A 6ª ronda começa cada vez mais a ganhar um trajecto definido. Desta vez a equipa estava completa, apesar de termos ‘emprestado’ o Bateira à ronda da Batalha pois encontrava-se desfalcada.
A noite iniciou pálida, talvez por causa da chuva que ameaçava cair, mas as estrelas timidamente foram espreitando dando forma a uma noite fantástica.
Como sempre, iniciamos a ronda na vivenda S. onde encontrámos o Sr. J A, acompanhado pelo senhor Al. já conhecido, e pelo Sr. S, novo nestas paragens, que tem dormitado por ali nos últimos dias. O Sr. J A, sendo uma pessoa de conversa fácil, rapidamente começou a contar histórias e a falar das coisas habituais. O Sr. Al mostrava-se extremamente entusiasmado pois na terça, segundo ele, vai para Espanha ter com a sua
namorada. O Sr. S acolheu-nos de uma forma muito simpática e rapidamente abriu o seu coração. Falou da sua vida, das profissões que já desempenhou, dos vários idiomas que domina, e do resto de uma vida entregue ao alcoolismo. Disse que estava à espera de ser chamado para mais uma desintoxicação, e estava plenamente consciente que só dependia dele. Sendo ele um jovem, entregue à rua apenas há dois meses, tudo tem
para recomeçar uma nova vida, assim esperamos. Para a semana contamos ter noticias dele. O J. apareceu um pouco mais tarde, tinha ido procurar pontas de cigarros maiores para juntar e enrolar um para ele, e como sempre, chegou simpático mas reservado. A conversa corria fluentemente, mas tivemos que ir embora, pois havia ainda outras paragens.
Seguimos para o T S João, onde encontrámos de novo o M e o P. O M ficou de ir esta semana ao CAT com o Jorge apesar de denotarmos no seu rosto algum receio da ressaca da noite. O P mostrou-se de novo um pouco reservado, recebeu o saco transpirando satisfação, e continuou a ler o seu jornal habitual, A Bola. Com eles, estava também outro senhor, o Sr. M J S, que logo nos questionou se pertencíamos ao grupo do Pedro, e se identificou como o ‘Sr. das Anedotas’. Após vários pares de piadas contadas por ele, começámos a falar sobre assuntos mais sérios. Nesse momento ressaltou à tona um rosto amargurado, as memórias do passado, o alento de toda a família ter singrado na vida, e a dor de viver há tanto tempo encostado a qualquer beco. Apesar de muitas das palavras saírem esgazeadas entre dentes, era possível perceber a vontade que este homem tem em deixar esta vida. Ele disse que ia continuar ali, e para a semana já contaremos com ele na distribuição dos sacos.
Seguimos então para a rua Passos Manuel onde não conseguimos encontrar o W. Será um bom sinal?
Por fim, o destino mais complicado da noite. Resolvemos seguir algumas indicações e procurar o P próximo da igreja dos Grilos, (numa zona bem rebuscada de Sé). Fomos ao encontro da ronda da Batalha e juntos aproximamo-nos da Sé. O caminho não inspirava muita confiança, e bem que tentamos embalar-nos para descer os acentuados ‘canelhos’. A Maria Antónia levava medicamentos, visto que havia informações que ele tinha
contraído sarna. Apesar de não faltar motivação, resolvemos não arriscar, visto que existiam algumas movimentações bastante sinistras por aquelas zonas, ficando a hipótese de o procurar de dia.
A noite terminou no sítio de sempre, com uma pequena oração com as duas rondas juntas, e apesar da mágoa de não termos encontrado o P, fica a esperança que ele esteja bem, pois sabemos que Ele está sempre de olho nos mais necessitados.
Fernando Pires
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