quarta-feira, dezembro 14, 2011

Crónica das Aldeias – 03.12.2011

O dia começou pouco risonho, mas sabíamos que tal iria mudar já que era dia de visita às "nossas Aldeias"! :) Apesar de esta ter sido apenas a minha segunda visita, sinto que já posso chamar de nossa pela calorosa forma como fui recebida. Admito que na primeira visita as dúvidas e incertezas eram muitas mas estas rapidamente se desvaneceram! Encontrámo-nos à hora habitual no sítio do costume de onde, feitas as apresentações, começámos a viagem em direcção ao Marão.
A primeira paragem foi no parque das merendas para o nosso piquenique cheio de coisas maravilhosas mas muito saudável! A óptima sopa da Carminda aconchegou-nos bastante e até fez com que nos esquecêssemos do ar gelado da serra. De barriga cheia, fomos tomar o nosso cafezinho para partirmos para as visitas cheias de energia!
A visita que descrevo é a de Ansiães juntamente com a Carminda, a Joana e a Rita.
Quando chegámos a Ansiães, a Joana e a Carminda começaram por nos mostrar a casa da Tia Ondina, uma antiga aldeã que infelizmente não tive oportunidade de conhecer. De seguida, seguimos em direcção à casa da Tia Rita. Apesar do frio, fomos encontrá-la cá fora, a tratar das suas coisinhas toda bem-disposta e sorridente, como de costume. A Tia Rita é uma senhora que, apesar dos seus 91 anos, tem uma energia inigualável e um espírito único. Entrámos na sua acolhedora casa e pusemo-nos à conversa, desde as consultas marcadas até as "mexericos" habituais, sempre com muita animação à mistura! Sem darmos conta do tempo a voar, já estava na hora de irmos visitar a Tia Aldina!
Com muita tristeza, despedimo-nos da Tia Rita e subimos a rua onde a Tia Aldina já estava à nossa espera junto à lareira. Desta vez, fomos encontrá-la mais tristonha. Os problemas do filho e os seus problemas de saúde afectam-na bastante. Depois de nos ter contado como andava a lidar com toda a situação, a conversa começou a ficar mais animada e entre o chá quente e as castanhas que tinha preparado para a nossa visita, conseguimos ainda alguns sorrisos. - "Já vão embora? Têm de ficar cá mais tempo!". Nós também queríamos Tia Aldina, mas já estávamos em cima da hora para irmos para o ponto de encontro.
Fomos então para Bustelo, onde já estavam todos à nossa espera. Depois da partilha, emotiva pelas perdas, partimos para o Porto com um sorriso no rosto e ansiosos pela próxima visita.

Joana Paulo - Ansiães

terça-feira, dezembro 13, 2011

Crónica dos Imigrantes 10 Dezembro de 2011

Desta vez, a saída, foi à Casa da Música com visita guiada incluída.
Como sempre o encontro foi em S Cirilo. Tivemos bastantes inscrições e algumas desistências (talvez devido ao mau tempo que se fez sentir durante a noite).
O convívio foi muito positivo, a visita guiada foi acompanhada, com elevado interesse, por todos, principalmente pelos utentes de S Cirilo, que demonstraram uma grande atenção a todas as explicações sobre a arquitetura e pormenores da acústica da sala de concertos, que foram dadas pelo guia da visita.
No regresso, como sempre, a animação foi mais evidente e tivemos oportunidade de começar a integrar os novos voluntários desta vertente.
Esta atividade tem-se revelado, para mim, uma agradável surpresa. Surpreende-me o interesse que estas pessoas, a quem a vida não tem tratado bem, demonstram. O melhor exemplo disso, se preciso fosse, veio esta semana quando um dos utentes trouxe dois amigos, de uma outra instituição, para nos acompanharem nesta visita.
Têm sido muito positivos estes encontros. Tenho notado uma maior abertura por parte dos utentes de S Cirilo para falarem dos seus problemas e preocupações. Este estado de espírito só é possível com a persistência e regularidade destes encontros, que fazem com que eles adquiram alguma confiança e comecem a abrir a sua vida (problemas, preocupações e alegrias) aos voluntários que os acompanham.

Manuel

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Crónica das Aldeias – 08.10.2011

"Quem gosta, cuida."

Num sábado de Outubro, num dos primeiros deste ano "lectivo" do FAS,
voltámos nós para o Marão ver as nossas senhoras. Nossas, porque
aquilo que elas nos entregam e confiam faz-nos perceber que estamos
responsáveis por uma pequena parte da alegria delas, que por mais
pequena que seja, não deixa de não ter uma grande importância.
Mais uma rotina normal: reunir, viajar, almoçar no parque do costume,
o cafezinho e voilá! here we go! As conversas, sinto eu, são cada vez
mais íntimas. A dona Rita, quero dizer, Tia Rita (veja-se lá a
confiança, que maravilha!) adora receber-nos. Constantemente achamos
que nessa hora, o relógio é uma invenção pouco útil. A dona Aldina, a
avó carinhosa! "Meninas, um frasquinho de mel! Levai!" Não deixa de
insistir que ficamos muito pouco tempo com ela, apesar de
distribuirmos duas horas por duas vistas, o que é óptimo. "Dar sem
procurar receber", um dos lemas deste grupo, mas na verdade, sempre
recebemos em dobro (ou mais) do que aquilo que damos. Estou muito
grata a estas senhoras por se deixarem fazerem parte da minha vida,
penso que poderei dizer, da nossa vida, e de toda a sabedoria que nos
passam com as histórias das suas existências.
Um dia passado, mais uma rotina normal, no entanto, cada momento é
único. Obrigada a todos por tornarem possível uma companhia/amigo na
vida destas pessoas e de todas as que necessitam.

Clarisse - Ansiães

quarta-feira, novembro 30, 2011

Crónica dos Imigrantes 27 Novembro 2011

Para esta nossa saída, a meteorologia presenteou-nos com um dia de primavera neste final de outono. A escolha do destino para o programa esteve bastante indefinida mas, após algumas vicissitudes e contratempos, a escolha recaiu sobre a Cadeia da Relação / Centro Português de Fotografia que se localiza no jardim da Cordoaria.
Marcamos o encontro para S Cirilo às 14h30. Todos foram pontuais (voluntários e utentes). Ainda nos demoramos um pouco a conversar com um utente, acompanhante habitual destas nossas saídas, mas que, por estar doente, não pode, desta vez, estar connosco.
Saímos em direção à Cordoaria, em amena cavaqueira, pois já todos os participantes se conheciam, o que facilitou a comunicação e a interação.
Neste edifício do século XVIII, estão presentemente quatro exposições, duas permanentes e duas temporárias. As duas permanentes, uma de máquinas fotográficas representantes da evolução desta arte, onde se encontram muitas dezenas de marcas e modelos de câmaras e uma outra sobre a Cadeia da Relação, algumas das personalidades que ali estiveram detidas e, também, de detidos anónimos. Nas exposições temporárias, também de fotografia, uma é de divulgação dos Novos Valores da Fotografia Espanhola, em que o tema principal é a obra de Juantxu Rodríguez e as suas fotografias do mundo, principalmente uma visão particular sobre uma importante parte da sociedade norte-americana, e a outra do trabalho de Marín, cuja obra atravessa a primeira metade do século XX. José Miguel Ferreira apresenta-nos as suas fotografias subordinadas ao tema o Douro Vinhateiro.
A visita correu bem e todos os participantes gostaram, não só pelas exposições, mas também pelo edifício que está intimamente ligado à história política do Porto desde o Marquês de Pombal até ao início do Estado Novo.
O regresso foi um pouco mais monótono, dado que alguns dos participantes são utentes externos de S Cirilo e após a visita foram diretamente para as suas residências e não nos acompanharam.
Tudo correu bem, foi uma tarde bem passada.
Manuel

segunda-feira, novembro 28, 2011

Crónica da Ronda de Santa Catarina – 20.11.2011

A MINHA CASA É(RA) A RUA

Sábado, 8h30. A manhã está fria. A Baixa do Porto está deserta. Os primeiros autocarros circulam nas paragens ainda desertas. Vagueiam alguns noctívagos. Apressam-se os comerciantes para abrir as lojas e ajeitar as promoções nas montras, que o negócio já conheceu melhores dias.
Do outro lado da rua, na Praça D.João I, o senhor J., apoiado na sua bengala, está à nossa espera. É dia de ir ver um "quartinho". "Não quero fazer má figura", desabafou connosco dias antes de marcarmos a visita – que preocupação a de quem dorme na rua há anos.
"Não se preocupe com isso", garantimos. Nada que uma camisa, uma camisola e um bom banho quente não resolvam.
Rumo ao balneário público do Campo 24 de Agosto. "Bom dia. São 35 cêntimos pelo banho. Se desejar sabonete e toalha são mais 75", responde um rosto fechado e de pouca simpatia do lado de lá do vidro da recepção.
Por aqui passa "todo o tipo de gente", vai comentando Dona F., que à medida que parece confiar em nós deixa cair histórias. "Vêm aqui duas irmãs, que têm uma boa casa, mas preferem tomar banho aqui. Dizem que fica mais barato e não têm que limpar", ri-se.
Fossem todos os clientes como elas, pensa em voz alta. "Deus me perdoe, mas romenos e ucranianos. Deixam tudo sujo e só arranjam problemas", grunhe entre dentes.
"São da Cáritas?", questiona. "Porque tenho lá uns edredons em casa , se quiserem…", continua – mais tarde ainda nos tenta impingir também umas cortinas que estão lá em casa a estorvar . Agradecemos. Toda a ajuda é bem-vinda, mas preferimos o edredon às cortinas, explicamos gentilmente sem querer ferir o espírito solidário.
9h30. Barba feita, cabelo alinhado com risca ao lado, camisa aos quadrados e pólo a condizer. Ganhou anos de vida. Parece outro. Vaidades à parte, é tempo de ir ver o quarto.
É a própria senhoria que abre a porta e faz a visita guiada. Cabelo apanhado, rosto jovem, sorriso rasgado, discurso rápido e fluente. "Bom dia, senhor J., vamos então ver o quartinho? Olhe que são quatro andares!", avisa. "Em Lisboa, subia bem quatro andares", exclamou o senhor J., que conta mais de meio século de vida e alguns anos a dormir nas ruas de Lisboa e Porto. E subiu, sem pestanejar, enquanto a Dona S. foi obrigada a fazer uma paragem forçada, que isto da asma ataca novos e velhos.
O "quartinho" está em remodelação. "Estou a substituir a cama de casal por uma de solteiro para ficar mais confortável", disse despachada. "E, olhe, até tem televisão para se distrair", continua. Corrida rápida ao WC e cozinha partilhados. Num discurso rápido e despachado lá vai explicando as condições do alojamento e as regras da "casa": fumar só na varanda e nada de barulho à noite porque isto "é um local de respeito".
"Então, gosta do quartinho?", pergunta? – seguramente que o senhor J. só ouviu palavras soltas da Dona S. E poucas trocaram. Também não era preciso. O olhar e sorriso expressivos deste senhor de barba e cabelo grisalhos conquistaram a jovem senhoria, que já "aturou de tudo na pensão" e recebe os novos hóspedes de braços abertos, mas de pé atrás.
De palavras parcas e discurso desalinhado senhor J. deixou escapar, em voz embargada, aquilo que nós, voluntários da ronda, e, seguramente de outras rondas, gostaríamos de ouvir mais vezes: "Eu fico com o quarto. Não quero ficar na rua!".
A rua era a casa do senhor J.

