quinta-feira, dezembro 22, 2005

HISTÓRIA ANTIGA

Queridissímos amigo(a)s,

Venho, óbviamente desejar a todos sem excepção (e respectivas famelgas), um Santo Natal e um 2006 CHEIO!

E, porque, achei bonito e que fazia todo sentido por isso e "à propos", mando para todos este poema que achei absolutamente delicioso.

Muito Beijos e abraços de cortar a respiração,

Luísa Cardoso



HISTÓRIA ANTIGA


Era uma vez, lá na Judeia, um rei.
Feio bicho, de resto:
Uma cara de burro sem cabresto
E duas grandes tranças.
A gente olhava, reparava, e via
Que naquela figura não havia
Olhos de quem gosta de crianças.


E, na verdade, assim acontecia.
Porque um dia,
O malvado,
Só por ter o poder de quem é rei
Por não ter coração,
Sem mais nem menos,
Mandou matar quantos eram pequenos
Nas cidades e aldeias da Nação.


Mas,
Por acaso ou milagre, aconteceu
Que, num burrinho pela areia fora,
Fugiu
Daquelas mãos de sangue um pequenito
Que o vivo sol da vida acarinhou;
E bastou
Esse palmo de sonho
Para encher este mundo de alegria;
Para crescer, ser Deus;
E meter no inferno o tal das tranças,
Só porque ele não gostava de crianças.


Miguel Torga
Antologia Poética
Coimbra, Ed. do Autor, 1981

1 comentário:

Anónimo disse...

Luísa, não conhecia esse poema de Miguel Torga! Muito obrigado por nos dares este presente de Natal!
Que a ternura do bebé Jesus te aconchegue neste Natal e continue contigo nos dias luminosos ou cinzentos do ano que se avizinha...
Um grande abraço!