quarta-feira, fevereiro 22, 2012

FasFamilias - Crónica de Fevereiro 2012

"…Foste sorteada para escrever a crónica de Fevereiro!"

…Boa!...E agora, por onde começo?!...O que escrevo?!...

Vou dar uma vista de olho nas crónicas do blog, a ver se me inspiro!...

Tudo tão rico! Tudo tão sentido!

Mas…O que hei-de dizer?...

Ao ler a crónica de Julho, do exercício de defesa de permanência de caso que fizemos, relembro o ponto de situação do M. nessa altura. Eu e o Jorge reconhecíamos que o nosso caso se aproximava do fim. O M., ao fim de cerca de 20 anos na droga e de altos e baixos estava numa fase muito boa! Depois de deixar a droga e de uns anos na metadona, deixou metadona por livre iniciativa, sozinho, arranjou emprego sozinho, no qual se estava a dar muito bem, encontrou uma namorada/companheira com quem foi viver ao fim de algum tempo, foi visitar a família, reencontrou-se com os filhos que vieram a Portugal, ao fim de vários anos sem os ver ("matando" os fantasmas que tanto lhe vinham à cabeça nos últimos anos), estava positivo, optimista, confiante, lutador, nada de "lamechices"…Um novo M.! Até nos parecia bom demais para ser verdade! Era uma alegria muito grande, vê-lo assim!

Agora, pouco mais de meio ano depois, custa um pouco ver que tudo voltou atrás…A relação do M. com a namorada deteriorou-se e terminaram, o emprego foi perdido, o M. tem alternado entre a rua e quartos que se vão arranjando, o mundo dele voltou a "desmoronar-se", o pessimismo voltou, veio o medo das doenças, a revolta, a metadona e as drogas voltaram a entrar na vida dele, a vergonha (?) de nos atender os telefonemas apoderou-se dele, foi-se "fechando"…

Mas ser voluntário é isso mesmo, é estarmos lá, é eles saberem que se precisarem nós estamos disponíveis, estamos do lado deles. Não os podemos substituir, não lhes podemos "impingir" as nossas verdades, as nossas "fáceis soluções", pois qualquer mudança, qualquer passo em frente, depende acima de tudo da vontade deles e da abertura deles para dar o passo em frente.

Ser voluntário é estarmos preparados para estes altos e baixos, é aceitarmos que o "mundo deles", a realidade deles, foi construída com bases diferentes da nossa, que as ferramentas deles são diferentes das nossas e que não lhes é fácil utilizarem as nossas, por muito básicas que elas nos pareçam.

É estarmos lá para lhes darmos a mão…Quando eles a querem!...E fazê-los sentir que estamos presentes, seja para conversar, seja para dar a mão para um novo passo, seja simplesmente para…estar!

É tentarmos manter viva alguma esperança na vida deles…Tentarmos que essa esperança entre de alguma forma, seja por uma minúscula fenda, seja por uma janela ou uma porta abertas…E que lhes possa dar alguma força para reagir, para poder ver as coisas de outro ângulo…Por muito pequeno que esse ângulo possa ser…

É fazê-los sentir que, por muito mau que o mundo deles possa parecer, ainda há alguém que acredita neles, que acredita que a esperança pode voltar a aparecer-lhes e levá-los a lutar e a andar para a frente, a serem capazes de se levantar cada vez que tropeçam…E as quedas são muitas, porque neste "mundo deles" ou obstáculos são maiores, a luz é mais ténue e as ferramentas para sair deles são mais rudimentares…Mas estamos cá, de lanterna na mão, para lhes tentar iluminar o caminho…Por um bocadinho que seja…


Com altos e baixos, com alegrias e tristezas é bom sentir que por vezes podemos ser uma lanterna que os ilumina…Embora muitas vezes as pilhas não consigam iluminar muito, mas sempre na esperança que a luzinha, por ténue que seja, possa ser vista e possa iluminar um pouco os seus caminhos e fazê-los ver pelo menos o próximo degrau!

E fazer parte do FAS para mim é isto!

Temos a sorte de ter este grupo de voluntários fantásticos, umas "organizadoras" que nos dão todo o apoio e energia necessárias…E nos castigam com umas crónicas para escrever!...

J

O meu muito obrigada a todos os voluntários e a toda a organização por tornaram possível manter uma luz acesa na escuridão da vida de tanta gente!

Gabel

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Crónica da Ronda de Santa Catarina - 04.02.2012

A noite está mais amena do que eu esperava. Parece que a vaga de frio nos deu tréguas por hoje.

A ronda começa como as anteriores, aproximamo-nos do Sr. A., damos-lhe as boas noites, tentamos começar uma conversa. Sem demoras, o Sr. A. diz-nos que não quer falar connosco, "Vão-se embora! Deixem-me em paz!". Desiludidos, não temos outra escolha senão aceitar e voltar a tentar na próxima semana.

É necessário recuar algumas semanas na minha memória para conseguir ver o Sr. A. a fazer-nos sorrir com as suas histórias ou a falar das notícias que leu no jornal. Desde então, à medida que o Inverno foi avançando, foi mudando de sítio e de disposição. Agora, com a cara tapada pelos cobertores e sem que saibamos porquê, pede-nos para o deixarmos.

Esta incerteza de não sabermos se vamos encontrar alguém no "seu sítio" ou não, se esse alguém nos vai querer falar, se vai estar a dormir (ou a fingir que dorme) é algo que aprendemos a aceitar. Voltamos a tentar com a mesma esperança na semana seguinte.

Nova tentativa. Batemos a outra "porta": o Senhor J. A expetativa de o encontrarmos não é muita. Já há duas semanas que não o encontramos no "seu sítio". Até hoje, nas nossas poucas visitas nunca conseguimos ir além de conversas curtas, deixar o "saco" e um cobertor.

Mas hoje encontramos o Sr. J., recebe-nos bem disposto, senta-se, aceita uma cevada quente e conversa connosco. Num tom ligeiro confia-nos a sua história, fala-nos da saída de casa ainda novo para o "Grande Hotel" onde fez o "13º ano" e a formação de soldador. "Qual o nome desse Grande Hotel?" perguntamos."Custóias City" responde com um sorriso. Prossegue o seu relato, que passa pelo trabalho de soldador, um acidente de trabalho, a rua, a medicação substituída pelo vício que exibe numa garrafa de plástico, os irmãos a quem a vida não tratou muito melhor do que a ele.

