terça-feira, julho 29, 2008

Crónica da ronda da Boavista - 27.07.2008

Estava uma noite de chuviscos...
Começamos a sentir as férias nas presenças no arranque, visto que já faltavam algumas caras conhecidas, a Inês ainda apareceu antes da sua partida para São Tomé. Lembramos o tesouro encontrado num campo e partimos.
Os restantes homens não vieram e a nossa querida Ana já está na sua lua de mel!
A D. F estava com dor de dentes, tantos anos de rua não perdoam... O Sr. V estava com o pé ao alto, pois teve uma operação que correu bem e está em recuperação. Os filhos não estavam presentes. Já falta pouco para os seus anos, e falou-nos de uma saia larga como prenda.
Seguimos para Eslopan, que demorou mais do que o normal. O Sr. G estava animado com a história do carro, mas vai ser preciso um chapeiro e um mecânico com muita boa vontade para dar um jeito àquilo, fez questão de nos salientar que não o tinhamos encontrado na semana passada. O A. está bastante melhor das feridas e veio falar brevemente connosco, o processo de voltar a casa está muito complicado e demorado.
O homem das mão lindas e o nosso jornalista não estavam em casa.
Encontramos o JP, que se empuleirou no carro (mesmo apanhando chuva) e conversou imenso connosco, o fecho do local de trabalho, o estar há 6 meses à espera de um quarto e do RSI, mas continua cheio de vontade de ir mais longe na vida. Sempre que passava um carro ele tinha de sair da janela do carro, o que em alguns momentos pareceu uma aula de step feita na janela do carro!
Não vimos o JC e o pessoal da área. O M. espera na 4a feira entrar finalmente na metadona, ainda não o fez por causa dessa doença enorme que dá pelo nome de burocracia!
O Sr. A e Sr. Ar estavam particularmente bem dispostos apesar da chuva, houve um crime por esfaqueamento na rotunda (de uma pessoa que conhecíamos de vista) e os detalhes eram muitos...Acabamos a noite os 3 pensando nas pessoas que encontramos e na nossa Ana, antes ainda vimos o Sr. Z que estava com bom aspecto.

quinta-feira, julho 24, 2008

Ida às Aldeias - este sábado (26Julho) - o último da presente temporada!

Bom dia malta aldeã!

No proximo sábado teremos o último fim-de-semana de visitas do ano 2007/2008, por isso temos uma responsabilidade acrescida em comparecer.

A partida fica marcada para as 11h00 no local do costume.

Tragam fato de banho, pois o tempo promete, e não se esqueçam da habitual partilha para almoço.

Confirmem, p.f., a vossa presença/ausência. O Rui não vai por isso sou eu que estou a tratar da convocatória.

Beijos e abraços,
Jorge

segunda-feira, julho 21, 2008

Crónica da Ronda da Areosa 20.07.2008

Começou bem tarde, a nossa ronda. Fui eu e a Joana.

Apesar das dúvidas, já que a D. A. não tem estado em casa, resolvemos passar lá na mesma. Correu bem: apesar de estar de saída para o seu trabalho, a D. A. ainda esperava por nós! Foi bom estar aquele bocadinho com ela. Contou-nos que o sr. J. estava internado no hospital e que a S. o tem ido visitar. Ela chama os enfermeiros pelo nosso nome, o que me deixou muito atrapalhado. Que triste, estranha e imprevista esta doença do sr. J. Deus há-de estar com ele, de certeza! Deixámos a D. A. no seu local de trabalho e seguimos para a rotunda.

A D. I. não estava, mais uma vez. O sr. M. acordou estremunhado e a rejeitar-nos, num momento inicial. Entretanto também acordou o outro sr. M., o que nos ajudou desta vez, a encetar diálogo com os dois. Entretanto o sr. M. lá aceitou a sopa que levávamos, dois dedos de conversa e o saco. Deixámo-lo bem disposto e ensonado. O outro sr. M. é que estava muito construtivo. Agora dorme no jardim do outro lado, junto ao sr. J. e ao sr. D. Fomos ter com os dois primeiros e ficámos a saber mais um pouco da vida do sr. J. Segundo conta o cunhado, ele já estava a receber uma pensão de doença, mesmo antes do tal acidente que teve nas obras. (A doença será mesmo de infância ou juventude, pelo que entendemos.) Ainda apareceu o sr. R., que quase se atirava para a frente do carro da Joana, pensando que já estávamos de debandada.

