com seres humanos controlados pela sociedade e maltratados pelo destino. Mulheres e homens, adultos e jovens, brancos e de cor. Do Segenal, da Nigéria, de Marrocos, da Itália, e de outras paragens. Sempre seres humanos, a quem se iria transmitir um pouco de humanidade desinteressadamente, e em total disponibilidade.
Feito o jogo de apresentação, vieram as conversas, os desabafos, misturando desilusões e sonhos.
Aproximadamente 60 minutos de companhia amigável, entre estranhos, só com a preocupação de tornar para cada um e cada uma aquele dia mais diferente, mais risonho, mais humano. Viemos com a certeza de que foi esse o nosso desejo e com a esperança de que isso mesmo tenha acontecido.

terça-feira, julho 07, 2009

Crónica das Aldeias - 04.07.2009

Foi um dia muito especial nas Aldeias, porque começamos a visitar novas pessoas em Ansiães. Depois do falecimento da D. Olívia, a nossa querida centenária, e da D. Maria Fernanda, decidimos visitar novas pessoas.
A Sofia da Progredir (associação que faz apoio domiciliário na região), levou-nos e apresentou-nos às pessoas que já aguardavam a nossa chegada. No Casal, encontramos a D. Ondina e a D. Cidália, ambas muito amorosas, com vontade de falar e de nos conhecer. Ficamos a saber um pouco das suas vidas e dos graus de parentes com outras senhoras que visitamos. Aliás na Aldeias todas as pessoas tem ligações
entre uns lugares e outros, basta ver que a D. Ondina é cunhada da D. Maria do Carmo de Candemil, ambas conhecidas como sapateiras!
Depois de animada conversa, despedimo-nos, e ainda ouvimos um “ Adeus, minha filha!” dedicada à Marta, que nos trouxe um sorriso com muita vontade de voltar e conhecer mais.
Fomos ao Peso, onde nos esperava a D. Aldina com um sorriso. Ela já nos conhecia! Tinha participado na festa de Natal em Bustelo, onde tinha dado o xaile ao menino Jesus no teatro que fizemos.
O marido faleceu no ano passado, e a família deu-lhe imenso apoio, em especial a neta de quem tanto se orgulha. Contou-nos como é tão importante o trabalho da Progredir, e como são tão boas as visitas das funcionárias que lhes levam o almoço e as ajudam na higiene nos dias da semana.
Mais uma vez falamos um pouco de nós e do que fazemos, e a D. Aldina contou-nos sobre a única vez que, por duas semanas, foi a França estar com o filho, e foi a Paris, mas não subiu à torre Eiffel. Falou-nos do tempo em que a vida era dura de trabalho, em só havia trabalho na floresta, com a carqueija ou o carvão. No final despedimo-nos com um grande abraço e um sorriso que nos encheu o coração.
Terminamos o dia sentindo totalmente que ajudamos um pouco com a solidão destas pessoas, e que recebemos tanto sem perceber!
Agradecidos por ter conhecido estas três senhoras que nos receberam tão bem, sem reticências ou receios, e com sorrisos tão grandes que nos encheram de vontade de voltar.
Obrigado às três!

Jorge Mayer | Ansiães

quinta-feira, junho 25, 2009

Crónica da Ronda da Areosa - 7.06.2009

O P. vai voltar para cá...

Há umas semanas conhecemos o P. Veio, a medo, com um amigo, e sentimos desde o primeiro aperto de mão a química que se sente com futuros-bons-amigos.
Falámos da vida dele e da nossa, e deixámo-nos levar pela empatia até não notarmos que o tempo passara.
Parece o início de um Amor... e daí se calhar Amor é simples como querer bem a quem partilha connosco um copo de leite ou de sopa ao Domingo.
Falámos de pais e de irmãs e namoradas, de empregos, livros e receitas de sopa.
Um dia, disse-nos que éramos a ligação dele ao mundo que fora o dele; e que vai voltar a ser, assim a força e a vontade das palavras se tornem actos corajosos.
Todos falhamos tantas vezes, e o P. continuará a falhar; mas não tarda, há de estar inteiro do nosso lado do mundo, que é o dele também. Obrigado!

Pedro Pardinhas

terça-feira, junho 23, 2009

Crónica das Aldeias - 20.06.2009

Mais um sábado, muito calor no Porto, avizinha-se um dia ainda mais quente nas aldeias do Marão. Estamos poucos, contudo os suficientes para assegurar as visitas, Por vezes, não nos é fácil conseguir conciliar todos os nossos compromissos, e lá temos de tomar a difícil decisão de não ir às aldeias. No entanto, independentemente do número de pessoas que vão leva-se sempre um bocadinho de todos, e o espírito do grupo está sempre presente! Uma das pequenas maravilhas deste grupo de aldeões!

Dada a temperatura decidimos almoçar na praia fluvial, a primeira vez este ano, o areal está um pouco descuidado, o nível de água em baixo, no entanto, o mesmo encanto de sempre, o verde, os pássaros, o barulho da água cheia de vida que corre, e estes sons maravilhosos que vão preenchendo o nosso almoço e abrindo caminho até casa de todas as pessoas que vamos visitar.

A Isabel e eu vamos para Candemil, chegamos um pouco cedo a D. Aurélia ainda está nas suas lides domésticas, oferece-nos umas cerejinhas fresquinhas enquanto dobra a roupa e nos vai contando do seu sobrinho do Alentejo que está de visita.

Lá vamos as três até casa da D. Alda que está um pouco melhor e nos recebe muito bem, como habitualmente. Apenas lamenta não nos poder oferecer o chá mas ainda não pode estar muito tempo de pé.

Despedimo-nos com uma troca de sorrisos e em até breve e vamos até casa da D. Maria do Carmo que continua num estado físico muito debilitado, mas presenteia-nos sempre com um sorriso.

Entre as várias conversas ficamos a saber que na próxima semana também decorrerão os festejos do S. João, e há duas belas sardinhadas, uma delas na praia fluvial. Esperemos que todas se divirtam e que seja um espaço de lazer, mas também de amizade e partilha. Assim, a solidão vai-se esbatendo…

Enquanto calcorreávamos as ruelas de Candemil ouvíamos uma rola, e dizia-nos a D. Aurélia que a rola dizia “ju di te”, e não é que parecia mesmo que ouvimos a rola a dizer “ju di te!”. Agora sempre que ouço a rola ao pé de minha casa, ouço o que ela tem para dizer e sorrio!

Sara Gonçalves | Candemil

Crónica das Aldeias - 23.05.2009

Dia Tranquilo!