Para desanuviar muda o assunto, falamos de coisas mais alegres, e até brincamos com os seus ataques de sonambulismo. Despedimo-nos com sorrisos, agradece-nos a conversa, deixamos a certeza que voltamos na próxima semana. Não sabemos se o encontraremos na próxima semana.

São várias as "portas" onde ainda iremos bater nesta noite. Não sabemos se debaixo de cada cobertor está alguém à nossa espera com um sorriso ou tão pouco com vontade de trocar dois dedos de conversa. Mas sabemos que, de cada vez que a persistência dá frutos, sentimos uma esperança renovada. Cada sorriso, cada conversa, cada pessoa que confia em nós, cada pequena conquista, mostra-nos que vale a pena a espera, mostra-nos que vale a pena continuarmos a tentar.

Luís Silva

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Crónica FasFamilias Janeiro

Ironias da vida!
Sendo eu a mais "Jurássica" (na idade) do FAS – FAMILIAS, sou a "caloira" indigitada para escrever a crónica e confesso que me sinto um pouco hesitante...
É a primeira vez que estou no FAS. É a primeira vez que apoio uma família, embora com uma tarefa em que estou à-vontade. É a primeira vez que escrevo uma crónica. É a primeira vez que faço parte de uma equipa muito mais jovem do que eu e com quem tenho aprendido muito. É a primeira vez que... Diz o nosso povo que há sempre uma primeira vez... e talvez seja verdade.
Como ainda não 'conheço os cantos todos da casa', não sei muito bem o que esperam de mim, mas parece-me que está tudo a correr conforme se pretende.(Só precisamos de fazer com que os nossos meninos tirem melhores resultados na escola.) Temos uma boa equipa coordenadora, muito solicita, entusiasmada e exigente, perfeitamente imbuída do espírito Inaciano e sempre pronta a ajudar.
Tem sido um trabalho de equipa muito interessante e gratificante, com apenas um senão, que é a constante mudança de horário. Parecia que já tínhamos acertado na equipa e no dia a visitar a família, mas eis que, de repente, tudo se altera. Isto traz algum transtorno, mas esperamos que estabilize, pois os nossos pupilos também tiram proveito disso.
A família que estamos a apoiar é numerosa, pois há quatro crianças residentes e, por vezes, vêm os amigos e vizinhos pedir uma 'ajudinha'. São crianças interessadas, embora a mais velha ande pouco entusiasmada. Temos que desenvolver estratégias para a animar e mostrar as vantagens de estudar, embora já tenhamos tido algumas conversas de esclarecimento. Santo Inácio nos inspire!
Está a ser um novo desafio para uma professora reformada, que dificilmente consegue viver sem meninos e sem dar aulas. Para os membros mais novos da equipa, tem sido também uma experiência enriquecedora, pois apercebem-se das dificuldades que a família e os professores têm com as crianças que crescem a sofrer a falta dos pais, ou de um dos progenitores. Os resultados escolares estão a melhorar e todos ficamos felizes com isso. Contudo, preocupa-me a falta de organização e concentração familiar, tão necessárias ao sucesso destas crianças. Sei que temos de caminhar ao lado, ouvir sem interferir e apenas cumprir a missão que nos foi confiada,mas creio que há mais pessoas naquele seio familiar a precisarem de ser ouvidas. Como? O tempo o dirá e Deus nos há-de ajudar.
Todos aceitámos este "convite à desinstalação, para que nas grandes linhas da nossa vida, mas também nas pequenas opções do nosso dia a dia, não fiquemos apenas pelo não fazer o mal. Santo Inácio quer-nos levar mais longe, quer que em cada momento o nosso critério de escolha, de decisão e de execução, seja o mais e o melhor, o mais humano que simultaneamente é o mais apontado para Deus, o Omega do Homem". Estou convencida que estas palavras do Padre Vaz Pinto, proferidas em Fátima, na 2ª Semana de Estudos de Espiritualidade Inaciana, se calaram bem em nós e, assim,estamos prontos a prestar 'mais e maior serviço de amor'.
Que o Espírito Santo desça sobre nós e nos ilumine!

Maria do Carmo

Crónica FasFamilias Dezembro

Querem que vos conte uma história?...
SIM?!
Querem mesmo?... Não é a história do nascimento do Menino Jesus.
É uma história de Natal, em que se fala de Amor...
Há já algumas quinta-feiras, que vou com a "Estrela" (é quem ajudo!) buscar alimentos ao Pingo Doce. E a seguir vamos pro Centro de S. Cirilo organizar os cabazes para serem entregues a famílias com dificuldades. Nas nossas idas ao Pingo Doce, muitas vezes encontrámos à porta um sem abrigo, "velhinho", inofensivo e doce... A "Estrela" faladora com é, fez logo conversa com o "velhinho". Eu fiquei num sorriso e aperto de mão. E assim, foram algumas quinta-feiras... até que...
Numa dessas tardes, preparo-me para sair de casa. Entro no carro e vou buscar a "Estrela" ao sítio marcado. Já no meu carro, a "Estrela" fala, fala e fala e eu lá vou dizendo pois, pois é... e por aí fora... Quando chegamos ao Pingo Doce estava uma confusão de carros. Tive que estacionar em segunda fila com os quatro piscas. Pedi à "Estrela" para ficar a guardar o meu carro enquanto ia buscar os alimentos ao supermercado. À porta, lá estava o nosso "velhinho" que cumprimentei como o costume.
Estava eu a falar com a funcionária do Pingo Doce, quando de repente vejo o nosso "velhinho" a entrar esbaforido à procura de alguém... esse alguém era eu! Quando me viu disse com a maior preocupação que eu tinha que ir lá fora, e rápido, pois estava um policia a querer passar-me uma multa. Agradeci ao sem abrigo e corri lá para fora. Quando chego à rua... encontro a "Estrela" do outro lado do passeio a falar com o policia. Eu, bem queria atravessar para ir ter com ele, mas não conseguia, no meio da confusão de carros sempre a passar. A "Estrela" consegue primeiro que eu atravessar para o meu lado e diz-me: "Inês, não se preocupe eu já falei com o policia... e expliquei tudo. Ele não lhe vai passar a multa, está tudo resolvido!"
Foi tudo muito rápido...
Na altura nem consegui "Ver" o que tinha acontecido... só sentia uma grande Alegria interior...
Mas o que é que estava a acontecer?...
Mais tarde, recordava este episódio e pensava como é bonito perceber a dinâmica da Lei do Amor.
Supostamente era eu que queria a ajudar a "Estrela" e o "velhinho" e de repente são eles que se preocupam em me ajudar... Cada um podia ter ficado na sua... mas não ficaram!!!
Esta episódio pode ficar numa história banal... se ficarmos simplesmente nos factos. Mas, se formos como os pastores que foram a Belém, "para vermos o que aconteceu e que o Senhor NOS DEU A CONHECER..." (Lc 2, 15-20) tudo muda!
Ao vos contar esta história, que se passou numa quinta-feira aparentemente normal, não posso de deixar de dizer SIM... é nesta LEI que eu ACREDITO... a LEI DO AMOR!
Inês Azeredo

