domingo, abril 22, 2012

Crónica da Ronda de Santa Catarina 15.04.2012

«Não somos carrinhas»

Qual é a diferença entre o FAS Rondas e as carrinhas que distribuem comida às pessoas que estão na rua? Até há pouco tempo a resposta parecia-me óbvia. Porque no FAS o «saquinho» do domingo à noite é o isco para ganhar a confiança de quem visitamos. Porque o FAS não quer matar só a fome, quer alimentar relações, quer encaminhar casos, quer ajudar as pessoas que fizeram da sua casa a rua a encontrar um caminho, seja ele qual for.
Em quase dois anos de rondas no FAS tudo isto parecia fazer sentido e sabia bem porque é que minha ronda era diferente das carrinhas. Não temos de facto uma carrinha, não usamos coletes refletores, não temos pontos de paragem para aquecer estômagos vazios em noites frias de inverno.
Somos conhecidos como os meninos dos «saquinhos dos bolinhos». Aqueles do domingo à noite, que vêm num carro preto particular, o do «Senhor Rodrigo». Do FAS nunca ouviram falar. Sabem quem somos, que estamos lá aos domingos, e isso é o que importa. 
Nunca tinha tido dúvidas da nossa missão e papel enquanto associação até ser confrontada com novos casos, de pessoas que ouviram falar da nossa «carrinha». Vêm pedir comida, a conversa até pouco pode importar, muito menos a nossa missão. Tentamos explicar que «não somos carrinhas». Não compreendem. Resistimos. 
Primeiro argumento: «Não temos. Trazemos os saquinhos contados para as pessoas que já acompanhamos». Segundo argumento: « A prioridade são as pessoas que estão na rua». Certo. Bastante lógico. Problema? Quase metade dos casos que acompanhamos corresponde a pessoas que vivem em pensões, ou porque transitaram da rua, ou porque têm tantos ou mais problemas de dependências que precisam de ser encaminhados. 
Dois argumentos e ainda não é suficiente. Reagem com surpresa, alguma revolta e desconfiança. Fingem não ouvir as nossas justificações e despedem-se com um «ok, no próximo domingo estou aqui à espera do saquinho».
Provavelmente, isso não vai acontecer. Temos o «plafond» de casos quase esgotado. Mas como é que se nega o «saquinho» a pessoas que vêm pedir comida? Só porque não somos carrinhas? Só porque o saquinho é para as pessoas referenciadas por nós? Porque não temos capacidade para abraçar novos casos e dar o acompanhamento que era desejável? Será justo este método de triagem? Não sei e isso incomoda-me.

Ana Oliveira

quarta-feira, abril 18, 2012

Crónica das Aldeias - 14.04.2012

Chuva, finalmente! Há meses que era pedida pelas senhoras do Marão.
Uma bênção para os sensatos, mas uma maçada para os que gostam de picnics…
Já todos os voluntários sentiam saudades, desta vez tinham passado mais de 15 dias desde a última visita, havia preocupação em relação ao estado de saúde de algumas senhoras e curiosidade em relação ao desenvolvimento de certas coscuvilhices. E, para nosso deleite, as saudades eram mútuas, as senhoras não se acanharam em reclamar a ausência tão prolongada.
A Páscoa correu muito bem, com saúde – é o que importa, e com a família.
No Marão, não há tanto isolamento como se possa pensar, sente-se a presença, ainda que por vezes distante, de um familiar, na falta deste um vizinho tenta tomar conta do recado. O médico de família e o Sr. Padre são uma referência e estão bastante presentes.
Há algum frio, mas não se passa fome.
Para colmatar a eventual falta de afeto lá estamos nós, que por muito tempo que fiquemos, nunca é considerado suficiente: “ vocês vão tão cedo hoje!”, é o que ouvimos sempre, principalmente quando já estamos atrasados!
Joana Bento Miranda

terça-feira, abril 17, 2012

Crónica das Aldeias – 24.03.2012

Existem datas que nunca esquecemos como o dia do aniversário dos
nossos pais ou de um amigo, ou simplesmente o nosso primeiro dia de
Escola. Para mim existe um dia que nunca vou apagar da memória,
24/03/2012, o meu primeiro dia como voluntário no FAS Aldeias.
Lembro-me de, durante essa semana, andar feliz e entusiasmado com o
facto de pela primeira vez ir fazer voluntariado. Mas, de repente,
algo se modificou e tomou-se sobre mim um premente sofrimento porque
não sabia como iria ser capaz de me entregar ao outro se naquele
momento não me encontrava bem comigo mesmo.
No dia das visitas, à medida que íamos caminhando por terras nortenhas
entre montes e vales, religiosamente ia reparando na natureza e
verificava que toda ela é uma montra constante de dádiva e serviço, já
que nela tudo é posto ao serviço do outro numa cadeia de eventos
interligados. Por exemplo, as árvores produzem frutos dos quais não se
alimentam mas que livremente oferecem para sustento do ser humano e
dos animais.
Quando chegámos a Ansiães e eu entrei em contacto com as senhoras,
todo o sofrimento se evaporou pois, só o facto de conseguir arrancar
um sorriso, fez com que eu também sorrisse e brincasse e logo ficasse
mais feliz. Ao partilhar a dor com estas senhoras através de uma
palavra amiga senti-me melhor como pessoa e com maior capacidade de
amar. Aprendi de forma clara e evidente a profunda verdade contida na
célebre frase de John Donne "Nenhum Homem é uma ilha".
Assim, por todas estas razões este dia vai ficar para sempre marcado
no meu coração. Percebi que fazer voluntariado é compreender que a
sorte é diferente para cada um e que o dinheiro e o estatuto social
não são as coisas mais importantes da vida. A felicidade de dar, nem
que seja um sorriso, faz bem ao ego e aquece a alma de quem recebe e
de quem dá.
Saudações
Michel - Ansiães

