quarta-feira, fevereiro 15, 2006

2ª Crónica de 12.02.06 (Batalha)

Dia 12, domingo à noite, aquela noite tão especial e tão cheia de encanto. Lá estava o grupo pronto para visitar aqueles que já se tornam tão especiais para nós. Após a organização inicial e da distribuição da comida pelos diversos sacos, surgiu o momento da meditação em conjunto, que nos permite perceber a missão de cada um mais uma noite que nunca se sabe o que nos reserva de surpresas! E nada melhor como meditar nas palavras que nos fazem acreditar, e nos ensinam a sermos "Imitadores de Cristo".

Seguimos caminho.. Chegados à primeira paragem encontramos a nossa primeira surpresa menos animadora.. A famosa 'Vivenda Silva' estava com porta e janelas fechadas com tijolos e cimento. As perguntas surgiram umas atrás das outras: para onde foram? estavam preparados? terão sido bem tratados? Sabe-se lá... apenas pudemos olhar para o cenário e imaginar as respostas às nossas perguntas. Ficamos a conversar com a D. R e o seu genro. Ela mostrou-se bastante indignada pelo facto de o seu 'saquinho' não ter nem chocolates nem rebuçados.. quase nos fez parecer um crime! Mas dentro da nossa paciência lá explicamos que pode ser que para a semana tenha essas belas guloseimas para poder dar/partilhar (???) com o seu neto! Ficou também a promessa de conhecermos o neto - que é da avó, e não do pai! Como fez questão de deixar bem claro.. – quando o tempo melhorar, para podermos ver como ele é inteligente! Assim o esperamos de bom agrado..

Por sua vez, o seu genro explicava que não estava a morar com a esposa, ficando a dúvida de onde estará ele a dormir..

Aparecerem entretanto duas pessoas, que sabendo da nossa passagem ali, aproveitaram o cafezinho quente e a comida disponível, deixando o seu ‘sorriso de agradecimento, um olá e um adeus’.

Despedimo-nos da D. R que estava com pressa para ir ter com o seu namorado, que a esperava ao fundo da rua.. e estava escondido!! Continua a ser muito bem tratada por ele, e até tem roupas novas e tudo.. estava encantada :)

Partimos assim deste local, que se tornou numa visita muito rápida em relação ao normal. Ficou o desejo para que estivessem bem todos os ausentes do local... não ausentes do nosso pensamento.


Daí seguimos à procura do casal J. e C. que também não se encontravam no local habitual. Fomos então ao encontro dos amigos Ar. e Au. Este último aproveitou para desabafar um pouco das 'partidas' que o seu amigo faz... desde 'emprestar' tudo o que tem a quem passa e se aproveitar da situação, como pelo facto de nem sempre ter cuidado em manter limpa a rua... coisas que lidar diariamente não é fácil.. Não pudemos ajudar em nada mas desejamos que, pelo menos, o desabafo lhe tenha dado forças para mais uma semana. O Ar. estava bem disposto e com um novo visual - bastante radical por sinal.. :) continua com vontade de ter um quarto, é óptima a notícia! Agora é urgente fazermos qualquer coisa para que ele não desanime e recue na sua ideia de ficar mais bem instalado. Ele é uma pessoa com algum atraso e que precisa de certos cuidados senão, no tipo de vida que leva, ou tem o amigo Au. por perto a protegê-lo, ou então está sempre a ser explorado. Para o Sr Au também seria um peso enorme que sairia de cima, pois a sua preocupação poderia passar a estar mais focalizada na questão da alimentação do Ar, sabendo que este estaria em segurança.

Neste mesmo local procuraram-nos dois senhores mas estavam de passagem.. conversaram um pouco, e saborearam alguma comida - dentro da que havia...

Apareceu também a L. e o M. (o romeno), ela estava finalmente com um sorriso de alívio estampado no rosto. Falou-nos que foram os dois 'levar' o sr A. ('marido' dela – não literalmente pois nunca chegaram a casar, apenas viviam juntos) à estação de comboio, para garantir que ele ia mesmo embora do Porto. Contou-nos que o marido deixou o emprego em Guimarães, ia para Cinfães tratar de uns assuntos e, em seguida, ia para Espanha, ele na 'despedida' ainda lhe disse que não queria saber mais dela para nada. A L. continua a trabalhar numa pastelaria em Gaia, espera receber o primeiro ordenado para tratar da documentação do romeno. Ambos ficaram sem as coisas que tinham porque ficou tudo dentro da 'Vivenda Silva', o que, segundo ela, era um mal menor pois o grande problema desapareceu.. Esperemos que assim seja!!!

Apesar de ainda ser muito cedo, já estávamos a caminho da última paragem. Como de costume, estava o sr O. à nossa espera (ou não). Infelizmente constatamos, mais uma vez, que a sua alegria está muito em baixo de forma. À abordagem do 'clube feminino' da ronda, respondeu com um simples virar de costas. Com o João falou um pouco mas sempre com um nível baixo de simpatia e um certo distanciamento. Será problema nosso? Acredito que não, apenas peço que ele se 'encontre' e fique de bem com a vida. Seja qual for o motivo que o leva a ficar cada vez mais arrogante e menos paciente com tudo e todos..

Não encontramos mais ninguém neste local.. parece que estão proibidos de arrumar lá carros.. imaginamos que é por ser um passeio público e ser proibido estacionar lá... será?? :)

Meio desconsolados decidimos ir ao encontro da ronda do 'Bonfim', junto ao local do sr M., na esperança de que a sua conversa (que nunca falta) nos animasse um pouco.. Infelizmente também não estava lá!

De qualquer forma conseguimos aquecer um pouco! Ainda demos o pão que restava a uma senhora simpática que nos procurou, e pudemos partilhar um pouco entre os elementos de ambas as rondas. É óptimo este momento de partilha da ronda que fizemos e das nossas vidas. Mesmo que seja por pouco tempo a partilha, – devido ao cansaço de cada um - é bom sermos um grupo unido e pararmos um pouco para nos ouvirmos, só assim tudo faz sentido. (Obrigada a cada um de vocês por estarem lá!)

E para finalizar a nossa noite de caminhada meditamos ao som de um poema que ajudou a suavizar a noite e a voltarmos com um sorriso às nossas casas!



A ESTRADA BRANCA

Atravessei contigo a minuciosa tarde
deste-me a tua mão, a vida parecia
difícil de estabelecer
acima do muro alto

folhas tremiam
ao invisível peso mais forte

Podia morrer por uma só dessas coisas
que trazemos sem que possam ser ditas:
astros cruzam-se numa velocidade que apavora
inamovíveis glaciares por fim se deslocam
e na única forma que tem de acompanhar-te
o meu coração bate


José Tolentino Mendonça


(crónica escrita pela Manela Coelho)

2 comentários:

Me, Myself and I disse...

Grande post Bateira...isso é que foi escrever

Anónimo disse...

Não fui eu que escrevi o texto...(can you read???) :-/