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Crónica de Imigrantes 28 de Janeiro de 2012

Esta segunda saída de 2012 tinha como destino a Casa do Infante na zona da Ribeira do Porto, que incluía uma visita guiada. O encontro foi, como sempre, à porta do Centro de S. Cirilo às 9:30, onde se juntaram sete voluntários e (desta vez a adesão não foi muito elevada) um utente (um outro utente inscrito infelizmente não pôde ir, pois não se encontrava bem e tinha que ir ao hospital). Apesar de estarmos em pleno inverno voltamos a ter um belíssimo dia de Sol (apesar dum certo frio) que ajudou bastante para a viagem comprida que tínhamos pela frente.
A viagem prosseguiu pela rua de Cedofeita, passando pela Cordoaria e descendo pela rua das Taipas e pela rua da Vitória até, depois de passar pelo Mercado Ferreira Borges, termos chegado à Casa do Infante, aproximadamente três quartos de hora depois da partida do Centro de S. Cirilo.
Apesar de ser apenas um participante, este não se aparentou constrangido e mostrou-se aberto para conversa. Ao mesmo tempo os voluntários aproveitaram para se conhecerem melhor e conversarem um pouco entre si.
A visita guiada à Casa do Infante centrou-se principalmente no edifício e a sua evolução ao longo dos séculos e a defesa da teoria do Infante D. Henrique ter nascido naquele sítio. Durante as explicações que nos foram dando, ainda se juntaram umas pessoas que também por lá se encontravam (um grupo de séniores, como viemos a descobrir) aumentando substancialmente o grupo de ouvintes da senhora que fazia a visita.
Mas o ponto alto não foi a visita à Casa do Infante. Aparentemente o utente da casa de S. Cirilo nunca tinha estado na zona da ribeira do Porto. A expressão de alegria na cara dele quando nos aproximamos do rio depois da visita demonstrou que a afinal o rio e a zona ribeirinha eram muito mais interessantes que a Casa do Infante.
A viagem de volta levou-nos aproximadamente uma hora (quase sempre a subir), passando pelas escadas da Vitória desta vez, com chegada ao centro por volta das 12:30.
Apesar de não ter havido uma adesão muito grande do lado dos utentes do Centro de S. Cirilo, a manhã foi muito bem passada e o participante que nos acompanhou sentiu-se muito à vontade e com certeza que visitará a ribeira do Porto novamente!

Andreas

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Crónica das Aldeias – 21.01.2012

Este não foi um sábado igual aos outros...
Além, de ser dia de visitas, o que o torna logo à partida especial,
desta vez e para celebrar a tradição, não quisemos deixar de cantar as
janeiras aos senhores e senhoras que visitamos quinzenalmente e que
guardamos carinhosamente no coração. Neste evento até a natureza quis
compactuar connosco ao brindar-nos com um magnífico dia de sol, já a
querer cheirar a Primavera.
Partimos do sítio habitual, em direção à aldeia de Candemil, com
alguma ligeireza, pois havia ainda que ensaiar e afinar as vozes.
Formamos uma grande roda (pois desta vez éramos mesmo muitos) e ao som
dos acordes de duas guitarras, iniciamos os ensaios. Foram intensos.
As orientações preciosas da maestrina Carminda resultaram em pleno.
Parecíamos uns verdadeiros rouxinóis, havendo, claro, uma ou outra
cana rachada..., mas isso é outra conversa.
Então, após o almoço, já cheios de energia e força, iniciamos a
caminhada de casa em casa, distribuindo alegria e boa disposição,
pelas aldeias de Candemil, Ansiães, Basseiros e Bustelo. Para avivar
as nossas forças a D. Aldina preparou-nos um lanche generoso, com
pão-de-ló, nozes, mel e vinho do Porto… que não conseguimos resistir.
No final do dia, o cansaço já se apoderava de nós, mas sentimos que
valeu a pena, principalmente pelos sorrisos com que os nossos amigos
nos foram presenteando.
Florbela - Bustelo

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Crónica Aldeias - 07-01-2012

Hoje não foi uma visita igual aos outros sábados.

Hoje num carro coubemos todos. Todas.

Hoje, por diferentes razões, fomos só 5.

Voluntárias cheias de vontade, entusiasmo e boa disposição, assim partimos. Mas não esquecemos que somos muitos mais, e é assim que queremos continuar a ser!

Reta, curva e contracurva e já só estávamos duas de olhos abertos (as semanas estão mais cansativas…), 4 olhos que mesmo assim não chegaram para sairmos no sítio certo. Acabamos por ir à descoberta de um parque de merendas, em Basseiros, que nunca mais aparecia… Estacionámos e "picnicamos" por ali a ver as vistas. O dia estava bonito, de um azul luminoso, com um sol que alenta e dispõe bem.

Lá partimos para três aldeias. Basseiros não foi contemplada com voluntários, que com certeza muita falta fizeram, pela espera certa que nos fizeram por Ansiães, Bustelo e Candemil.

Nesta última estava apenas a D. Aurélia, que terminava o seu almoço e "esperava os seus amigos", assim dizia a vizinha que lá estava. A D. Alda estava para chegar nesse dia, do Porto, onde foi passar o Natal. Fomos as duas "correndo" a estrada de Candemil, numa hora e meia de passeio, sob o olhar atento do Marão. Num Inverno que, por ali, ainda não é despido. E pelas histórias fica uma espécie de saudade do tempo que não se viveu.

Hoje duas frases me ficam, pela boa companhia e sabedoria da minha querida D. Aurélia (que dia 9 fará 97…). Parabéns!!

"O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão."