segunda-feira, março 26, 2012

Crónica dos Imigrantes, 10 de Março de 2012

Esta saída teve como destino o Museu de História Natural da Faculdade de Ciências do Porto.
O encontro aconteceu, como de costume, à porta do Centro de S.Cirilo às 14h onde se juntaram os voluntários e os utentes (salientar a grande adesão que houve neste sábado por parte dos utentes quer externos como internos). Mais uma vez tivemos a felicidade de sermos "acompanhados" por um fantástico dia de Sol, que fez com que a viagem até ao Museu se tivesse passado de uma forma muito agradável. Prosseguimos pela rua de Cedofeita, como já tem sido hábito, e fomos aproveitando para conhecer algumas caras novas que nos acompanharam nesta visita e pondo a conversa em dia com outras que já tinham marcado presença em viagens anteriores.
A caminhada foi feita a um passo rápido o que fez com que chegássemos ao Museu com alguma antecedência, como tal esperámos cerca de meia hora à entrada, o que não custou muito, pois o tempo estava de facto muito bom. Tirámos algumas fotografias e continuámos à conversa até à chegada do Francisco.
Entrando no Museu vimos primeiramente uma exposição de mineralogia (Museu de Mineralogia Montenegro de Andrade), que continha uma vasta colecção de algumas centenas de amostras de minerais oriundas dos mais diversos locais, desde alguns minerais fluorescentes a pedras preciosas.
De seguida visitamos o Museu de Zoologia Augusto Nobre. Este englobava várias colecções que continham desde insectos e aves a mamíferos provenientes tanto de Portugal como do resto do mundo. Foi unânime que esta exposição era merecedora de um espaço maior pois a quantidade e tamanho de espécies era demasiado grande para o tamanho das duas salas em que estavam inseridas. No entanto foi uma exposição muito apreciada por todos aqueles que nos acompanharam.
Tivemos desde inicio a companhia de uma guia que nos deu algumas explicações e alguns factos curiosos sobre as exposições, e de uma visitante que também nos acompanhou ao longo de toda a nossa visita.
Terminada a visita, fizemos o percurso inverso, já com mais algum vento mas nada que atrapalhasse o regresso a S.Cirilo, nem aos utentes nem aos voluntários. Como também é usual a volta foi efectuada a um ritmo mais lento e já sem alguns participantes que foram diretamente para as suas casas, ainda assim foi feita com boa disposição e a conversa esteve sempre presente.
Tudo correu muito bem tendo sido mais uma tarde muito bem passada.

Gonçalo

quinta-feira, março 22, 2012

Crónica da Ronda da Areosa - 18.03.2012

De volta às rondas. Novas caras, os mesmos sorrisos. Senti-me em casa. Com saudade dos que já não estão e com muita vontade de conhecer os de agora. Nunca esquecendo quem já cá passou. A vizinhança, essa não muda. Olha a I., tão linda e menina como de antes, sem papas na língua na hora de recolher aos seus aposentos. A A., agora, tem uma porta. E perdida nas 10 ou 12 campainhas está a S. Pode não querer receber-nos, mas eu vou lá incomodá-la! Um J. castiço e amável, um A. mais reservado. Uma F. peixeira do bolhão, com voz de rádio e vontade de leão. Um Sr. D., porteiro e habitual, que nos liga ao passado, belo e bruto. Um músico chamado E., um escritor com óculos de Pessoa, um empresário de cachecol vermelho e postura de saciado. Sábios da noite escura. Um comediante puro, de nome esquecido para a minha fraca memória, mas que gentilmente chama a Maria de "choquinha". É bom estar. É bom ver e partilhar. Absorver estas novas energias, que o tempo renova sem roubar o essencial...Boa noite amigo Mário, dorme em paz.

Daniel Henriques

terça-feira, março 13, 2012

Crónica das Aldeias – 10.03.2012

O Encanto dos Idosos faz-nos querer cada vez mais permanecer junto de
Gerações Ancestrais verdadeiramente enriquecedoras, genuínas e
extremamente frutíferas. De igual modo, sinto-me orgulhosa e muito
feliz por poder "acompanhar" e "apoiar" aqueles que, aos poucos,
connosco se vão familiarizando e identificando.

Patrícia Trigo | Bustelo

terça-feira, março 06, 2012

Crónica dos Imigrantes, 19 de Fevereiro de 2012

Mais um domingo soalheiro, este ano temos sido brindados com dias assim.
Já estavam à nossa espera alguns companheiros, utentes externos e internos. Caras novas na sua maioria, aliás estávamos preparados para não irmos todos, se aparecessem poucos.
O início do percurso é sempre o mesmo. Cedofeita fora, com pouca conversa. Perguntamos de onde vêm, há quanto tempo estão em Portugal, e deixamos sempre espaço para nos dizerem o que desejarem.
Conhecemos gente nova, os nossos companheiros mais antigos, andam a faltar, e nós sentimos a falta. Perguntei ao L. por eles. Sem querer ser indelicado, lá me explicou que estavam bem, que deviam ter outras coisas para fazer.
Fiquei a saber que quem nos acompanha está pronto a fazer outros percursos, mesmos que sejam mais demorados. A distância não é um obstáculo, e discutimos se valeria a pena ir a pé até ao Parque da Cidade se o sol continuar a brilhar com até agora
E lá fomos até ao Largo da Sé, depois a Rua de D Hugo, visitar o Museu Guerra Junqueiro.
Abílio Manuel Guerra Junqueiro foi um escritor e poeta que nasceu em freixo de espada à Cinta. Foi coleccionando ao longo da sua vida vários objectos de arte decorativa, que adquiria nas viagens que fazia. Morreu com o sonho de possuir uma casa onde pudesse colocar todo o e as suas colecções de arte sacra, mobiliário, prata, cerâmica, entre outras e o seu espólio literário.
A viúva e a sua filha, adquiriram então esta casa na Rua de D Hugo, que doaram à Câmara do Porto, juntamente com as colecções do poeta. O espólio literário está numa casa em frente, a Fundação Isabel Guerra Junqueiro.
Todas estas explicações, foram-nos dadas pela pessoa do Museu que estava à nossa espera e nos fez uma visita guiada à casa.
Terminada a visita, há que fazer o percurso inverso, agora com mais à vontade, tanto da nossa parte como de quem nos acompanhou até S Cirilo.
Mais uma tarde de Domingo muito bem passada e sempre com a promessa de nos reencontrarmos no próximo passeio.