PS: E porque as rondas se fazem de histórias como esta, damos as boas-vindas ao novo voluntário, o L. (pode não querer ser identificado). Contamos contigo para escrever os próximos capítulos da ronda de Santa Catarina.

Ana Oliveira

quinta-feira, novembro 24, 2011

Crónica do FasImigrantes 12 de Novembro 2011

Chegamos a S. Cirilo pelas 14h30 prontos para preparar o Magusto para os utentes.
Foi a primeira saída com os novos voluntários da vertente, onde eu me incluo, e por isso começamos devagarinho. Primeiro ficamos a conhecer quem trabalha em S. Cirilo. O Sr. V., que diz que não quer que lhe chamem Sr. porque no bilhete de identidade dele diz antes J.! Foram os primeiros rostos que vi em S. Cirilo e senti-me instantaneamente acolhida.
Como éramos um grupo de muitos voluntários novos a Valentina aproveitou que poucos utentes estavam em S. Cirilo à nossa chegada e mostrou-nos as instalações. Que espaço agradável e bonito!
Depois disso, mãos à obra!! Tinha de se pôr o fogareiro a postos para as castanhas, tarefa que se revelou algo difícil por causa do vento, mas que com a ajuda de todos e em particular do David – já com a experiência do fogareiro do magusto passado – e do Sr. V. o carvão lá começou a arder e pouco depois já tínhamos castanhas "quentes e boas"! Entretanto tínhamos de preparar a mesa do lanche, com o lanche oferecido por S. Cirilo e os mimos que nós levamos. Era também preciso organizar as fotografias das visitas anteriores para as colar numa cartolina que foi posta à entrada de S. Cirilo para todos os utentes verem e eu cá acho que ficou muito bonita – não, não por ter ajudado a fazê-la!!!
Entretanto o tempo ia passando e os novos voluntários do grupo iam-se conhecendo enquanto os utentes não chegavam. Apareceu também uma voluntária da vertente das famílias para partilhar connosco o magusto e algumas ideias de projectos. Mas utentes… Lá ao fim de algum tempo começaram a aparecer, poucos, mas muito simpáticos e que acabaram por fazer a festa connosco, alegrando e muito o magusto que preparamos.
No fim, quando já todos nos tínhamos divertido muito arrumamos tudo como estava e despedimo-nos com a promessa de voltar dia 27 de manhã para uma visita ao Museu Militar! Despedidas feitas, cada um foi para seu lado. A mim calhou-me escrever a crónica, o que muito me agradou, visto ser a minha primeira experiência, mas também por isso me deixou algo apreensiva, com medo de não saber como fazer!

Teresa Nunes

terça-feira, novembro 22, 2011

Crónica das Aldeias 19.11.2011

11 horas da manhã, ponto de encontro no Millenium, para fazermos as habituais visitas às nossas "Aldeias", Ansiães, Candemil, Basseiros e Bustelo.

Que maravilha voluntários novos: A mais novinha a Joana, M. Manuel e o Belarmino, sejam bem vindos.

Depois das apresentações e dos cumprimentos, lá nos dividimos pelas viaturas e partimos rumo às Aldeias.

O encontro para o almoço foi na Casa da Catequese, pois como no dia anterior choveu, os nossos locais habituais (parque das merendas ou atrás da igreja) não estavam próprios para o mesmo. Aqui encontramos a Natércia e depois mais tarde a Florbela.

A Carminda foi a que fez a oração de agradecimento e depois, começamos a petiscar as diversas iguarias que cada um levou (não as vou descrever para não vos deixar água na boca).

No final do pic-nic a Carminda deliciou-nos com um belo poema de Mafalda Veiga - "O Velho", que aqui vos deixo para compartilharem connosco:

Velho

Parado e atento à raiva do silêncio
De um relógio partido e gasto pelo tempo
Estava um velho sentado no banco de um jardim
A recordar fragmentos do passado

Na telefonia tocava uma velha canção
E um jovem cantor falava na solidão
Que sabes tu do canto de estar só assim
Só e abandonado como o velho do jardim?

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim

Passam os dias e sentes que és um perdedor
Já não consegues saber o que tem ou não valor
O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
Para dares lugar a outro no teu banco do jardim

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um resto de tudo o que existiu
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim

De seguida lá fomos tomar o nosso café ao local do costume e agora sim partimos às nossas visitas.

A visita que vos descrevo é a Aldeia de Bustelo com a Nanica, Florbela e Augusta.

A primeira casa a visitar foi a do Sr. Lima (que com franqueza estava com receio de o já não encontrar) pois na última visita estava acamado e bastante doente. Mas, graça a Deus, ainda está com vida, continua acamado numa cama articulada de ferro, para ser mais fácil o seu tratamento. A visita foi muito rápida a pedido da sua esposa, claro que foi mesmo para o cumprimentarmos e perguntar se precisava de alguma coisa.

A segunda casa a visitar seria a da D.Fernanda, mas não estava, os vizinhos disseram que talvez não demorasse mas, o certo é que não veio.

Fomos então, a casa da D. Emilia viúva do Sr. Aurélio. Desta vez, recebeu-nos dentro de casa, pois estava à lareira acompanhada pela filha.

D. Emilia pouco fala só escuta, pois teve um AVC e tem dificuldade em falar e andar. Como estamos a chegar ao Natal, falamos das diversas ementas alosivas e de como era festejado o Natal antigamente. O tempo passou rápido e terminou a visita com muita pena nossa.

A próxima visita foi a D.Maria, lá estava ela no cimo da escadaria, na entrada da sua porta, sentadinha como do costume na sua cadeira. Como estava frio, por cima do seu pijama de cor laranja, tinha vestido um casaco de malha, cobertinha com um cobertor fofinho e com luvas, ai ninas toda quentinha. Estava preocupada com dinheiros de terrenos que o filho/nora tinham recebido e as conversas foram á volta desse tema. E sem quase darmos por isso o tempo da visita terminou pois ainda tinhamos que ir ver a irmã da D. Maria a D. Celeste.

Ùltima visita D. Celeste, recebeu-nos na sua cozinha com o fogão de lenha acesso, hum que agradavel que lá se estava com a presença do marido. Bastante debilitada, pois teve recentemente um AVC, mas bem disposta. Falou-nos das peripércias que passou nos diversos hospitais por onde esteve aquando da sua doença. Também o tempo passou rápido e assim terminou a visita.

De regresso ao nosso ponto de encontro, já estava a ficar escuro e a chover, para lanchar o que restou do pic-nic.

Mais uma vez agradecemos a vinda dos novos voluntários e despedimo-nos até à próxima e um muito obrigada a todos.

Agora me despeço com esta simples frase "O tempo escasseia mas a vontade de vir é imensa!"

Maria Lurdes Ferreira – Bustelo

domingo, novembro 20, 2011

Crónica da Ronda da Batalha - 06.11.2011

Foi com palavras como "Spaceba" e outras que tentamos noite após noite rever-te uma cara triste numa cara com um sorriso puro e sereno que conjuntamente partilhamos em dias de chuva, frio ou até mesmo de calor…

O frio bem que tentou gelar-nos o corpo… conseguiu, mas a alma manteve-nos bem quentes para mantermos a nossas calorosas conversas com o Sr. F., V. Sr. M, os irmãos L. e J. e M.

N. e C. mantém-se afastados… este silêncio que nos mata a cada Domingo, que ganha significado cada vez que um "falso" sono se apodera deles nos últimos 2 meses e nos atinge pela ausência amiga que sentimos… Sim claro, porque também sentimos e vivemos as suas ausências de Domingo que, duramente, se prolongam até ao próximo e próximo e próximo Domingo em que os revemos!

Expectativas, esperança e saudades… sentimentos muito presentes em mim voluntária de rua…

Sabina Martins

domingo, novembro 06, 2011

Crónica da Ronda da Batalha - 09.10.2011

De certo que não é a primeira vez que nos deparamos, ou já ouvimos falar, de situações em que uma pessoa que visitamos não nos aparece no domingo à noite porque, infelizmente, foi internado no hospital...Foi o que aconteceu ao nosso amigo O..
Ao longo das nossas visitas notamos que o seu estado de saúde ia piorando, embora estivesse a ser acompanhado por um médico. Deu então entrada no Hospital de Sto António por complicações causadas pelos diabetes.
Entretanto um dos elementos da nossa ronda foi averiguar o que se tinha passado e foi então que soubemos a má notícia de que lhe tinha sido amputada uma perna. Curiosamente, O. estava com boa cara, numa visita que lhe foi feita, embora preocupado com o futuro. Em duas semanas recebeu apenas duas visitas...
Embora não sabendo como vai ser este novo capítulo da sua vida, certamente será muito complicado e ainda mais pelo facto de não ser português e de ter apenas, que se saiba, dois amigos em Portugal que tal como ele vivem na rua e, por essa razão, não poderão ajudar tanto quanto com certeza queriam.
Esta situação pôs-me a pensar que muitas vezes damos a nossa saúde por garantida, não imaginando que de um momento para o outro isso pode mudar, e que mesmo que mude contamos com o apoio da família e amigos. Mas existem muitas pessoas que não têm este apoio e assim, resta-nos a nós, ronda da batalha, fazer o que podermos para o apoiar o nosso amigo O..

Pia Garrett

Crónica da ronda da Areosa 23.10.2011

A irracionalidade, de um ser humano racional (porque acredito que os há sem racionalidade), leva-o a pensar que todas as partidas (ou ensinamentos) da vida só a ele acontecem, e facilmente se torna num coitadinho, quando se olha ao espelho. O bem-estar não depende da sua evolução ou crescimento como Homem. Ele quer é o telemóvel X, o carro Y, as férias Z e etc... quer estar bem, quer ser feliz, e refugia-se num sofrimento estúpido pela ausência de bens materiais.