"Cada um tem a idade do seu coração, da sua experiência, da sua fé."

Isabel Teixeira Gomes - Candemil

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Crónica Imigrantes – 7 de Janeiro de 2012

A primeira visita de 2012, organizada pelo grupo dos Imigrantes, foi ao Jardim Botânico. Um sábado cheio de sol permitiu-nos visitar não só as exposições da Casa Andresen, mas também passear pelo Jardim.

Formávamos um grupo de dez pessoas e saímos de S. Cirilo às 14h, com alguns participantes já nossos conhecidos e um senhor que nos acompanhou pela primeira vez, utente externo de S.Cirilo há apenas três semanas.

Já no Jardim Botânico, começámos por visitar a exposição de pintura de Armanda Passos, com as suas obras povoadas de mulheres e animais imaginários. Em seguida, subimos ao primeiro andar, para visitar a exposição de fotografia de Harold Edgerton. Este engenheiro electrotécnico desenvolveu uma técnica de fotografia com tempo de exposição muito curto, o que permite "parar o tempo", mostrando em detalhe momentos e sequências de movimento que são demasiado rápidos para serem percebidos pelo olho humano. As suas fotografias criam verdadeiramente uma ponte entre a ciência e a arte. Pudemos ver a bala a atravessar a maçã; a deformação da bola de futebol no instante em que é chutada, ainda antes de começar a voar; as formas que a água cria ao correr da torneira; a sequência de movimentos do mergulhador ao saltar da prancha… Esta exposição, em particular, despertou muito interesse em todo o grupo, participantes e voluntários, que se demoraram pelas salas.

Por fim, o Francisco fez-nos uma visita guiada pelo Jardim. Começou por nos contar a história da casa e do jardim e, ao longo do percurso, foi-nos chamando a atenção para detalhes e aspectos curiosos das plantas. O interesse dos utentes de S.Cirilo manteve-se ao longo deste passeio, durante o qual conversaram e participaram muito.

O regresso fez-se em cerca de 45 minutos, ao longo da Rua do Campo Alegre. Depois da visita, criou-se mais confiança dentro do grupo e participantes e voluntários conversaram todo o caminho!

Margarida

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Crónica das Aldeias – 03.12.2011

O dia começou pouco risonho, mas sabíamos que tal iria mudar já que era dia de visita às "nossas Aldeias"! :) Apesar de esta ter sido apenas a minha segunda visita, sinto que já posso chamar de nossa pela calorosa forma como fui recebida. Admito que na primeira visita as dúvidas e incertezas eram muitas mas estas rapidamente se desvaneceram! Encontrámo-nos à hora habitual no sítio do costume de onde, feitas as apresentações, começámos a viagem em direcção ao Marão.
A primeira paragem foi no parque das merendas para o nosso piquenique cheio de coisas maravilhosas mas muito saudável! A óptima sopa da Carminda aconchegou-nos bastante e até fez com que nos esquecêssemos do ar gelado da serra. De barriga cheia, fomos tomar o nosso cafezinho para partirmos para as visitas cheias de energia!
A visita que descrevo é a de Ansiães juntamente com a Carminda, a Joana e a Rita.
Quando chegámos a Ansiães, a Joana e a Carminda começaram por nos mostrar a casa da Tia Ondina, uma antiga aldeã que infelizmente não tive oportunidade de conhecer. De seguida, seguimos em direcção à casa da Tia Rita. Apesar do frio, fomos encontrá-la cá fora, a tratar das suas coisinhas toda bem-disposta e sorridente, como de costume. A Tia Rita é uma senhora que, apesar dos seus 91 anos, tem uma energia inigualável e um espírito único. Entrámos na sua acolhedora casa e pusemo-nos à conversa, desde as consultas marcadas até as "mexericos" habituais, sempre com muita animação à mistura! Sem darmos conta do tempo a voar, já estava na hora de irmos visitar a Tia Aldina!
Com muita tristeza, despedimo-nos da Tia Rita e subimos a rua onde a Tia Aldina já estava à nossa espera junto à lareira. Desta vez, fomos encontrá-la mais tristonha. Os problemas do filho e os seus problemas de saúde afectam-na bastante. Depois de nos ter contado como andava a lidar com toda a situação, a conversa começou a ficar mais animada e entre o chá quente e as castanhas que tinha preparado para a nossa visita, conseguimos ainda alguns sorrisos. - "Já vão embora? Têm de ficar cá mais tempo!". Nós também queríamos Tia Aldina, mas já estávamos em cima da hora para irmos para o ponto de encontro.
Fomos então para Bustelo, onde já estavam todos à nossa espera. Depois da partilha, emotiva pelas perdas, partimos para o Porto com um sorriso no rosto e ansiosos pela próxima visita.

Joana Paulo - Ansiães

terça-feira, dezembro 13, 2011

Crónica dos Imigrantes 10 Dezembro de 2011

Desta vez, a saída, foi à Casa da Música com visita guiada incluída.
Como sempre o encontro foi em S Cirilo. Tivemos bastantes inscrições e algumas desistências (talvez devido ao mau tempo que se fez sentir durante a noite).
O convívio foi muito positivo, a visita guiada foi acompanhada, com elevado interesse, por todos, principalmente pelos utentes de S Cirilo, que demonstraram uma grande atenção a todas as explicações sobre a arquitetura e pormenores da acústica da sala de concertos, que foram dadas pelo guia da visita.
No regresso, como sempre, a animação foi mais evidente e tivemos oportunidade de começar a integrar os novos voluntários desta vertente.
Esta atividade tem-se revelado, para mim, uma agradável surpresa. Surpreende-me o interesse que estas pessoas, a quem a vida não tem tratado bem, demonstram. O melhor exemplo disso, se preciso fosse, veio esta semana quando um dos utentes trouxe dois amigos, de uma outra instituição, para nos acompanharem nesta visita.
Têm sido muito positivos estes encontros. Tenho notado uma maior abertura por parte dos utentes de S Cirilo para falarem dos seus problemas e preocupações. Este estado de espírito só é possível com a persistência e regularidade destes encontros, que fazem com que eles adquiram alguma confiança e comecem a abrir a sua vida (problemas, preocupações e alegrias) aos voluntários que os acompanham.

Manuel

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Crónica das Aldeias – 08.10.2011

"Quem gosta, cuida."