Valentina

segunda-feira, março 05, 2012

Crónica das Aldeias – 25.02.2012

Mais um sábado no local e na hora do costume, prontas para a visita às nossas aldeias! O dia prometia, estava um sol radiante e uma temperatura amena, muito diferente das primeiras duas visitas que fiz, em que estava muito frio! Mas o dia foi um dia de promessas…

A nossa primeira paragem foi no parque das merendas, uma óptima ideia neste dia maravilhoso, a partilha alimentar como sempre um sucesso, cheia de coisas saborosas! Mas, tenho que referir, a deliciosa sobremesa, uns brigadeiros preparados com muito carinho pela Ana. Todos nos deliciamos tanto, que não conseguimos ceder à tentação de os levar connosco para acompanhar o cafezinho habitual…A primeira promessa começou aqui, ficou decidido que a receita tinha que ser enviada para os mails de todos, visto que ninguém conseguiu resistir-lhes ;). Daqui, partimos para as diferentes aldeias, a minha era a de Basseiros, o nosso grupo para esta aldeia estava com muita gente, por isso a Margarida foi para Ansiães e eu, a Ana, a Lúcia e o Marcelo fomos visitar as nossas senhoras… Ao chegarmos à nossa aldeia deparamo-nos com várias senhoras, nomeadamente a nossa senhora Celeste, numa amena cavaqueira e a aproveitar o excelente tempo, nós está claro rapidamente participamos. Falamos sobre o tempo, sobre a falta de água e os prejuízos no cultivo, sobre as suas vidas familiares… estava tão agradável, que nem nos apercebemos que o tempo passava e muitas visitas ainda tínhamos para realizar! A segunda etapa era ir visitar a senhora Maria, que estava logo ali ao lado, e convencê-la a fazer companhia às outras senhoras e apanhar um bocadinho de ar puro dos pinheiros. Ela como sempre estava bem-disposta, e quando lhe dissemos para vir connosco aproveitar o bom tempo, ela ainda vacilou, mas disse que era tarde e que ficava para a próxima, se o tempo permitisse! Assim, ficou a segunda promessa! A nossa terceira visita foi a senhora Hermínia, que bem que ela estava, na paz do seu bonito quintal, sentada numa cadeira por baixo de um guarda-sol, a aproveitar o dia! Sentamo-nos à sua volta e iniciamos uma agradável conversa, foi com muita pena que nos viemos embora, já era tarde e ainda tínhamos uma última visita. Ficou a promessa de voltarmos com mais tempo :).
Lá subimos a ingreme colina para fazer a nossa última visita, vale a pena o esforço pelas pessoas que visitamos e pela linda vista! A senhora Dulce está acamada, devido aos seus problemas de saúde, foi uma pena termos tido pouco tempo nesta visita, como disse a Lúcia foi uma visita de médico…
Mas, ficou a promessa, que para a próxima íamos fazer muitas actividades e íamos estar mais tempo! Por fim, com algum custo, por termos deixado as nossas senhoras e com a sensação de que tinha sido pouco tempo, fomos ter com o restante grupo a Bustelo, onde partilhamos as nossas experiências do dia! Foram feitas as despedidas e regressamos ao Porto, todos bem dispostos porque o dia foi bem passado:).
Assim, foi um dia cheio de promessas, que serão para se cumprir !!

Raquel - Basseiros

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

FasFamilias - Crónica de Fevereiro 2012

"…Foste sorteada para escrever a crónica de Fevereiro!"

…Boa!...E agora, por onde começo?!...O que escrevo?!...

Vou dar uma vista de olho nas crónicas do blog, a ver se me inspiro!...

Tudo tão rico! Tudo tão sentido!

Mas…O que hei-de dizer?...

Ao ler a crónica de Julho, do exercício de defesa de permanência de caso que fizemos, relembro o ponto de situação do M. nessa altura. Eu e o Jorge reconhecíamos que o nosso caso se aproximava do fim. O M., ao fim de cerca de 20 anos na droga e de altos e baixos estava numa fase muito boa! Depois de deixar a droga e de uns anos na metadona, deixou metadona por livre iniciativa, sozinho, arranjou emprego sozinho, no qual se estava a dar muito bem, encontrou uma namorada/companheira com quem foi viver ao fim de algum tempo, foi visitar a família, reencontrou-se com os filhos que vieram a Portugal, ao fim de vários anos sem os ver ("matando" os fantasmas que tanto lhe vinham à cabeça nos últimos anos), estava positivo, optimista, confiante, lutador, nada de "lamechices"…Um novo M.! Até nos parecia bom demais para ser verdade! Era uma alegria muito grande, vê-lo assim!

