quarta-feira, novembro 24, 2010

Crónica das Aldeias - 13.11.2010

"Obrigada" às novas voluntárias

Por entre raios de Sol, interrompidos por pingos de chuva, rumámos até às nossas aldeias perdidas no Marão. Com novos voluntários que escolheram acompanhar-nos neste projecto e contribuir, quinzenalmente, para aumentar os sorrisos nesta região.

Em Ansiães, fazemos, desde há cerca de um mês, menos uma visita: a nossa amorosa Dona Rita (“Ando em 90, já!”) foi viver para casa de um filho e, como tal, visitamos agora apenas a Dona Ondina e a Dona Aldina.

“Estou à vossa espera!” diz-me a Dona Ondina quando me aproximo do seu portão e a vejo sentada num banco à porta de casa. O seu largo sorriso deixa espreitar o único dente que ainda tem – uma imagem que não se esquece. “Eu corri o mundo, meninas – de Bragança ao Algarve e até fui a França!” esclarece-nos a Dona Ondina, não fossem as novas voluntárias, Paula e Clarisse, ficar com alguma dúvida.

“Estou à vossa espera!” Curiosamente, a Dona Aldina disse exactamente o mesmo que a Dona Ondina, assim que nos viu a chegar a sua casa. “Eu gostava era que viessem mais vezes!” É um doce, esta senhora, com quem partilhámos um delicioso cházinho e a quem a Paula prometeu iniciar nas lides do crochet.

Esperam por nós, que bom!

Ana Barros - Ansiães

quinta-feira, novembro 11, 2010

Crónica da Ronda da Areosa - 07-11-2010

O clássico e a maratona

O Verão do São Martinho - que ainda não foi - é já uma memória vaga. O frio voltou e saiu à rua para compassar mais uma ronda de domingo à noite. Afina-se a conversa pelo diapasão do clássico Porto x Benfica da noite. Alinham-se o pão, os doces, os salgados. Abrem-se os sacos. Metem-se abraços lá dentro. Os nossos são feitos de géneros.
A caravana parte pelas ruas de sempre. Na primeira paragem a conversa faz-se à mesa. O bolo deitado na mesa não chega para adoçar o desabafo. Cheira a caldo verde. As novidades desfiadas têm rugas cada vez mais carregadas. Ouvimos. O lamento convoca a nossa opinião. Dada. Debatida. Por hora vencida pelo rame-rame dos dias. Tão avessos são à mudança.
Seguimos atrasados para a Loja do Cidadão. Esperam-nos duas visitas. Tolhidas pelo frio. O clássico terminou por ali. Não há bandeiras, nem adeptos. Só os protagonistas de dois campeonatos mais pautados por derrotas e empates. São dos que ainda vão a jogo. Mesmo sem táctica nem técnica, uma mostra-se disposta a jogar para a goleada. O outro mostra-se disposto. Nem que seja para cumprir calendário. Gira a bola…
Já na Areosa, cumprimos a penúltima paragem. Num caixote, onde à vista desarmada não caberia mais do que uma criança de 10 anos, mora mais uma visita. Dorme. Acorda. Bebe uma sopa quente. Fala do RSI que ainda não tratou. Do almoço de domingo que alguém ofereceu. E do casaco. Limpa o líquido que lhe sai dos olhos com os restos de um toalhete de gasolineira. Estendemos um lenço de papel. Gesto macio. Dá conta da falta de um elemento no grupo. Dá conta das horas, como se o tempo se tivesse esgotado. Diz que é o nosso. Será o dela também. Por esta noite. Só por esta noite. Até para a semana.
A ronda chega à última paragem. Dos três, um fica sem dar sinal de vida. O do lado insulta-o. Explica, para quem quiser ouvir e entender, que é um gesto amigo. Como todos os que tem. É honesto, frontal e duro. Como a guerra. E isso basta. Para ele basta. Para os outros devia bastar também. Pede leite e pão. O tom grosso empareda aquele espaço. De repente estamos na sua casa, a ouvir as suas histórias, as suas sentenças, as certezas que tem do mundo onde nada nem ninguém lhe escapa. E ali, naquela casa improvisada, manda quem fala mais alto.
São duas da manhã. Quase a chegar a casa. Muitas horas antes, na manhã desse domingo em que o Verão do São Martinho - que ainda não foi - se tornou uma memória vaga, participei numa corrida. Quando acabou, pensei na próxima, não nos que ficaram para trás. E quantos ficaram? Quem deve marcar o ritmo? Como se faz de lebre no mundo real? Perigosa a distância que nasce para os que se atrasam. Tentador continuar a correr sempre. Até nos perdermos de vista. E coração que não vê…

