domingo, novembro 05, 2006

Crónica da ronda de 29/10/2006 (6º trajecto)

Depois de um fim-de-semana com um sol magnifico, mais uma ronda de Domingo! Deparo-me com a ausência total dos meus companheiros por motivos de força maior. Desta vez tive o prazer de ser acompanhada pelo Jorge Mayer.

Apesar deste 6º percurso ter sido considerado na última reunião a “ovelha negra “, neste Domingo revelou-se uma grande surpresa!!!

Começamos pela Vivenda S, deparamo-nos com apenas dois sem abrigo, o J e o Sr. J A, a câmara fez uma limpeza geral e levou tudo o que eles lá tinham. Como sempre simpáticos e faladores mas nenhuma novidade relevante. Precisam de roupa, meias etc.

Resolvemos fazer uma busca em vários locais uma vez que ainda tínhamos muitos sacos.

Passamos na R Stª Catarina e encontramos o C, novo sem abrigo, que aceitou o saco e pediu um cobertor.

No T S João, abordamos dois sem abrigo igualmente novos nesta paragem, o M e o P. O M, que já foi mecânico, pediu ajuda para o programa de desintoxicação, simpático e afável contou-nos um pouco o seu percurso, já conseguimos uma 1ª entrevista para o Cat de Matosinhos, vamos lá ver…

O P estava deitado a ler a Bola, recebeu o saco de bom agrado, estava com sono por isso não falamos muito. Ponto interessante, quando estávamos a ir embora o P chama-nos e diz: já deram o saco ao meu companheiro do lado? Ficamos deliciados com este gesto de solidariedade.

Descendo a rua Passos Manuel à procura do Sr. J, surpresa nossa não estava o J mas sim outro sem abrigo de nome W que inicialmente ficou um pouco atrapalhado, pedimos desculpa e logo que viramos as costas chamou-nos, começa a conversar abertamente, conta-nos as suas preocupações, está à espera de entrar para o Porto feliz. Pediu-nos uns sapatos confortáveis. (Entretanto na 2ª feira passamos na V S para comemorar os anos do Sr. J A e por acaso o W passou lá referindo que estava muito contente porque vai entrar no Porto Feliz na próxima semana).

Pensando que a ronda estava dada por terminada e já sem sacos, descendo a R. 31 J encontramos o P, muito magro, doente, que nos disse ter estado internado no H S. João 3 meses, é um caso de pouca esperança, resta-nos dar um pouco de dignidade a este homem que nos recebe sempre também e nos agradece muito por tudo o que lhe damos. O Jorge ainda conseguiu apanhar a Mafalda para ir buscar um saco para o P. Fiquei de tentar falar com a assistente social no S. João. Espero que na próxima semana consiga!

Depois de tantas surpresas neste 6ª percurso ficamos satisfeitos, chegamos ao Creu a tempo da oração com o grupo do Jorge.

«Acreditar que um ser participa de uma vida desconhecida na qual o seu amor nos faria penetrar é, de tudo o que o amor exige para nascer, o mais importante e o que o faz menosprezar tudo o resto.»

Marcel Proust, in "Du côté de chez swann"


Maria Antónia Read

1 comentário:

Anónimo disse...

Que espectáculo! Adorei ler a crónica, realmente foi uma noite em cheio!

Espero que todos eles consigam alcançar o que procuram.
Bjs

Manela