Numa típica noite de Inverno, depois de rechearmos os sacos com bolos e fruta e fazermos a nossa oração conjunta, lá partimos nós para mais uma “missão”.
A primeira paragem foi em Damião de Góis, no Sr. B. Deitado como sempre, lá aceitou um cafezinho, enquanto o questionávamos pelo facto de ainda não ter ido para casa do amigo, onde estaria em maior segurança. Responde-nos sempre que aquele é um bom local e que a sair dali seria para Orense, porque “em Espanha é que é bom”. Depois de tomado um segundo café partimos para Faria Guimarães.
A primeira abordagem ao Sr. JJ foi difícil. Estava escondido por baixo dos cobertores e ao contrário do habitual, não mostrava a cara, nem sequer falava. Após alguma insistência da nossa parte mostrou-se, estava um “farrapo”, era um Sr. JJ que não estávamos acostumados a ver. Tinha estado a beber e as palavras diluíam-se naquela noite, dificultando a nossa conversa. Ele esperava por nós... já esperava pelo Domingo à noite para ter os “jovens” com quem falar. Sentia-se sozinho, muito sozinho como transmitia no seu poema que nos declamava e as lágrimas começavam-lhe a escorrer pela cara. Enquanto isso, o Jorge e a Ana falavam com o C. que esta semana já não dormia lá porque tinha conseguido ir para uma pensão. Ficou por ali com o seu amigo X. a falar das suas aventuras e grandes confusões. Mesmo ao lado o Sr. JJ perguntava-nos “Vocês acreditam em Deus?”. Ele acreditava e como forma de agradecimento pelo “amor, amizade e ajuda” que dizia que lhe levávamos ofereceu a mim, à Miriam e ao Rui uma cruz. São estas pequenas coisas que nos dão força para continuarmos mesmo quando sentimos o nosso coração partir-se aos bocadinhos e a boca a ficar seca de palavras.
Já passava das 0h30 quando nos dirigimos para a Boavista. Pelo adiantado da hora já só estava lá o C. e o Z.F. em busca da última moeda, numa”noite má”. O Z.F. ainda levou um cobertor que lhe estava a fazer falta e enquanto bebia o café deu dois dedos de conversa.
Quando nos aproximamos da bomba de gasolina, lá estava o Sr J. das alcatifas, mas desta vez de pé, à nossa espera, reclamando o nosso atraso. Estava revoltado, “queria uma casa” e segundo ele nem a segurança social o ajudava nem tinha uma estrelinha de sorte. Tentamos que ele lutasse um pouco mais por aquilo que quer e oferecemos-lhe a nossa ajuda, apesar de não ter sido aceite logo à partida.
Já tinham dado as 2 badaladas quando chegamos ao Foco. O M. dormia mas despertou e comeu, comeu...comeu. Não tivemos coragem de o interromper com conversas, só olhar para ele e pensar “foi o saco mais bem entregue da noite”.
Nesta noite muita intensa chegava a casa e pensava “eles precisam de voltar a ter vontade de viver, e isso depende de nós”. Obrigada por esta noite...
Joana Gomes
1 comentário:
Obrigado, joana! Gostei imenso de ler as tuas palavras. Tens muito jeito! Um sorriso.
Enviar um comentário