Depois de um almoço muito animado onde tivemos oportunidade de nos deliciar com tomate coração-de-boi e com os hungaros que iam virando mousse de chocolate, partimos para a nossa aldeia...o Sol teimava em espreitar e quando conseguia mostrava bem o seu poder calorífico!

Já iamos a caminho da casa da D. Fernanda quando um incidente ocorreu. Trinquei a língua! - já não me acontecia há alguns anos, pelo menos desta maneira tão feroz :) ... fiquei contente por me recordar da minha infância e me sentir autêntica - cá estava a Sofia destravada! Sinceramente, deve ter sido castigo do divino...A minha salvação no momento foi o meu padrinho - Nuno Afonso, que felizmente teve sangue frio, e por isso mesmo, não me levou logo para o Hospital de Amarante! Depois do estancamento, estava pronta para a partilha.

A D. Fernanda não estava, viemos a saber mais tarde que se encontrava num campo onde nunca tinhamos ido. Fomos então ter com a D. Celeste e a sua vizinha D. Maria. Estivemos os 4 muito bem a falar sobre a vida - foi uma reflexão profunda, com muita risota à mistura. Falamos sobre fruta, doces, legumes, homens e mulheres, vida de solteira e de casada, filhos e o que vinha na sua sequência...Nunca tinha visto a D. Celeste tão animada :) Moral da história - falamos sobre tudo e sobre nada, mas foram uns minutos muito calorosos que nos deixaram satisfeitos.

Depois de voltarmos à realidade, fomos ter com a D. Maria que já nos tinha presenteado com uma caminhada, avistada ao longe, ao longo da sua varanda. A D. Maria tem muita vontade de viver e por isso mesmo não desiste de voltar a andar - que Deus a ajude. Estava igual a ela mesma, com o seu fato rosa choc e respectivo cachecol que fazem parte do seu guarda-roupa com mais de cem peças! - ela é tão engraçada. Estivemos a encorajá-la a ir às festas que se avizinham porque já percebemos que ela tem algum receio. O que mais me alegrou foi ver que a D. Maria já começou a dar valor ao que tem e mostrou-se feliz por poder avistar toda a paisagem em seu redor e receber toda a atenção do filho e da nora. Notou-se que queria que ficassemos mais tempo e isto sem dúvida foi muito reconfortante. Deixamos a D. Maria numa aberta de Sol...

Fomos então ter com a D. Emília e o Sr. Aurélio, e combinamos que iriamos desviar a conversa se voltassem a focar o tema da crise económica - aqui tenho que dar os parabéns ao meu padrinho!
Conseguimos...ficamos a conhecer a história do seu encontro, pelos vistos já se conheciam antes de começarem a namorar, talvez dos bailaricos que frequentavam. O Sr. Aurélio, segundo conta, tinha muita corda, aliás ainda hoje é uma pessoa com genica, principalmente mental. Já a D. Emília muito religiosa e sossegada ficava a ver o marido aos "pinchos" nas festas:) E o que é mais admirável é que o Sr. Aurélio ia todos os dias trabalhar para Amarante de bicicleta, quer fizesse frio quer calor, e por vezes até tinha que apanhar os parafusos da bicicleta que ficavam pelo caminho!

Ao regresso ainda tivemos a sorte de encontrar a D. Fernanda em casa. Estava a preparar o jantar para comer antes de sair para a missa e estava bem disposta - foi uma visitinha de médico.

Eram 17:15, eis chegada a hora de ir ter com o resto do pessoal ao ponto de encontro. Estavamos todos com boa moral, e num ambiente de alegria e calor partilhamos o lanchinho das sobras antes de nos metermos ao caminho...

Até à próxima aldeias dos nossos corações. Fiquem todos bem!

Sofia Meister | Bustelo

sexta-feira, junho 05, 2009

Crónica da Ronda da Boavista - 31.05.09

Ainda novata nestas andanças, mas com cada vez mais vontade de DAR nestes finais de domingo…
Eram quase dez da noite quando os rondeiros se começaram a juntar, acompanhados pelo cheiro a doces e salgados, que são divididos pelos sacos. A equipa, como sempre bem disposta. Desta vez, um chefe diferente, novo para mim, já bem conhecido para o resto dos companheiros.
A oração apelou à maravilha do trabalho em conjunto, de todas as etapas por que passam, por exemplo, os alimentos da nossa refeição, também eles fruto desse trabalho.
Uma noite fantástica, um início de ronda promissor…
Desta vez, a D.G. aguardava-nos com a grande notícia de que tinha conseguido uma entrevista nas novas oportunidades. Era já nessa semana. No entanto, a neta ia ser operada e isso trazia-lhe alguma preocupação. Oferecemos-lhe um "vai correr tudo bem". Parece ter ficado mais tranquila.
O J.P. trocou os seus filmes por largas horas deitado, a dormir. Estava, no entanto, bem disposto. Brincou com os novos partidos políticos, mostrou o telemóvel. Nesse dia não foi à metadona. Foi bom ver que, mesmo assim, recebeu-nos bem! Há um mês que não lhe alteram a dose. Tem tido força de vontade e aquele optimismo colou-se a nós. Lá fomos embora, sem antes lhe garantirmos que o sumo não era de laranja nem de ananás.
Na mesma rua encontramos um novo sem-abrigo. Uma mulher. Disse apenas estar de passagem e quis logo saber que tipo de comida lhe levávamos. Parecia um pouco desconfiada do que estaríamos a oferecer. Se a voltarmos a encontrar, vamos tentar saber melhor a história que terá para contar!
O S.A. estava todo fresco, uma t-shirt, cabelo cortado. Desanimado com o pouco que lhe têm dado. Mas lá lhe soltamos uns sorrisos com a nossa curiosidade sobre pássaros. Disso ele percebe e gosta muito! Falou-nos dos seus três canários, de como trata deles. Gostava muito de ter uma Zagaia e não gosta de piriquitos.
O S.G. está realmente preocupado em arranjar a cura para não termos de usar óculos. Repetiu a receita milagrosa algumas vezes. Estava todo entusiasmado com a reportagem em que interveio para o "Nós por cá". Tinham mudado o sinal da rua para o lado oposto. Enquanto ia contando a história, a esposa, que está adoentada, ligou-lhe algumas vezes. Precisava que a fosse ajudar a preparar a medicação.
Chamamos várias vezes pelo S.Z.. Não estava. Optamos por deixar apenas o saco e seguir. Mas não tardou em o avistarmos a descer a rua. Trazia uma fisga e a história do seu novo negócio de fisgas. São feitas por ele (e bem giras!). Na realidade, adora fisgas desde pequenino. Falou-nos com saudade desses tempos e até nos relatou uma das suas últimas fisgadas: uma lâmpada da rua estava avariada e, de bem longe, ele acertou-lhe em cheio. Embora a protecção não tivesse ficado em muito bom estado, até hoje aquela lâmpada dá luz toda a noite! Um dos momentos altos da noite, sem dúvida!
Mais uma vez, o S.A. não estava.
Seguimos até à D.F.. Estava com dores de dentes e com os diabetes altos. Ainda não tem novidades da casa. A nora estava lá de novo, já com uma barriga que se nota bem. Continua sem querer ir ao médico e não hesitou em acender um cigarro. Continuamos com a enorme dificuldade de lhe mostrar o quão importante é cuidar da saúde do bebé, de ser seguida por um médico. Mas, mais uma vez, ergueu-se ali uma barreira que não deixa que as nossas palavras sejam entendidas.
Antes de voltarmos ao nosso cantinho, pedimos especialmente por ela, pelo bebé. Partilhamos também o que mais tinha preenchido o nosso coração, naquela noite. Mais uma vez, muito Amor.

