quarta-feira, fevereiro 22, 2006

Crónica da ronda 19.02.2006 (Batalha)

Desta vez a chuva não era só ameaça e o frio aparecia junto. Cafés e chás, sacos e roupa prometida, saímos para a Batalha. À nossa espera o N. e o C. aceitaram a comida, o café, e como nada de novo, fugiram de nós, da chuva. Caras novas, o S. e o M. J.. O S. discutira com a mãe, zanga ainda fresca para reconciliação. Conhecia a rua há umas semanas apenas, tempo suficiente, garantiu procurar ajuda na segurança social. (quem falou com o M. J.?). Com eles o M. portista, boné novo, o mesmo sorriso desdentado e aquela alegria inexplicável a ensinar-nos tudo. A roupa, não nos esquecêramos da sua roupa. Sorriso ao quadrado. Partiam com o frio: boa semana!
Mais atrasados chegavam a dona L. e o sogro, o senhor F.. Ofegante, ela, tropeçando em desculpas e reivindicações, aflições serenadas pelas palavras. Uma conversa arrancava-lhe um sorriso - perguntava-se-lhe pelo namorado; ao lado o sr. F. lamentava as tropelias e o mau feitio - "ele é mau!" - do filho, que só tem 3 anos e se chama S., como o S. de cima. Subitamente granizou. Esperámos juntos que parasse. Em frente o prédio fechado, tijolos nas portas e janelas - para onde terão ido os outros? Seguimos, cada um para seu lado: boa semana também!
31 de Janeiro, a rua. Os amigos A. e A. esperavam com novidades: A. tinha ido à segurança social! Porque na sexta as fichas tinham acabado, outra ida, na 2ª, estava já marcada. Objectivo: arranjar quarto e comida para o amigo A. - um exemplo de amizade, não me canso de referir. De olhos sempre muito abertos e brilhantes, contava a iniciativa com empenho. Pelo meio ralhava a A., que nos não dissesse palavrões - a dignidade, quando imposta por um S.A. a outro, tornar-se mais pura, mais alta...Aparecia também o L. regressado de uma estadia nada acolhedora - como não imaginava - não entrara em exigências injustas, preferia a rua, o sossego. Conhecemos o L. de D. Joao I. É para lá que vai voltar, sozinho - perdera-se o rasto ao sr. M. (o das BD), confirmava ele aos colegas do Bonfim que entretanto chevavam com sacos de recurso. (A comida às vezes (demasiadas vezes) é o mais importante para os que vêm ter connosco - já o não é para os que visitamos ao domicílio, onde as palavras contam mais (as nossas, as deles...). Já pudémos abastecer todos, incluíndo o L. (outro L., o que se queixou, assim como o Sr. A., de levar corajosas bastonadas de um polícia) e um amigo. Deixava, no entanto a promessa em forma de aviso (como já antes fizera), ir com o outro para o Porto Feliz. Que a união faça realmente a força, ficamos a torcer por isso. Também a L. e o romeno apareciam entretanto - ou já teriam aparecido antes? Muito antes, aliás (cabeça a minha) já em Alexandre Herculano, sorridentes, apesar de não termos conseguido as sport para o rapaz calçar. Ainda recebem visitas do F. que agora trabalha em Espinho. Do A. é que não sabem - e preferem nem saber. Ficaram com o quarto mal este saiu para Cinfães.
Não encontrámos mais ninguém. Reunimos abrigados em Nª Srª de Fátima. Ouvimos um poema do Alba - que foi jornalista, professor e sem-abrigo em Braga, e onde certo dia um carro lhe trouxe a paz que não conseguiu encontrar no álcool.
Despedimo-nos, meio enregelados - boa semana para nós também! - até dali a oito dias.



Quando nascemos entramos
no nome pela voz dos pais:
- Dinis Albano...
Íntima e sonora identidade.
Chamam-me e volto
a cabeça, dissuadido.
Na voz duma mulher
os nomes são
interiores a nós.
(Na dum polícia, desprendem-se,
como se apenas
os envergássemos).
Um amigo dirige-se-nos,
e as letras do nome
- tu?! - correm de doçura.
Um dia, o nome,
por capricho duma veia ou dum fonema,
ocultamente, esvai-nos.
E por detrás dele,
alheados dos ritos,
nem sabemos da sua
cessação.


Sebastião Alba

Sem comentários: