Às vezes saímos da visita com um aperto cá dentro, com o coração tão pequenino que até dói. Foi o que aconteceu na última visita à Unidade Habitacional de Santo António (UHSA). Mais de 20 utentes, a maioria homens. Cada um com a sua história de vida: uma brasileira conta que esteve cá 4 anos, tem um namorado "ele diz que pr'ó ano me vai visitar ao Brasil…será que vai?" pergunta-se pouco crente. Um marroquino conta como fugiu, sabe que brevemente vai ser libertado e não tem trabalho: apetece-nos ajudar, arranjar alojamento, trabalho.
Saímos a pensar em cada um. O coração apertado. E eu não faço nada, não faço mais nada além desta curta visita? E se arranjássemos um trabalho para o Rax? No dia seguinte a Cláudia telefonou à responsável pelo Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados, nosso contacto dentro da UHSA. Ficámos a saber que ao Rax já tinha sido proposto um trabalho, mas não quis, não quer um emprego. Arranjar empregos não é a nossa tarefa, ser voluntário não é pensar que vamos mudar o mundo, ser voluntário não é ser voluntarioso. Mas foi bom saber que há alguém lá dentro cuja função é ajudar os detidos, que conhece cada um pelo nome e sabe a sua história. O nosso papel ali é procurar ajudar a passar uma boa tarde de domingo. Parece pouco? Talvez. Conseguimos? Acredito que sim. Mas o que tenho a certeza é que estas visitas fazem mudar algo dentro de mim, algo que muda para melhor.
Ana Aguiar
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