Domingo, são 21h00
A chuva e o vento falam comigo através do som das persianas... noite difícil pela frente...
A manta e o conforto do sofá fizeram uma ultima tentativa, mas resisti e saí...
Saio de casa a correr, um pouco atrasado e com a consciência que o tempo não está para acelerações. No ponto de concentração sou invadido por um pensamento que logo se vai embora "Estava bem era em casa, aconchegado pela manta" (era o meu lado irracional a tentar revelar-se)

Um dia abordaram-nos, e acusaram-nos de sermos cúmplices de um estado que tem interesses na existência dos sem abrigo, ao estarmos ali contribuíamos para que aqueles que visitamos se acomodassem, e que era o nosso egoísmo a falar mais alto, porque só o fazíamos para nos sentirmos bem.
Pensei sobre isto durante algum tempo, e ainda hoje não sei que interesses o estado tem, percebo a ideia que as pessoas se podem acomodar, e sim sou egoísta porque realmente me faz sentir bem. Sou egoísta ao ponto de partilhar o meu tempo, as minhas histórias, a minha forma de pensar e de estar na vida com alguém que tive de conquistar, e que me conquistou. Sou egoísta ao ponto de dizer que esse Domingo teve um sabor especial, e que me senti muito bem por ter "abandonado" o conforto.
Sou egoísta, porque quando regressei após ausência de dois domingos soube-me bem ouvir: "Andou desaparecido, já não falamos há muito tempo..."
Não é só o saco com os alimentos, são as pessoas, é a relação que se cria e a falta da mesma que me faz ser egoísta.

Nesse domingo, vi sorrisos apertados pelo frio... nesse domingo vi realidades que ninguém merece e que muita gente ignora ou desconhece... nesse domingo vi pessoas à nossa espera, na ânsia de falarem um pouco... nesse domingo, o meu egoísmo fez-me sentir o quanto é ESPECIAL a minha cama.

Um dia gostava de ter o telemóvel X, o carro Y e as férias Z... mas não abdico do meu crescimento como Homem para lá chegar...
"Sê a mudança que queres ver no mundo" – Gandhi

Gonçalo Oliveira

terça-feira, novembro 01, 2011

Crónica das Aldeias – 22.10.2011

Na minha primeira visita após o período de férias, por muitas voltas que o mundo dá e que se reflecte no que acontece nas nossas vidas, acabei eu a escrever esta crónica.

Tudo começou, como habitualmente, em frente ao Millenium da R. Nossa Senhora de Fátima, um pouco depois das 11 horas (o que, dados os constantes atrasos, motivou que se decidisse que, a partir desse momento, se passaria a ter como horário as 11h30!).

Rumámos a Candemil para almoçar no jardim atrás da igreja, aproveitando assim o Sol e o calorzinho de final de Outubro. Dos petiscos salgados e doces, das frutas, dos sumos e da água que compuseram esse almoço sobrou muito pouco, mas nada que pusesse em risco o lanche típico do final das visitas.

Após este período de descanso (será que alguém já se sentia cansado?) foi tempo de decidir como nos iríamos dividir, tendo em conta o número de voluntários por aldeia e os condutores dos carros disponíveis. Lá tive eu de abandonar a minha aldeia (Bustelo) e abraçar a minha aldeia “adoptiva” (Basseiros) que, por todo o tipo de diferentes circunstancias, já foi “minha” inúmeras vezes. Não foi desta que matei saudades das senhoras de Bustelo (e senhor, pois não posso esquecer o Sr. Lima)…

E aqui começou uma jornada inglória. Batemos na primeira porta e nada. Na segunda e nada outra vez. Na terceira, adivinhem… nada… no caminho para a quarta, encontramos quem nos informasse que uma senhora estava em França, outra estava em casa do filho que tinha chegado de França e que a outra deveria também deveria estar em casa do filho. Acreditando nisto, todas estarão bem. Melhor assim!

Na quarta casa, da D. Dulce, lá estivemos à conversa com o seu marido e filha, a correr Portugal de uma ponta à outra, com o Governo sempre como tema de fundo. E, quando parecia que tínhamos todo o tempo do mundo por não termos visitado ninguém antes desta casa, o tempo voou e corremos para a última casa.

Na última casa, última desilusão, pois foi mais uma visita que não pôde acontecer, que ainda foi pior por termos visto a D. Arminda na varanda da casa do filho, sem que nos fosse permitido falar com ela. A sua filha ainda nos disse que ela estava bem, mas nada fez para que a pudéssemos visitar.

Terminaram assim as nossas visitas (ou deverei dizer, a nossa visita) e fomos para Bustelo encontrar o resto do grupo.

Foi a minha vez de perceber que este encontro final, onde até aqui eu achava que servia apenas para nos despedirmos, serve para percebermos que se num sítio algo corre mal, temos 3 outros sítios onde acontecem visitas totalmente diferentes, onde todos os nossos senhores estão bem, estão presentes e estão felizes por nos verem.

Acredito que todos passamos por momentos em que nos questionamos se vale a pena, mas penso que todos terminamos sempre com a certeza que sim. Se hoje foi mau num sítio, certamente foi bom noutro. Se hoje não pareceu tão produtivo, certamente parecerá na próxima visita.

E lá estarei eu para o comprovar!

Nanica - Basseiros

quarta-feira, outubro 26, 2011

FasFamilias - Crónica de Outubro

Partilhar a minha experiência enquanto voluntária do FASFamílias, foi o que me foi pedido. Fácil, pensei…até que, parei um pouco para reflectir sobre estes últimos três anos, assim mais consciente a tarefa assume outra dimensão.

Durante cerca de três anos acompanhámos uma pessoa que havia vivido na rua e em vários sítios dentro e fora do país. Após a saída da rua, aconteceram várias coisas muito boas, emprego, uma casa para ficar, aproximação da família, restabelecer laços, adquirir hábitos de trabalho, tudo corria maravilhosamente bem.

A perda do emprego despoletou um percurso inverso, mais duro pela perda de esperança que daí adveio, já que na subida se criaram muitas expectativas e sonhos, que se desmoronaram com a perda do trabalho, algo essencial na vida de alguém que está a reconstruir e traçar um novo rumo na sua vida.

Alguns meses depois acaba por arranjar novo trabalho, e com este regressa o ânimo, a alegria, a vontade de estar em sociedade, etc..

Têm sido assim estes três anos, muito cheios, de coisas menos boas mas também coisas muito boas, tantas que não cabem aqui nestas letras mas que cabem no nosso coração. Durante este tempo discordámos algumas vezes, aborrecemo-nos, mas também aconselhámos, apoiámos, rimos, conversámos. Mas, acima de tudo fizemos um esforço por respeitar a liberdade desta pessoa que aos poucos foi fazendo parte da nossa vida, e construindo o seu caminho com as suas escolhas. Felizmente, correu bem, já não fazemos falta como voluntárias, o nosso papel terminou. Agora somos mais duas pessoas na vida dele, a quem recorre quando quer dizer Olá como estás"; partilhar uma novidade…

Nós mantemo-nos deste lado, e ao lado, sempre à distância de um telefonema, esperando que este seu percurso seja mais fácil, menos duro e sobretudo com muito mais alegria.

Eu, enquanto voluntária fui aprendendo a calçar os sapatos do outro, é muito fácil dizer e pensar "Mas, como é que ele (a) não sabe calçar os sapatos, é básico?! Quando experimentamos, percebemos e sentimos que há toda uma experiência de vida completamente diferente da nossa que pode tornar tudo tão difícil e complicado. Não nos foram dados os mesmos instrumentos para calçar os sapatos.

Aprendi a respeitar um pouco mais a diferença, a ser mais tolerante, e a colocar-me no lugar do outro, e a percebi que muitas vezes a única coisa que posso fazer é "estar", eu, que às vezes me considero capaz de tudo, perante determinadas situações de vida apenas caminho ao lado, se a pessoa assim o quiser.

Ser voluntário (a) no FASFamílias é procurar alternativas, encontrar soluções, apoiar, aconselhar, mas por vezes, é preciso ter a humildade de perceber que nada podemos fazer, apenas ESTAR. E este "ESTAR" é fundamental na vida das pessoas que acompanhámos, porque muitas vezes é o único que têm.

Sara Gonçalves

FasFamilias - Crónica Setembro

Tendo sido o FAS já uma viagem de mais de um ano, fica a certeza de que se construiu uma relação de confiança, suporte e mesmo amizade entre as pessoas que ajudamos. No início não foi fácil perceber a diferença que se fez e o tamanho do que estávamos a dar, foi talvez como um boomerang e o que nos moveu a lançá-lo foi acreditar que passaria e tocaria nos sítios certos. Para mim, o desafio é naquelas horas oferecidas em que nos voluntariamos conseguirmos mover o nosso umbigo e centrá-lo totalmente no outro sem expectativas e sem julgamentos, ter a coragem de aceitar a outra pessoa tal qual ela é, com uma história de vida tão diferente da nossa no que toca às opções tomadas e às adversidades com que vivem diariamente. No início, é um exercício que pode ser algo difícil mas, com o tempo os gestos e os sorrisos retribuídos valem por tudo, indicando que estamos no caminho. Às vezes não é fácil integrarmos essas opções ao nosso mundo e, ser voluntária neste contexto é estar presente aceitando a pessoa ajudada em tudo o que é e fazê-la perceber que nós estaremos lá em qualquer altura e prontos para a apoiar quando dias menos bons surgirem; tentando indicar-lhe a melhor forma de dar sentido ao que vive mas, sem imposições e com muita paciência tentar ser-se proactivo, ora por se ser uma presença certa, regular e segura, ou por se ajudar na procura de emprego, ou por a acompanhar a uma consulta médica, essencialmente por se criar uma oportunidade de partilhar uma história de vida com alguém. O FAS é feito de pequenos passos consentidos no caminho de me tornar uma pessoa inteira e solidária na nossa missão de fraternidade neste pequenino ponto cósmico que é a nossa casa. Pode parecer um faz de conta mas, acredito mesmo que conta o que se FAS!

Sara Machado

FasFamilias - Crónica Julho

Na reunião da vertente famílias de Julho tivemos oportunidade de, após a apresentação dos resultados do inquérito que tinha sido previamente preenchido pelos voluntários, propor um desafio a todos os voluntários:

Defender a permanência da ajuda no caso que acompanham, pressupondo existia uma fictícia restrição dos recursos humanos. Assim, teríamos (hipoteticamente) de abandonar todos os casos, excepto um. Após reunirem por equipa, os voluntários tiveram dois minutos para justificar porque é que o seu caso seria o indicado para continuar a ser visitado.

A Inês e o Manel defenderam que nesta fase era essencial apoiar a I. no que diz respeito à procura de trabalho e sobretudo, à recuperação do período depressivo em que tem vivido. Salientaram a importância de manter as visitas ao casal, pois fruto das dificuldades financeiras, corre, eventualmente, risco de ruptura.

O Miguel M e o Miguel C: defenderam que o caso do Z. não poderia ser abandonado devido à sua saúde débil e risco eminente de se refugiar no álcool.

A Teresinha, a Sara e Catarina alegaram convincentemente que nunca poderíamos deixar uma mãe solteira, nesta altura de inquietação e dúvida provocado pelo desemprego. Por outro lado, poderia constituir um problema de imagem para a vertente.

A João e a Sofia crêem que nesta altura é essencial acompanharem a F. na procura de uma oportunidade para levar a sua vida para a frente.

A Catarina, o Nuno, a Rosinha, a Inês S. e a Maria referiram, com toda a determinação, que a família que acompanham envolve 4 crianças, uma avó e uma mãe, o que só por isso conferia prioridade a este caso.

Foi interessante constatar que tanto a Sara a Inês, bem como, o Jorge e a Gabel, reconhecem que os seus casos aproximam-se do fim do acompanhamento, e como tal preferem não defender a permanência dos casos, mas sim reencaminhar os respectivos recursos para casos que mais precisem. A Cecilia e a Sofia, apesar de não terem estado presentes partilharam desta opinião relativamente ao seu caso.

A sorte é que foi apenas um exercício para pensarmos no papel do voluntário junto das pessoas que visita semanalmente, pelo que, desde que nos pareça a melhor opção, manteremos o acompanhamento a estas Famílias

Aproveito para deixar um muito obrigado a todos estes voluntários que muito mais do que exercícios em sede de reuniões de vertente, acompanham semanalmente aqueles que mais precisam, numa luta incansável para mostrar caminhos alternativos que ajudem a quebrar o ciclo vicioso de pobreza (nas suas diversas dimensões), no qual as famílias que acompanhamos estão inseridas.

Ana

Crónica dos imigrantes 23 Outubro 2011

Neste 23 de Outubro de 2011, primeiro dia com meteorologia de Outono, tivemos mais uma saída com os utentes de S Cirilo. Desta vez fomos visitar algumas das igrejas centrais do Porto.
Saímos cerca das 10h10, como usualmente pela rua de Cedofeita em direção à Pr. Carlos Alberto (nome que lhe foi dado em honra de Carlos Alberto rei de Piemonte e da Sardenha que faleceu no Porto, na Quinta da Macieirinha, onde está o atual Museu Romântico).
O grupo integrava pessoas de várias crenças religiosas que interagem com respeito pelas convicções de cada um sem excluir ninguém.
Fizemos um périplo pelas ruas centrais da cidade moderna, visitando algumas das igrejas mais representativas da nova centralidade da cidade. As igrejas são um repositório de arte impossível de ignorar e um centro de religiosidade popular impressionante.
Começamos pela Igreja dos Congregados, talvez a igreja que maior afluência de Cristãos da cidade, seguimos para Igreja de Stº Ildefonso, Capela dos Alfaiates ou Nª Srª de Agosto (assim chamada por ter pertencido à Confraria dos Alfaiate cuja santa padroeira é a Nª Srª da Assunção que tem as suas festividades no dia 15 de agosto), Igreja de Stª Clara (que integrava o Convento de Stª Clara) e a Catedral da Sé. Algumas das visitas ficaram "prejudicadas" por se estarem a realizar cerimónias religiosas (missas dominicais).
O retorno feito pela Estação S Bento onde nos cruzamos com Joel Cleto que andava a fazer um programa televisivo do Porto Canal sobre Jorge Colaço, autor de inúmeros painéis de azulejos que cobrem algumas Igrejas e outros monumentos do Porto.
Revisitamos a Igreja dos Congregados, onde na altura da primeira passagem decorriam cerimónias religiosas, e regressamos a S Cirilo.
Foi uma manhã bem passada, alegre em amena cavaqueira em que até a meteorologia ajudou, embora ameaçando chuva, o tempo manteve-se seco e uma temperatura bastante amena.
A chegada deu-se pelas 12h35, fica a impressão que todos ficaram satisfeitos com a saída e à espera do magusto que se realizará brevemente.
Manuel

segunda-feira, outubro 24, 2011

Crónica da ronda de Santa Catarina - 16/10/2011

Este domingo começou o Outono. A chuva e o vento exigiram protagonismo e os agasalhos mais resistentes foram resgatados dos armários. A mudança de estação arrasta uma mudança de disposição. Os sem-abrigo tornam-se mais vulneráveis e as suas necessidades expostas às intempéries. Não se trata apenas do frio e da fome, da necessidade de uma sopa quente e do um casaco seco, falamos de exigências mais profundas: a de calor humano. Relembro algo que a Ana diz na nossa viagem de regresso: "a importância do compromisso" e estabeleço uma ligação imediata com a homilia de Domingo: a exortação a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. O padre diz que é fácil amar a Deus, porque não se vê. O verdadeiro desafio está em amar aqueles que estão ao nosso lado. Aqueles com os quais convivemos todos os domingos e que nos chamam "amigos das rondas". É difícil amar o que está mais perto, porque mais complicado se torna mantermos a nossa individualidade preservada. É um risco e uma aventura. Uma corda bamba sem rede de segurança e sem treino de equilíbrio. Uma montanha russa na qual acredito que vale a pena embarcar. Porque existe um momento (ou vários) em que o tempo pára. Não se ouve nada e tudo grita. Os medos dissipam-se e paira-se num momento em suspenso. Só fica a plenitude. Suspiro em êxtase. Consigo dar o próximo passo?

Vanessa Pereira

sexta-feira, outubro 14, 2011

Formação em Voluntariado

Formação em voluntariado - dia 20 de Outubro, pelas 21h15 no CREU.

Obrigatória para novos voluntários.

Se não tiveste disponbilidade para estar na sessão de esclarecimento, mas tens interesse em conhecer o grupo, comparece na formação.

Se tiveres alguma dúvida envia por favor um e-mail para:

fasrondas@gmail.com

Até breve!

domingo, outubro 09, 2011

Crónica das Aldeias - 24.09.2011 (Crónica de um emigrante)

Prezados e mártires leitores:

Muito provavelmente estariam Vós à espera que começasse este mui pequeno excerto respeitante a algumas horas da minha vida com o facto de nos termos encontrado todos no ponto de encontro do costume e à hora do costume (a situação que qualquer mãe desejaria para um filho e apanágio de todas as crónicas presentes no nosso blog) antes de mais uma extasiante ida às aldeias, mas... não! Não irei copiar ninguém! E não copiarei, unicamente porque à hora do costume me apresentava a ressonar ferozmente e de boca aberta (por favor tentem imaginar o cenário antes de prosseguirem com a leitura). E foi esta feroz ressonadela que me fez, uma vez mais, chegar a tempo de chegar atrasado às aldeias... (ui!)
Não sendo eu exemplo para ninguém, lá apareci então uns segunditos mais tarde do que o habitual no sítio onde todos estavam a almoçar. Desta vez decidiram pausar num parque de merendas perto do Restaurante Silva (que toda a gente certamente conhecerá pelo extraordinário parque de estacionamento que possui). Quando escrevo todos, refiro-me obviamente ao grupo das aldeias que ali manjava com as mãos e de boca aberta e também a um grupo de magnatas que ali se encontrava com a sua cozinheira contratada a comer de faca de peixe, carne, pinça/alicate para marisco, etc... O único pormenor que achei curioso foi o facto de todos deixarem o protocolo de relações internacionais de lado para beberem pela sua: sempre cheia caneca de vinho tinto!
Posto isto ou findo que estava o almoço, decidiram que estava na hora de queimar as calorias até à altura adquiridas, uma vez que as meninas lá presentes preveram que o Verão estava para durar e queriam ver se até ao fim do mesmo conseguiam vestir um fato-de-banho tamanho L em vez do habitual XL. Sendo eu um apoiante da recuperação da boa forma física, acedi sem qualquer atrito. Mas o pior estava para vir... É que quando me informaram da decisão da queima de calorias, nunca pensaria eu que para mencionada queima teria de atravessar uma ponte de madeira inteira de um lado a outro (!!!) a pé e com um rio por baixo e depois ainda, atravessar a correr uma curva de uma estrada nacional onde não havia visibilidade. Bom; honestamente poderia tê-la atravessado a passo e a um ritmo normal, mas não me parece que o camião que passou a toda a velocidade logo a seguir a eu ter atravessado fosse gastar travões num animal racional tão inofensivo quanto eu e para mais só para me deixar atravessar! Até porque seria apenas mais um mosquito participante no genocídio animal existente no pára-brisas daquele camião.

Mas lá me safei...

Gastas então que estavam as calorias, fomos directamente ao objectivo secundário de toda esta nossa visita: a ingestão de café para os dependentes em cafeína e a deglutição de gelado para os que gastaram as calorias todas a atravessar pontes e curvas de estradas nacionais! Obviamente que aqui o kamikaze comeu o seu geladinho de modo a restablecer energias para o que se avizinhasse. Com este grupo, temos de estar preparados para tudo! Sou até da opinião de que em vez de fazermos castings ou acolhermos possíveis voluntários no CREU, deveríamos começar a fazer castings conjuntos com os realizadores dos filmes RAMBO ou INDIANA JONES...

VISITA ÀS ALDEIAS

Após o cenário de risco extremo e desumano a que fui exposto, eis que havia chegado o momento do nosso objectivo principal – visitar os experientes e vividos jovens (aka idosos). As saudades de quem é emigrante e de quem anseia saber novidades sobre pessoas tão especiais como as que visitamos estavam a vir ao de cima...
Começamos com a visita à casa da D.ª Emília e do Sr. Aurélio, que infelizmente e doravante ficará apenas a ser conhecida como a casa da D.ª Emília, devido ao falecimento do Sr. Aurélio. Alguns de nós já desconfiavam que isto poderia vir a acontecer dado ao débil estado de saúde em que o Sr. Aurélio se encontrava na última visita tida, mas honestamente e como não participei na última visita, a única situação de que poderia desconfiar na altura era se teria ou não de ser submetido a mais uma prova de fogo, como por exemplo: atravessar um cruzamento na Tailândia de gatas e com um sinal a dizer “Acertem-me, se conseguirem!”.
Mas brincadeiras à parte e voltando à perda que nos surpreendeu, o Sr. Aurélio deixará saudades pelas conversas que tínhamos e pela imagem que me deixou. Imagem essa de um homem com uma austeridade moderada, talvez fruto das partidas que a vida lhe pregou e de uma simpatia ímpar, talvez fruto das partidas que pregou à vida e que o ensinaram a ser assim: simpático, idealista e afável.