Num sábado de Outubro, num dos primeiros deste ano "lectivo" do FAS,
voltámos nós para o Marão ver as nossas senhoras. Nossas, porque
aquilo que elas nos entregam e confiam faz-nos perceber que estamos
responsáveis por uma pequena parte da alegria delas, que por mais
pequena que seja, não deixa de não ter uma grande importância.
Mais uma rotina normal: reunir, viajar, almoçar no parque do costume,
o cafezinho e voilá! here we go! As conversas, sinto eu, são cada vez
mais íntimas. A dona Rita, quero dizer, Tia Rita (veja-se lá a
confiança, que maravilha!) adora receber-nos. Constantemente achamos
que nessa hora, o relógio é uma invenção pouco útil. A dona Aldina, a
avó carinhosa! "Meninas, um frasquinho de mel! Levai!" Não deixa de
insistir que ficamos muito pouco tempo com ela, apesar de
distribuirmos duas horas por duas vistas, o que é óptimo. "Dar sem
procurar receber", um dos lemas deste grupo, mas na verdade, sempre
recebemos em dobro (ou mais) do que aquilo que damos. Estou muito
grata a estas senhoras por se deixarem fazerem parte da minha vida,
penso que poderei dizer, da nossa vida, e de toda a sabedoria que nos
passam com as histórias das suas existências.
Um dia passado, mais uma rotina normal, no entanto, cada momento é
único. Obrigada a todos por tornarem possível uma companhia/amigo na
vida destas pessoas e de todas as que necessitam.

Clarisse - Ansiães

quarta-feira, novembro 30, 2011

Crónica dos Imigrantes 27 Novembro 2011

Para esta nossa saída, a meteorologia presenteou-nos com um dia de primavera neste final de outono. A escolha do destino para o programa esteve bastante indefinida mas, após algumas vicissitudes e contratempos, a escolha recaiu sobre a Cadeia da Relação / Centro Português de Fotografia que se localiza no jardim da Cordoaria.
Marcamos o encontro para S Cirilo às 14h30. Todos foram pontuais (voluntários e utentes). Ainda nos demoramos um pouco a conversar com um utente, acompanhante habitual destas nossas saídas, mas que, por estar doente, não pode, desta vez, estar connosco.
Saímos em direção à Cordoaria, em amena cavaqueira, pois já todos os participantes se conheciam, o que facilitou a comunicação e a interação.
Neste edifício do século XVIII, estão presentemente quatro exposições, duas permanentes e duas temporárias. As duas permanentes, uma de máquinas fotográficas representantes da evolução desta arte, onde se encontram muitas dezenas de marcas e modelos de câmaras e uma outra sobre a Cadeia da Relação, algumas das personalidades que ali estiveram detidas e, também, de detidos anónimos. Nas exposições temporárias, também de fotografia, uma é de divulgação dos Novos Valores da Fotografia Espanhola, em que o tema principal é a obra de Juantxu Rodríguez e as suas fotografias do mundo, principalmente uma visão particular sobre uma importante parte da sociedade norte-americana, e a outra do trabalho de Marín, cuja obra atravessa a primeira metade do século XX. José Miguel Ferreira apresenta-nos as suas fotografias subordinadas ao tema o Douro Vinhateiro.
A visita correu bem e todos os participantes gostaram, não só pelas exposições, mas também pelo edifício que está intimamente ligado à história política do Porto desde o Marquês de Pombal até ao início do Estado Novo.
O regresso foi um pouco mais monótono, dado que alguns dos participantes são utentes externos de S Cirilo e após a visita foram diretamente para as suas residências e não nos acompanharam.
Tudo correu bem, foi uma tarde bem passada.
Manuel

segunda-feira, novembro 28, 2011

Crónica da Ronda de Santa Catarina – 20.11.2011

A MINHA CASA É(RA) A RUA

Sábado, 8h30. A manhã está fria. A Baixa do Porto está deserta. Os primeiros autocarros circulam nas paragens ainda desertas. Vagueiam alguns noctívagos. Apressam-se os comerciantes para abrir as lojas e ajeitar as promoções nas montras, que o negócio já conheceu melhores dias.
Do outro lado da rua, na Praça D.João I, o senhor J., apoiado na sua bengala, está à nossa espera. É dia de ir ver um "quartinho". "Não quero fazer má figura", desabafou connosco dias antes de marcarmos a visita – que preocupação a de quem dorme na rua há anos.
"Não se preocupe com isso", garantimos. Nada que uma camisa, uma camisola e um bom banho quente não resolvam.
Rumo ao balneário público do Campo 24 de Agosto. "Bom dia. São 35 cêntimos pelo banho. Se desejar sabonete e toalha são mais 75", responde um rosto fechado e de pouca simpatia do lado de lá do vidro da recepção.
Por aqui passa "todo o tipo de gente", vai comentando Dona F., que à medida que parece confiar em nós deixa cair histórias. "Vêm aqui duas irmãs, que têm uma boa casa, mas preferem tomar banho aqui. Dizem que fica mais barato e não têm que limpar", ri-se.
Fossem todos os clientes como elas, pensa em voz alta. "Deus me perdoe, mas romenos e ucranianos. Deixam tudo sujo e só arranjam problemas", grunhe entre dentes.
"São da Cáritas?", questiona. "Porque tenho lá uns edredons em casa , se quiserem…", continua – mais tarde ainda nos tenta impingir também umas cortinas que estão lá em casa a estorvar . Agradecemos. Toda a ajuda é bem-vinda, mas preferimos o edredon às cortinas, explicamos gentilmente sem querer ferir o espírito solidário.
9h30. Barba feita, cabelo alinhado com risca ao lado, camisa aos quadrados e pólo a condizer. Ganhou anos de vida. Parece outro. Vaidades à parte, é tempo de ir ver o quarto.
É a própria senhoria que abre a porta e faz a visita guiada. Cabelo apanhado, rosto jovem, sorriso rasgado, discurso rápido e fluente. "Bom dia, senhor J., vamos então ver o quartinho? Olhe que são quatro andares!", avisa. "Em Lisboa, subia bem quatro andares", exclamou o senhor J., que conta mais de meio século de vida e alguns anos a dormir nas ruas de Lisboa e Porto. E subiu, sem pestanejar, enquanto a Dona S. foi obrigada a fazer uma paragem forçada, que isto da asma ataca novos e velhos.
O "quartinho" está em remodelação. "Estou a substituir a cama de casal por uma de solteiro para ficar mais confortável", disse despachada. "E, olhe, até tem televisão para se distrair", continua. Corrida rápida ao WC e cozinha partilhados. Num discurso rápido e despachado lá vai explicando as condições do alojamento e as regras da "casa": fumar só na varanda e nada de barulho à noite porque isto "é um local de respeito".
"Então, gosta do quartinho?", pergunta? – seguramente que o senhor J. só ouviu palavras soltas da Dona S. E poucas trocaram. Também não era preciso. O olhar e sorriso expressivos deste senhor de barba e cabelo grisalhos conquistaram a jovem senhoria, que já "aturou de tudo na pensão" e recebe os novos hóspedes de braços abertos, mas de pé atrás.
De palavras parcas e discurso desalinhado senhor J. deixou escapar, em voz embargada, aquilo que nós, voluntários da ronda, e, seguramente de outras rondas, gostaríamos de ouvir mais vezes: "Eu fico com o quarto. Não quero ficar na rua!".
A rua era a casa do senhor J.