Naquele largo do costume, esperavam-nos 5 pessoas... Logo ontem que éramos poucos e tínhamos poucos sacos... Um novo sem-abrigo monopolizou um pouco a conversa. Prometemos vir melhor preparados na próxima ronda. Agora que perspectivamos uma alteração forte no percurso, é que aparece mais gente e as relações se vão aprofundando. Deus pede-nos que não desistamos: ouçamo-Lo, como diz Isaías na leitura de hoje. Conseguimos combinar com o B. e a R. encontramo-nos com eles, durante a primeira quinzena de Agosto, na rotunda. A R. está bastante dependente da visita das raparigas da nossa ronda. As estagiárias da escola, com quem se identificou mais este ano, vão-se embora no próximo e ela sentirá muito, se também nos "perder".

Foi uma ronda que puxou muito pela responsabilidade do trajecto e dos seus voluntários. É importante ter consciência que o nosso trabalho mexe muito com os sem-abrigo que visitamos. Todas as nossas acções ou omissões tem repercussões neles. Desrespeitamo-los sempre que falhamos, pois eles contam connosco!

Beijos e abraços,


Nuno de Sacadura Botte

sábado, julho 19, 2008

Crónica da Ronda da Areosa 13.07.2008

Domingo, 22h30, noite quente por fora, e por dentro também mal entrei no carro onde me esperavam a Joana, o Nuno, a Andreia e a Maria.
Passámos pela casa da A, mas outra vez não a encontrámos, pois o trabalho em casa da senhora tira-a de casa mais cedo. Deixámos um bolo e outros mantimentos e seguimos viagem; prá semana deixaremos um bilhete também, acompanha bem o bolo.
Seguimos para a Areosa, onde a I não estava, como agora é habitual. Fomos ter com o M, que continua com o “primo” M a dormir ao lado, no chão; o M estava algo desanimado, sem o dizer fê-lo sentir. Acho que a barba o cabelo o bigode fazem dele mui menos ele do que há uns meses.
Partimos para a última estação, a que tem mais esperança: estavam lá a R e o B, e o A também apareceu, desta vez com um amigo; a R acabou o 6º ano, é um passo a caminho de algo melhor; falta o B decidir seguir o mesmo caminho, e nunca lhe faltam desculpas pra não o fazer ; por acaso, se o acaso existe, tinhamos uma autêntica boutique de senhora na mala do carro, onde a R se abasteceu do que precisava com as meninas como conselheiras de imagem; prémio merecido para ela. Enquanto isso, os rapazes discutiam bicicletas com o B e o A.
Mais uma noite cheia de algo que não sei explicar mas sabe muito bem. Obrigado.

Pedro Pardinhas

sexta-feira, julho 18, 2008

Aldeias - Crónica da Festa em Várzea a 12 de Julho

No sábado participámos pela primeira vez na Ida às Aldeias, para além das visitas houve lugar à festa na praia fluvial.
Pelas 12 horas encontrámo-nos todos no Lugar da Quebrada em Amarante, com o sol, o verde e o rio como cenário.
Iniciamos com a oração antes do almoço e com a intenção de fazer daquele espaço um local de partilha, alegria e companheirismo.
Ao fim de pouco tempo sentíamo-nos como se não fosse a primeira vez que participávamos na Festa.
A partir das 14h00 começaram a chegar as crianças, os pais, as catequistas e o Padre…., quando todos se encontravam presentes demos início às actividades previamente definidas, com uma boa dose de improviso.
Todos participaram alegremente nos jogos, crianças, adolescentes, adultos. Coisas simples que nos aquecem o coração e o de todos, uma alegria contagiante no decorrer dos jogos, o sorriso e as traquinices das crianças a correr, a saltar e a passar de jogo para jogo.
Terminámos com um belíssimo lanche organizado pelas mães e catequistas, num lindo fim de tarde aquecido pelo sol e pelo sentimento de partilha, alegria e comunhão com os outros, com a natureza e, especialmente com Deus que nos colocou naquele espaço.
Viemos para casa com vontade de voltar e com um sentimento de gratidão.
Inês e Sara

Crónica da ronda de 13/7/2008 (Aliados)