Um até sempre, Sr. Aurélio...

Após a notícia, que a todos nos tinha entristecido, era então altura de disfarçar; dar alguma atenção e mostrar boa disposição à D.ª Emília tinha sido colocado naquele momento como objectivo a atingir! E atingimos, até que começamos a falar e divagar tanto, que as minhas compinchas de visitas quando se aperceberam, estavam a falar somente entre elas e de lojas de roupa, viagens, etc... Aqui se pode ver a diferença entre alguém com poder de compra e sem poder de compra. Tal como escrevi anteriormente, enquanto as compinchas deambulavam entre conversas de roupas e marcas de roupa, eu observava a filha da D.ª Emília a coser sapatos mesmo à minha frente, sempre na expectativa de mais tarde poder coser os meus e assim poupar dinheiro. É a crise e a vida é uma selva, por isso safe-se quem puder! Infelizmente, terei é de me safar por outro lado pois receio não ter ficado a dominar muito bem a técnica da força e a força da técnica com que a filha cosia os sapatos...
Estarão neste momento os venerados leitores a indagar: E o que se passou depois? (Pelo menos indagam aqueles que não desistiram logo no início do texto quando eu pedi para me imaginarem a ressonar de boca aberta)
Bom; depois estava na altura de passarmos pela casa da D.ª Fernanda. Para quem não conhece, a D.ª Fernanda é mais difícil de encontrar do que o coronel Khadafi! Ou está na sua horta escondida entre as couves, tal e qual como um agente especial, ou está a passear pela aldeia, ou está a ler mais uma edição de “Onde está o Wally?”, ou então... ninguém sabe onde está. Mas pronto; desta vez e com a ajuda dos serviços secretos da aldeia, pudemos encontrar a D.ª Fernanda a tratar dos seus feijõezitos à entrada da sua horta.
Lá nos rimos um pouco e trocamos informações sobre as nossas vidas, enquanto apanhávamos um sol sentadinhos num muro de pedra fresquinho, altura em que de um momento para o outro; verificamos que a gestão de tempo que até à data tinha sido responsabilidade da Teresa se estava a desviar calamitosamente do programado. Geralmente quando me atribuem a gestão de tempo nas visitas às aldeias, costumo levar uma folha de Excel com os vários cenários possíveis e estou sempre a fazer iterações matemáticas de modo a que à hora combinada possamos comparecer no ponto de encontro ou não haver desvios, mas a Teresa... apenas olhava para o relógio! Enfim; é o que acontece quando delegamos a gestão de tempo a amadores...
Após muitos beijinhos de despedida à D.ª Fernanda, fui ouvinte de mais uma triste notícia: a D.ª Celeste foi vítima de um AVC não há muito tempo. Tentamos visitá-la até porque todos desejáva-mos revê-la, mas pelos vistos não se encontrava na sua habitação que também não há muito tempo foi pintada de fresco e aumentada de modo a que o casal (D.ª Celeste e marido) pudesse usufruir com qualidade dos restantes anos de vida. Enfim... Muito prezo eu agora para que a recuperação desta partida que a saúde lhe pregou seja tão rápida quanto a rapidez com que nos mostra um sorriso sempre que nos vê.

Rápida recuperação D.ª Celeste!

Foi só atravessar a rua e estávamos na casa da D.ª Maria. Desta vez atravessei confiante e de peito inchado, devido à ausência de perigosas curvaturas na estrada.
Subimos a pouco fatigável escadaria da casa e no cume, tal como qualquer outro tesouro perdido no fundo dos mares, lá estava o nosso... a D.ª Maria. D.ª Maria que para quem não conhece é uma verdadeira fashion victim. Desta vez optou por um tailleur a simular um pijama cor-de-rosa propício para a época e ocasião em questão. Esta nossa D.ª Maria é indubitavelmente uma musa inspiradora para qualquer produtor de moda. Pena é que as portagens e ex-SCUT sejam caras e os mesmos considerem também que não seja economicamente viável a visita a casa da D.ª Maria para poderem copiar ou inspirarem-se em próximas tendências.
Cumprimentados então que estávamos, tentei sentar-me o mais rápido possível, na convicção de que o meu corpo curvado não transmitisse a paupérrima indumentária que tinha escolhido para aquele dia (jeans que tinha usado na noite anterior para sair e que ainda cheiravam a tabaco devido ao ambiente salutar em que me encontrava + t-shirt). Não estava minimamente trajado a rigor para me apresentar em frente de tamanha montra de moda internacional! E pela primeira vez naquela tarde, creio ter obtido sucesso...
Seguidamente, passamos à conversa e à lavagem de roupa suja, com bastantes indicações gestuais da D.ª Maria até que chegou a Ana... Este momento da chegada da Ana foi marcante, pois na altura estávamos a degustar vagarosamente um pequeno cacho de uvas entre vários que uma vizinha tinha oferecido à D.ª Maria. Mas; e não é que a partir da Sua chegada, a Ana assumiu o monopolismo da comidela dos cachos de uvas? Prezados leitores: Permitam-me que Vos informe que este ser-vivo do sexo feminino nem teve mãos para agarrar tamanha quantidade de uva que lhe aparecia à frente. Júlio Isidro apresentou há uns anos atrás um programa onde tentava colocar o maior número de pessoas dentro de um Mini. Nas aldeias temos actualmente a Ana que tenta colocar o maior número de cachos de uvas nas mãos. Mas obviamente tive de interpelar pois achei que a nossa colega podia apanhar diabetes com tanta frutose/sacarose! (prometo que vou deixar de ver o Dr. Oz).
Estavam terminadas as visitas e era altura da Teresa olhar pela última vez para o relógio e anunciar as sábias e seguintes palavras: “Ups... Está na hora!”. E lá caminhamos para o ponto de encontro final...
No que sobejamente muitos esperavam que fosse um dos pontos altos do dia, até porque caminhar também cansa e a mala do carro estava carregada com alimentos calóricos e gordurosos que todos adoramos; verifica-se que o grupo num acto desmesurado e plenamente insconsciente, elege o Diogo para proferir algumas palavras sobre o dia que passamos e as visitas que tivemos. Ora; qualquer ser-vivo no seu pleno estado de saúde (a Ana podia obviamente ser exclusão devido à enorme quantidade de açúcar ingerido) nunca elegiria o Diogo para proferir seja o que fosse. Mas lá aguardamos para ver o que iria sair... E o que saiu, estimados leitores, foi algo tão aboninavelmente dúbio quanto os discursos do Presidente da República Popular da China em directo para a TVI e sem a tradução em rodapé! Muitos de nós pensaram em suicídio, pois atrás de nós tínhamos um monte com uma inclinação acentuada; outros pensaram em correr desenfreadamente com o objectivo de nem a Rosa Mota os conseguir apanhar e eu... ri-me. Ri-me, de felicidade por ali estar, por não ser exemplo para ninguém, e porque a Joana também se riu (sempre a queimar o pessoal!)

Não termino este excerto sem mencionar que temos um novo visitado que tive todo o prazer em conhecer: o Sr. Lima. Pelos vistos naquele dia também não estava em grande forma, mas deu para perceber que gosta da nossa companhia e que é uma pessoa extremamente simpática. Simpático e fofinho era também o Seu cão. Aliás, era tão fofinho, tão fofinho, tão fofinho que devia ser embalsamado e colocado numa caixa forte de modo a que ninguém o roubasse! A Teresa também ficou apaixonada pelo canídeo e até o queria trazer para casa, mas devido ao seu elevado porte e força mandibular, entendi que não era uma boa opção. De seguida, apresento uma fotografia de um familiar do animal anteriormente referido.


E são assim as visitas às nossas aldeias... Desde vindimar a viajar numa viatura motorizada onde só tocava uma música dos Coldplay repetidamente e durante a viagem toda, já quase passamos por tudo.
Mas são este tipo de convívios e o companheirismo inerente aos mesmos que nos acrescentam valor como indivíduos, pois como poderia muito bem citar o Eng.º Diogo Costa:

“...só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.”


Do Vosso sempre:
Anton Romanovski (nome artístico para a escrita de crónicas)

Crónica dos imigrantes 25 de Setembro de 2011

Dia 25 de setembro de 2011. Domingo. Recomeçaram as visitas à cidade do Porto com os utentes de S Cirilo.
Desta vez o destino eram os Clérigos (Torre e Igreja) e a Feira dos Passarinhos (que se realiza todos os domingos, de manhã, no largo fronteiro à Cadeia da Relação, atual museu da fotografia).
Pouco passava das dez horas da manhã quando saímos de S Cirilo em direção ao jardim da Cordoaria. Os primeiros passos foram dados quase em silêncio, havia caras novas. Timidamente foram sendo trocadas as primeiras informações, é preciso ir com algum cuidado, o português não é a língua materna de todo o grupo e, por vezes, aparecem algumas dificuldades de comunicação que vão sendo ultrapassadas com o recurso a alguns elementos do grupo que, servindo de intérpretes de ocasião, desempenham um importante papel.
A primeira visita foi à Torre dos Clérigos, compradas as entradas, lá foi o grupo escalando os 225 degraus da torre. Tivemos uma desistência que por problemas nos joelhos, não conseguiu atingir o cimo desta. A vista é, de facto, impressionante, consegue-se ver uma considerável parte da baixa da Cidade, Câmara, Estação de S Bento, Pavilhão Rosa Mota, várias Igrejas (Sé, Congregados, Stº Ildefonso, Lapa, Carmo, Carmelitas e outras de que não me lembro de momento) e outros patrimónios construídos que fazem parte da história da cidade.
A esta visita, necessariamente curta, fruto da grande afluência de visitantes que se fazia sentir na altura, seguimos para a Feira dos Passarinhos. Deambulamos nos corredores da feira admirando a imensa variedade de animais de estimação que se encontravam à venda. Havia preços para todas as bolsas, desde pequenas aves ou hámsteres a 5 € até uma Arara que atingia a "módica" quantia de 950 €. Dada a diversidade de proveniências dos integrantes do grupo, ficou claro que um pássaro exótico é somente um pássaro que se encontra fora do seu lugar (habitat natural), para alguns as araras, papagaios e outros, são aves que existem nos seus lugares de origem aos milhares e como tal, de exótico pouco têm.
O retorno já foi bastante mais animado, já tinha havido algumas conversas cruzadas e a timidez inicial havia-se dissipado a interação foi mais fluida e natural, já todos estávamos muito mais à vontade e participativos.
Nunca se perde umas horas de domingo, ganhamos um mundo de experiência.