Agora, pouco mais de meio ano depois, custa um pouco ver que tudo voltou atrás…A relação do M. com a namorada deteriorou-se e terminaram, o emprego foi perdido, o M. tem alternado entre a rua e quartos que se vão arranjando, o mundo dele voltou a "desmoronar-se", o pessimismo voltou, veio o medo das doenças, a revolta, a metadona e as drogas voltaram a entrar na vida dele, a vergonha (?) de nos atender os telefonemas apoderou-se dele, foi-se "fechando"…

Mas ser voluntário é isso mesmo, é estarmos lá, é eles saberem que se precisarem nós estamos disponíveis, estamos do lado deles. Não os podemos substituir, não lhes podemos "impingir" as nossas verdades, as nossas "fáceis soluções", pois qualquer mudança, qualquer passo em frente, depende acima de tudo da vontade deles e da abertura deles para dar o passo em frente.

Ser voluntário é estarmos preparados para estes altos e baixos, é aceitarmos que o "mundo deles", a realidade deles, foi construída com bases diferentes da nossa, que as ferramentas deles são diferentes das nossas e que não lhes é fácil utilizarem as nossas, por muito básicas que elas nos pareçam.

É estarmos lá para lhes darmos a mão…Quando eles a querem!...E fazê-los sentir que estamos presentes, seja para conversar, seja para dar a mão para um novo passo, seja simplesmente para…estar!

É tentarmos manter viva alguma esperança na vida deles…Tentarmos que essa esperança entre de alguma forma, seja por uma minúscula fenda, seja por uma janela ou uma porta abertas…E que lhes possa dar alguma força para reagir, para poder ver as coisas de outro ângulo…Por muito pequeno que esse ângulo possa ser…

É fazê-los sentir que, por muito mau que o mundo deles possa parecer, ainda há alguém que acredita neles, que acredita que a esperança pode voltar a aparecer-lhes e levá-los a lutar e a andar para a frente, a serem capazes de se levantar cada vez que tropeçam…E as quedas são muitas, porque neste "mundo deles" ou obstáculos são maiores, a luz é mais ténue e as ferramentas para sair deles são mais rudimentares…Mas estamos cá, de lanterna na mão, para lhes tentar iluminar o caminho…Por um bocadinho que seja…


Com altos e baixos, com alegrias e tristezas é bom sentir que por vezes podemos ser uma lanterna que os ilumina…Embora muitas vezes as pilhas não consigam iluminar muito, mas sempre na esperança que a luzinha, por ténue que seja, possa ser vista e possa iluminar um pouco os seus caminhos e fazê-los ver pelo menos o próximo degrau!

E fazer parte do FAS para mim é isto!

Temos a sorte de ter este grupo de voluntários fantásticos, umas "organizadoras" que nos dão todo o apoio e energia necessárias…E nos castigam com umas crónicas para escrever!...

J

O meu muito obrigada a todos os voluntários e a toda a organização por tornaram possível manter uma luz acesa na escuridão da vida de tanta gente!

Gabel

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Crónica da Ronda de Santa Catarina - 04.02.2012

A noite está mais amena do que eu esperava. Parece que a vaga de frio nos deu tréguas por hoje.

A ronda começa como as anteriores, aproximamo-nos do Sr. A., damos-lhe as boas noites, tentamos começar uma conversa. Sem demoras, o Sr. A. diz-nos que não quer falar connosco, "Vão-se embora! Deixem-me em paz!". Desiludidos, não temos outra escolha senão aceitar e voltar a tentar na próxima semana.

É necessário recuar algumas semanas na minha memória para conseguir ver o Sr. A. a fazer-nos sorrir com as suas histórias ou a falar das notícias que leu no jornal. Desde então, à medida que o Inverno foi avançando, foi mudando de sítio e de disposição. Agora, com a cara tapada pelos cobertores e sem que saibamos porquê, pede-nos para o deixarmos.

Esta incerteza de não sabermos se vamos encontrar alguém no "seu sítio" ou não, se esse alguém nos vai querer falar, se vai estar a dormir (ou a fingir que dorme) é algo que aprendemos a aceitar. Voltamos a tentar com a mesma esperança na semana seguinte.

Nova tentativa. Batemos a outra "porta": o Senhor J. A expetativa de o encontrarmos não é muita. Já há duas semanas que não o encontramos no "seu sítio". Até hoje, nas nossas poucas visitas nunca conseguimos ir além de conversas curtas, deixar o "saco" e um cobertor.

Mas hoje encontramos o Sr. J., recebe-nos bem disposto, senta-se, aceita uma cevada quente e conversa connosco. Num tom ligeiro confia-nos a sua história, fala-nos da saída de casa ainda novo para o "Grande Hotel" onde fez o "13º ano" e a formação de soldador. "Qual o nome desse Grande Hotel?" perguntamos."Custóias City" responde com um sorriso. Prossegue o seu relato, que passa pelo trabalho de soldador, um acidente de trabalho, a rua, a medicação substituída pelo vício que exibe numa garrafa de plástico, os irmãos a quem a vida não tratou muito melhor do que a ele.

Para desanuviar muda o assunto, falamos de coisas mais alegres, e até brincamos com os seus ataques de sonambulismo. Despedimo-nos com sorrisos, agradece-nos a conversa, deixamos a certeza que voltamos na próxima semana. Não sabemos se o encontraremos na próxima semana.

