terça-feira, julho 27, 2010

Crónica das Aldeias 03.07.2010

Envoltos num quase silêncio das montanhas do Marão, já longe do buliço da cidade, é tempo de estender a toalha na relva e preparar a barriguinha para mais uma tarde de missão. Rissóis, pizza, bolinhos… temperam uma amena conversa, desta vez só no feminino, e bem!
Tudo a bom ritmo, pois é preciso visitar a D. Aurélia, que por impedimento dos voluntários de Candemil teve de ser assegurada pelos das restantes aldeias. Sem uma visita, ainda que breve, é que não poderia ficar! Sempre cheia de vida a nossa nonagenária! O passeio da paróquia desta vez não a convenceu... muito calor, a missa por um familiar… razões bastantes para ficar por terra desta vez. Afinal, parece que o maior interesse destes passeios "é mais comer que outra coisa!" Numa breve conversa e apesar da nossa pressa, ainda nos contou como "Deus nos fala por pequeninas coisas".
Separam-se os voluntários, eu e a Cláudia dirigimo-nos para Ansiães. A tia Rita já está à nossa espera! Sempre airosa e com um sorriso acolhedor ou não fosse um dos seus maiores ensinamentos: "não devemos incomodar os outros com o nosso mau humor e além disso não nos serve de nada a má disposição!" Contudo, não deixou de nos partilhar algumas das suas preocupações. Movimentos de dinheiro pouco claros no banco levaram a uma conversa longa ao telefone com a nora, além disso a crise cardíaca que a conduziu há tempos ao hospital ainda necessita de medicação. Como se não bastasse, a bronquite está também a precisar de uma atenção especial! Com tudo isto, como lhe explicar, não podendo ela ler, como tomar seis medicamentos com regimes posológicos completamente diferentes: uns a horas certas, outros à refeição, outro ainda começam com uma dose mais forte que depois vai diminuindo!!! Tentando simplificar o mais possível e repetindo várias vezes lá tentamos ajudar, mas de facto o melhor conselho que podemos dar creio que foi o de pedir ajuda na vizinhança!
Subindo a ladeira, à sombra dos castanheiros e aproveitando cada pequenina brisa para refrescar, encontramos a D. Aldina, sempre com um sorriso meigo, acompanhada de duas vizinhas. Juntamo-nos ao trio e ali estivemos a conversar de temas vários. Apesar de tudo pareceu-nos mais tranquila, talvez por o filho estar mais por perto.
Por fim, e não sem antes nos refrescarmos com a água da fonte, é altura de partir para o lugar do Casal onde vive a D. Ondina. A nossa chegada veio substituir a televisão que ressoava enquanto esperávamos que nos abrisse a porta. Mais uma vez tivemos de fazer uma pequena introdução, a D. Ondina ainda não tinha compreendido bem que não temos nada que ver com a associação para a qual ela contribui e que lhe traz as refeições. "Nós só visitamos pessoas sozinhas e não recebemos nada por isso". Uma lógica difícil de compreender nos nossos dias, é verdade!!! Uma vez convidadas a sentar só precisamos introduzir o tema, sempre muito faladora ela própria conduz a conversa. Os temas de história parecem ser um dos preferidos. "O meu marido lia num livro e contava-me. Sim, porque nós já fomos dos espanhóis. Mas, um dia, estavam os homens no campo de batalha e os espanhóis tinham a nossa bandeira que não nos queriam dar. Até que um português foi lá e zumba retirou-lhes a bandeira e atirou-a para o nosso lado. Claro que ele já sabia que ia morrer, mas às vezes é preciso assim uns homens animosos! E foi assim que Portugal conquistou a independência."
E foi assim mais uma tarde de missão, de combate à solidão, de conversa em conversa, de troca de sorrisos, de simplicidade em simplicidade…

Marta Rego | Ansiães

domingo, julho 18, 2010

Crónica da Ronda da Batalha - Julho

Mais um Domingo, este de Julho depois da vitória de Espanha sobre a Holanda...

Passámos pelo lugar habitual do sr. F, como não havia sinais de ter estado por lá, seguimos viagem e voltámos + tarde.
Encontrámo-lo, então, já a descansar. Contudo tivemos tempo para pôr a conversa em dia, falou-nos das suas caminhadas de quando era + novo,
da importância da higiene e arrumação sendo sem-abrigo. Continua a queixar-se das pernas, da má circulação. Disse-nos ainda que o sr N, a quem começámos a visitar há 3 semanas, não tem dormido no lugar que conhecemos. Fica a pergunta no ar: Será que o voltaremos a encontrar?

Seguimos para a rua do "trio maravilha".
O M. disse-nos que esta semana já estaria de volta à terra dele... mas não foi isso que aconteceu.
O J. vai andando bem disposto esta semana, reparámos que continua com um andar estranho -segundo ele doem-lhe os pés!
Ficámos a saber que por terem sido acusadops de roubar galinhas viram-se obrigados a mudar de tecto. Deizaram a casa abandonada junto ao parque de estacionamento e mudaram-se para a Axa... o problema é que a rega automática começa a funcionar bem cedo... já tendo atingido o J e o M.
O P "continua dentro"... assim nos informaram.

Depois de duas passagens pelo seu lugar do costume, à terceira foi de vez!
Sabíamos que tinha saído de casa há já 3 dias, a tentativa de voltar a casa não tinha sido bem sucedida.
Por tudo isto, foi bom encontrar o N, tivémos tempo para ouvir a sua versão da história e confrontámos diferentes pontos de vista.
Apercebemos um pouco mais da frustação que é sair de casa e sentir que ninguém o procura, do que é a desconfiança natural dos pais que recebem de novo o filho.
Disse-nos que no dia seguinte ligaria para casa para saber como estavam as coisas após a saída repentina de casa... Ficamos à espera de updates.
Do C não há novidades, o N não o viu durante os 3 dias passados - Esperamos que esteja bem!

João Marques

quinta-feira, julho 08, 2010

Crónica das Aldeias 19.06.2010

Eram 10.30 da manhã quando os primeiros voluntários apareceram no local do costume. O sol já brilhava alto, avizinhava-se um belo dia de Verão! Minutos mais tarde, após os inevitáveis e já espectáveis atrasos, dois carros repletos de voluntários partiram alegremente rumo às Aldeias.
O piquenique foi desta vez junto ao rio... Foi lá que, entre a patanisca e o croquete, ao som das pequenas cascatas de água, os voluntários conversaram, riram e partilharam as suas últimas semanas...
Após a sempre reconfortante ida ao café mais próximo, os voluntários despediram-se e partiram rumo à missão que os traz mensalmente às Aldeias de Amarante.
A minha é pois a bonita aldeia de Basseiros, que soalheira e pintada de verde como sempre nos espera. E assim, num grupo puramente feminino (apesar de todas a perguntas e ânsias pelo nosso "Brasileiro") fomos ao encontro das nossas senhoras.
Começamos por visitar a Dª Hermínia, animada como sempre recebeu-nos em sua casa e contou-nos as peripécias da sua família e tão queridos netinhos...
Em seguida seguimos o já habitual caminho pelas apertadas e caricatas ruelas rumo à nossa segunda paragem. À sombra e a saborear a leve brisa da tarde, encontramos a Dª Maria e a Dª Deolinda acompanhadas pela sempre amigável e trabalhadora família. Foi lá que pusemos a conversa em dia, comentámos a actualidade e ficámos a saber dos acontecimentos mais recentes e vindouros da Aldeia.... Esta crónica não ficava pois completa se não referíssemos a presença do conquistador sobrinho que, com a ajuda das casamenteiras senhoras, por pouco alguma das voluntárias já saia casada!... :)
Seguindo caminho.... comprámos pão na carrinha do padeiro .... a grande subida... Upa, Upa!.... E chegamos ao nosso último destino: a casa da Dª Dulce!
Lá encontramos a mesma, a sua irmã Dª Arminda, o marido e a filha, todos no terraço a contemplar a bonita vista.... Bem dispostos conversamos, rimos e relaxamos até chegar a hora da despedida.
Já com os restantes voluntários partilhamos as nossas experiências e sentimentos resultantes da sempre calorosa tarde nas Aldeias, comemos um pequeno lanchinho e de coração cheio e sorriso na cara regressamos ao Porto!

Lúcia Antunes | Basseiros

sábado, julho 03, 2010

Crónica das Famílias - Junho de 2010

10ª Crónica das Famílias Junho de 2010

"- Onde fica o fim?"

Sei-me de abalada, por isso vou tomar a ousadia de fazer desta crónica uma apropriação pessoal do meu momento de despedida. Espero que ninguém fique incomodado com esta pequena excentricidade. Entendam que este é um momento particularmente especial para mim.
A minha presença e desempenho na vertente, e no grupo, terminam no final deste mês de Junho, ano 2010. Por motivos diversos, e após uma consciente reflexão interior, percebi que é momento de preparar-me para novos trilhos, alguns deles desejos adiados pelo compromisso que assumi com o FASrondas. O respeito que tenho pelo grupo e, especialmente, a consideração imensa que sinto por cada Família ajudada, contribuíu para a decisão da minha saída no momento presente. Para que ambos possamos prosseguir integramente, o FAS precisa ficar "disponível sem mim" e eu “disponível sem o FAS”.
Este processo tem sido preparado durante os últimos três meses decorridos. Três meses pareceu um período temporal adequado ao acompanhamento e à integração gradual das pessoas que me substituirão. Por outro lado Junho precede o fim do ano lectivo, altura em que o grupo efectua uma reflexão sobre o voluntariado praticado no ano transacto e pensa sobre o ano futuro – uma sobreposição de fins propícia à “libertação” do meu lugar.
Aproveito para sublinhar um procedimento que reconheço como essencial à saúde do grupo: a importância da promoção de dinâmicas de transversalidade no seu funcionamento interno. Ou seja: a possibilidade de qualquer voluntário poder participar/executar/envolver-se/experimentar/liderar. Acredito no contributo único que cada nova pessoa, nova e diferente pessoa, possui somente em si mesma e que só ela poderá dar a qualquer missão. Todavia é responsabilidade do grupo o estabelecimento de janelas e de espaços que facultem esta possibilidade. O dom único de cada voluntário servirá o FASrondas, neste caso especificamente as Famílias, se dermos a sentir votos permanentes de absoluta crença nas capacidades únicas, maravilhosas e insubstituíveis de todo e qualquer ser humano.
As Boas-Vindas a quem me substituir e abraçar o desafio da coordenação das Famílias! Estou certa que as tuas valências contribuirão para um compromisso social do FASFamilias cada vez mais profundo, assertivo e eficaz junto de todos os seres humanos invisíveis, solitários e sofridos que caminham na cidade do Porto.
O meu sincero obrigada a 5 amigos que foram amparo nesta missão de coordenação: o Jorge, a Sara, a Inês e, mais recentemente, a Ana e a Rosinha.
A todos por quem passei e com quem me cruzei, no grupo e nas ruas, ao longo destes 5 anos … um sorriso imenso, de peito totalmente aberto…
Sou hoje, sinto-o, uma pessoa invariavelmente um pouquinho melhor. Nas rondas e nas Famílias recebi um retorno que nunca aí esperei encontrar: um certo reencontro comigo mesma e com o caminho/missão de Vida. No FAS descobri e aprendi muito sobre as exigências das relações humanas… a imensidão, o mistério e a beleza dos homens… sobre o "Zé" da ronda, a família da “Ritinha”, a timidez do voluntário "João" e o papel do grupo na sociedade... Que consiga manter-vos sempre, sempre num lugar especial no meu coração.
Parto repleta porque só recebi, e recebi, e recebi…

“ - Onde fica o fim?
- Onde residem os inícios.”

Bem-hajam.

Raquel