PS: E porque as rondas se fazem de histórias como esta, damos as boas-vindas ao novo voluntário, o L. (pode não querer ser identificado). Contamos contigo para escrever os próximos capítulos da ronda de Santa Catarina.

Ana Oliveira

quinta-feira, novembro 24, 2011

Crónica do FasImigrantes 12 de Novembro 2011

Chegamos a S. Cirilo pelas 14h30 prontos para preparar o Magusto para os utentes.
Foi a primeira saída com os novos voluntários da vertente, onde eu me incluo, e por isso começamos devagarinho. Primeiro ficamos a conhecer quem trabalha em S. Cirilo. O Sr. V., que diz que não quer que lhe chamem Sr. porque no bilhete de identidade dele diz antes J.! Foram os primeiros rostos que vi em S. Cirilo e senti-me instantaneamente acolhida.
Como éramos um grupo de muitos voluntários novos a Valentina aproveitou que poucos utentes estavam em S. Cirilo à nossa chegada e mostrou-nos as instalações. Que espaço agradável e bonito!
Depois disso, mãos à obra!! Tinha de se pôr o fogareiro a postos para as castanhas, tarefa que se revelou algo difícil por causa do vento, mas que com a ajuda de todos e em particular do David – já com a experiência do fogareiro do magusto passado – e do Sr. V. o carvão lá começou a arder e pouco depois já tínhamos castanhas "quentes e boas"! Entretanto tínhamos de preparar a mesa do lanche, com o lanche oferecido por S. Cirilo e os mimos que nós levamos. Era também preciso organizar as fotografias das visitas anteriores para as colar numa cartolina que foi posta à entrada de S. Cirilo para todos os utentes verem e eu cá acho que ficou muito bonita – não, não por ter ajudado a fazê-la!!!
Entretanto o tempo ia passando e os novos voluntários do grupo iam-se conhecendo enquanto os utentes não chegavam. Apareceu também uma voluntária da vertente das famílias para partilhar connosco o magusto e algumas ideias de projectos. Mas utentes… Lá ao fim de algum tempo começaram a aparecer, poucos, mas muito simpáticos e que acabaram por fazer a festa connosco, alegrando e muito o magusto que preparamos.
No fim, quando já todos nos tínhamos divertido muito arrumamos tudo como estava e despedimo-nos com a promessa de voltar dia 27 de manhã para uma visita ao Museu Militar! Despedidas feitas, cada um foi para seu lado. A mim calhou-me escrever a crónica, o que muito me agradou, visto ser a minha primeira experiência, mas também por isso me deixou algo apreensiva, com medo de não saber como fazer!

Teresa Nunes

terça-feira, novembro 22, 2011

Crónica das Aldeias 19.11.2011

11 horas da manhã, ponto de encontro no Millenium, para fazermos as habituais visitas às nossas "Aldeias", Ansiães, Candemil, Basseiros e Bustelo.

Que maravilha voluntários novos: A mais novinha a Joana, M. Manuel e o Belarmino, sejam bem vindos.

Depois das apresentações e dos cumprimentos, lá nos dividimos pelas viaturas e partimos rumo às Aldeias.

O encontro para o almoço foi na Casa da Catequese, pois como no dia anterior choveu, os nossos locais habituais (parque das merendas ou atrás da igreja) não estavam próprios para o mesmo. Aqui encontramos a Natércia e depois mais tarde a Florbela.

A Carminda foi a que fez a oração de agradecimento e depois, começamos a petiscar as diversas iguarias que cada um levou (não as vou descrever para não vos deixar água na boca).

No final do pic-nic a Carminda deliciou-nos com um belo poema de Mafalda Veiga - "O Velho", que aqui vos deixo para compartilharem connosco:

Velho

Parado e atento à raiva do silêncio
De um relógio partido e gasto pelo tempo
Estava um velho sentado no banco de um jardim
A recordar fragmentos do passado

Na telefonia tocava uma velha canção
E um jovem cantor falava na solidão
Que sabes tu do canto de estar só assim
Só e abandonado como o velho do jardim?

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim

Passam os dias e sentes que és um perdedor
Já não consegues saber o que tem ou não valor
O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
Para dares lugar a outro no teu banco do jardim

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um resto de tudo o que existiu
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim

De seguida lá fomos tomar o nosso café ao local do costume e agora sim partimos às nossas visitas.

A visita que vos descrevo é a Aldeia de Bustelo com a Nanica, Florbela e Augusta.

A primeira casa a visitar foi a do Sr. Lima (que com franqueza estava com receio de o já não encontrar) pois na última visita estava acamado e bastante doente. Mas, graça a Deus, ainda está com vida, continua acamado numa cama articulada de ferro, para ser mais fácil o seu tratamento. A visita foi muito rápida a pedido da sua esposa, claro que foi mesmo para o cumprimentarmos e perguntar se precisava de alguma coisa.

A segunda casa a visitar seria a da D.Fernanda, mas não estava, os vizinhos disseram que talvez não demorasse mas, o certo é que não veio.

Fomos então, a casa da D. Emilia viúva do Sr. Aurélio. Desta vez, recebeu-nos dentro de casa, pois estava à lareira acompanhada pela filha.

D. Emilia pouco fala só escuta, pois teve um AVC e tem dificuldade em falar e andar. Como estamos a chegar ao Natal, falamos das diversas ementas alosivas e de como era festejado o Natal antigamente. O tempo passou rápido e terminou a visita com muita pena nossa.