Angela

quinta-feira, maio 28, 2009

Crónica Aldeias - 09.05.2009

Este dia foi a minha estreia como voluntária nas aldeias.
Encontramo-nos no local e hora habitual e partimos rumo ao nosso destino.
O bom tempo proporcionou um piquenique atrás da igreja, e foi uma boa oportunidade para conhecer "um pouco" de cada pessoa do grupo.
A seguir ao almoço fomos até ao café e de seguida cada um dirigiu-se para a sua respectiva aldeia.
A minha aldeia é Basseiros e estou com a Antonieta (minha madrinha) e a Gina.
A primeira visita seria à D. Glória mas, assim como receávamos, não se encontrava em casa. Viemos mais tarde a saber, pela vizinhança, que tinha ido a um baptizado dos gémeos.
Continuamos então rumo à próxima visita e encontramos a D. Aurora e D. Deolinda cá fora a apanhar um solzito.
D. Maria não tive oportunidade de conhecer pois ainda se encontra acamada.
D. Deolinda muito pouco falou. Ao contrário, a D. Aurora tinha conversa para a tarde inteira.
Falou-nos do susto que apanhou quando tentaram arrombar a porta; dos bons momentos que passou em França assim como das suas habilidades em fazer croché (em velhos tempos).
Mostrou-nos os "tarrucos" que está a fazer (são umas meias grossas de lã feitas à mão, muito quentinhas para o inverno). E não consegue conter as lágrimas quando fala no seu marido, que já morreu há uns largos anos.
O tempo estava a escassear e por isso partimos para uma outra visita, à D. Conceição que, por sua vez, não se encontrava em casa.
Fomos então a casa da D. Arminda que também estava cá fora ao sol, com a sua família, incluindo a filha que tinha sido operada há pouco tempo. Após algum tempo de conversa, fomos ter com o restante grupo.
À ida, encontramos a D. Conceição que regressava do cemitério e que falava do seu descontentamento em não saber onde se encontrava o seu animal de estimação.
Como 1º dia, acho que correu muito bem e correspondeu às minhas expectativas.
Penso que, tal como a minha avó, as senhoras que visitamos são pessoas que gostam de conversar com jovens (desde desabafos a histórias da vida) e ficam ansiosas pela nossa próxima visita.
Ana Vareta Machado | Basseiros

terça-feira, maio 19, 2009

CRONICA RONDA DA BOAVISTA - 10.05.09

Domingo, 10 de Maio, partida da ronda da Boavista.
Carro lotado! Novas entradas!! Grandes mudanças na ronda da Boavista. Casamentos, emigrantes, temporadas no estrangeiro, faculdades tardias….
Saída de uns, entrada de outros!
Mas há algo que se mantém sempre, o amor gratuito aos outros. Aqueles a quem acompanhamos à três anos, que perguntam constantemente por cada um de nós. As saudades são muitas…
Partimos com este pensamento.
Primeira paragem D. G. Lá estava na paragem à nossa espera. Estava entusiasmada por se ter inscrito nas novas oportunidades. Continua sem emprego, às cabeçadas com a filha, com saudades dos netos. Chegada do autocarro, aviso de que o J.P. estava a ver um filme.
Lá fomos ter com o J.P. Continua sem ir ao centro de emprego. Em princípio vai viver para casa da amiga, uma senhora de sessenta e muitos anos que o tem ajudado desde o tempo em que andava pelas ruas caído, a recolher trocos para mais uma dose. Claro que reclamou por causa do saco, será sempre dos nossos sem-abrigo mais exigentes!! Não pode ser sumo de laranja nem de ananás, sugestão do João, levar qualquer coisa para o estômago da próxima visita! Estava relaxado, tinha ido à metadona.
Viramos a esquina e lá encontramos o Sr. A., feliz com o futebol. Mal chegamos avisou-nos logo dos anos que se estão a aproximar, 14 de Junho.
Seguimos para o lar, onde deixamos mais uma vez o pão.
Chegados ao Sr. G. lá nos contou a aventura de sexta. Um colega disse-lhe que lhe dava boleia, quando deu por ela já tinha rodado meia cidade e tinha ido parar a um pinhal. Não ganhou para o susto com a mulher a telefonar-lhe constantemente preocupada. Eram quatro da manhã quando chegou a casa. Solução, voltar a andar armado para qualquer eventualidade.
De partida lá lhe pedimos juízo.
Seguimos e paramos no Sr. Z. Já estava a dormir, não quis conversar, mas quis o saco. Tinha-nos dito à uns domingos a possibilidade de ir viver com um casal de senhores mais velhos, mas até agora não há novidades. Deixamo-lo.
Atravessamos e deparamo-nos com uma verdadeira pocilga. O sitio onde o Sr. A. Dorme está cada vez pior. Depois do último domingo o termos apanhado completamente bebido, este nem rasto.
Passamos na zona do convívio para deixarmos um saco que nos sobrava, quando vemos a ronda da Batalha a falar com um rapaz. Para nossa surpresa era o P. Já deve ter saído da prisão, vamos falar com a Batalha e saber o que ele lhes contou.
Partida para a ultima paragem. A nossa sem-abriga mais exigente de todos!! D. F. lá estava à nossa espera. Da casa não tem novidades. A assistente social que estava com o processo mudou-se e não passou a pasta. A nora tinha ido a Guimarães, já só faltam dois meses para o bebé nascer. No último domingo contou-nos que nunca tinha ido ao médico, desde que estava grávida, que não quer, nem precisa de ajuda. Não sabemos como é possível pensar em ter uma criança naquelas condições, mas estaremos cá para o que for preciso.
O Sr V lá acabou por se levantar e beber também um chá enquanto conversávamos um pouco.
A D.F. durante a semana apanhou mais um susto com os diabetes. Nada de novo.
Acabou mais um domingo, mais uma ronda, com todos juntos dentro do carro em mais uma partilha.

