segunda-feira, junho 28, 2010

Crónica das Aldeias - 05.06.2010


fitas largas amarelas por D.Alda

O passado dia 5 de Junho foi mais uma das nossas aventuras em terras de Amarante. O bom tempo há muito que tem chamado por nós, por isso, fomos mais cedo para aproveitar uns bons momentos à beira do rio no parque da praia fluvial de Larim. A refeição foi repleta de vários tipos de fruta para lembrar que o Verão se aproxima a passos largos. Depois de umas boas gargalhadas e brincadeiras iniciamos as visitas às nossas senhoras.
Nesse dia tivemos uma companhia nova (pelo menos para mim), a Beta, e lá fomos nós “palmilhar” os caminhos de Candemil seguindo fielmente os passos incansáveis da D. Aurélia. No meio de muita conversa e até silêncio para admirar as paisagens, ouvimos atentamente ensinamentos, provérbios e lengalengas, que eu já só ouço num sábado de cada mês.
“- Pedi a Deus a morte e ele disse que não ma dava. Disse-me para pedir antes a vida que a morte certa estava.”
Como é tradição a seguir damos duas ou mais de letra em casa da D. Alda. Ela contou-nos as novidades da terra, dos vizinhos e que ia cantar o salmo na missa naquele dia (Estava ansiosa!). Como ela própria diz: “a voz sai do peito e ecoa na garganta”. Nisto recordamos as gravações que fizemos em visitas passadas de músicas como as “Fitas Longas Amarelas” (música cantada pelos quintanistas de Medicina num teatro que fizeram quando ela estava internada aos 18 anos de idade).
Com muita música e boa disposição vos deixo! Não é só pelo que damos, mas também pelas boas recordações que ganhámos, que se torna difícil deixar de aparecer por uns tempos…

Mariana | Candemil

quinta-feira, junho 17, 2010

9ª Crónica das Famílias - Maio de 2010

“ O indivíduo só sobrevive pela relação.”
Carla Reigada, Formação em “Assistência e Rede Social”, Creu, 13 de Março de 2010

Este mês destacamos na nossa crónica mensal a formação em "Assistência e Redes Sociais", ocorrida no âmbito da vertente das Famílias.

A noção de que o ser humano é um ponto entre constelações e ligações permite-nos interiorizar com maior profundidade o acréscimo na necessidade de um "ponto-humano-isolado": está em estado SOS, alerta vermelho sobre a construção das suas matrizes sociais.
Quanto maior o alargamento da esfera social de cada indivíduo (relações interpessoais) mais integra é a dimensão intrapessoal do próprio ser humano. A existência de um quadro social e comunitário saudável desperta estados de saúde individual.
As pessoas que ajudamos, pessoas desamparadas e extremamente sós, serão sempre mais vulneráveis aos impactos de uma rede social descosida, esburacada ou inexistente.
Os voluntários das Famílias devem procurar desenvolver esta consciência e atender permanentemente ao aprofundamento e à prática desta acção. A ajuda na construção desse suporte social, externo e além do próprio voluntário, tem que ser um dos objectivos principais dos acompanhamentos. Uma Família em relação estritamente solitária com os voluntários é uma Família debilmente dependente, incompleta e aprisionada, e este um voluntariado deficiente e pouco esclarecido. Somos passagem – ou passagens podemos ser. A rede social de cada pessoa, porém, é parte da sua existência concreta, do seu mundo irrepetível, da sua história única. Quanto mais densa, coesa, descentralizada e distribuída maior a probabilidade de, em caso de "anomalias", não surgirem colapsos irredutíveis.
Durante cerca de duas horas de formação a assistente social Carla Reigada expôs procedimentos, direitos e deveres integrados neste tema de extrema relevância. Com exemplos práticos de casos em curso na vertente esclareceram-se dúvidas relativas à assistência médica e à assistência social. Uma formação foi muito importante e útil.

À Carla o nosso sincero agradecimento pela disponibilidade, assertividade, explicação e simpatia.