A próxima visita foi a D.Maria, lá estava ela no cimo da escadaria, na entrada da sua porta, sentadinha como do costume na sua cadeira. Como estava frio, por cima do seu pijama de cor laranja, tinha vestido um casaco de malha, cobertinha com um cobertor fofinho e com luvas, ai ninas toda quentinha. Estava preocupada com dinheiros de terrenos que o filho/nora tinham recebido e as conversas foram á volta desse tema. E sem quase darmos por isso o tempo da visita terminou pois ainda tinhamos que ir ver a irmã da D. Maria a D. Celeste.

Ùltima visita D. Celeste, recebeu-nos na sua cozinha com o fogão de lenha acesso, hum que agradavel que lá se estava com a presença do marido. Bastante debilitada, pois teve recentemente um AVC, mas bem disposta. Falou-nos das peripércias que passou nos diversos hospitais por onde esteve aquando da sua doença. Também o tempo passou rápido e assim terminou a visita.

De regresso ao nosso ponto de encontro, já estava a ficar escuro e a chover, para lanchar o que restou do pic-nic.

Mais uma vez agradecemos a vinda dos novos voluntários e despedimo-nos até à próxima e um muito obrigada a todos.

Agora me despeço com esta simples frase "O tempo escasseia mas a vontade de vir é imensa!"

Maria Lurdes Ferreira – Bustelo

domingo, novembro 20, 2011

Crónica da Ronda da Batalha - 06.11.2011

Foi com palavras como "Spaceba" e outras que tentamos noite após noite rever-te uma cara triste numa cara com um sorriso puro e sereno que conjuntamente partilhamos em dias de chuva, frio ou até mesmo de calor…

O frio bem que tentou gelar-nos o corpo… conseguiu, mas a alma manteve-nos bem quentes para mantermos a nossas calorosas conversas com o Sr. F., V. Sr. M, os irmãos L. e J. e M.

N. e C. mantém-se afastados… este silêncio que nos mata a cada Domingo, que ganha significado cada vez que um "falso" sono se apodera deles nos últimos 2 meses e nos atinge pela ausência amiga que sentimos… Sim claro, porque também sentimos e vivemos as suas ausências de Domingo que, duramente, se prolongam até ao próximo e próximo e próximo Domingo em que os revemos!

Expectativas, esperança e saudades… sentimentos muito presentes em mim voluntária de rua…

Sabina Martins

domingo, novembro 06, 2011

Crónica da Ronda da Batalha - 09.10.2011

De certo que não é a primeira vez que nos deparamos, ou já ouvimos falar, de situações em que uma pessoa que visitamos não nos aparece no domingo à noite porque, infelizmente, foi internado no hospital...Foi o que aconteceu ao nosso amigo O..
Ao longo das nossas visitas notamos que o seu estado de saúde ia piorando, embora estivesse a ser acompanhado por um médico. Deu então entrada no Hospital de Sto António por complicações causadas pelos diabetes.
Entretanto um dos elementos da nossa ronda foi averiguar o que se tinha passado e foi então que soubemos a má notícia de que lhe tinha sido amputada uma perna. Curiosamente, O. estava com boa cara, numa visita que lhe foi feita, embora preocupado com o futuro. Em duas semanas recebeu apenas duas visitas...
Embora não sabendo como vai ser este novo capítulo da sua vida, certamente será muito complicado e ainda mais pelo facto de não ser português e de ter apenas, que se saiba, dois amigos em Portugal que tal como ele vivem na rua e, por essa razão, não poderão ajudar tanto quanto com certeza queriam.
Esta situação pôs-me a pensar que muitas vezes damos a nossa saúde por garantida, não imaginando que de um momento para o outro isso pode mudar, e que mesmo que mude contamos com o apoio da família e amigos. Mas existem muitas pessoas que não têm este apoio e assim, resta-nos a nós, ronda da batalha, fazer o que podermos para o apoiar o nosso amigo O..

Pia Garrett

Crónica da ronda da Areosa 23.10.2011

A irracionalidade, de um ser humano racional (porque acredito que os há sem racionalidade), leva-o a pensar que todas as partidas (ou ensinamentos) da vida só a ele acontecem, e facilmente se torna num coitadinho, quando se olha ao espelho. O bem-estar não depende da sua evolução ou crescimento como Homem. Ele quer é o telemóvel X, o carro Y, as férias Z e etc... quer estar bem, quer ser feliz, e refugia-se num sofrimento estúpido pela ausência de bens materiais.

Domingo, são 21h00
A chuva e o vento falam comigo através do som das persianas... noite difícil pela frente...
A manta e o conforto do sofá fizeram uma ultima tentativa, mas resisti e saí...
Saio de casa a correr, um pouco atrasado e com a consciência que o tempo não está para acelerações. No ponto de concentração sou invadido por um pensamento que logo se vai embora "Estava bem era em casa, aconchegado pela manta" (era o meu lado irracional a tentar revelar-se)

Um dia abordaram-nos, e acusaram-nos de sermos cúmplices de um estado que tem interesses na existência dos sem abrigo, ao estarmos ali contribuíamos para que aqueles que visitamos se acomodassem, e que era o nosso egoísmo a falar mais alto, porque só o fazíamos para nos sentirmos bem.
Pensei sobre isto durante algum tempo, e ainda hoje não sei que interesses o estado tem, percebo a ideia que as pessoas se podem acomodar, e sim sou egoísta porque realmente me faz sentir bem. Sou egoísta ao ponto de partilhar o meu tempo, as minhas histórias, a minha forma de pensar e de estar na vida com alguém que tive de conquistar, e que me conquistou. Sou egoísta ao ponto de dizer que esse Domingo teve um sabor especial, e que me senti muito bem por ter "abandonado" o conforto.
Sou egoísta, porque quando regressei após ausência de dois domingos soube-me bem ouvir: "Andou desaparecido, já não falamos há muito tempo..."
Não é só o saco com os alimentos, são as pessoas, é a relação que se cria e a falta da mesma que me faz ser egoísta.

Nesse domingo, vi sorrisos apertados pelo frio... nesse domingo vi realidades que ninguém merece e que muita gente ignora ou desconhece... nesse domingo vi pessoas à nossa espera, na ânsia de falarem um pouco... nesse domingo, o meu egoísmo fez-me sentir o quanto é ESPECIAL a minha cama.

