terça-feira, fevereiro 07, 2006

2ª Crónica de 05.02.06 (Batalha I)

«João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história»


Nada melhor que este "Quadrilha" de Drummond (desculpa Joana, não quis copiar-te, tu sabes, a poesia impõe-se-nos) para descrever a já apelidada "novela mexicana", o episódio mais recente da ronda da Batalha, facção Alexandre Herculano/Congregados. Numa noite em que a surpresa saiu á rua, fica o apontamento possível.

Primeira paragem, em Alexandre Herculano como habitual, encontro com A. (que corresponde ao L da crónica anterior) e F., ambos bem dispostos. A., que esperava o dia seguinte para receber o primeiro salário do emprego em Guimarães, não teve dificuldades em admitir que nunca mais lá poria os pés (no trabalho), pois era sua intenção rumar a Espanha (onde os patrões são mais honestos, se se conseguir evitar os intermediários portugueses, e os salários mais aliciantes). Bem disposto, portanto, assim demostrava o largo sorriso que exibia, fazendo saber-nos também que iria em breve voltar a poder ver os seus 4 filhos. Já F., não menos bem disposto, aproveitou para contar algumas façanhas da sua vida cigana, que incluíam a peripécia do casamento obrigatório após ameaça de morte pelo pai da rapariga prematuramente derviginada, as longas (é um eufemismo) passeatas de carro sem carta, e a experiência como braço direito do ex-sogro na vindima, algures em Espanha. Em breve irá trabalhar para a Régua, no seu habitual desenrasque.

(Pudemos rapidamente aperceber-nos que A. não estava com a esposa, L. - correspondente à M na crónica anterior - e que após indagação nossa o sorriso de A. desaparecia, sisudo e rapidamente revoltado actualizava-nos: L. tinha fugido com M., o romeno - o silêncio aos poucos impunha-se, a questão era delicada...)

Entretanto apareceu o L. voltado da arriscada ida para Espanha - não correra muito bem, fora enganado, como infelizmente previramos, voltava sozinho sem saber dos amigos, com dores no peito e tosse a ajudarem na decisão: desta vez procuraria uma assistente social, e dias mais descansados, garantiu-nos sem hesitar enquanto sorvia o café quente. Também N. apareceu, visita rápida, mas animadora: um emprego numa empresa de jardinagem, era a notícia que nos deixava - e partia a correr, o frio apertava. E também o P. - novo para nós, vive com a M. ali perto, agradeceu e fugiu, ficava outra conversa adiada. Entretanto também se juntavam a já habitual dona R. e o genro (curiosamente mais velho que ela).

(Decidimos avançar até 31 de Janeiro quando após 50 metros percorridos deparámos com L. acompanhada por M., o romeno. Iniciámos uma conversa amena, embora tensa, sem nos apercebermos que A. e F., com quem tinhamos acabo de estar, vinham na nossa direcção... as provocações não tardaram em surgir e do insulto ao segurem-me-senão-eu-mato-a foi um passinho - A. estava muito nervoso, demorámos os bons minutos a acalmá-lo e a convencer os outros a ir embora. Reunidos no carro juntamos as peças do puzzle e descobrimos que, apesar dos dois pontos de vista da zanga (mais um eufemismo) serem diferentes (o de A. e o de L.) ambos fazem sentido.)

A. e L. têm de facto 4 filhos, mas nunca foram casados - uma das descobertas feitas hoje por uma membro do grupo num encontro com L.. L. queixa-se que A. lhe batia - o que é muito provável - e acaba de descobrir que afinal não precisa dele para reaver a custódia dos filhos, resolvendo, por isso, abandoná-lo. E resolve abandoná-lo com o M. que vai somente convencê-la a, imagine-se, casar para assim obter nacionalidade portuguesa. L. admite mesmo não sentir nada por M., que será só mesmo um favor. Do outro lado temos A., furioso por ter sido trocado, e ainda mais por saber que ela, a pior mãe que, segundo ele, os seus filhos podem ter, vai, efectivamente, poder vê-los.

Resultam das investigações recentes que, na segunda-feira, A. de facto faltou ao trabalho em Guimarães e dedicou a sua estadia no Porto para perseguir, juntamente com dois homens, a ex-companheira e o romeno. Foi-lhes hoje aconselhada por "nós" a fuga para Gaia, deixou-se-lhe, a L., o número e a morada da APAV. Disseram que tinham entrevista na AMI, amanhã, a fim de arranjarem alojamento, e marcou-se um novo ponto de encontro ao Domingo nos Congregados. Soubémos também que L. está a trabalhar e pensa, assim, juntar dinheiro para pagar os documentos a M.. Resta-nos dizer que M. tem 19 anos e admite ser, qual cereja em cima do bolo, um hacker informático.

(Aqui acaba a parte surreal da ronda. Agora impõe-se um bocadinho de realismo, que apesar de mais pesado que o que pauta as nossas vidas diárias, são peanuts, à beira do que acabei de descrever)

Domingo, novamente. Já era tarde para que encontrássemos alguém ao cimo de 31 de Janeiro. Descemos prontamente aos senhores A. e A. (isto só com iniciais tem a sua piada). Como terão percebido pelo mail que enviei, são estas as duas criaturas adoráveis que estão dispostas a ir à Segurança Social. Dois dedos de conversa para tentarmos explicar ao senhor A. (que tem uma deficiência mental) que não pode emprestar casacos ou objectos a quem passa, ao que nos respondia bocejos ternurentos de criança ensonada, enfiada na sua caminha de cobertores abertos dispostos em toda a extensão de entrada da loja - quem não sonhou já ter uma cama grande? E que belo exemplo de amizade encontrámos no outro senhor A., tomando conta do amigo como se de um filho se tratasse, protegendo-o, dando conselhos, chamando à atenção, mesmo sabendo que em vão.

Ainda houve tempo para encontrarmos o P., sempre de poucas falas, seguiu até aos Congregados, onde oferece concorrência ao senhor O. no estacionamento de carros. Ainda o encontrámos a tempo de lhe "orientar" um guaraná light - e ainda a tempo de levarmos com o temperamental senhor O., estranhamente mal educado e irritado connosco - houve algo que, definitivamente, nos escapou.
Despois da oração conjunta com a outra facção, e já a caminho do CREU, encontrámos o Z. C. que julgávamos estar no Porto Feliz. Visivelmente atrapalhado rapidamente nos despachou, virando costas e seguindo na sua estranha pressa.

Restava-nos já pouco tempo para repôr o sentido às nossas horas, um fôlego de sono rápido, um despertador tolerante, um dia novo que ajudasse a perceber a estranha noite passada...

2 comentários:

Anónimo disse...

Hmm..tirando a parte da cópia..hehe..estiveste mt bem;)..OS nossos Domingos agora são uma autêntica aventura..:))...Beijinho grande

**Joana

Anónimo disse...

juan, a tua crónica está quase tão deliciosa como os bolos q distribuimos nos Domingos, à noite! Beijinho!