Com um ligeiro atraso, continuo o caminho lançado pela Raquel, com o arranque deste novo ano, de darmos a conhecer um pouco mais o que faSemos nas Famílias.
Estamos a “apadrinhar” 5 casos, com novas voluntárias a começarem a dar os primeiros passos em todos eles. O apadrinhamento é o nome que damos ao acompanhamento que fazemos dos novos voluntários, quer seja para começar casos novos (dois neste momento), quer seja para melhor ajudar o caso em questão, quer para fazer transição entre pessoas que acompanham um caso.
Este é o relato de um caso com alto e baixos, com momentos de passos em frente e alegrias e também passos atrás e desilusões, acompanhando o Paulo (nome fictício) na sua luta para reconstruir a sua vida.
Falemos então do Paulo, jovem de trinta e qualquer coisa anos, que a ronda dos Aliados conheceu junto ao Teatro S. João no Outono de 2006. Na altura falou-se apenas ao de leve (ainda mais que ainda não o conhecíamos) em desintoxicação, e ele não se mostrou reticente, ou evasivo como tantas vezes acontece, quando as pessoas ainda não se decidiram se querem tentar virar as costas à droga ou não.
Ficou o compromisso de recolher informação e ver em que poderíamos ajudar. No domingo seguinte, falou-se directamente com um técnico amigo do FAS (que é sempre uma grande ajuda) e marcou-se encontro para a manhã seguinte às 8h.
Assim começou este caso de Famílias, nesse dia em que o Paulo lá estava à espera nervoso e com receio. Passadas 4 horas saía do CAT integrado num programa de Metadona.
Nos primeiros tempos não se manteve contacto pois ainda demorou um mês e meio a arranjar um quarto, e por isso mudava sempre de local, a pensar na sua vida futura e que isso facilitaria a sua reintegração.
Passados alguns meses conseguiu uma primeira oportunidade de trabalho, mas que não se manteve durante muito tempo.
Após algum tempo reataram-se os laços com a família, em que o voluntário que o acompanha foi com ele visitar a família, foi um passo importante!
Comemorou-se o aniversário do Paulo com um coração cheio, pela primeira vez desde alguns anos, fora da rua.
Mais tarde entrou uma nova voluntária para ajudar neste caso, diminuindo os tempos de solidão profunda do Paulo que estava longe da família e sem qualquer apoio, sem ser o da Segurança Social e o do FAS.
Depois apareceu uma segunda oportunidade de trabalho e parecia que o céu era o limite! Mas durou pouco… Sete semanas mais tarde voltava-se à procura de trabalho, e o pior momento foi quando um mês mais tarde, umas confusões com as pessoas de onde dormia o fizeram voltar a dormir na rua, o seu pior pesadelo! Em dois meses, foi-se da grande alegria pelo Paulo à angústia profunda… Muitos telefonemas e conversas depois, apareceu um novo quarto um mês mais tarde.
A morte de um familiar com quem tinha uma ligação forte foi outro momento difícil e que lentamente provocou uma mudança, surgiu a vontade de internamento prolongado para desintoxicação e o mesmo 3 meses depois foi aprovado…
E… a história pára aqui, aguarda-se os próximos passos, com muita esperança!
Os dois voluntários empenham-se muito neste caso já com história, criando uma rede de contactos habituais com as pessoas com quem o Paulo interage, isso ajuda muito e é muito importante em alturas difíceis. Assim são pivots de ajuda e um pouco de família.
Já ajudaram em mudanças de quarto umas quatro vezes e assistiram a conquista e a perda de dois empregos, e continuam a acreditar no Paulo e a querer estar lá, para o que der e vier.
Jorge Mayer (subcoordenação Famílias)
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