Filipa Silva

segunda-feira, novembro 08, 2010

Crónica da ronda de Santa Catarina - 31.10.2010

"Quando dar é receber"

"Muito pior do que passar fome é dormir na rua", afirmou a D. W. Esta frase despertou em mim uma tempestade de questões e múltiplas tentativas frustradas de resposta. Pode haver algo pior do que passar fome?? Não parece, pelo menos à primeira vista, haver nada mais limitante física e psicologicamente..!Mas à medida que cada domingo vai passando, cada um mais escuro e frio que o anterior, vou-me apercebendo melhor do quotidiano cruel de quem dorme tendo o céu como tecto..a exposição, a vergonha, a indiferença ou maus tratos de quem passa, o frio, o barulho, o medo constante do minuto que se segue. Será que as pessoas conseguem realmente descansar? Ou estarão com "um olho aberto e outro fechado", assustados a noite toda? E como serão passados os dias, depois de noites destas? Será que fazem algum sentido? Existirá alguma noção de tempo? Ou tudo não passa de um enorme vazio? Continuo sem respostas para muitas destas perguntas..e não sei se algum dia as vou encontrar. Tenho, no entanto, uma certeza: aquilo que sinto! É indescritível a sensação de preencher e partilhar algum do tempo destas pessoas, levando um ombro amigo, alento e principalmente esperança de que um dia o mundo lhes abra uma porta para um futuro melhor...

Maria Natália Costa

domingo, novembro 07, 2010

Crónica da Ronda da Batalha - Outubro

Noite amena de sentimentos… É assim que arrancamos todas as noites, apesar do calor e do frio que possam estar!

O Sr. F estava bem disposto, perguntou por todos e pela nossa menina mais nova que não nos acompanhou por estar doentita… de resto pareceu-nos bem e falamos sobre um casal que o costuma ajudar a guardar as coisas… Não pareceu muito contente com eles, enfim as desilusões de quem pouco tem, e pouco espera!
E claro… partimos em direcção ao N. e C. mas nada… ultimamente tem sido sempre assim – desanimo instaurada!
Seguimos para junto do M., J. e L. e qual a nossa surpresa? N. apareceu para vir buscar o saco e para nos dizer que depois poderíamos passar lá para conversar um pouco. Continuamos a nossa conversa com os 2 irmãos e claro duas de gargalhada com o L. que tem um lado tão real de vida… bem diferente do seu irmão que está sempre tudo bem e que a sociedade tem sempre uma divida para com ele porque ele não tem de fazer nada pela vida. O L. tem consciência de que as pessoas não têm qualquer tipo de obrigação e que eles devem ter consciência disso. Boas conversas que temos com os 2 J

Já o M. estava "cabisbaixo" (como já é habitual), como sempre mas falou-nos dos seus doces preferidos por exemplo a broa de mel. Falamos da sua semana e da rotina em que se está a tornar a sua vida.

Seguimos novamente para junto do N. e C., mas apenas encontramos o N. … Ele é sempre muito atento, tentamos perceber o porquê de não o vermos há quase 2 meses, porque se pelo menos fosse por boas noticias… Não acrescentou muito para além do já habitual. Mostrou saudades e perguntou por todos. Bem seguimos viagem um pouco tristes por perceber que uma pessoa tão nova estar tão perdida… Custa muito ter esta percepção. Deus os acompanhe no seu dia-a-dia.

Seguimos com um coração um pouco mais cheio, mas pensativo!

Sabina Martins

terça-feira, novembro 02, 2010

Crónica das Famílias Julho de 2010

"Stop aos TPC e vamos uma tarde à piscina…"

Chegaram as férias grandes!

As visitas continuam, os meninos estão à nossa espera, à 4ª feira à tarde, mas, nesta altura, as visitas têm outro formato. Com mais descontracção e disponibilidade para as brincadeiras. A D. F. recebe-nos com agrado, pois os meninos gostam muito da nossa companhia.