Raquel Henriques


"Linhas", de Nuno Miguel Rosa, in http://olhares.aeiou.pt/linhas_foto2435711.html

8ª Crónica das Famílias - Abril de 2010

Na crónica deste mês expomos um ponto de situação dos casos de Família acompanhados.

1) D. R. e C.
A dupla tem funcionado de modo mais coeso e dialogante. A Ana tem sido essencial na articulação destas sinergias e autonomias.
A D.R. continua a viver uma fase económica particularmente complicada e difícil. Conseguimos entregar-lhe alguns alimentos advenientes de uma doação feita ao FASrondas. Mas esta é uma solução pontual, um remendo, pelo que as voluntárias deste caso têm estado atentas aos apoios sociais a que a D. R. poderá eventualmente ter direito.
As consultas médicas também têm sido alvo de particular atenção; porém, e para desagradado das voluntárias, a D. R. faltou à última consulta marcada.
As visitas decorrem entre os habituais temas de conversas e muitos queixumes, o discurso natural da nossa querida R.. No seu espaço habitável fizeram-se simples alterações que poderão proporcionar ambientes mais felizes, higiénicos, ventilados e iluminados. A hipótese de arranjar um pequeno animal, como a D.R. revelou ser seu desejo, está a ser ponderada em grupo.
Relativamente ao c., não têm sido feitas visitas dada a fase mais exigente que a D.R. atravessa, a necessidade de consolidação deste acompanhamento e desinteresse manifestado pelo próprio c.

2) D. F.
Alguma perturbação económica derivada de atrasos muito prolongados nos apoios sociais, geradora de ansiedade na F.. A Maria João e a Sofia têm procurado inteirar-se de mais dados relativamente à rede social da D.F. (Que assistências médicas? Que assistências sociais? Que procedimentos, direitos e deveres?). Psicologicamente, e apesar desta instabilidade externa, a D.F. apresenta-se novamente mais firme e bem-disposta. Mantém o tratamento em vigor e as respectivas terapias de apoio. As visitas têm decorrido bem.

3) F. F.
Dois novos voluntários integraram finalmente esta família. A alegria foi imensa! As expectativas da Catarina e do João não foram defraudadas e os miúdos – especialmente os miúdos! –ficara, fascinados com a presença, nos encontros, de gente mais nova e do género masculino. Como tínhamos presente, confirma-se o imenso benefício da diversidade de idades e géneros no acompanhamento à F.F. Que o entusiasmo e o ânimo persistem e possam vir a ser trampolins para a recepção aberta das várias ajudas de que necessitam.
A nível escolar: as notas foram positivas, o que é de enaltecer! Prova superada. Um obrigada especial à Filomena. As explicações continuam a ser uma das principais tarefas dos voluntários.
Recentemente a F.F. mudou de residência, o que trouxe alguma variação na atmosfera familiar e nas rotinas semanais dos voluntários. Porém temos em crer que, com tempo, estas serão totalmente absorvidas e a naturalidade impor-se-á.

4) L.
Nos últimos meses muita agitação tem ocorrido em torno das ajudas neste caso. Uma das acções desenvolvidas foi a recolha de tampinhas de plástico com o propósito de reduzir o custo do equipamento terapêutico. Várias têm sido os contributos. À Rosinha, e seus alunos, um especial obrigada!
Outras iniciativas idênticas têm decorrido paralelamente, algumas ainda em curso. A assistência social da L. alega não dispor de verbas e as indicações médicas, a par do seu estado físico sem melhoras, impõem esta boa agitação. A Carla Reigada e a Sofia Rodrigues têm sido um suporte importantíssimo para a Benedita, a L. e a L.. A elas e a todos os que têm ajudado, inclusive a todos os rostos desconhecidos, o nosso sincero obrigada!
No mês passado a L. teve que ser internada de urgência. Actualmente essa situação já foi, felizmente, ultrapassada.
Entretanto a situação profissional da L. complicou-se um pouco… e agora tudo dependerá das decisões que tomar sobre o seu futuro e papel familiar.
A L. este mês completará mais um lindo aniversário!