Benedita Salinas

terça-feira, abril 21, 2009

Crónica Aldeias - 04.04.2009

Caro Diário,

Hoje foi mais um dia de visitas, às nossas avozinhas emprestadas…
Como é costume saímos pelas 11h…todos bem dispostos e cheios de vontade de chegar a Candemil, para o famoso repasto atrás da Igreja…

Os quentes dias com que Março nos brindou deram lugar a um Abril mais frio e menos convidativo ao exterior…mas lá se almoçou com umas novidades …tortilha (é só pôr no micro) e um ananás cortado (que as senhoras do Pingo Doce preparam…) e uns saborosos bombons de Natal, Páscoa e quem sabe de Natal outra vez, e um bolinho caseiro para a sobremesa.

Pelas 14 horas fomos andando para as nossas aldeias, mas sem dispensar o cafezinho que sabe tão bem…pelo menos a alguns, e a casa de banho tão preciosa para outros.

Cada grupo seguiu para a sua aldeia…Ansiães já nos esperava assim como a Tia Rita, a Tia Olívia e a Tia Carminda.

Como de costume a primeira visita foi à Tia Rita que sempre animada…falou do seu festejo Pascal, do convite para o casamento da sua sobrinha (ao qual não quer ir nem arrastada!) entre muitas outras coisas. Durante a visita recebeu um telefonema do filho que despachou com rapidez, dando a desculpa que os seus amigos estavam com ela…As conversas iam surgindo até que nos tivemos de ir embora por causa do tempo que restava para visitar as nossas restantes Avozinhas.

A Tia Olívia estava cá fora na sua cadeira a apanhar os raios de Sol que iam aparecendo e desaparecendo. Tem andado com pouca força… o que faz parte dos seus 101 anos!
Mais tarde chegou a vizinha que lhe leva as refeições e que nos disse que a Tia Olivia se tem alimentado mal o que a leva a andar mais fraquinha…Pelo menos enquanto lá estivemos ainda comeu um iogurte.
Por vezes a conversa não é muito fácil pois os problemas auditivos da Tia Olívia já são grandes, o que dificulta uma conversa mais fluente. Deixamo-la na companhia da vizinha, que por lá ficou a arranjar a casa.

Ao chegar a casa da Tia Carminda ela parecia já estar à nossa espera…estava bem disposta e fartou-se de cantar. Vir passear cá para fora é que não, pois estava muito desagradável. O encontro foi quase todo a tirar a letra da música que com maior ou menor dificuldade, mais lógica ou menos lógica lá ficou registada no telemóvel do Jorge. As aventuras amorosas do carvoeiro era o tema da música…podia não dar um “Gremy” mas tinha ritmo!!! A hora estava adiantada e tínhamos de ir embora, não sem antes a Tia Carminda quase nos obrigar a comer qualquer coisa, lá se trouxe umas peças de fruta e fomos embora.

Siga para Basseiros...passámos primeiro em Candemil para dar boleia ao grupo que lá estava.

Mais um dia nas Aldeias…com amizade e serviço.
As nossas avozinhas emprestadas não dependem de nós, mas as nossas visitas quinzenais alegram um pouco mais as suas vidas de solidão. Diferente de outros serviços de voluntariado, o que levamos não se come…não se bebe ou se veste…apenas se sente e se vive!
Façamos então este serviço com alegria que não é mais que … “levar mais um pouco de vida a vidas já tão vividas…”

Frederico Faria | Ansiães

sexta-feira, abril 17, 2009

Crónica Aldeias - 21.03.2009

Uma tarde em Bustelo

Mais um Sábado, mais uma visita à pacata aldeia de Bustelo. Conto desta vez com a companhia do Jorge e da Cláudia que “acudiram” de pronto, mal souberam do contratempo que deixou em terra a minha colega de equipa. O dia faz jus ao início da Primavera: céu azul e um sol quente e brilhante. Bom prenúncio!
Hesitamos na 1ª visita. A D. Pedra não tem estado e até já tínhamos especulado se andava a fugir de nós (eu, pelo menos, nunca a tinha conhecido em quase em um ano de visitas). Decidimos tentar mais uma vez e… tivemos sorte! Estava na casa da sobrinha, mesmo em frente à dela, e recebeu-nos com simpatia, falando imenso da família (com quem tem sempre estado nos últimos Sábados das visitas). O Jorge, o único que já a tinha visitado, ficou pasmado! Nunca a tinha visto tão bem disposta e com tão boa relação com a família… Um pequeno milagre para início de tarde!!!
Seguimos e encontramos a D. Celeste que regressava a casa com água fresca da fonte. Foi bom falar com ela, sempre simpática e atenta. Pareceu-nos em forma!
Mais uns metros e somos chegados a casa da D. Fernanda. Não estava nem ali nem na sua horta. Soubemos mais tarde que estava num campo mais abaixo a plantar umas batatas. Com 70 e tal anos… Dá que pensar não é?
Continuamos rumo a casa do casal Aurélio e Emília. Ela sempre de sorriso aberto; ele, um vivaço nos seus 80 anos, sempre pronto a discutir a actualidade (menos futebol que o Benfica não ajuda…). E resume tudo num dos provérbios do seu longo reportório: “lá em cima manda Cristo; cá em baixo manda isto” (o dinheiro bem entendido)! Saímos bem dispostos e com pena de não poder prolongar a conversa.
Para terminar, a D. Maria. Domina a paisagem de Bustelo sentada à varanda na sua cadeira de rodas. Nada escapa aos seus olhos vivos e tem muitas histórias para contar. Como disse o Jorge, nem é preciso falar muito, a D. Maria faz as despesas da conversa, a uma velocidade que nos deixa a pensar o que seria se pudesse caminhar nas ruas da sua aldeia. Que reboliço!
E pronto, mais uma tarde cheia em Bustelo! Os colegas regressam das outras aldeias e juntamo-nos a eles de volta ao Porto… com um sorriso nos lábios.
Missão cumprida!