São várias as "portas" onde ainda iremos bater nesta noite. Não sabemos se debaixo de cada cobertor está alguém à nossa espera com um sorriso ou tão pouco com vontade de trocar dois dedos de conversa. Mas sabemos que, de cada vez que a persistência dá frutos, sentimos uma esperança renovada. Cada sorriso, cada conversa, cada pessoa que confia em nós, cada pequena conquista, mostra-nos que vale a pena a espera, mostra-nos que vale a pena continuarmos a tentar.

Luís Silva

quinta-feira, fevereiro 09, 2012

Crónica FasFamilias Janeiro

Ironias da vida!
Sendo eu a mais "Jurássica" (na idade) do FAS – FAMILIAS, sou a "caloira" indigitada para escrever a crónica e confesso que me sinto um pouco hesitante...
É a primeira vez que estou no FAS. É a primeira vez que apoio uma família, embora com uma tarefa em que estou à-vontade. É a primeira vez que escrevo uma crónica. É a primeira vez que faço parte de uma equipa muito mais jovem do que eu e com quem tenho aprendido muito. É a primeira vez que... Diz o nosso povo que há sempre uma primeira vez... e talvez seja verdade.
Como ainda não 'conheço os cantos todos da casa', não sei muito bem o que esperam de mim, mas parece-me que está tudo a correr conforme se pretende.(Só precisamos de fazer com que os nossos meninos tirem melhores resultados na escola.) Temos uma boa equipa coordenadora, muito solicita, entusiasmada e exigente, perfeitamente imbuída do espírito Inaciano e sempre pronta a ajudar.
Tem sido um trabalho de equipa muito interessante e gratificante, com apenas um senão, que é a constante mudança de horário. Parecia que já tínhamos acertado na equipa e no dia a visitar a família, mas eis que, de repente, tudo se altera. Isto traz algum transtorno, mas esperamos que estabilize, pois os nossos pupilos também tiram proveito disso.
A família que estamos a apoiar é numerosa, pois há quatro crianças residentes e, por vezes, vêm os amigos e vizinhos pedir uma 'ajudinha'. São crianças interessadas, embora a mais velha ande pouco entusiasmada. Temos que desenvolver estratégias para a animar e mostrar as vantagens de estudar, embora já tenhamos tido algumas conversas de esclarecimento. Santo Inácio nos inspire!
Está a ser um novo desafio para uma professora reformada, que dificilmente consegue viver sem meninos e sem dar aulas. Para os membros mais novos da equipa, tem sido também uma experiência enriquecedora, pois apercebem-se das dificuldades que a família e os professores têm com as crianças que crescem a sofrer a falta dos pais, ou de um dos progenitores. Os resultados escolares estão a melhorar e todos ficamos felizes com isso. Contudo, preocupa-me a falta de organização e concentração familiar, tão necessárias ao sucesso destas crianças. Sei que temos de caminhar ao lado, ouvir sem interferir e apenas cumprir a missão que nos foi confiada,mas creio que há mais pessoas naquele seio familiar a precisarem de ser ouvidas. Como? O tempo o dirá e Deus nos há-de ajudar.
Todos aceitámos este "convite à desinstalação, para que nas grandes linhas da nossa vida, mas também nas pequenas opções do nosso dia a dia, não fiquemos apenas pelo não fazer o mal. Santo Inácio quer-nos levar mais longe, quer que em cada momento o nosso critério de escolha, de decisão e de execução, seja o mais e o melhor, o mais humano que simultaneamente é o mais apontado para Deus, o Omega do Homem". Estou convencida que estas palavras do Padre Vaz Pinto, proferidas em Fátima, na 2ª Semana de Estudos de Espiritualidade Inaciana, se calaram bem em nós e, assim,estamos prontos a prestar 'mais e maior serviço de amor'.
Que o Espírito Santo desça sobre nós e nos ilumine!

Maria do Carmo

Crónica FasFamilias Dezembro

Querem que vos conte uma história?...
SIM?!
Querem mesmo?... Não é a história do nascimento do Menino Jesus.
É uma história de Natal, em que se fala de Amor...
Há já algumas quinta-feiras, que vou com a "Estrela" (é quem ajudo!) buscar alimentos ao Pingo Doce. E a seguir vamos pro Centro de S. Cirilo organizar os cabazes para serem entregues a famílias com dificuldades. Nas nossas idas ao Pingo Doce, muitas vezes encontrámos à porta um sem abrigo, "velhinho", inofensivo e doce... A "Estrela" faladora com é, fez logo conversa com o "velhinho". Eu fiquei num sorriso e aperto de mão. E assim, foram algumas quinta-feiras... até que...
Numa dessas tardes, preparo-me para sair de casa. Entro no carro e vou buscar a "Estrela" ao sítio marcado. Já no meu carro, a "Estrela" fala, fala e fala e eu lá vou dizendo pois, pois é... e por aí fora... Quando chegamos ao Pingo Doce estava uma confusão de carros. Tive que estacionar em segunda fila com os quatro piscas. Pedi à "Estrela" para ficar a guardar o meu carro enquanto ia buscar os alimentos ao supermercado. À porta, lá estava o nosso "velhinho" que cumprimentei como o costume.
Estava eu a falar com a funcionária do Pingo Doce, quando de repente vejo o nosso "velhinho" a entrar esbaforido à procura de alguém... esse alguém era eu! Quando me viu disse com a maior preocupação que eu tinha que ir lá fora, e rápido, pois estava um policia a querer passar-me uma multa. Agradeci ao sem abrigo e corri lá para fora. Quando chego à rua... encontro a "Estrela" do outro lado do passeio a falar com o policia. Eu, bem queria atravessar para ir ter com ele, mas não conseguia, no meio da confusão de carros sempre a passar. A "Estrela" consegue primeiro que eu atravessar para o meu lado e diz-me: "Inês, não se preocupe eu já falei com o policia... e expliquei tudo. Ele não lhe vai passar a multa, está tudo resolvido!"
Foi tudo muito rápido...
Na altura nem consegui "Ver" o que tinha acontecido... só sentia uma grande Alegria interior...
Mas o que é que estava a acontecer?...
Mais tarde, recordava este episódio e pensava como é bonito perceber a dinâmica da Lei do Amor.
Supostamente era eu que queria a ajudar a "Estrela" e o "velhinho" e de repente são eles que se preocupam em me ajudar... Cada um podia ter ficado na sua... mas não ficaram!!!
Esta episódio pode ficar numa história banal... se ficarmos simplesmente nos factos. Mas, se formos como os pastores que foram a Belém, "para vermos o que aconteceu e que o Senhor NOS DEU A CONHECER..." (Lc 2, 15-20) tudo muda!
Ao vos contar esta história, que se passou numa quinta-feira aparentemente normal, não posso de deixar de dizer SIM... é nesta LEI que eu ACREDITO... a LEI DO AMOR!
Inês Azeredo