Todos os meninos passaram de ano, embora tenham que trabalhar um pouco durante as férias para não esquecerem as matérias (recomendações das Sras. Professoras). Como tal, pensamos proporcionar uma tarde diferente a quem dedicamos, com muito gosto, algumas horas das nossas vidas.

Sem sabermos muito bem como iriam reagir as responsáveis pelas crianças, pedimos autorização à matriarca da família para levarmos os meninos a passar uma tarde à piscina. A ideia foi muito bem aceite e a criançada ficou eufórica e a querer combinar tudo logo para o dia seguinte.

Reunidas as condições necessárias, bom tempo, transporte para todos e vigilância suficiente para as quatro crianças, lá se combinou o evento. Então, no dia combinado, à hora marcada, estavam lá cinco meninos (os quatro da casa e uma amiga que convidaram), completamente em estado de euforia, com grande ansiedade pela tarde que finalmente chegava. Seguimos de carro rumo à Maia.

Foi surpreendente observar a alegria de todos. Olhavam para cada sítio onde se passava e iam comentando tudo o que viam. Tudo lhes parecia novo e diferente. Estavam mesmo felizes. A maior admiração surgiu quando chegaram ao local: ficaram completamente em "transe" ao observar todo o espaço: a piscina, o jardim, as espreguiçadeiras, as bóias… enfim, tudo para eles mereceu a sua atenção.

Ansiosos por saltarem para dentro de água, foi necessário "reunir" e definir as regras para que tudo corresse bem e, quem sabe, um outro dia se pudesse repetir. Alguns eram mais corajosos e completamente destemidos com a água, outros, mais medrosos, mas, a pouco e pouco todos se deslocavam da parte mais baixa para a mais funda sem qualquer problema. Foi necessária muita vigilância, mas estiveram todos muito bem, muito felizes, completamente radiantes.

Depois de bastante tempo a nadar, saltar, chapinar, etc, veio a hora do lanche que serviu para retemperar energias e forças.

Foi um dia em cheio. Temos a certeza que estas crianças jamais vão esquecer aquela tarde de férias. Nós pensávamos que eles iriam gostar desta oportunidade, mas nenhuma de nós imaginava o quanto é que elas apreciaram na realidade. Foi de tal forma além das nossas expectativas que ficamos sem palavras a ouvir todos os seus comentários: "isto foi um sonho"; "temos que vir outra vez"; " as pessoas que têm esta piscina têm muita sorte"; …

É por este sonho, fazermos um pouco mais felizes aqueles com quem lidamos, que nos unimos num denominador comum. É assim o FasFamílias.

Um abraço,

Rosinha

Crónica das Aldeias - 16.10.10

Um "Obrigado" às novas voluntárias

Que há gente a precisar de ajuda é do senso comum. Que há ainda mais pessoas com vontade de ajudar, penso que também não será novidade. Que há gente que efectivamente sai do sofá para levar uma palavra amiga, uma sopa quente ou um afecto, ai já estaremos a falar, seguramente, de muito menos casos.

Ainda assim e porque todas as mãos são bem-vindas, a crónica das Aldeias desta semana é dedicada às duas novas voluntárias, de seu nome Patrícia e Anisabel (sim escreve-se tudo junto, perguntámos várias vezes e confirmámos).

Num misto de entusiasmo, curiosidade e, naturalmente, algum receio, as duas novas voluntárias trouxeram sangue novo , alegria, dinamismo, novas ideias ao grupo e, o fundamental, uma palavra amiga aos idosos.

Porque um obrigado e um bem-haja caem sempre bem. Porque voluntários precisam-se. Porque gostamos de vos receber. Porque estamos certos que os idosos das aldeias de Amarante gostam ainda mais, ficamos à espera de mais "Anisabéis "e "Patrícias" (atenção que a vertente das aldeias não é fechada a elementos do sexo masculino que, por sinal, até são vistos com bons olhos. Veja-se o caso do Engenheiro Adriano, um sucesso entre esta faixa etária da população).

Em suma, sejam bem-vindas e esperamos contar convosco por muito e muito tempo.
P.S. Desculpem, não poderia deixar de fazer um reparo: na próxima ida às aldeias não se atrevam a aparecer lá com comidinha que não seja caseira!

Ana Oliveira - Basseiros