Nuno Afonso

segunda-feira, abril 13, 2009

Crónica da visita aos imigrantes - 08.03.2009

No dia 8 de Março decorreu mais uma visita à UHSA . Fomos quatro: eu, a Sónia, a Ana e a Katy. À chegada pareceu complicado estabelecer interacção. Estavámos poucas e o grupo era grande e constituído quase só por homens. Começámos a cantar músicas tradicionais portuguesas e todos prestaram atenção e até cantarolaram o refrão. Depois alguns deles cantaram músicas dos seus países, o que foi um momento muito especial de partilha. De seguida jogámos quase todos Uno. À medida que cada um ia terminando o jogo, conversámos com alguns dos imigrantes que contaram histórias de vida. Como se celebrava o dia da Mulher oferecemos uma flor a todas que lá estavam.
Perde-se a noção do tempo e acabámos por sair já tarde com as despedidas de reconhecido agradecimento e sorrisos que fazem valer a pena o esforço de continuar apesar da tristeza de se saber do encerramento.
Amélia

quarta-feira, abril 08, 2009

Crónica da visita aos imigrantes - 05.04.2009

“Vocês vêm e trazem alegria mas depois vão e a gente fica mais triste ainda”… Foi com estas palavras, emolduradas por um sorriso e adocicadas por um sotaque brasileiro, que deixamos a UHSA no último Domingo… Palavras que traduzem na perfeição aquilo que nós próprias sentimos durante as 3 horas que ali passamos e, depois, nos tempos indeterminados que levamos a ‘digerir’ tudo aquilo que ali vivemos…Foram só 180 minutos, mas durante esses (sempre tão curtos quanto irrepetíveis) momentos passamos o horror de uma guerra sem aviso, atravessamos um mar debaixo de um camião, sentimos na pele o arrepio de um sonho de uma vida que acaba num instante só… Como em alguns segundos vidas podem mudar… Como o tempo é uma coisa tão misteriosa quanto a vida, capaz de nos unir em apenas algumas palavras… Foi uma tarde de conversas profundas, de palavras sentidas, de histórias de medo e esperança, de rostos marcados com cicatrizes e sorrisos, olhares tocados pela revolta mas sem qualquer sombra de ressentimento… O talento do ‘Jr’, as aventuras dos marroquinos, as palavras de sentido agradecimento do ‘gangsta’ angolano, a alegria estampada na cara das croatas na sua ‘table dance’, os olhares apaixonados dos meninos indianos, a simpatia constante do senhor palestiniano… Quem dera que os pudéssemos levar a todos connosco para um lugar onde as fronteiras não existam…De cada vez que passamos aquelas portas rumo à ‘nossa vida’ deixamos sempre um bocadinhos da nossa alma desfeita pela maldade de uma civilização onde um papel vale mais que um nome, o cumprimento da lei mais que uma vida…Este foi um daqueles dias…em que tudo vale a pena mas a única coisa que queremos se afirma como algo que ‘não é possível’: mudar o mundo…
Ana Pinho

sexta-feira, abril 03, 2009

sessão de acolhimento / esclarecimento a novos voluntários

No próximo dia 07 de Abril pelas 21h30, no CREU, haverá uma sessão de acolhimento / esclarecimento a novos voluntários que pretendam conhecer melhor o FASRondas, e quem sabe integrar o grupo!
Se estiveres interessado em comparecer envia-nos um e-mail para:
fasrondas@gmail.com
Aparece!

segunda-feira, março 30, 2009

Crónica da visita à UHSA - 22.03.2009

Às vezes saímos da visita com um aperto cá dentro, com o coração tão pequenino que até dói. Foi o que aconteceu na última visita à Unidade Habitacional de Santo António (UHSA). Mais de 20 utentes, a maioria homens. Cada um com a sua história de vida: uma brasileira conta que esteve cá 4 anos, tem um namorado "ele diz que pr'ó ano me vai visitar ao Brasil…será que vai?" pergunta-se pouco crente. Um marroquino conta como fugiu, sabe que brevemente vai ser libertado e não tem trabalho: apetece-nos ajudar, arranjar alojamento, trabalho.
Saímos a pensar em cada um. O coração apertado. E eu não faço nada, não faço mais nada além desta curta visita? E se arranjássemos um trabalho para o Rax? No dia seguinte a Cláudia telefonou à responsável pelo Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados, nosso contacto dentro da UHSA. Ficámos a saber que ao Rax já tinha sido proposto um trabalho, mas não quis, não quer um emprego. Arranjar empregos não é a nossa tarefa, ser voluntário não é pensar que vamos mudar o mundo, ser voluntário não é ser voluntarioso. Mas foi bom saber que há alguém lá dentro cuja função é ajudar os detidos, que conhece cada um pelo nome e sabe a sua história. O nosso papel ali é procurar ajudar a passar uma boa tarde de domingo. Parece pouco? Talvez. Conseguimos? Acredito que sim. Mas o que tenho a certeza é que estas visitas fazem mudar algo dentro de mim, algo que muda para melhor.
Ana Aguiar

domingo, março 29, 2009

3ª Crónica das Famílias - Março de 2009

Dia 21 de Março, início da Primavera.
Na passada quarta feira, véspera do Dia do Pai, tivemos a nossa reunião mensal, que correu especialmente bem dada a amável presença de 3 dos nossos casos de família acompanhados. O Sr. F., o ZM1 e o M. foram verdadeiros protagonistas e mestres nos testemunhos simples, genuínos e transparentes que deram, e nas palavras e emoções que transmitiram.
Nesse mesmo dia uma voluntária nova, que passou por este blog, resolveu aparecer para "espreitar" o funcionamento do grupo e integrou a nossa vertente! Mais uma ajuda em boa hora, numa fase de algumas desistências por indisponibilidades várias e pessoas a precisarem sempre de algum tipo de conforto…
Pegando no ponto de situação logística aproveito então para informar que, ao dia de hoje, são 13 as "flores da nossa estação" que acompanhamos com cerca de 30 "colaboradores de Jardineiro" vestidos de voluntários e 10 "adubadores" em apadrinhamento.
Nesse Jardim imenso, há uma certa flôr chamada B. de quem vos falarei hoje, entre o voo das andorinhas.
A B. tem hoje 26 anos e continua no seu processo de tratamento e reconstrução pessoal e social, iniciado connosco há cerca de 2 anos e meio atrás. Decorria o ano de 2005 quando, numa das viagens de ronda dominical, começamos a estabelecer algum contacto com ela; contacto esse que foi sendo aprofundado nos tempos seguintes como quem rega, protege do vento, ou deixa entrar os primeiros raios de sol. Depois de algumas lutas complicadas e primeiros desafios ultrapassados a B. entusiasmou-se verdadeiramente com a ideia de tentar mudar de vida, mais uma vez… Em 2007 aceitou iniciar um processo de desintoxicação com a força de vontade interior de quem já viveu o que muitos adultos, felizmente, nunca viverão. Com esse passo, ainda em processo, outros bagos foram surgindo e sendo colhidos, devagar, devagarinho... Uma família retoma, ao de leve, a ínfima presença de quem avança ainda desconfiado; um ente querido desabrocha suave no contacto e arrisca votos de fé no novo ciclo; um distante transporte ganha contornos de concretização futura deixado no canto a velha cadeira de rodas; o corpo torna-se mais composto e robusto; o olhar ganhando foco; um dia "request" porque houve compromisso e verdade… Como a alternância das estações os passinhos da B. têm sido feitos de ciclos de avanços "em círculos", onde "à frente" e "atrás" se tocam inúmeras vezes em linhas que não são rectas e desenhos que não se fazem dessas certezas e objectividades com que algumas vidas humanas são estabelecidas. A B. tem o seu próprio clima, o seu próprio tempo, a usa própria estação.
No final do ano de 2008 algumas alterações no estabelecimento onde está em tratamento, bem como na vida dos outros utentes que a rodeavam, proporcionou nova meteorologia - desta vez mais chuvosa, podemos dizê-lo com segurança… - condizendo com a estação invernal que decorria pela altura. O seu comportamento tomou posturas menos correctas, foi necessário algum espaço para a reflexão, para a hibernação.
Actualmente mudou de vaso, mantendo-se no mesmo jardim. Continua em tratamento na mesma instituição mas numa outra zona. Essa mudança impôs-nos, mais uma vez, um tempo de espera e necessária distância. A vida é toda ela feita destes ritmos… Nós é que muitas vezes teimamos em relógios pessoais que de pouco ou nada servem. As estações são senhoras do seu próprio tempo e ora é Primavera… ora chove torrencialmente. Nelas continuamos presentes, amando-a diariamente. Na sua árdua terra em que tem sido raiz em busca de humidade e aprofundamento, o Calor é Silêncio… e será sempre no seio mais íntimo desse chilrear interior que a B. poderá florir verdadeiramente.
Raquel Henriques