segunda-feira, janeiro 30, 2012

Crónica de Imigrantes 28 de Janeiro de 2012

Esta segunda saída de 2012 tinha como destino a Casa do Infante na zona da Ribeira do Porto, que incluía uma visita guiada. O encontro foi, como sempre, à porta do Centro de S. Cirilo às 9:30, onde se juntaram sete voluntários e (desta vez a adesão não foi muito elevada) um utente (um outro utente inscrito infelizmente não pôde ir, pois não se encontrava bem e tinha que ir ao hospital). Apesar de estarmos em pleno inverno voltamos a ter um belíssimo dia de Sol (apesar dum certo frio) que ajudou bastante para a viagem comprida que tínhamos pela frente.
A viagem prosseguiu pela rua de Cedofeita, passando pela Cordoaria e descendo pela rua das Taipas e pela rua da Vitória até, depois de passar pelo Mercado Ferreira Borges, termos chegado à Casa do Infante, aproximadamente três quartos de hora depois da partida do Centro de S. Cirilo.
Apesar de ser apenas um participante, este não se aparentou constrangido e mostrou-se aberto para conversa. Ao mesmo tempo os voluntários aproveitaram para se conhecerem melhor e conversarem um pouco entre si.
A visita guiada à Casa do Infante centrou-se principalmente no edifício e a sua evolução ao longo dos séculos e a defesa da teoria do Infante D. Henrique ter nascido naquele sítio. Durante as explicações que nos foram dando, ainda se juntaram umas pessoas que também por lá se encontravam (um grupo de séniores, como viemos a descobrir) aumentando substancialmente o grupo de ouvintes da senhora que fazia a visita.
Mas o ponto alto não foi a visita à Casa do Infante. Aparentemente o utente da casa de S. Cirilo nunca tinha estado na zona da ribeira do Porto. A expressão de alegria na cara dele quando nos aproximamos do rio depois da visita demonstrou que a afinal o rio e a zona ribeirinha eram muito mais interessantes que a Casa do Infante.
A viagem de volta levou-nos aproximadamente uma hora (quase sempre a subir), passando pelas escadas da Vitória desta vez, com chegada ao centro por volta das 12:30.
Apesar de não ter havido uma adesão muito grande do lado dos utentes do Centro de S. Cirilo, a manhã foi muito bem passada e o participante que nos acompanhou sentiu-se muito à vontade e com certeza que visitará a ribeira do Porto novamente!

Andreas

sexta-feira, janeiro 27, 2012

Crónica das Aldeias – 21.01.2012

Este não foi um sábado igual aos outros...
Além, de ser dia de visitas, o que o torna logo à partida especial,
desta vez e para celebrar a tradição, não quisemos deixar de cantar as
janeiras aos senhores e senhoras que visitamos quinzenalmente e que
guardamos carinhosamente no coração. Neste evento até a natureza quis
compactuar connosco ao brindar-nos com um magnífico dia de sol, já a
querer cheirar a Primavera.
Partimos do sítio habitual, em direção à aldeia de Candemil, com
alguma ligeireza, pois havia ainda que ensaiar e afinar as vozes.
Formamos uma grande roda (pois desta vez éramos mesmo muitos) e ao som
dos acordes de duas guitarras, iniciamos os ensaios. Foram intensos.
As orientações preciosas da maestrina Carminda resultaram em pleno.
Parecíamos uns verdadeiros rouxinóis, havendo, claro, uma ou outra
cana rachada..., mas isso é outra conversa.
Então, após o almoço, já cheios de energia e força, iniciamos a
caminhada de casa em casa, distribuindo alegria e boa disposição,
pelas aldeias de Candemil, Ansiães, Basseiros e Bustelo. Para avivar
as nossas forças a D. Aldina preparou-nos um lanche generoso, com
pão-de-ló, nozes, mel e vinho do Porto… que não conseguimos resistir.
No final do dia, o cansaço já se apoderava de nós, mas sentimos que
valeu a pena, principalmente pelos sorrisos com que os nossos amigos
nos foram presenteando.
Florbela - Bustelo

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Crónica Aldeias - 07-01-2012

Hoje não foi uma visita igual aos outros sábados.

Hoje num carro coubemos todos. Todas.

Hoje, por diferentes razões, fomos só 5.

Voluntárias cheias de vontade, entusiasmo e boa disposição, assim partimos. Mas não esquecemos que somos muitos mais, e é assim que queremos continuar a ser!