5) L. e T.
Continua a trabalhar, feliz e entusiasmada. Os voluntários sublinham que esta situação retribui-lhe uma segurança e tranquilidade insubstituíveis.
Os encontros semanais têm decorrido entre cafés, almoços e boa disposição. A L. é uma lutadora e o T. move a sua persistência, a mudança no seu dia-a-dia e a afinação do seu coração. Desejamos que consigam continuar a percorrer este trilho.

6) M.
Num período um pouco mais incontactável, tem sido menos fácil estar com ele com a regularidade desejável. Nas conversas/desabafos que tem feito a Gabel tem percebido que o M. vive um período algo agitado por "dúvidas existenciais". Pensou-se em integrar novas pessoas neste caso mas percebemos que tal seria prejudicial ao M. Queremos que sinta, e confie, que as pessoas que o ajudam não são trabalhadores e substitutos uns dos outros, que lidam com ele por obrigação… e vão e veêm…
Entretanto retomou a medicação, entre idas a consultas com respectivos técnicos. Conseguimos também ajudá-lo pontualmente com alguns bens alimentares advenientes de uma doação feita ao FASrondas. E repensou a situação da ida para a P. da P. - veremos como decorre a experiência...
A Gabel tem feito um grande esforço para esticar o seu tempo pessoal e poder estar próxima dele nesta fase algo particular.

7) ZM1.
Têm sido meses exigentes neste caso. O Z. vive um período muito depressivo, e é no álcool e na irritação que encontra compensações para esse imenso sentimento de vazio interior. Está desencantado, sente a vida palpitar-lhe sem sentido. Verificamos que as incertezas e atrasos nos apoios sociais têm agravado estados de ansiedade e de tensão. O atraso na medicação também é um problema, psicológico e físico. As consultas médicas, por sua vez, não ocorrem há cerca de 6 meses por ausência da própria médica. As dívidas e as decepções recentemente vividas com alguns ex-companheiros da R.d.S. são os condimentos finais e picantes.
As ajudas do Miguel têm-se concentrado na companhia, na procura de uma eventual ocupação ( pesquisa até ao momento inglória) e no contacto com os técnicos deste caso, com o desejo de tentar perceber se terá direito a um pedido de reforma por invalidez, já que a sua condição física condiciona a sua capacidade laboral.
Com a família mantém a sua postura resistente e orgulhosa. Com o E. o contacto continuo que oscila entre rufias e as partilhas amigáveis.
Durante este mês completará meio século de existência!

8) ZM2.
Também o ZM2. ultrapassa um período complexo e delicado. Temos em crer que terá muito provavelmente retomado os consumos. A distância que subtilmente mostra à Sara e à Inês, o perceptível desejo de afastamento, as conversas com lacunas e contrariedades facilmente detectáveis, as rotinas diárias em ambientes menos adequados, as conversas sobre temas da actualidade que servem de bóias de salvação aos temas pessoais, são para nós indicadores de que algo se passa...
O grupo sente que é hora de deixá-lo autor "autónomo e solitário" do seu próprio caminho. As voluntárias, juntamente com a coordenação, ponderam a alteração dos encontros para uma rotina excepcionalmente quinzenal. A nossa intenção é a clara transferência da responsabilidade e da iniciativa/ poder de decisão para o ZM2., criando uma janela temporal que poderá ajudar a perceber melhor todos os sinais, gerar novas necessidades e dar-lhe o espaço que parece exigir. O estado, esse, será sempre um estado de alerta e uma postura de reflexão de "dentro-para-fora", ou seja, uma postura que permite decidir em função do que verdadeiramente acreditamos ser o melhor para ele.