Às vezes também nos reunimos à volta da despedida. A Ana vai para os Açores por algum tempo. A Inês para S. Tomé, por menos. Há o início de uma saudade, um fermento que fica e que vai, continuando a sua construção, agora mais distante.
Começamos com uma surpresa, o Sr. Ans de C. apareceu enquanto faziamos os sacos. Justificou prontamente a sua presença, não queria voltar a encarar o Sr. A (também de C.) devido a uma discussão por causa de umas sapatilhas de senhora... Os contornos ridículos da questão não nos impediram de o avisar que não voltasse ali, já que para além de nos atrapalhar a logística, não tinhamos disponibilidade para conversar tanto - e sobretudo por nos parecer um drama demasiado infantil para alguém de 50 anos. Concordou. Ainda o convidamos para a oração, mas surgiu-lhe uma pressa súbita que o levou a correr rua acima...
Como demorámos a sair (mais do que o habitual) decidimos ir directamente a C. Só encontrámos o Sr. A sem a sua habitual companhia. Contou-nos por alto a segunda versão da zanga, garantindo-nos que por ele estava tudo bem. Sempre de poucas falas despediu-se rapidamente e como mais ninguém aparecesse, seguimos nós também.
Fomos ao que costuma ser a primeira paragem mas o sr JC já dormia, não tivemos coragem de acordar. Deixamos um saco bem recheado com uma bebida de litro por causa do calor.
Depois voltamos a encontrar o sr E, sempre deitado debaixo dos cobertores e desta vez sozinho. Disse-nos que o M (o mais alto) fora tentar uma desintoxicação com o apoio da família.
Fomos a uma nova paragem e encontramos dois rapazes, um deles (o P.) era o que nos tinha falado do sítio onde dormem. Pouco falamos, deixamos dois sacos. O outro já dormia. Vamos tentar conhecê-los melhor da próxima vez.
Na última paragem algumas surpresas à espera. Primeiro conhecemos o sr. JF, alcoólico e com problemas judiciais que o impedem de ter documentos e pensar num tratamento. Depois o sr. JM, também alcoólico e ali bastante alcoolizado. Era a terceira noite que passa na rua depois de ter cessado o apoio social que lhe permitia ficar num quarto. Chorava que nem um desalmado enquanto nos contava o seu drama e abraçou-nos quando nos despedimos.Quando estávamos com o habitual sr. F ainda surgiram um grupo de homens de leste do qual só um sabia falar um pouco Português. Percebemos que queriam um medicamento para um deles que tinha uma doença numa perna. Tentamos encaminhar para uma farmácia ou para os Médicos do Mundo, mas entre explicações e traduções chegou uma carrinha que levou o nosso intérprete (que não pertencia ao grupo do rapaz queixoso) para o local de trabalho do dia seguinte e a conversa acabou. Os outros agradeceram muito, pareceu-nos terem percebido a nossa intenção de ajudar.
Que a semana nos mostre que a paz dos nossos dias é valiosa demais para a proporção que damos a muitos dos nossos problemas.

sexta-feira, julho 11, 2008

Ida à Aldeia - Amanhã - Festa no rio - 12 de Julho

Boa tarde a todos,

o plano já está preparado para um Sábado memorável na aldeia com a festa na praia fluvial (quem quiser vir das outras vertentes do FAS ainda pode alinhar!) e também com visitas realizadas por parte do habitual grupo das Aldeias.

Devido à necessária organização o arranque está marcado para as 10h00 junto à Igreja de N.ª S.ª de Fátima.

Não se esqueçam além do habitual farnel para partilhar, do calçonete ou do bikini, conforme o caso, pois a chegada do Verão assim o exige. Amanhã haverá nuvens apenas de manhã.

Beijos e abraços,
Jorge
PS - A festa è das 14h ás 17h.

quarta-feira, julho 09, 2008

Crónica da Ronda da Boavista - 29.6.2008

Mais um domingo, mais uma ronda. Desta vez estavamos todos, com excepção da Benedita. Paramos em primeiro lugar jundo da D.F. Por lá também encontramos o Sr.V, o Sr. M e ,mais tarde, juntou-se-nos o seu filho o P. Falamos de muitas coisas e, mais uma vez, os medicamentos foram tema principal de conversa.
Fomos depois ao encontro do Sr. G. Este estava muito bem disposto, depois de cerca de um mês fechado para remodelação, o McDonalds da Av. Boavista reabrira finalmente. Como é óbvio o corropio de gente por aquelas bandas aumenta e as "gorjetas" dos arrumadores também.
Na continuidade do percurso habitual fomos em direcção ao Campo Alegre. Neste dia só encontramos o Sr. J., por sinal muito bem disposto. Logo o inquirimos sobre a sua vivência São Joanina. Pelo meio falou-se de ratos, dos muito grandes, e para o fim uma boa nova: o Sr. J. iria a banhos no dia seguinte. Com muito humor parodiou a sua situação e feazendo um pouco de "stand up" à volta do tema, para nosso espanto.
Para ultimo lugar reservamos a paragem da Boavista. Neste domingo falamos também com o J., um jovem toxicodependente, que de longe a longe encontramos por estes lados. Conversador, rapidamente se intrusou na "discussão" com a D.G. Esta aguarda ansiosamente pelas férias na Suiça, onde reencontrará filha e netos. Pelo meio fomos também ao encontro do Sr. A, sempre bem disposto, promoveu um momento bem animado.
Este domingo terminava assim com aquele sabor de missão cumprida. Deixavamos os nossos amigos na rua, mas com a certeza que esta passagem não lhes tinha sido indiferente...

