«João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história»
Nada melhor que este "Quadrilha" de Drummond (desculpa Joana, não quis copiar-te, tu sabes, a poesia impõe-se-nos) para descrever a já apelidada "novela mexicana", o episódio mais recente da ronda da Batalha, facção Alexandre Herculano/Congregados. Numa noite em que a surpresa saiu á rua, fica o apontamento possível.
Primeira paragem, em Alexandre Herculano como habitual, encontro com A. (que corresponde ao L da crónica anterior) e F., ambos bem dispostos. A., que esperava o dia seguinte para receber o primeiro salário do emprego em Guimarães, não teve dificuldades em admitir que nunca mais lá poria os pés (no trabalho), pois era sua intenção rumar a Espanha (onde os patrões são mais honestos, se se conseguir evitar os intermediários portugueses, e os salários mais aliciantes). Bem disposto, portanto, assim demostrava o largo sorriso que exibia, fazendo saber-nos também que iria em breve voltar a poder ver os seus 4 filhos. Já F., não menos bem disposto, aproveitou para contar algumas façanhas da sua vida cigana, que incluíam a peripécia do casamento obrigatório após ameaça de morte pelo pai da rapariga prematuramente derviginada, as longas (é um eufemismo) passeatas de carro sem carta, e a experiência como braço direito do ex-sogro na vindima, algures em Espanha. Em breve irá trabalhar para a Régua, no seu habitual desenrasque.
(Pudemos rapidamente aperceber-nos que A. não estava com a esposa, L. - correspondente à M na crónica anterior - e que após indagação nossa o sorriso de A. desaparecia, sisudo e rapidamente revoltado actualizava-nos: L. tinha fugido com M., o romeno - o silêncio aos poucos impunha-se, a questão era delicada...)
Entretanto apareceu o L. voltado da arriscada ida para Espanha - não correra muito bem, fora enganado, como infelizmente previramos, voltava sozinho sem saber dos amigos, com dores no peito e tosse a ajudarem na decisão: desta vez procuraria uma assistente social, e dias mais descansados, garantiu-nos sem hesitar enquanto sorvia o café quente. Também N. apareceu, visita rápida, mas animadora: um emprego numa empresa de jardinagem, era a notícia que nos deixava - e partia a correr, o frio apertava. E também o P. - novo para nós, vive com a M. ali perto, agradeceu e fugiu, ficava outra conversa adiada. Entretanto também se juntavam a já habitual dona R. e o genro (curiosamente mais velho que ela).
(Decidimos avançar até 31 de Janeiro quando após 50 metros percorridos deparámos com L. acompanhada por M., o romeno. Iniciámos uma conversa amena, embora tensa, sem nos apercebermos que A. e F., com quem tinhamos acabo de estar, vinham na nossa direcção... as provocações não tardaram em surgir e do insulto ao segurem-me-senão-eu-mato-a foi um passinho - A. estava muito nervoso, demorámos os bons minutos a acalmá-lo e a convencer os outros a ir embora. Reunidos no carro juntamos as peças do puzzle e descobrimos que, apesar dos dois pontos de vista da zanga (mais um eufemismo) serem diferentes (o de A. e o de L.) ambos fazem sentido.)
A. e L. têm de facto 4 filhos, mas nunca foram casados - uma das descobertas feitas hoje por uma membro do grupo num encontro com L.. L. queixa-se que A. lhe batia - o que é muito provável - e acaba de descobrir que afinal não precisa dele para reaver a custódia dos filhos, resolvendo, por isso, abandoná-lo. E resolve abandoná-lo com o M. que vai somente convencê-la a, imagine-se, casar para assim obter nacionalidade portuguesa. L. admite mesmo não sentir nada por M., que será só mesmo um favor. Do outro lado temos A., furioso por ter sido trocado, e ainda mais por saber que ela, a pior mãe que, segundo ele, os seus filhos podem ter, vai, efectivamente, poder vê-los.
Resultam das investigações recentes que, na segunda-feira, A. de facto faltou ao trabalho em Guimarães e dedicou a sua estadia no Porto para perseguir, juntamente com dois homens, a ex-companheira e o romeno. Foi-lhes hoje aconselhada por "nós" a fuga para Gaia, deixou-se-lhe, a L., o número e a morada da APAV. Disseram que tinham entrevista na AMI, amanhã, a fim de arranjarem alojamento, e marcou-se um novo ponto de encontro ao Domingo nos Congregados. Soubémos também que L. está a trabalhar e pensa, assim, juntar dinheiro para pagar os documentos a M.. Resta-nos dizer que M. tem 19 anos e admite ser, qual cereja em cima do bolo, um hacker informático.
(Aqui acaba a parte surreal da ronda. Agora impõe-se um bocadinho de realismo, que apesar de mais pesado que o que pauta as nossas vidas diárias, são peanuts, à beira do que acabei de descrever)
Domingo, novamente. Já era tarde para que encontrássemos alguém ao cimo de 31 de Janeiro. Descemos prontamente aos senhores A. e A. (isto só com iniciais tem a sua piada). Como terão percebido pelo mail que enviei, são estas as duas criaturas adoráveis que estão dispostas a ir à Segurança Social. Dois dedos de conversa para tentarmos explicar ao senhor A. (que tem uma deficiência mental) que não pode emprestar casacos ou objectos a quem passa, ao que nos respondia bocejos ternurentos de criança ensonada, enfiada na sua caminha de cobertores abertos dispostos em toda a extensão de entrada da loja - quem não sonhou já ter uma cama grande? E que belo exemplo de amizade encontrámos no outro senhor A., tomando conta do amigo como se de um filho se tratasse, protegendo-o, dando conselhos, chamando à atenção, mesmo sabendo que em vão.
Ainda houve tempo para encontrarmos o P., sempre de poucas falas, seguiu até aos Congregados, onde oferece concorrência ao senhor O. no estacionamento de carros. Ainda o encontrámos a tempo de lhe "orientar" um guaraná light - e ainda a tempo de levarmos com o temperamental senhor O., estranhamente mal educado e irritado connosco - houve algo que, definitivamente, nos escapou.
Despois da oração conjunta com a outra facção, e já a caminho do CREU, encontrámos o Z. C. que julgávamos estar no Porto Feliz. Visivelmente atrapalhado rapidamente nos despachou, virando costas e seguindo na sua estranha pressa.
Restava-nos já pouco tempo para repôr o sentido às nossas horas, um fôlego de sono rápido, um despertador tolerante, um dia novo que ajudasse a perceber a estranha noite passada...
2 comentários:
Hmm..tirando a parte da cópia..hehe..estiveste mt bem;)..OS nossos Domingos agora são uma autêntica aventura..:))...Beijinho grande
**Joana
juan, a tua crónica está quase tão deliciosa como os bolos q distribuimos nos Domingos, à noite! Beijinho!
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