Reta, curva e contracurva e já só estávamos duas de olhos abertos (as semanas estão mais cansativas…), 4 olhos que mesmo assim não chegaram para sairmos no sítio certo. Acabamos por ir à descoberta de um parque de merendas, em Basseiros, que nunca mais aparecia… Estacionámos e "picnicamos" por ali a ver as vistas. O dia estava bonito, de um azul luminoso, com um sol que alenta e dispõe bem.

Lá partimos para três aldeias. Basseiros não foi contemplada com voluntários, que com certeza muita falta fizeram, pela espera certa que nos fizeram por Ansiães, Bustelo e Candemil.

Nesta última estava apenas a D. Aurélia, que terminava o seu almoço e "esperava os seus amigos", assim dizia a vizinha que lá estava. A D. Alda estava para chegar nesse dia, do Porto, onde foi passar o Natal. Fomos as duas "correndo" a estrada de Candemil, numa hora e meia de passeio, sob o olhar atento do Marão. Num Inverno que, por ali, ainda não é despido. E pelas histórias fica uma espécie de saudade do tempo que não se viveu.

Hoje duas frases me ficam, pela boa companhia e sabedoria da minha querida D. Aurélia (que dia 9 fará 97…). Parabéns!!

"O segredo de uma velhice agradável consiste apenas na assinatura de um honroso pacto com a solidão."

"Cada um tem a idade do seu coração, da sua experiência, da sua fé."

Isabel Teixeira Gomes - Candemil

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Crónica Imigrantes – 7 de Janeiro de 2012

A primeira visita de 2012, organizada pelo grupo dos Imigrantes, foi ao Jardim Botânico. Um sábado cheio de sol permitiu-nos visitar não só as exposições da Casa Andresen, mas também passear pelo Jardim.

Formávamos um grupo de dez pessoas e saímos de S. Cirilo às 14h, com alguns participantes já nossos conhecidos e um senhor que nos acompanhou pela primeira vez, utente externo de S.Cirilo há apenas três semanas.

Já no Jardim Botânico, começámos por visitar a exposição de pintura de Armanda Passos, com as suas obras povoadas de mulheres e animais imaginários. Em seguida, subimos ao primeiro andar, para visitar a exposição de fotografia de Harold Edgerton. Este engenheiro electrotécnico desenvolveu uma técnica de fotografia com tempo de exposição muito curto, o que permite "parar o tempo", mostrando em detalhe momentos e sequências de movimento que são demasiado rápidos para serem percebidos pelo olho humano. As suas fotografias criam verdadeiramente uma ponte entre a ciência e a arte. Pudemos ver a bala a atravessar a maçã; a deformação da bola de futebol no instante em que é chutada, ainda antes de começar a voar; as formas que a água cria ao correr da torneira; a sequência de movimentos do mergulhador ao saltar da prancha… Esta exposição, em particular, despertou muito interesse em todo o grupo, participantes e voluntários, que se demoraram pelas salas.

Por fim, o Francisco fez-nos uma visita guiada pelo Jardim. Começou por nos contar a história da casa e do jardim e, ao longo do percurso, foi-nos chamando a atenção para detalhes e aspectos curiosos das plantas. O interesse dos utentes de S.Cirilo manteve-se ao longo deste passeio, durante o qual conversaram e participaram muito.

O regresso fez-se em cerca de 45 minutos, ao longo da Rua do Campo Alegre. Depois da visita, criou-se mais confiança dentro do grupo e participantes e voluntários conversaram todo o caminho!

Margarida

quarta-feira, dezembro 14, 2011

Crónica das Aldeias – 03.12.2011

O dia começou pouco risonho, mas sabíamos que tal iria mudar já que era dia de visita às "nossas Aldeias"! :) Apesar de esta ter sido apenas a minha segunda visita, sinto que já posso chamar de nossa pela calorosa forma como fui recebida. Admito que na primeira visita as dúvidas e incertezas eram muitas mas estas rapidamente se desvaneceram! Encontrámo-nos à hora habitual no sítio do costume de onde, feitas as apresentações, começámos a viagem em direcção ao Marão.
A primeira paragem foi no parque das merendas para o nosso piquenique cheio de coisas maravilhosas mas muito saudável! A óptima sopa da Carminda aconchegou-nos bastante e até fez com que nos esquecêssemos do ar gelado da serra. De barriga cheia, fomos tomar o nosso cafezinho para partirmos para as visitas cheias de energia!
A visita que descrevo é a de Ansiães juntamente com a Carminda, a Joana e a Rita.
Quando chegámos a Ansiães, a Joana e a Carminda começaram por nos mostrar a casa da Tia Ondina, uma antiga aldeã que infelizmente não tive oportunidade de conhecer. De seguida, seguimos em direcção à casa da Tia Rita. Apesar do frio, fomos encontrá-la cá fora, a tratar das suas coisinhas toda bem-disposta e sorridente, como de costume. A Tia Rita é uma senhora que, apesar dos seus 91 anos, tem uma energia inigualável e um espírito único. Entrámos na sua acolhedora casa e pusemo-nos à conversa, desde as consultas marcadas até as "mexericos" habituais, sempre com muita animação à mistura! Sem darmos conta do tempo a voar, já estava na hora de irmos visitar a Tia Aldina!
Com muita tristeza, despedimo-nos da Tia Rita e subimos a rua onde a Tia Aldina já estava à nossa espera junto à lareira. Desta vez, fomos encontrá-la mais tristonha. Os problemas do filho e os seus problemas de saúde afectam-na bastante. Depois de nos ter contado como andava a lidar com toda a situação, a conversa começou a ficar mais animada e entre o chá quente e as castanhas que tinha preparado para a nossa visita, conseguimos ainda alguns sorrisos. - "Já vão embora? Têm de ficar cá mais tempo!". Nós também queríamos Tia Aldina, mas já estávamos em cima da hora para irmos para o ponto de encontro.
Fomos então para Bustelo, onde já estavam todos à nossa espera. Depois da partilha, emotiva pelas perdas, partimos para o Porto com um sorriso no rosto e ansiosos pela próxima visita.