Rui Mota

Crónica da Ronda da Areosa - 06.07.2008

Este domingo começou de uma forma mais atribulada do que o costume. Encontramo-nos na casa da D.A, dada a impossibilidade de irmos todos ter ao arranque no creu. Desta vez a Maria Azevedo, que veio de Londres, esteve connosco. Fiquei muito feliz por tê-la connosco na ronda, as saudades eram muitas :-). Infelizmente e como já vem sido normal, a D.A não estava em casa. Deixámos, como combinado, um saquinho na porta e partimos ao encontro do Sr. M. A má disposição inicial que já o caracteriza deu rapidamente lugar a um enorme sorriso, quando lhe mostrámos a sopinha. E assim permaneceu. Gostamos tanto de o ver assim, de sorriso rasgado e brilho nos olhos. Quando isto acontece, é quase inevitável sair de lá com o coração quentinho. O Sr. M também lá estava a dormir ao lado, mas mais calmo desta vez. Ainda se levantou para mandar umas bocas ao irmão do Sr. J que passou a caminho do bairro (...), mas depressa se acalmou. O Sr. J também nos fez uma visita. Continua limpo e sereno, como sempre, poucos diriam que ainda dorme na rua.
A I. não estava, mais uma vez, por isso fomos ao encontro do super casal. Lá estavam eles, com o Sr. A. e o Sr. D. Estes dois falaram com o Pedro, levaram o saco e puseram-se a caminho. A R. e o B. lá estavam como sempre. Falaram connosco, discutiram entre eles e abraçaram-se no final, quase como sempre. Apesar de levarem a vida um pouco a brincar, sinto que escondem uma tristeza imensa, impossível de ser apagada, riscada ou esquecida. Nas discussões que têm, vamos decifrando as histórias que vivem, que viveram. A R. é uma menina triste que se agarra ao que tem. O B. é um rapaz acomodado, com muita vontade de esquecer a responsabilidade da vida.
A tristeza agarra-se ao que tem, e o que tem encosta-se à vida.

Espero que sejamos sempre capazes de os ir acompanhando, à velocidade deles, no tempo deles, sem forçar, mas deixando sempre um pedacinho de cada um de nós. Espero que sejamos capazes de os ir descolando da tristeza e desecostando da vida.

Joana Simões

Crónica da Ronda da Boavista - 22.6.2008

Partimos, eu e a Benedita, rumo à primeira paragem. Encontramos desta vez a D.ª F., o Sr. V. e também o já há muito desaparecido Sr. M. A conversa rapidamente derivou para a saúde e, principalmente, para os tão preciosos medicamentos. Até o Sr. M. não se coibiu de apresentar as suas mazelas e pedir um tal gel, nas suas palavras uma "milagrosa cura" para todos os males.
Fomos de seguida ao encontro do Sr. G., "apenas" à nossa espera, uma vez que o McDonalds só abrirá na proxima semana. Tentamos contornar a habitual conversa sobre mesinhas e perceber um pouco melhor como tem passado o nosso simpático companheiro. Pelo meio visitamos mais dois sem-abrigo que vivem literalmente debaixo da ponte, é mesmo irónico, como esta triste expressão pode ter parelelo na vida destas duas pessoas. O Sr. J. com o seu sorriso super cómico e o Sr. A. fascinado pelo futebol. A conversa estendeu-se entre as dificuldades da vida e as proezas deste ultimo Europeu de futebol. É curioso como todas estas pessoas sobrevivem aparentemente indiferentes à realidade que as envolve.
Por último a Boavista: o simpático Sr. Al, o culto Sr. A e a D.ª G.. Esta semana as atenções centravam-se no Sr. Al. Na semana anterior tinha feito anos e era agora ocasião para lhe entregar a sua prenda. Para tal juntou-se-nos a Ana. Ele la recebeu a prenda, a pedido desembrulhou-a e por fim não conteve um belo e feliz sorriso.
Terminava assim mais uma ronda, uma pequena oração de partilha e um adeus de ate ja...