Manuel

Crónica dos imigrantes Julho de 2011

Para finalizar este ano, resolvemos aproveitar o verão ainda desordenado para fazermos um pic–nic nos Jardins do Palácio de Cristal.
Ficou combinado na nossa troca de mails com o que cada um contribuía, e lá fomos nós, só que desta vez a Sara foi de carro com todas coisa que se reuniram para o almoço.
Como de costume, há sempre caras novas, pessoas que chegaram a S Cirilo há pouco tempo, que estão numa vida transitória até à estabilidade, e aproveitam esta estadia para organizarem as suas vidas.
Gostei de conhecer a P e o seu filho, que aguardavam a passagem para regressarem a Cuba. O A., que também queria regressar ao Brasil. Foi muito fácil começar a conversar, falamos de muito enquanto caminhávamos até ao Palácio.
Depois o D. sempre com calma, porque não é preciso andar tão rápido, que se tem tempo. E ficámos a saber como está a sua saúde, se anda a fazer todos os tratamentos como deve ser. A língua ainda é uma barreira, mas prefere sempre que diga tudo em português, para ir aprendendo.
A N. foi-me contando que só pode visitar o seu filho duas vezes por semana e como ele não está no Porto, anda cerca de três horas para ir e outra três para vir, para estar com ele pouquinho tempo.
Falo aqui das pessoas com quem conversei. O Manuel e o David também iam entretidos a falar com as outras pessoas.
E chegamos, ajudamos a carregar tudo e a fome já dava alguns sinais. Partilhamos o que levamos e devo confessar que as sandes feitas pelo A., estavam magníficas.
Depois do almoço, fomos dar um passeio pelos jardins, aproveitar para conversarmos mais um pouco e partilhar as experiências de cada um. São mundos tão distintos, vidas tão diferentes.
Foi um domingo bem passado, diferente das saídas habituais, recheado de laços, recheado de outras vivências.


Valentina

quinta-feira, outubro 06, 2011

O FASRondas precisa das tuas mãos! Queres ajudar?

Neste momento estamos a precisar de pessoas que tenham vontade de ajudar, dar um pouco de si e cuidar do outro. Todos juntos poderemos fazer mais e melhor e contribuir para uma cidade mais solidária e fraterna.

o FASRondas actua em cinco vertentes de acção social: Famílias, Aldeias, Sem-Abrigo, Imigrantes e Séniores.

Se te identificas com esta missão junta-te ao nosso grupo!

Vem conhecer-nos na sessão de apresentação que se realizará no dia 12 de Outubro, pelas 21h15 no CREU (Rua Oliveira Monteiro, 562 Porto).

terça-feira, outubro 04, 2011

Crónica da ronda da Boavista – 25.09.2011

No inicio de mais uma ano é sempre bom pensarmos no que andamos a fazer e porque o fazemos. E, para mim, fazer voluntariado é olhar à nossa volta e abraçar quem está ao nosso lado, quem se cruza connosco. Este abraço pode ter várias formas e feitios… o importante é olhar e estar efectivamente com os nossos amigos da noite… E ao chegar a casa, depois de cada domingo e de cada ronda, pensar valeu a pena o tempo que foi ganho com os sorrisos que encontramos em cada pessoa que visitamos.
Já lá vão 3 nos que entrei para o FASrondas… Muita coisa mudou na ronda da Boavista, mas também muito permaneceu… e uma das coisas que permaneceu é a vontade de fazer sempre mais e melhor. Que bom!!

Manuela Seixas

Crónica da ronda da Areosa - 18.09.2011

Arranca mais um ano... por um lado, parece que tudo muda: voltamos de férias, revemos as pessoas, conhecemos novas pessoas... mas na rua tudo continua igual! As "nossas pessoas" esperam-nos todos os Domingos, no mesmo sítio e à mesma hora, para a conversa do costume. E todas as semanas sabe tão bem poder saber mais um bocadinho da semana de cada um ou mesmo perceber que aos poucos confiam em nós!
É isto que me motiva a continuar... enquanto formos necessários, estaremos lá para as pessoas, mesmo sabendo que podem não nos dizer nada... porque muitas delas gostam tanto de nós como nós delas! No final, o aperto de mão termina a conversa e dá-nos a certeza de que no próximo Domingo estaremos todos juntos!

Maria Freitas

Crónica da ronda de Santa Catarina – 11.09.2011

Poucas coisas na vida são lineares. Tudo é mais complexo do que à primeira vista achamos.
Quando se trata então de percursos de vida, muito mais complexo é.
Podemos pensar, por desconhecer, que há um motivo que despoleta um problema e que se torna a causa de, por exemplo, um abandono.
Nunca é assim linear. Se fosse talvez fosse mais fácil resolver os problemas das pessoas.
Mas andamos nisto para resolver "os problemas das pessoas"? O que é resolver?
É arranjar um quarto, tirá-las da rua?
Podia ser. Eu achava que era.
Por ingenuidade, eventualmente.
Imaginando que um sem-abrigo sai da rua e vai para, seja, um quarto, atingimos - atingiu ele - o quê?
Na manhã do primeiro dia em que acorda na cama vai fazer o quê? E na segunda, terceira e quarta manhãs? E tardes?
E se essas pessoas tiverem um passado - que quase se funde com o presente - que envolve dependências, o que farão elas nesses dias vazios?
Lembremo-nos daquele já famoso dizer chinês sobre dar peixes e ensinar a pescar.
Ainda há muito a fazer.

Hugo Ribeiro

terça-feira, setembro 06, 2011

Crónica Séniores S. João




Olá a todos,


Escrevemos para dar algumas notícias do lar do Bom Pastor por altura das festas de S João que estamos a celebrar. Assim, a exemplo do ano passado em que igualmente tivemos um bom acolhimento, lá fomos no dia 21 de Junho ao centro de dia Bom Pastor celebrar o S. Joao com os nossos idosos. Levamos para o efeito uns mini manjericos (uns 20) muito bonitos e muito perfumados para distribuirmos a cada utente. A ideia foi levar também uma boa quantidade de quadras de S. João (retiradas da Net), bandeirinhas coloridas, papel de crepe vermelho, fita de ráfia e o material necessário de bricolage para montar tudo com a possível participação de alguns ou pelo menos o seu acompanhamento desta actividade.


Foram momentos de muita excitação e alegria. Todos queriam a toda a pressa ter o seu vasinho arranjado e houve até alguma confusão e impaciência neste sentido. À medida que foram ficando prontos estavam radiantes e foram-nos apartando com muito cuidado mas também com algum receio de os perderem de vista… Alguns preferiram mesmo escolher a quadra que queriam colocar na bandeira enquanto para outros foi indiferente desde que a lêssemos e falasse no S João.


Dois episódios curiosos a registar; apareceram mais utentes nesse dia no Centro pelo que os Manjericos não chegaram para todos. Assim o único casal de idosos do Centro (marido e mulher) teve que partilhar o mesmo, o que inicialmente lhes causou algum desagrado, apesar de lhes termos explicado o motivo, mas por fim lá foram aceitando o facto.


Também faltou aparentemente para uma outra senhora que ficou muito desolada pelo facto, então uma outra utente, que entretanto se apercebeu da situação, ofereceu-lhe o seu próprio manjerico dizendo que o mais importante era alegrá-la e fazê-la feliz e que não se importava de ficar sem ele. Foi uma atitude muito bonita que registámos com muita admiração. O que é certo é que no fim depois de estarem já todos os manjericos prontos, quando já vínhamos embora, lá apareceu um manjerico a mais! Assim esta ficou particularmente feliz por poder levar afinal também um manjerico atribuindo a DEUS essa graça e lá foi dizendo que não interessa mesmo sermos gananciosos pois Deus no fundo está atento àquilo que merecemos!
Foi mais uma visita ao Centro em que viemos muito contentes por lhes termos proporcionado mais alguns momentos de felicidade.



Até breve.



Fátima Pinto – Séniores

segunda-feira, setembro 05, 2011

FasFamilias Crónica de Junho 2011

Porquê Voluntário?
Muitas vezes questionamos "Porquê Voluntário?". Esta questão tem toda a legitimidade de ser feita. Cada vez mais a competitividade e as exigências impostas pelo meio que nos rodeia, levam-nos a concentrar apenas em nós próprios. Cada vez temos menos disponibilidade para pensar nos outros, focando-nos unicamente nos nossos problemas. O foco apenas do "eu" leva-nos a ignorar e a negligenciar as realidades que ocorrem a par das nossas vidas.

Será que vale a pena ser voluntário? Será que vale a pena, depois de um dia pesado de trabalho, dispensarmos 1 ou 2h a uma pessoa que necessita de nós? Será que vale a pena conhecermos realidades diferentes das nossas?

Na minha opinião todas estas questões têm como resposta comum "SIM". Sem dúvida ser voluntário não é fácil, temos de assumir responsabilidades, investir tempo, trabalho e dedicação. Mas vale a pena apostar!!. Nestes meus primeiros passos como voluntário, tenho recebido testemunhos de vida maravilhosos, os quais nunca vou esquecer. Pessoas a quem a vida tirou o sorriso, mas mesmo assim arranjaram forças para a contrariar e hoje esse tão aguardado sorriso já existe. Isto faz com que voluntariado seja realmente um trabalho muito gratificante que dá mais sentido à nossa vida.

No meu caso particular I. e Z. são ex-presidiários, ex-toxicodependentes, ex-mundo da prostituição, ex-sem-abrigo…. Da vida quase só trazem memórias que gostariam de ter deixado algum dia, em algum lado. A sua força de vontade, persistência, coragem e dedicação, levou-os a neste momento terem emprego (Z), casa e uma vida digna. Sempre que estou com eles levo comigo algum ensinamento. Não é preciso pré-requisitos para ajudar… ajudar é um gesto tão simples, não magoa, não fere… mas conforta!!