Por fim assinalamos a eventual solicitação da associação "Vida Norte" para novos apoios e a "transferência" do Sr.JC. das visitas dominicais do FASrondas para o acompanhamento nas famílias. Já tudo está a ser preparado para recebê-lo com o peito plenamente aberto.
Entretanto recebemos duas voluntárias novas, a Maria Lima e a Catarina Castelo-Branco. Às duas as nossas Boas-Vindas!

A todos uma boa semana,

Raquel Henriques

quarta-feira, junho 16, 2010

Crónica das Aldeias - 23.05.2010

Depois de uma semana de trabalho, chegou um fim-de-semana bem soalheiro e mais uma visita às aldeias.

Sugeriram um local diferente do habitual para almoçarmos… Fizemos o piquenique num sítio calmo, com uma pequena cascata e uma lagoa. No final do almoço, depois de descansarmos um pouco e da habitual ida ao café partimos para as nossas visitas.

Cada grupo partiu para a sua aldeia e eu fui com o meu padrinho (destas andanças :-) ) até Bustelo. Começamos pela casa da D. Pedra mas mais uma vez ela não se encontrava em casa e ainda não foi desta que a conheci. Depois visitamos o Sr. Aurélio e a D. Emília, que se encontravam com as suas filhas, e lá estivemos na conversa… Até que olhamos para o relógio e era hora de continuarmos as nossas visitas. Fomos à procura da D. Fernanda, mas esta senhora cheia de vida, não se encontrava nem no campo nem em casa. Seguimos caminho e passamos pelo café para tomarmos uma água, porque o calor era muito e a sede também. :-) A D. Celeste estava à nossa espera com outra senhora lá da aldeia. Falamos sobre emigração, saúde mental e quando demos conta já estávamos atrasados para a última visita. A D. Celeste encheu-nos as garrafas com água e seguimos viagem até à D. Maria. A D. Maria lá estava sentada na varanda toda catita com o seu fato de treino verde. A nora desta senhora veste-a sempre com cores alegres e com acessórios a combinar. Recebeu-nos toda bem-disposta mas o tempo que estivemos com ela foi muito pouco. O tempo que passamos com estas senhoras e senhor pode não ser muito, mas vale sempre a pena e aprendemos sempre alguma coisa com as histórias que nos contam.

Regressamos a casa com o coração a transbordar de alegria e aposto que não foi só o nosso coração… o deles também.

Abraço Hospitaleiro,

Sónia Cristina Serra | Bustelo

quinta-feira, junho 10, 2010

7ª Crónica das Famílias - Março de 2010

Por vezes questionamos a importância de reunirmos mensalmente os voluntários da vertente das Famílias, dada a autonomia conferida aos voluntários na organização das visitas e à disparidade dos casos acompanhados.

Lembro-me da reunião da vertente no mês de Abril, na qual a partilha dos casos surgiu quase espontaneamente, suscitando interesse por entre todos os voluntários presentes. Apesar da particularidade de cada caso, é inegável a existência de questões transversais: a carência e dificuldades de gestão financeira, o desconhecimento dos apoios disponíveis e adequados, a solidão, a falta de auto-estima...

Contribuir para o bem-estar das pessoas que acompanhamos, promovendo o seu desenvolvimento integral, pressupõe a tentativa de nos mantermos informados e atentos, em prol das necessidades das pessoas que visitamos, daí realço não só a importância dos momentos de formação, como também da interacção entre os voluntários.

A troca de experiências enriquece. Não há verdades absolutas, nem soluções exactas quando lidamos com pessoas, mas há caminhos paralelos com circunstâncias similares e sobretudo mais pessoas a pensar em conjunto. Acredito no FasFamilias como uma equipa pois, fundamentalmente, creio num objectivo comum, embora direccionado para cada caso em concreto.

Em suma, pergunto-me se seria possível FasFamilias sem os encontros mensais, pois creio que sim... Mas, com certeza, não seria a mesma coisa!!!

(Obrigada a todos os voluntários pelo empenho e envolvimento que têm colocado nas reuniões e, especialmente, à Raquel pelo esforço na preparação das mesmas.)

Ana Malheiro