quarta-feira, abril 08, 2009

Crónica da visita aos imigrantes - 05.04.2009

“Vocês vêm e trazem alegria mas depois vão e a gente fica mais triste ainda”… Foi com estas palavras, emolduradas por um sorriso e adocicadas por um sotaque brasileiro, que deixamos a UHSA no último Domingo… Palavras que traduzem na perfeição aquilo que nós próprias sentimos durante as 3 horas que ali passamos e, depois, nos tempos indeterminados que levamos a ‘digerir’ tudo aquilo que ali vivemos…Foram só 180 minutos, mas durante esses (sempre tão curtos quanto irrepetíveis) momentos passamos o horror de uma guerra sem aviso, atravessamos um mar debaixo de um camião, sentimos na pele o arrepio de um sonho de uma vida que acaba num instante só… Como em alguns segundos vidas podem mudar… Como o tempo é uma coisa tão misteriosa quanto a vida, capaz de nos unir em apenas algumas palavras… Foi uma tarde de conversas profundas, de palavras sentidas, de histórias de medo e esperança, de rostos marcados com cicatrizes e sorrisos, olhares tocados pela revolta mas sem qualquer sombra de ressentimento… O talento do ‘Jr’, as aventuras dos marroquinos, as palavras de sentido agradecimento do ‘gangsta’ angolano, a alegria estampada na cara das croatas na sua ‘table dance’, os olhares apaixonados dos meninos indianos, a simpatia constante do senhor palestiniano… Quem dera que os pudéssemos levar a todos connosco para um lugar onde as fronteiras não existam…De cada vez que passamos aquelas portas rumo à ‘nossa vida’ deixamos sempre um bocadinhos da nossa alma desfeita pela maldade de uma civilização onde um papel vale mais que um nome, o cumprimento da lei mais que uma vida…Este foi um daqueles dias…em que tudo vale a pena mas a única coisa que queremos se afirma como algo que ‘não é possível’: mudar o mundo…
Ana Pinho

1 comentário:

Anónimo disse...

Sempre fantástica esta Aninhas... que consegue por em palavras o que nos vai na alma.
Só um poeta (uma poetisa no caso)é capaz de dar significado ao que sentimos e não dizemos e voz ao que está no coração e não fala...
Beijo grande,
Sónia