sexta-feira, março 27, 2009

"Mankind Is No Island"



O Tropfest e o maior festival de curtas metragens do mundo. Começou há 17 anos atrás em Sydney e no ano passado teve a sua primeira edição em Nova York. O vencedor do ano passado foi este filme que foi totalmente filmado com um telemóvel. O seu orçamento foi de 40 dólares (cerca de 30 euros)!

sexta-feira, março 20, 2009

Crónica das Aldeias - 07.03.2009

Sábado, um sol maravilhoso que nos aquece o coração! Partida rumo às aldeias, para visitar as nossas "senhoras" que poderiam ser nossas avós!

Paragem em Candemil, o nosso local de almoço nestes dias de Inverno, instalámo-nos confortavelmente na varanda da casa da paróquia a saborear a bela sopa de espargos enquanto a conversa fluía entre todos, animada pelos raios de sol.

Partimos em direcção às aldeias, dividimo-nos, para mais tarde, nos encontrarmos em Bustelo e partilharmos a nossa tarde e a nossa vivência.

Com um até já a todos, vou para Basseiros, uma aldeia pequena e simpática, as flores já começam a aparecer, ouvem-se os pássaros chilrear, tudo parece começar a florescer…
Vou até à casa da D. Deolinda que encontro sentada à porta ao sol, não me reconheceu, mas após uma breve explicação identificou-me (afinal só lá tinha estado uma vez há 15 dias atrás), falou-me da doença que a afecta e da sua fragilidade e debilidade física, mas aos poucos lá começou a sorrir e a sentir-se de cada vez mais à vontade, e eu a agradecer aquele desbloqueio.

Mas, entretanto uma agradável surpresa, a Amália disponibilizou-se para fazer as visitas comigo, uma jovem de 17 anos que traz sempre um sorriso no rosto e uma palavra de carinho e conforto para todos!

Despedimo-nos da D. Deolinda, não antes de termos dado dois dedos de conversa com a D. Celeste, que é vizinha e vem sempre receber-nos com um beijo e um sorriso, nestes momentos sinto que existe uma partilha muito genuína entre o ser humano, mesmo quando não conhecemos muito bem as pessoas.

A D. Glória não estava em casa, pelo que fomos ter com a D. Hermínia, que nos recebeu de braços abertos e nos convidou a entrar, falámos sobre os seus filhos, netos, a sua vida, partilhámos também um pouco das nossas vidas com esta senhora de ar feliz e bem com a vida, e continuámos animadas pelos sorrisos que íamos recebendo.

Subimos até à casa da D. Conceição que estava ao sol, e ficou muito feliz ao ver-nos, estava à nossa espera, perguntou pelas outras meninas, como estavam, porque não tinham vindo. E resolveu oferecer-nos uma pulseirinha que tinha comprado numa das suas visitas a Amarante, enquanto dizia "não é nada de especial", o objecto pode não ser especial, mas o gesto é generoso e carinhoso, por parte daquela senhora dos seus 80 anos, que numa das suas idas ao médico a Amarante se lembra das meninas que a vão visitar ao sábado. São estes pequenos, grandes gestos que nos enchem o coração, e nos fazem acreditar que estas visitas são um dar e receber constante, por vezes, sinto que recebo muito mais do aquilo que dou!

Depois de um beijinho, lá vamos encosta acima rumo à casa da D. Dulce, que está rodeada pelo marido, pela filha e pelo neto, mais dois dedos de conversa e vamos embora.

A Amália e eu despedimo-nos, e vou ter ao ponto de encontro com o resto do grupo.

Enquanto caminho e olho para aquela paisagem maravilhosa sinto-me feliz, pela tarde, pela forma como as pessoas me receberam, pela preciosa ajuda da Amália, pela pulseirinha da D. Conceição, e por todos os abraços e sorrisos que fui recebendo ao longo daquela tarde e que me vão tornando mais enriquecida, mais consciente, mais atenta, e, especialmente mais grata pela vida de todas estas pessoas que cruzam a minha de formas tão diferentes mas tão boas e tão cheias de alegria e generosidade.

No final da tarde, já no regresso a casa sinto que tudo faz sentido, e trago a esperança de que posso ser um bocadinho melhor, com estes pequenos presentes que vou recebendo ao longo da minha vida, e dou graças por isso!