Rui Mota

terça-feira, julho 08, 2008

Crónica da Ronda da Boavista - 6.7.2008

Com os poucos patrocínios das padarias que gerou uma confusão inicial ao fazer os sacos, lá parti, Eu e a Ana, para mais uma ronda.
A D.F esperava por nós, mais uma vez tinha passado o dia deitada cheia de dores. Após conversarmos um pouco, sempre com o Sr.V a jogar o seu jogo de Gameboy, fomos para o Teatro S.João onde tínhamos combinado com o Sr.R. Mais uma vez não apareceu. Trocamos as voltas à nossa ronda e decidimos ir primeiro ao viaduto. O Sr.Z está cada vez mais aberto e foi bom saber que se preocupa connosco “Não têm medo por estarem sozinhas? Se precisarem é só chamarem Z.!!!” Do outro lado estava o Sr.A Já não o víamos há algum tempo mas o corte de cabelo dava-lhe um ar mais limpo, apesar da sujidade indescritível naquele sítio. Fomos depois deixar o pão ao lar e finalmente chegamos ao Sr.G. Mais tarde do que o normal, confessou-nos que já estava a achar que nos tinhamos esquecido dele. Com o Sr.G a caminho de casa lá seguimos para a nossa última paragem. A D.G estava de férias e o Sr.A andava desaparecido. Depois de uns dedos de conversa com o Sr.A fomos falar com o JP e finalmente deixamos os sacos restantes pelos “flutuantes” que dormem profundamente naquela zona, num cenário que em nada mostra a agitação do dia-a-dia naquela rua.
Terminou mais uma ronda, onde pedimos por todos os que não vimos e por aqueles que precisam de mais conforto e amor.
Para a semana espero que esteja toda a gente para nos despedirmos da Ana, na sua última ronda.

Joana

quinta-feira, julho 03, 2008

Crónica Aliados (ex-"6ºtrajecto") 29.06.2008

Retomemos então as noites de Domingo, as incríveis noites de Domingo, que por serem assim, afastadas do dia, nos aparecem, tantas vezes, distantes da realidade comum.
Espanha acabava de ganhar no futebol, aos poucos chegávamos e começávamos a preparar os sacos. Rezamos juntos e pouco depois seguimos para o sítio do Sr. JC. Já dormitava quando chegamos mas pôs-se a pé num ápice e com a sua natural simpatia começou a inevitável conversa sobre o a final do europeu. Aguarda a próxima entrevista na segurança social, mas a esperança de vir a ter um quarto é pouca. O verão faz com que vá aguentando a bronquite e espantando a solidão com as cartas batidas durante as tardes de S. Lázaro. Temos reparado que, mal saimos, come imediatamente o que lhe deixamos.
Seguimos ao encontro do nossos amigos de C. De entre todos (o Sr. A e o amigo A, o J, a. AM e o amigo A) a AM era a mais espirituosa, e naquela noite estava particularmente inspirada. A ânsia pelos dias quentes, que entretanto chegaram, acumulava a necessidade de extravazar tristezas, de tomar um banho de mar, outro de sol, e limpar as angústias que a chuva insistia em manter. Foi esse o testemunho que ela nos deu: por detrás do bronze apurado irradiava felicidade naquela vaidade tão feminina, pontuando o momento de provocações meio eróticas a propósito de um cigarro cravado ao Sr. A. Só pudemos rir juntos naquela cumplicidade que também a nós nos alenta.
Depois estivemos com o Sr. E que já se embrulhava nos cobertores preparando o sono. Desta vez falhamos na camisa azul que nos pediu, mas pudemos compensar com uma de outra cor e ainda uma t-shirt. Entretanto chegava o M (o mais alto). Vinha sozinho e foi pena ver que continua a arrastar o seu ar pesaroso pelas ruas, ainda sem força para assumir o compromisso de um tratamento. Não quis conversar muito, recolheu ao seu espaço, meio envergonhado, meio triste.
Na última paragem o Sr. F estava, como sempre, mergulhado no seu plástico negro, numa camuflagem que tantas vezes nos faz duvidar da sua presença. Chamamos por ele e logo destapou a cabeça, olhando com aquele ar malandro de quem (ele garante) nunca dorme. Estava mais sossegado desta vez, pouco falou, apenas concordava com o que diziamos. A conversa foi curta e desta vez sem estórias mirabulantes e difíceis de acreditar. Nem sempre se resiste á melancolia e é inevitável sucumbir-se ao silêncio e á escuta, como se fosse importante por vezes lembrar-nos a dureza da vida na rua. Pouco depois cobriu-se novamente enquanto voltávamos ao carro. E assim terminava a ronda.
Vamos continuar trazer as noites de Domingo, vamos continuar a traze-las à luz do dia, o luminoso dia de sermos todos feitos do mesmo sopro.