Um dia gostava de ter o telemóvel X, o carro Y e as férias Z... mas não abdico do meu crescimento como Homem para lá chegar...
"Sê a mudança que queres ver no mundo" – Gandhi

Gonçalo Oliveira

terça-feira, novembro 01, 2011

Crónica das Aldeias – 22.10.2011

Na minha primeira visita após o período de férias, por muitas voltas que o mundo dá e que se reflecte no que acontece nas nossas vidas, acabei eu a escrever esta crónica.

Tudo começou, como habitualmente, em frente ao Millenium da R. Nossa Senhora de Fátima, um pouco depois das 11 horas (o que, dados os constantes atrasos, motivou que se decidisse que, a partir desse momento, se passaria a ter como horário as 11h30!).

Rumámos a Candemil para almoçar no jardim atrás da igreja, aproveitando assim o Sol e o calorzinho de final de Outubro. Dos petiscos salgados e doces, das frutas, dos sumos e da água que compuseram esse almoço sobrou muito pouco, mas nada que pusesse em risco o lanche típico do final das visitas.

Após este período de descanso (será que alguém já se sentia cansado?) foi tempo de decidir como nos iríamos dividir, tendo em conta o número de voluntários por aldeia e os condutores dos carros disponíveis. Lá tive eu de abandonar a minha aldeia (Bustelo) e abraçar a minha aldeia “adoptiva” (Basseiros) que, por todo o tipo de diferentes circunstancias, já foi “minha” inúmeras vezes. Não foi desta que matei saudades das senhoras de Bustelo (e senhor, pois não posso esquecer o Sr. Lima)…

E aqui começou uma jornada inglória. Batemos na primeira porta e nada. Na segunda e nada outra vez. Na terceira, adivinhem… nada… no caminho para a quarta, encontramos quem nos informasse que uma senhora estava em França, outra estava em casa do filho que tinha chegado de França e que a outra deveria também deveria estar em casa do filho. Acreditando nisto, todas estarão bem. Melhor assim!

Na quarta casa, da D. Dulce, lá estivemos à conversa com o seu marido e filha, a correr Portugal de uma ponta à outra, com o Governo sempre como tema de fundo. E, quando parecia que tínhamos todo o tempo do mundo por não termos visitado ninguém antes desta casa, o tempo voou e corremos para a última casa.

Na última casa, última desilusão, pois foi mais uma visita que não pôde acontecer, que ainda foi pior por termos visto a D. Arminda na varanda da casa do filho, sem que nos fosse permitido falar com ela. A sua filha ainda nos disse que ela estava bem, mas nada fez para que a pudéssemos visitar.

Terminaram assim as nossas visitas (ou deverei dizer, a nossa visita) e fomos para Bustelo encontrar o resto do grupo.

Foi a minha vez de perceber que este encontro final, onde até aqui eu achava que servia apenas para nos despedirmos, serve para percebermos que se num sítio algo corre mal, temos 3 outros sítios onde acontecem visitas totalmente diferentes, onde todos os nossos senhores estão bem, estão presentes e estão felizes por nos verem.

Acredito que todos passamos por momentos em que nos questionamos se vale a pena, mas penso que todos terminamos sempre com a certeza que sim. Se hoje foi mau num sítio, certamente foi bom noutro. Se hoje não pareceu tão produtivo, certamente parecerá na próxima visita.

E lá estarei eu para o comprovar!

Nanica - Basseiros

quarta-feira, outubro 26, 2011

FasFamilias - Crónica de Outubro

Partilhar a minha experiência enquanto voluntária do FASFamílias, foi o que me foi pedido. Fácil, pensei…até que, parei um pouco para reflectir sobre estes últimos três anos, assim mais consciente a tarefa assume outra dimensão.

Durante cerca de três anos acompanhámos uma pessoa que havia vivido na rua e em vários sítios dentro e fora do país. Após a saída da rua, aconteceram várias coisas muito boas, emprego, uma casa para ficar, aproximação da família, restabelecer laços, adquirir hábitos de trabalho, tudo corria maravilhosamente bem.

A perda do emprego despoletou um percurso inverso, mais duro pela perda de esperança que daí adveio, já que na subida se criaram muitas expectativas e sonhos, que se desmoronaram com a perda do trabalho, algo essencial na vida de alguém que está a reconstruir e traçar um novo rumo na sua vida.

Alguns meses depois acaba por arranjar novo trabalho, e com este regressa o ânimo, a alegria, a vontade de estar em sociedade, etc..

Têm sido assim estes três anos, muito cheios, de coisas menos boas mas também coisas muito boas, tantas que não cabem aqui nestas letras mas que cabem no nosso coração. Durante este tempo discordámos algumas vezes, aborrecemo-nos, mas também aconselhámos, apoiámos, rimos, conversámos. Mas, acima de tudo fizemos um esforço por respeitar a liberdade desta pessoa que aos poucos foi fazendo parte da nossa vida, e construindo o seu caminho com as suas escolhas. Felizmente, correu bem, já não fazemos falta como voluntárias, o nosso papel terminou. Agora somos mais duas pessoas na vida dele, a quem recorre quando quer dizer Olá como estás"; partilhar uma novidade…

Nós mantemo-nos deste lado, e ao lado, sempre à distância de um telefonema, esperando que este seu percurso seja mais fácil, menos duro e sobretudo com muito mais alegria.

Eu, enquanto voluntária fui aprendendo a calçar os sapatos do outro, é muito fácil dizer e pensar "Mas, como é que ele (a) não sabe calçar os sapatos, é básico?! Quando experimentamos, percebemos e sentimos que há toda uma experiência de vida completamente diferente da nossa que pode tornar tudo tão difícil e complicado. Não nos foram dados os mesmos instrumentos para calçar os sapatos.

Aprendi a respeitar um pouco mais a diferença, a ser mais tolerante, e a colocar-me no lugar do outro, e a percebi que muitas vezes a única coisa que posso fazer é "estar", eu, que às vezes me considero capaz de tudo, perante determinadas situações de vida apenas caminho ao lado, se a pessoa assim o quiser.

Ser voluntário (a) no FASFamílias é procurar alternativas, encontrar soluções, apoiar, aconselhar, mas por vezes, é preciso ter a humildade de perceber que nada podemos fazer, apenas ESTAR. E este "ESTAR" é fundamental na vida das pessoas que acompanhámos, porque muitas vezes é o único que têm.

Sara Gonçalves