Sara Gonçalves | Aldeia de Basseiros

sábado, março 14, 2009

2ª Crónica das Famílias - Fevereiro de 2009

Com um ligeiro atraso, continuo o caminho lançado pela Raquel, com o arranque deste novo ano, de darmos a conhecer um pouco mais o que faSemos nas Famílias.
Estamos a “apadrinhar” 5 casos, com novas voluntárias a começarem a dar os primeiros passos em todos eles. O apadrinhamento é o nome que damos ao acompanhamento que fazemos dos novos voluntários, quer seja para começar casos novos (dois neste momento), quer seja para melhor ajudar o caso em questão, quer para fazer transição entre pessoas que acompanham um caso.
Este é o relato de um caso com alto e baixos, com momentos de passos em frente e alegrias e também passos atrás e desilusões, acompanhando o Paulo (nome fictício) na sua luta para reconstruir a sua vida.
Falemos então do Paulo, jovem de trinta e qualquer coisa anos, que a ronda dos Aliados conheceu junto ao Teatro S. João no Outono de 2006. Na altura falou-se apenas ao de leve (ainda mais que ainda não o conhecíamos) em desintoxicação, e ele não se mostrou reticente, ou evasivo como tantas vezes acontece, quando as pessoas ainda não se decidiram se querem tentar virar as costas à droga ou não.
Ficou o compromisso de recolher informação e ver em que poderíamos ajudar. No domingo seguinte, falou-se directamente com um técnico amigo do FAS (que é sempre uma grande ajuda) e marcou-se encontro para a manhã seguinte às 8h.
Assim começou este caso de Famílias, nesse dia em que o Paulo lá estava à espera nervoso e com receio. Passadas 4 horas saía do CAT integrado num programa de Metadona.
Nos primeiros tempos não se manteve contacto pois ainda demorou um mês e meio a arranjar um quarto, e por isso mudava sempre de local, a pensar na sua vida futura e que isso facilitaria a sua reintegração.
Passados alguns meses conseguiu uma primeira oportunidade de trabalho, mas que não se manteve durante muito tempo.
Após algum tempo reataram-se os laços com a família, em que o voluntário que o acompanha foi com ele visitar a família, foi um passo importante!
Comemorou-se o aniversário do Paulo com um coração cheio, pela primeira vez desde alguns anos, fora da rua.
Mais tarde entrou uma nova voluntária para ajudar neste caso, diminuindo os tempos de solidão profunda do Paulo que estava longe da família e sem qualquer apoio, sem ser o da Segurança Social e o do FAS.
Depois apareceu uma segunda oportunidade de trabalho e parecia que o céu era o limite! Mas durou pouco… Sete semanas mais tarde voltava-se à procura de trabalho, e o pior momento foi quando um mês mais tarde, umas confusões com as pessoas de onde dormia o fizeram voltar a dormir na rua, o seu pior pesadelo! Em dois meses, foi-se da grande alegria pelo Paulo à angústia profunda… Muitos telefonemas e conversas depois, apareceu um novo quarto um mês mais tarde.
A morte de um familiar com quem tinha uma ligação forte foi outro momento difícil e que lentamente provocou uma mudança, surgiu a vontade de internamento prolongado para desintoxicação e o mesmo 3 meses depois foi aprovado…
E… a história pára aqui, aguarda-se os próximos passos, com muita esperança!
Os dois voluntários empenham-se muito neste caso já com história, criando uma rede de contactos habituais com as pessoas com quem o Paulo interage, isso ajuda muito e é muito importante em alturas difíceis. Assim são pivots de ajuda e um pouco de família.
Já ajudaram em mudanças de quarto umas quatro vezes e assistiram a conquista e a perda de dois empregos, e continuam a acreditar no Paulo e a querer estar lá, para o que der e vier.
Jorge Mayer (subcoordenação Famílias)

sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Crónica das Aldeias - 21.02.2009

Mais um sábado rumo às “nossas” aldeias…
Desta vez mais alegres, novas chegadas, novos voluntários.
A par do almoço, partilha-se um pouco de nós, um pouco do sol, antes de nos dividirmos.
Eu e o Diogo ficamos em Candemil.

“Ando devagar porque já tive pressa, levo este sorriso porque já chorei demais…”
Lembro-me desta música enquanto passeamos com a D. Aurélia. Passo certo, pelos altos e baixos do caminho, cara alegre, boas palavras, como se o que não é bom pesasse demais para ser carregado. Vai falando, contando episódios dos seus noventa e três anos, perguntando pelos nossos pais, nossos avós, dando sustento à verdade de “recebe mais, quem mais partilha”! E nós vamos também partilhando. “Sempre fui bem disposta, mas às vezes as pessoas não sabiam e só percebiam quando falavam mais comigo!”
Findas as voltas, rumamos à próxima casa, D. Alda. Pelo caminho encontrámos a D. Maria do Carmo, a aproveitar o sol. Depois de a sentarmos melhor, ficou um “até já”.

A gripe ainda não foi de vez. D. Alda levanta-se num ápice, fazendo a oferta de praxe - um cházinho. A cara vai-se alegrando, entre mágoas, choros e cantigas tudo se leva, a quem foi brindado com a inteligência, a acutilância e o humor. Não se esquecem os que vão passando…
Al – O João está bom? Qual é a morada dele? E o D. João II?
Passa-se dos contratempos do Natal, para as cantigas e a conversa rola…
Al – Acho que os cegos têm muito jeito para a música!
Aur – É para apagar a nostalgia. (…)
Nesta visita ouviu-se Frei Hermano da Câmara (FHC), a cassete já gasta ainda alegra. Lembram, da rádio, histórias que nos vão contando como parte do seu dia.
Al – Numa entrevista, ouvi um repórter perguntar ao FHC: - “Não sente saudade do tempo dos bailes, de andar a tocar nos salões?”, FHC - “Nessa altura tinha muitos aplausos, mas chegava a casa e sentia-me muito só.”
E a propósito disso vai cantarolando “Entreguei-me todo a Cristo, nunca mais me sinto só”.
D. Maria do Carmo ainda lá estava, apesar do sol menos quente. Fomos para dentro de sua casa, à velocidade que o corpo deixa. Entretanto já somos cinco. Caras que se animam, trocas de palavras entre “tias” e “meninas”, aproximando histórias, acelerando a tarde.
Ficou um até breve, um novo brilho que trazemos e temos esperança de deixar.
A mim ficou uma de tantas canções que a cassete passou nessa tarde…

“As nossas capas
rotas, velhinhas
Todas negrinhas
Também no ar
São andorinhas
Que se preparam
Para emigrar.”

Isabel Teixeira Gomes | Aldeia de Candemil

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Crónica da Ronda da Boavista - 15.02.2009

Preparação dos sacos... Oração inicial... Partida...

Partida para uma ronda em que o carro estava lotado. Erámos 5! E fomos ao encontro com todos aqueles que já fazem parte das nossas vidas.

Hoje não estivemos com a D.F pois no domingo passado disse-nos que iria a Torres Vedras. Mesmo assim passamos pelo parque de estacionamento onde costuma estar para deixar um saco de ternura, tal como tinhamos combinado.