terça-feira, julho 01, 2008

Crónica Areosa 29.06.2008

A ronda começou ainda em Nossa Senhora de Fátima, com a visita do Sr. A. Pelo que me contou, não é a primeira vez que ali passa aquela hora, para pedir uns bolinhos antes que eles sejam enfiados nos saquinhos brancos e nas malas dos carros. Foi-lhe amputada uma perna há cerca de cinco meses, devido a uma infecção, mas diz que a vontade de viver é tanta, que ele sabe que vai voltar a andar. E diz isto a sorrir, sentadinho numa cadeira de rodas, quase esquecendo que não é ele a empurrá-la sozinho.
De mala bem recheadinha, seguimos para casa da D. A. Custa um bocadinho não levar o Sr. J. connosco. Como ficou doente, o filho veio buscá-lo ao Porto e levou-o para V. Sentimos saudades e vontade de estar com ele. Faz mesmo falta o jeitinho dele doce, sereno e agradecido.
Chegados a casa da D. A., o nosso passo feliz e quase desprendido cruzou o passo silencioso e desconfiado dos bichinhos de estimação do pai da D. A. Sim, os dois cães simpáticos e nada ameaçadores não estavam afinal do lado oposto do muro, à espera do momento certo para representar o seu numero preferido (saltar e saltar e saltar e saltar e ladrar e ladrar…), como de resto já nos têm vindo a habituar. Estavam sim, do mesmo lado que nós, ou seja cá fora!...Achamos por bem comunicar com a D. A. via telefone, antes mesmo de arriscar as calças do Nuno, os calções da Andreia, as pernas do Pedro ou o vestido da Joaninha. A D. A. não estava lá, disse-nos que já tinha ido para a casa da Senhora de quem toma conta. Deixámos o saco e partimos para a rotunda. Depois de passarmos no cantinho da I., e termos verificado que ela não estava lá, fomos ter com o Sr. M. O Sr. M. estava muito calmo, sorridente, que saudades eu já tinha de o ver assim. Precisa de cortar a barba e o cabelo e disse-me que gostava mais do Inverno do que do Verão. O problema é o Sr. M., o senhor que está a dormir lá ao lado. Fica o tempo todo a dizer mal do Sr. M., a dizer que ele não toma banho, que cheira mal, que assim não pode ser. Enfim, é uma pessoa notoriamente revoltada com tudo e com todos. Vamos ver como será. Depois de algum tempo na rotunda, partimos para o prédio. Já lá estavam o B. e a R. à nossa espera. A R. contou-nos que a mãe do B. foi às compras e trouxe roupinha para os dois. Ela trata a R. como se também fosse filha dela, é incrível! Também nos disseram que foram ao centro de emprego inscrever-se num curso de formação e estavam à espera de ser chamados. Parece-nos que o B. continua sem muita vontade de trabalhar, enfim. Esta dependência que ele ganhou às carrinhas que distribuem comida e roupa, também não parece estar a ajudar muito. A R. vai saber agora as notas, vamos ver se passou de ano.

Às vezes quando chego a casa, no fim da ronda sinto-me triste. Penso inevitavelmente no tempo que vai passando, por nós e por eles. Penso no tempo que vai passando por mim. E durante esse bocadinho, desisto.
Outras vezes, acontece como hoje, em que chego a casa e só me lembro do olhar do Sr. M., do sorriso do Sr. A. Agradeço a Jesus poder ter tocado na mãozinha do Sr. M., agradeço a fragilidade dele de hoje, que ás vezes parece não existir, e que hoje, só hoje, nos torna tão próximos. E é nessa fragilidade e nesse olhar, que eu insisto.

Desisto e insisto. Obrigada.
*Joaninha.