Entrei para o voluntariado, porque quis que ele fizesse parte da minha vida, porque me deu oportunidade de dedicar o tempo que me faz falta a ajudar os outros.

Ao ser voluntário adquire-se uma maior consciência social, consciência que podemos ter um papel activo e útil na sociedade a que todos pertencemos.

Tudo isto para responder à questão inicial "Porquê Voluntário?" A minha visão é evidente e espero que seja coincidente com a vossa.

Manuel Brandão

FasFamilias Crónica de Maio de 2011

Esta é uma história de retrovisor, olhando o tanto que já passamos.
Numa ronda em Novembro de 2006 o M, que dormia na Batalha em caixotes
de cartão junto a uma das paredes do Teatro Nacional S. João, aceitou
o desafio de querer entrar num programa de metadona. Já passaram mais
de 4 anos e meio.
No entretanto tivemos uma montanha-russa de dificuldades, desesperos,
desamparos, alegrias e vitórias e recomeços.
Neste tempo contamos 4 empregos em que todos duraram apenas poucas
semanas, 2 recaídas, 1 vez que voltou à estaca zero de dormir de novo
na rua por um mês, um falecimento à distância, 3 visitas à família
disponível, vários telefonemas à família indisponível para ele.
Muitas ocasiões de desespero, de "vou acabar com tudo de uma vez", de
"vou emigrar"…
Mantivemo-nos sempre presentes, mesmo quando o telefone era a única
forma. Mesmo quando transmitir esperança não conseguia ser mais do que
estar presente e calado acompanhando a dor.
Aprendi muito com ele e como é tão fácil exigir aos outros o que
exigimos a nós, pensando que fomos feitos da mesma história e temos as
mesmas ferramentas.
Sei que temos o meu mesmo valor, mas não temos as mesmas ferramentas e
o mesmo passado, e isso só aprendi ao esforçar-me por o ajudar e
compreender:
a nossa localização presente depende sempre de um percurso, e não se
transforma um peixe na água num pássaro nos céus sem o tempo para que
ele o ambicione e depois deixe crescer e fortalecer as asas.
Hoje a história está no seu melhor de todos estes anos: emprego há
mais de 2 meses (e paga razoavelmente!), companheira recente com quem
refaz a vida, família com mais laços reactivados, metadona deixada há
mais de um mês. Melhor era difícil!
São tempos bons. Habituei-me neste tempo a saboreá-los para que quando
as adversidades nos visitarem sejam um farol que ajude.
Estará a nossa montanha russa a chegar ao fim? Queremos muito que sim,
mas ninguém sabe, o certo é que continuaremos cá para ti.
Assinado: o Mano

Jorge Mayer

FasFamilias Crónica de Abril 2011

Tu, meu amigo, tu que me perguntas: " O que é ser voluntário?", não sabes o mal que me fazes, pois a mais franca resposta que te poderei dar será, sem tirar nem pôr: "pergunta, por favor, noutra freguesia e, se a obteres, transmite-a pois também eu por ela anseio.

Mesmo sendo verdadeiro o facto de eu ter formação na área, mesmo sendo real a minha entrega activa no voluntariado, e por mais que continue a tê-la e a sê-lo, nunca o saberei de forma concisa, clara e imediata.

Saramago afirmava que "direitos só o são integralmente nas palavras com que tenham sido enunciadas e no pedaço de papel em que hajam sido consignados". O mesmo acontece com a definição de voluntário, bem como aos direitos e deveres a ela inerentes.

Não obstante, poder-te-ei dizer que são características fundamentais a entrega livre, espontânea e desinteressada; a capacidade de aceitação e compreensão; uma boa dose de bom senso e, por fim, uma estrutura de princípios humanos desenvolvida e bem consolidada.

O senhor que acompanho (Sr. A), já há três anos e meio, é, mesmo tendo em consideração a sua dura e complicada personalidade devido ao seu histórico de vivências, dores e desilusões, e a sua "carteira profissional", é uma pessoa com um suporte de valores humanos, de princípios e sensibilidade espantosos. É interessante e altamente construtivo e recompensador, verificar que, mesmo estando desprovido de parte da dignidade humana que lhe era suposto, este Homem não se descartou da sua humanidade, agraciando-nos com os seus ensinamentos.

Cheguei a um ponto, sou-te franco, em que já não sei quem é que ajuda e quem é ajudado, quem ensina ou quem aprende, quem desenvolve ou quem é suporte de desenvolvimento. Reduzo-me, portanto, à velha questão do "quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha" ou, em simplificação científica (mas não necessariamente equivalente), quem foi avistado primeiro: o ovo ou a sua progenitora. Tal comparação baseia-se no facto de não existir resposta linear, sendo um complexo paradoxo em que cada resposta me repete para a oposta. Bem, e nos termo metafóricos, poderei dar-me à liberdade de afirmar que a galinha, quando foi avistada estava nesse mesmo momento a chocar um ovo, sendo, portanto, os dois avistados em simultâneo pela primeira vez; isto é, e remetendo-me ao concreto caso, ambos (eu e o Sr. A) somos voluntários um do outro, vivendo em parceria voluntária e, espero, amplamente benéfica.

Em suma, a prática da ajuda exterior, implica, ela própria, uma ajuda interior, um crescimento e desenvolvimento não só humano, mas também intelectual.

Miguel Machado

domingo, julho 31, 2011

Crónica das Aldeias - 16.07.2011

Um regresso sentido!
Devido aos desafios do meu emprego deixei de ir às Aldeias no Verão de
2009, e neste Julho quis regressar, porque as saudades das "nossas
senhoras" [como costumo dizer em brincadeira] era muitas e sabia que
perguntavam por mim.
Tudo avançou e mudou. Almoço num sítio bonito que não conhecia, com o
nosso grupo do qual eu só reconhecia duas caras! Companheiros de
visitas que me viam pela primeira vez mas que tinham já uma ideia
sobre mim pelo que lhes era contado do passado pelas senhoras.
Nas visitas a alegria do reencontro! Os meus olhos que brilham e os
delas que alegres me saúdam, me perguntam pelo casamento e pela nova
fase da vida.
Na conversa rapidamente se encurta o tempo que passou e sinto a mesma
alegria de sempre, de saber que levamos um pouco de alegria, esperança
e amor a estas senhoras.
As cumplicidades regressam com os pequenos carinhos de mãos e até com
os conselhos e advertências maternalistas de quem se preocupa e para
quem somos um pouco de netos adoptivos.
No final regressei com o sentimento, que tão bem conheço, de que um
dia assim é pleno e cheio de sentido, mesmo quando tantas vezes no
passado requereu sacrifícios e abdicar de coisas boas como o descanso,
sempre me foi dado a perceber no final das visitas que esta é a forma
de um dia ser plenamente vivido. Um dia com sentido!
Ter ajudado a fundar o grupo e conhecer a sua história desde 2005
faz-me hoje um dinossauro agradecido a Deus pelo que decidiu fazer por
intermédio de nós e agradecer a entrega de cada um dos voluntários que
hoje continuam a levar esta alegria e esperança à Serra do Marão.
Muita força e alegria!
Obrigado a todos!
Jorge Mayer

segunda-feira, julho 18, 2011

Crónica da Ronda da Areosa - 10.07.2011

Vivemos a era do relógio em que tempo é dinheiro. Mas será isso fundamentalmente importante para o nosso processo evolutivo? Quantas vezes no dia-a-dia, depois de um dia desgastante não olhamos em retrospectiva e constatamos um vazio absoluto naquilo que foi feito? Por isso é que todas as semanas, com mais ou menos assiduidade visitamos os nossos amigos e lançamos sementes na expectativa que o fruto resultante possa trazer esperança e a alegria duma vida melhor. É esse o desafio que nos faz mover e dessa forma também completa as nossas vidas.

Todos saímos a ganhar numa espécie de relação simbiótica. Os nossos amigos, que todas as semanas nos aguardam contam connosco. Individualmente procuramos contribuir para que naquele momento se possa transmitir uma mensagem de esperança, para ajudar a ultrapassar mais uma semana, que muitas vezes não passa disso mesmo, mais uma semana. Como cristãos, e ainda que também estejamos num processo evolutivo, cabe-nos a nós ouvir as suas histórias e dar-lhes ânimo, e, tal como foi referido na liturgia da semana passada, lançar a 'semente', para que essas pessoas façam o cultivo da vida utilizando o seu livre arbítrio.

Do nosso lado teremos igualmente a ganhar. Também nós aprendemos com os nossos amigos todas as semanas. Através das suas histórias percebemos muitas vezes que os nossos problemas, provavelmente não serão bem problemas à luz das dificuldades percebidas através daqueles que visitamos. Isso ajuda-nos a nivelar as nossas expectativas e permitirá uma melhor resolução de certos obstáculos que se nos deparam. Isso torna-nos mais fortes e mais atentos para ajudar aqueles que precisam de nós.

Seja em casas particulares ou nos vários locais em que paramos ao longo da nossa ronda, todos os nossos amigos representam já um bocadinho de nós, das nossas vivências, dos nossos pensamentos, das nossas orações. É com muita satisfação que encaramos esta missão, pois acredito ser essa a única forma de o fazer. É com muito prazer que faço esta crónica e apesar da humildade nas palavras empregues, revejo aqui todos os sorrisos colhidos em todos aqueles que visitamos.

José António

domingo, julho 10, 2011

Crónica da Ronda da Batalha - 19.06.2011

Quantos de nós pensou um dia ser Voluntário?
Saberemos o que realmente é ser Voluntário agora que o somos?
Os anos vão passando...
Mantêm-se a vontade de dar...
E de receber...
Pensam muitos que não recebem...
E não receberão, aqueles que não ouvem,
que não sentem...
e que não vivem... cada minuto de noites quentes e frias,
cada conversa, cada momento, cada partilha só nossa e única!

Sem abrigo? Duro este "rótulo"!
Prefiro, "sem destino , ainda!"
Abrigo não é apenas um telhado,
mas uma mão estendida, um amigo, uma palavra!

Dicionário pessoal de algibeira diz:
"voluntário é aquele que sente,
que vive intensamente,
que não é indiferente,
que procura vezes sem fim
a melhor das melhores formas
de apoiar, partilhar, rir e chorar...
De mãos abertas, prontas para ABRIGAR!

Eis que surgimos para tornar
Cada pequeno momento, num grande momento,
numa grande festa... num rumo,
Quem sabe um dia num caminho,
longo, mas de esperança e certeza,
de um destino melhor!

É em ti, N., que pensamos todos os dias,
Quando Domingo após Domingo te vemos "mais dentro"...