Depois seguimos para o Lar das irmazinhãs dos Pobres onde já é costume deixar o pão que sobra depois de fazermos os sacos para os sem-abrigo que visitamos. Passamos o saco do pão para o lado de dentro do lar e fomos ao encontro do Sr. G. Estava bem disposto e falou-nos do seu carro que já anda em circulação. Também nos falou das novas mezinhas que tem e que está a fazer para o coração.

Entretento a D. G avisou que estava na paragem a nossa espera e que estava doente, pelo que fomos logo ter com ela. Quando a encontramos disse-nos que se sentia muito cansada e como apareceu logo o seu autocarro não falamos muito mais.

Uma vez que estavamos no Bom Sucesso aproveitamos para estar com o Sr. Al e com o JP. O sr. Al já acabou o seu trabalho comunitário e falou-nos do filho que não lhe ligou desde que foi para o Brazil. Também nos mostrou um cartão que tinha com a fotografia do filho. O JP continua a não ir ao Centro de Emprego e como já vem sendo hábito ao Domingo não vai à metadona.

Após estas visitas fomos terminar a ronda no Campo Alegre. O Sr. Z já estava a dormir por isso não falamos muito. Aceitou um copo de chá mas não aceitou o nosso saco pois já lhe tinham dado muita coisa. Com o Sr. A falamos de futebol embora ele não tenha ouvido o relato pois está sem rádio. Também incentivamos o Sr. A a fazer uma limpeza ao local onde dorme pois o sítio está com muito lixo espalhado.

E assim terminamos a ronda com um momento de partilha e com os desejos de uma boa semana para todos.

Manuela Seixas

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Crónica das Aldeias - 24.01.2009

Vimos cantar as Janeiras | Boas festas desejar | Que tenha muita saúde | No ano qu'está a entrar. Foi com esta letra e a música de "Mãe querida, mãe querida" que o grupo de voluntários das aldeias fez sucesso no Marão. De início todas (e todas por que eram 10 voluntárias femininas) se mostraram apreensivas com a música um tanto ou quanto melancólica. Mas depois entrou no ouvido e "entranhou-se". Após o habitual almoço partilhado, seguiram-se os ensaios que não duraram mais do que 30 minutos. Talvez tempo de menos para quem nunca tinha cantado tais melodias. Mas o resultado foi glorificador. Partimos para a primeira aldeia, Candemil, com um plano de cantarmos duas a três músicas em cada casa, ou seja, não estaríamos mais do que 15 minutos em cada local. E, mesmo assim, a tarefa ia ser difícil, pois teríamos de chegar a 14 casas, de preferência ainda com voz e ânimo para alegrar as pessoas que visitamos e de modo a não entrarmos pela noite dentro (leia-se pelo jantar das pessoas adentro, o que habitualmente começa pelas 18h30/19h).
Mas o Homem planeia e Deus troca-nos as voltas. Chegamos à casa da Dona A., que habitualmente está bem-disposta, e encontramo-la muito cabisbaixa. Para além da gripe, estava sem telefone há uma série de dias. Isolada do mundo e da família. Logo nos dispusemos a ajudar. Uma chamada para os familiares do Porto para ver como estavam de saúde e um telefonema para o operador de modo a solucionar o problema. A família estava bem, Dona A. descansou. Até já se levantou da cama para oferecer um cálice de vinho do Porto.
Com o operador é que foi mais complicado. "É o sistema, diriam alguns". A chamada não surtia resultados. Sugeri que o restante grupo continuasse as visitas e fiquei ali pelo menos 20 minutos à espera que me atendessem o telefone! Descrevi o problema, "o telefone não faz chamadas e ao atender não se ouve." Sugestão do lado de lá da linha e de quem não conhece a realidade do Marão. "Não tem outro aparelho para substituir de modo a apurarmos se é do aparelho ou da linha?!" Ao que respondi calmamente, embora remoída por dentro: "Não, não temos aparelho. Têm de enviar um técnico aqui para ver o que se passa, pois a senhora vive sozinha e este é o único meio de contacto com o mundo."
E lá marcaram, com algum custo, a vinda do técnico (que segundo a Dona A. me disse a posteriori esteve lá logo no início da semana).
A Dona A. agradeceu profundamente e eu levei o sorriso e as palavras no coração.
Seguimos viagem. De Candemil para Ansiães. Aqui não cantamos na casa da Dona R., porque não entra música dentro dela desde que o marido e o filho se foram. Ainda assim, recebeu-nos bem, como sempre. A Dona O. estava dentro de casa, o que não é habitual, por causa do frio. Escutou-nos alegremente, ainda, que os ouvidos já a atraiçoem. Com um pulinho já estávamos com a Dona C., a nossa "cantora-mor". Infelizmente não estava nos seus dias, "está fraquinha", comentavam os visitadores de Ansiães. Apesar disso, ouviu-nos atentamente, muitas vezes batendo palmas e, ainda, arranjou força para "gritar": "levem, levem, levem uma laranja."
Basseiros foi a paragem seguinte. Não encontramos duas senhoras em casa. Às vezes acontece, ou porque vão para casa dos filhos, ou porque se deslocam para os seus afazeres. Mas a Dona C. estava em casa. A visita levou calor ao seu coração que ainda lembra o marido, falecido há dois anos, com lágrimas nos olhos. "Gostei muito, muito obrigada" repetia insistentemente, perguntando se tinha de dar alguma coisa como é tradição nas Janeiras. "É claro que não!" (pelo menos material, porque emocional já estava a dar muito). A Dona D., estava junto à lareira para se aquecer. Encontrava-se adoentada e agradecendo a visita foi-nos pedindo para não cantarmos muito, não estava com muita disposição.
Dali rumamos a Bustelo. A Dona P. também não estava em casa. Seguimos para a casa da Dona C. e da irmã, a Dona M. Na varanda fomos entoando os cânticos festivos que chamavam a atenção de quem passava na rua "estas meninas não parecem deste tempo", ouviam-se algumas vozes. Seguiu-se a casa da Dona F. que, ao fim de uma música, já tinha entrado no ritmo e acompanhava-nos nas cantorias. A casa do Senhor A. e da Dona E. foi a última a ser presenteada. Fechamos ao rubro, com as gargantas ainda afinadas, a dar conta de todo o repertório do dia. E a abrir a porta aos curiosos que iam entrando para perceber o porque das guitarras e das canções. O dia terminou com a oração e partilha em Bustelo, com o frio a arrefecer o corpo, mas com o coração quente de tanta alegria. Para o ano, esperamos, há mais.

Claúdia Gonçalves