Joana Paulo - Ansiães

terça-feira, dezembro 13, 2011

Crónica dos Imigrantes 10 Dezembro de 2011

Desta vez, a saída, foi à Casa da Música com visita guiada incluída.
Como sempre o encontro foi em S Cirilo. Tivemos bastantes inscrições e algumas desistências (talvez devido ao mau tempo que se fez sentir durante a noite).
O convívio foi muito positivo, a visita guiada foi acompanhada, com elevado interesse, por todos, principalmente pelos utentes de S Cirilo, que demonstraram uma grande atenção a todas as explicações sobre a arquitetura e pormenores da acústica da sala de concertos, que foram dadas pelo guia da visita.
No regresso, como sempre, a animação foi mais evidente e tivemos oportunidade de começar a integrar os novos voluntários desta vertente.
Esta atividade tem-se revelado, para mim, uma agradável surpresa. Surpreende-me o interesse que estas pessoas, a quem a vida não tem tratado bem, demonstram. O melhor exemplo disso, se preciso fosse, veio esta semana quando um dos utentes trouxe dois amigos, de uma outra instituição, para nos acompanharem nesta visita.
Têm sido muito positivos estes encontros. Tenho notado uma maior abertura por parte dos utentes de S Cirilo para falarem dos seus problemas e preocupações. Este estado de espírito só é possível com a persistência e regularidade destes encontros, que fazem com que eles adquiram alguma confiança e comecem a abrir a sua vida (problemas, preocupações e alegrias) aos voluntários que os acompanham.

Manuel

sexta-feira, dezembro 09, 2011

Crónica das Aldeias – 08.10.2011

"Quem gosta, cuida."

Num sábado de Outubro, num dos primeiros deste ano "lectivo" do FAS,
voltámos nós para o Marão ver as nossas senhoras. Nossas, porque
aquilo que elas nos entregam e confiam faz-nos perceber que estamos
responsáveis por uma pequena parte da alegria delas, que por mais
pequena que seja, não deixa de não ter uma grande importância.
Mais uma rotina normal: reunir, viajar, almoçar no parque do costume,
o cafezinho e voilá! here we go! As conversas, sinto eu, são cada vez
mais íntimas. A dona Rita, quero dizer, Tia Rita (veja-se lá a
confiança, que maravilha!) adora receber-nos. Constantemente achamos
que nessa hora, o relógio é uma invenção pouco útil. A dona Aldina, a
avó carinhosa! "Meninas, um frasquinho de mel! Levai!" Não deixa de
insistir que ficamos muito pouco tempo com ela, apesar de
distribuirmos duas horas por duas vistas, o que é óptimo. "Dar sem
procurar receber", um dos lemas deste grupo, mas na verdade, sempre
recebemos em dobro (ou mais) do que aquilo que damos. Estou muito
grata a estas senhoras por se deixarem fazerem parte da minha vida,
penso que poderei dizer, da nossa vida, e de toda a sabedoria que nos
passam com as histórias das suas existências.
Um dia passado, mais uma rotina normal, no entanto, cada momento é
único. Obrigada a todos por tornarem possível uma companhia/amigo na
vida destas pessoas e de todas as que necessitam.

Clarisse - Ansiães

quarta-feira, novembro 30, 2011

Crónica dos Imigrantes 27 Novembro 2011

Para esta nossa saída, a meteorologia presenteou-nos com um dia de primavera neste final de outono. A escolha do destino para o programa esteve bastante indefinida mas, após algumas vicissitudes e contratempos, a escolha recaiu sobre a Cadeia da Relação / Centro Português de Fotografia que se localiza no jardim da Cordoaria.
Marcamos o encontro para S Cirilo às 14h30. Todos foram pontuais (voluntários e utentes). Ainda nos demoramos um pouco a conversar com um utente, acompanhante habitual destas nossas saídas, mas que, por estar doente, não pode, desta vez, estar connosco.
Saímos em direção à Cordoaria, em amena cavaqueira, pois já todos os participantes se conheciam, o que facilitou a comunicação e a interação.
Neste edifício do século XVIII, estão presentemente quatro exposições, duas permanentes e duas temporárias. As duas permanentes, uma de máquinas fotográficas representantes da evolução desta arte, onde se encontram muitas dezenas de marcas e modelos de câmaras e uma outra sobre a Cadeia da Relação, algumas das personalidades que ali estiveram detidas e, também, de detidos anónimos. Nas exposições temporárias, também de fotografia, uma é de divulgação dos Novos Valores da Fotografia Espanhola, em que o tema principal é a obra de Juantxu Rodríguez e as suas fotografias do mundo, principalmente uma visão particular sobre uma importante parte da sociedade norte-americana, e a outra do trabalho de Marín, cuja obra atravessa a primeira metade do século XX. José Miguel Ferreira apresenta-nos as suas fotografias subordinadas ao tema o Douro Vinhateiro.
A visita correu bem e todos os participantes gostaram, não só pelas exposições, mas também pelo edifício que está intimamente ligado à história política do Porto desde o Marquês de Pombal até ao início do Estado Novo.
O regresso foi um pouco mais monótono, dado que alguns dos participantes são utentes externos de S Cirilo e após a visita foram diretamente para as suas residências e não nos acompanharam.
Tudo correu bem, foi uma tarde bem passada.
Manuel