Esperamos uma Luz, talvez um sinal,
Para conseguirmos continuar abrigar-te, AMIGO!

Sabina Martins

Crónica das Aldeias - 18.06.2011

Uma nova estação
Já não ia a Bustelo desde Dezembro. Não há como evitar, a vida de um recém-casado traz novas exigências :)

Um dia pleno de surpresas! A começar pela serra onde os traços da nova auto-estrada são já bem evidentes.
Entre os voluntários, foi bom rever as caras conhecidas. Mas há sangue novo na equipa, gente bem disposta e entusiasmada. Parece que estão a gostar!
Os sinais de mudança não ficam, contudo, por aqui. Em “Bustelo de Baixo” duas novas “aquisições” nos aguardavam: o Sr. Lima e a D. Isaura. Cada um à sua maneira revelaram-se pessoas interessantes; gostei de conhecê-los. E acho que apreciaram a nossa visita!
Infelizmente, nem tudo foram boas notícias. Três dos meus “idosos de sempre” não andam bem de saúde e acabei por não os poder ver. Só espero que recuperem rapidamente e que seja possível visita-los em breve.
O dia terminou com uma boa conversa na varanda da D. Maria. O Marão ergue-se no horizonte, numa vista soberba. Está a chegar o Verão e já sinto saudades de Bustelo.

Nuno Afonso

segunda-feira, maio 30, 2011

Crónica da Ronda da Batalha - 15.05.2011

"Encontramos sem nunca realmente te termos perdido"

Foi um encontro incrível…

Uma surpresa inesperada…

Um momento imprevisto…

Sentimentos baralhados…

Será verdade? Parece verdade?

Isso mesmo…

Lá estava ele, depois de dias de recuperação,

De esperança de vida, de renovação, …

Abordagem, palavras, conversa longa…

Um odor invejável, um aspecto notável,..

Disposição de menino jovem…

Foi um momento único, real, …

Mas até quando?

Esperaremos mais uma semana…

Mais uma espera, mais uma esperança!

Terminou a noite repleta de emoções partilhada de uma outra forma!


Sabina Martins

Crónica Aldeias - 28.05.2011

E chegou a minha vez de escrever a tal crónica, vamos lá ver se a coisa corre bem!!!

À hora do costume e no sitio habitual lá nos encontramos para mais uma visita às nossas princesas :) Saídos do Porto em rumo ao Marão, fizemos a nossa primeira paragem no parque de merendas habitual. Depois do escolhe, escolhe lá nos decidimos onde "abancar", uma bela sombra, isto porque o calor apertava e de que maneira, diria que o meu termómetro apontava uns 30ºC à sombra. Depois da mesa pronta, toca a saborear o nosso belo repasto, carregado de iguarias e com direito a um belo Vinho do Porto, oferta da nossa Carminda. Barriguinha cheia, seguimos em direcção ao café para repor os níveis de energia. Agora sim, prontos para as nossas visitas!!!
Chegamos a Candemil e o calor apertava, fomos de encontro à D. Aurélia que já nos esperava de chapéu e óculos de sol, prontíssima para o nosso passeio. Bem, deviam ver a alegria da D. Aurélia ao ver o nosso Diogo :) Como o calor apertava, ficamos um pouco em casa da D. Aurélia a ouvir as ultimas novidades, os passeios, os problemas de saúde, as coisas do dia a dia e até de política falamos!!! Resumindo a D. Aurélia apesar dos seus problemas de saúde, típicos da idade, encontra-se bem e com aquela boa disposição que a caracteriza. Mas não pensem que nos livramos do passeio, mesmo com o calor lá fomos nós passear pelos recantos de Candemil. Depois de uma paragem na fonte para nos refrescarmos, seguimos em direcção a casa da D. Alda, que também nos aguardava com aquele sorriso delicioso:) Ficamos por lá um pouco à conversa, até que conseguimos arrancar a D. Alda de casa para uma bela sombra. Com a brisa que corria, por lá ficamos à conversa e com direito a música da banda local que por lá andava, não era como a banda de Chico Buarque que cantava coisas de amor, era a banda que tocava bombos e acordeão mas que também alegrava Candemil. E depois de muita conversa e cantoria, chegava a hora da despedida. Com o tempo a mudar de cara seguimos em direcção a Basseiros para apanharmos o Marcelo e a Ana. A caminho de Bustelo demos de caras com uma bela cerejeira, que por sinal, estava carregadinha de cerejas. Era difícil não atacar aquela cerejeira, tão difícil que não resistimos... E lá foi o nosso Diogo, em busca das cerejas perdidas, melhor dizendo dos ramos da cerejeira, isto porque o Diogo presenteou-nos com dois belos ramos de cerejeira, carregadinhos de deliciosas cerejas!!!! Depois desta breve paragem, continuamos a nossa viagem até Bustelo, o ponto de encontro habitual. Como fomos os primeiros a chegar, resolvemos ocupar o nosso tempo enquanto esperávamos pelos restantes. Agora adivinhem a fazer o quê???? Pois, mais uma vez lá fomos nós atacar as cerejeiras de Bustelo. Bem, não há coisa melhor do que comer cerejas directamente da árvore, que maravilha, eram mesmo muito boas, docinhas !!!!! E com isto tudo, chegou a chuva que nos fez companhia durante a partilha. Visitas feitas e sorriso no rosto, seguimos em direcção ao Porto, desta vez acompanhados pela chuva ...

Sandra Cardoso - Candemil

quinta-feira, maio 26, 2011

Crónica das Aldeias - 14.05.2011

Cá vou escrever outra vez, em três anos de visitas, esta é a terceira!!
Sou a Joana, tenho 20 anos, a ex-mais nova do grupo (agora a Clarisse com 19) e pertenço ao grupo que vai a Ansiães.
Desta vez, ainda éramos alguns e conseguimos ir aos pares às várias aldeias, Ansiães foi a única aldeia em que íamos três: eu, a Alexandra e a Clarisse. Antes de irmos visitar as nossas senhoras, lá fomos piquenicar todos para ao pé da igreja e, como estava óptimo tempo, e com novas voluntárias (ou seja, com comida óptima – só para quem não sabe, sempre que há novas voluntárias lá vêm cheias de bolos caseiros, frutas deliciosas, o caso de cerejas e morangos divinais, e depois, todos nos começamos a desleixar um bocado...), estivemos muito bem a conversar e a carregar baterias.
Depois, lá fomos cada grupo para as suas visitas, combinando encontrarmo-nos todos em Bustelo, como de costume. Lá fui com a Alexandra e a Clarisse, as duas umas porreiras, e começámos logo pela Tia Rita. Íamos cheias de medo, porque na última visita estava doente e na cama, o que não é nada normal. Entrámos a medo e não é que lá estava ela sentada na cama, toda gira e bem-disposta como se nada fosse? Esta senhora é uma força da natureza e, com já 91 anos, está sempre impecável e tem sempre alguma coisa para nos ensinar! Desta vez a visita foi diferente porque estava também uma das filhas, brasileira, toda simpática (não a conheciamos), e uma vizinha. Estivemos todas à conversa e entre cozinhados, votar ou não no Sócrates, laços de família, "esta é filha desta e casada com aquele e tal", lá estivemos todas entretidas! Não demos pelo tempo passar e a certa altura tivemos mesmo de ir embora (Infelizmente) … Mas a Tia Aldina também precisa de nós! Então, lá fomos nós vê-la, um bocado mais acima da rua, sentada cá fora com uma amiga, as duas a apanhar sol – a sério, as duas todas risonhas dava alta fotografia! Estivemos um bocado as cinco à conversa, a saber como estavam, a falar sobre os filhos, sobre os tempos em que elas eram novas, foi de rir! Adorei quando começaram a falar sobre os tempos em que tinham a nossa idade e a dizer que nós éramos todas "bem-feitinhas, delgadinhas..!"
Entretanto, o tempo já estava a apertar e ainda tínhamos de ir à Tia Ondina. Chegámos lá e estava à nossa espera, sentada numa pedra cá fora! Ficámos um bocado à conversa, esta Tia é uma divertida, fala imenso e nós só precisamos de a ouvir!! Mas, como já estava a chegar a hora, tivemos de vir embora mais cedo, prometemos que para a próxima visita a vínhamos buscar para ir connosco a casa da Tia Aldina. Ficou toda contente!!
Lá fomos então ter com os outros a Bustelo, já estavam à nossa espera, lanchámos qualquer coisa rápida e, todos contentes (reparei logo), lá fomos para o Porto, mas entusiasmados por voltar, uns daqui a 15 dias, outros daqui a 1 mês…

Joana Leite de Castro

segunda-feira, maio 16, 2011

Crónica das Aldeias - 30.04.2011

No dia 30 de Abril fizemos umas visitas às Aldeias diferentes do habitual. Neste dia fomos acompanhados por um grupo de alunos do 12º ano da Escola Secundária Carlos Amarante em Braga que queriam realizar um trabalho sobre voluntariado em meio rural no âmbito da disciplina Área de projecto. Tivemos direito a filmagens, fotografias, entrevistas: uma reportagem à séria!
Os alunos partilharam o almoço com o grupo todo seguindo depois com os voluntários de Bustelo, aldeia onde actualmente visitamos mais pessoas.
Nós voluntários ficámos radiantes com esta iniciativa e os nossos velhinhos e velhinhas adoraram ver o nosso grupo ainda maior que o habitual.
No início havia uma certa timidez com as câmaras mas a simpatia do Tomás, da Daniela e da Maria, alunos que nos acompanharam, fez com que rapidamente o à vontade se instalasse em todas as casas visitadas.
Tinham que ver o Sr. Lima a contar a sua maravilhosa mas difícil história de vida por terras angolanas e a D.Fernanda a recordar o episódio trágico em que deu um trambolhão com um balde de milho e outro de veneno de rato mesmo em frente às galinhas, acabando estas por ter um triste fim...
Também as irmãs D.Maria e D.Celeste foram ilustres entrevistadas e a D.Maria contou aos nossos repórteres o episódio em que o seu filho com 2 anos declamou na igreja "A 13 de Maio na cova da Iria apareceu brilhando a Virgem Maria".
Em casa da D.Emília falou-se de uma vida simples mas feliz no campo e de novos ofícios como cozer sapatos.
Apesar da chuva foi um dia muito agradável e pareceu-me que os nossos visitantes gostaram da experiência.
Agora nós esperamos ansiosamente o resultado do trabalho que partilharemos aqui no Blog logo que possível.

Teresa Monjardino - Bustelo