sexta-feira, fevereiro 27, 2009

Crónica das Aldeias - 21.02.2009

Mais um sábado rumo às “nossas” aldeias…
Desta vez mais alegres, novas chegadas, novos voluntários.
A par do almoço, partilha-se um pouco de nós, um pouco do sol, antes de nos dividirmos.
Eu e o Diogo ficamos em Candemil.

“Ando devagar porque já tive pressa, levo este sorriso porque já chorei demais…”
Lembro-me desta música enquanto passeamos com a D. Aurélia. Passo certo, pelos altos e baixos do caminho, cara alegre, boas palavras, como se o que não é bom pesasse demais para ser carregado. Vai falando, contando episódios dos seus noventa e três anos, perguntando pelos nossos pais, nossos avós, dando sustento à verdade de “recebe mais, quem mais partilha”! E nós vamos também partilhando. “Sempre fui bem disposta, mas às vezes as pessoas não sabiam e só percebiam quando falavam mais comigo!”
Findas as voltas, rumamos à próxima casa, D. Alda. Pelo caminho encontrámos a D. Maria do Carmo, a aproveitar o sol. Depois de a sentarmos melhor, ficou um “até já”.

A gripe ainda não foi de vez. D. Alda levanta-se num ápice, fazendo a oferta de praxe - um cházinho. A cara vai-se alegrando, entre mágoas, choros e cantigas tudo se leva, a quem foi brindado com a inteligência, a acutilância e o humor. Não se esquecem os que vão passando…
Al – O João está bom? Qual é a morada dele? E o D. João II?
Passa-se dos contratempos do Natal, para as cantigas e a conversa rola…
Al – Acho que os cegos têm muito jeito para a música!
Aur – É para apagar a nostalgia. (…)
Nesta visita ouviu-se Frei Hermano da Câmara (FHC), a cassete já gasta ainda alegra. Lembram, da rádio, histórias que nos vão contando como parte do seu dia.
Al – Numa entrevista, ouvi um repórter perguntar ao FHC: - “Não sente saudade do tempo dos bailes, de andar a tocar nos salões?”, FHC - “Nessa altura tinha muitos aplausos, mas chegava a casa e sentia-me muito só.”
E a propósito disso vai cantarolando “Entreguei-me todo a Cristo, nunca mais me sinto só”.
D. Maria do Carmo ainda lá estava, apesar do sol menos quente. Fomos para dentro de sua casa, à velocidade que o corpo deixa. Entretanto já somos cinco. Caras que se animam, trocas de palavras entre “tias” e “meninas”, aproximando histórias, acelerando a tarde.
Ficou um até breve, um novo brilho que trazemos e temos esperança de deixar.
A mim ficou uma de tantas canções que a cassete passou nessa tarde…

“As nossas capas
rotas, velhinhas
Todas negrinhas
Também no ar
São andorinhas
Que se preparam
Para emigrar.”

Isabel Teixeira Gomes | Aldeia de Candemil

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