terça-feira, dezembro 13, 2005

licenciado sem-abrigo

venho falar-lhes de um caso que gostaria que fosse discutido na próxima reunião (quinta, 15 dezembro), na qual não poderei comparecer. trata-se do caso do sr. j. que dorme na av. boavista, numa loja de alcatifas no gaveto com agramonte e é regularmente visitado pela ronda da areosa. habitualmente pouco conversador, teve ocasião de no passado domingo se encontrar connosco no aleixo, onde "estava mais à vontade para desabafar e contar a história dele".

já sabia (de uma das rondas da areosa em que participei) que o sr. j. é licenciado em marketing e vendas, fala 6 idiomas e é sem-abrigo por um azar que a vida lhe pregou há cerca de um ano. fiquei agora a par do resto da história e vou partilhá-la para que se possam pronunciar da pertinência de lançar um projecto para o ajudar.

pelo que percebi, o sr. j. morava com a esposa e o filho de 2 anos em zaragoza, onde ainda tem uma casa. motivado pela mulher, que queria regressar ao porto, veio até cá, onde se tentou estabelecer, tendo concorrido a um projecto de financiamento com uma proposta de montar um restaurante grego, para o qual dispunha já do material necessário. a proposta foi aprovada e foram-lhe atribuídos €5000. contudo, a uma semana da assinatura do contrato, terá sido assaltado tendo ficado sem dinheiro e sem os documentos, imprescindíveis para a concretização do processo.

de forma progressiva, foi-se tornando sem-abrigo. inicialmente ainda terá conseguido trabalhar como vendedor (optimus, uma firma espanhola, etc), mas a crescente dificuldade em manter-se asseado e apresentável impediu-o de continuar o trabalho na área. terá tentado recorrer a ajudas, mas pôde facilmente concluir que “em portugal só se ajudam os toxicodependentes”. tendo sido toxicodependente há muitos anos atrás, não teve dificuldades em fazer-se passar por um, apresentando-se num cat para ter acesso às inúmeras regalias que a estes são atribuídas. contudo, foi atraiçoado pelas análises que lhe negaram a toxicodependência e deitaram o plano por terra..

o apelo que nos fez o sr. j. foi o de montar um projecto que lhe permitisse dispôr de cerca de €350, verba necessária para recuperar o automóvel (toledo tdi a gasóleo), actualmente parado num mecânico. para além de lhe ser imprescindível para trabalhar, o automóvel servir-lhe-ia para deslocar-se a zaragoza, onde faria novos documentos que, por sua vez, lhe permitiriam alcançar a quantia que o projecto de financiamento lhe atribuiu.

deixo este tema à discussão sugerindo, obviamente, o cuidado e as reservas que uma história do género sempre requerem. imagino que seja útil falar com o sr. j. para cobrir os buracos na história que me relatou e, no caso de se decidir avançar com alguma coisa, ponderar algumas hipóteses alternativas.. um bilhete de autocarro para zaragoza para começar por resolver a questão dos documentos, por exemplo..

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