Mais um ano...
Chegou ao fim mais um ano das nossas visitas às Aldeias do sopé do Marão.
Um ano cheio de boas recordações, um ano cheio de saudades … um ano cheio de desafios!
A missão que me propuseram para este ano não foi nada fácil. Ter de "gerir pessoas" é uma tarefa muito árdua, principalmente quando está em causa o bom funcionamento de um grupo e, consequentemente, o perfeito cumprimento de uma missão tão nobre quanto a nossa – levar alegria e amor às pessoas que visitamos. Num ano de novas pessoas, novas metodologias, novas regras tudo parecia, no inicio, um emaranhado de novidades e problemas para testar a nova coordenação.
Tivemos sábados mais complicados, em que o risco de não ter voluntários para as aldeias foi iminente, mas também tivemos outros em que conseguimos encher as casas das pessoas com um número muito elevado de voluntários. Registamos faltas, atrasos, assuntos discordantes! Organizamo-nos, ajustamo-nos, crescemos como grupo.
No final, o mais importante é que correu tudo bem! E, por isso, deixo aqui uma palavra a todos os voluntários das aldeias - aos que entraram, aos que saíram e aos que continuam – "obrigada pela vossa dedicação!".
Este ano ficou marcado por mais uma perda das "nossas senhoras". A nossa querida centenária de Ansiães, a D. Olívia, partiu. E com ela partiu o prazer de vermos uma nobre senhora envolta nas suas vestes negras (não esquecendo o típico chapéu), sentada na sua habitual cadeira a apanhar sol nas tardes quentes e que sempre nos lembrava que era a "pessoa mais velha do concelho". Ficará para sempre nos nossos corações. Obrigada D. Olívia por todo o seu amor.
Fomos, já quase no final do ano, "bater à porta" de mais três senhoras de Ansiães para iniciarmos as visitas. Foram apenas dois sábados, mas saímos com a sensação de que estas visitas pareciam existir desde sempre. "Eles fazem parte da minha família", podemos ouvir de uma das senhoras já com uma lágrima no olho. Será que merecemos todo este carinho? Obrigada "minhas (nossas) senhoras" pelo vosso afecto e ternura!
Não podia terminar esta crónica sem uma menção, e muito honrosa, ao fundador deste grupo. Não sei bem o que escrever, como também não soube o que dizer na nossa última oração partilhada - felizmente tenho uma "afilhada" que disse o que eu gostaria. Não estarás connosco fisicamente, mas em espírito jamais deixarás este grupo. Espero que todos saibamos seguir o teu exemplo.
Obrigada Jorge, por tudo!
Obrigada a todos.
Claudia Gonçalves | Ansiães
Famílias, Aldeias e Sem Abrigo estas são as nossas áreas de acção. Um grupo de jovens do Porto, que no CREU têm uma casa, lançam mãos aos desafios que lhes surgem.
segunda-feira, agosto 03, 2009
quinta-feira, julho 09, 2009
Crónica da visita aos imigrantes - 20.06.2009
Pelas 17:00 h, começaram a chegar ao portão grande da entrada os 7 voluntários para mais um encontro…não se sabia bem com quem. Sabia-se sim, que esse encontro seria feito com seres humanos controlados pela sociedade e maltratados pelo destino. Mulheres e homens, adultos e jovens, brancos e de cor. Do Segenal, da Nigéria, de Marrocos, da Itália, e de outras paragens. Sempre seres humanos, a quem se iria transmitir um pouco de humanidade desinteressadamente, e em total disponibilidade.
Feito o jogo de apresentação, vieram as conversas, os desabafos, misturando desilusões e sonhos.
Aproximadamente 60 minutos de companhia amigável, entre estranhos, só com a preocupação de tornar para cada um e cada uma aquele dia mais diferente, mais risonho, mais humano. Viemos com a certeza de que foi esse o nosso desejo e com a esperança de que isso mesmo tenha acontecido.
Feito o jogo de apresentação, vieram as conversas, os desabafos, misturando desilusões e sonhos.
Aproximadamente 60 minutos de companhia amigável, entre estranhos, só com a preocupação de tornar para cada um e cada uma aquele dia mais diferente, mais risonho, mais humano. Viemos com a certeza de que foi esse o nosso desejo e com a esperança de que isso mesmo tenha acontecido.
terça-feira, julho 07, 2009
Crónica das Aldeias - 04.07.2009
Foi um dia muito especial nas Aldeias, porque começamos a visitar novas pessoas em Ansiães. Depois do falecimento da D. Olívia, a nossa querida centenária, e da D. Maria Fernanda, decidimos visitar novas pessoas.
A Sofia da Progredir (associação que faz apoio domiciliário na região), levou-nos e apresentou-nos às pessoas que já aguardavam a nossa chegada. No Casal, encontramos a D. Ondina e a D. Cidália, ambas muito amorosas, com vontade de falar e de nos conhecer. Ficamos a saber um pouco das suas vidas e dos graus de parentes com outras senhoras que visitamos. Aliás na Aldeias todas as pessoas tem ligações
entre uns lugares e outros, basta ver que a D. Ondina é cunhada da D. Maria do Carmo de Candemil, ambas conhecidas como sapateiras!
Depois de animada conversa, despedimo-nos, e ainda ouvimos um “ Adeus, minha filha!” dedicada à Marta, que nos trouxe um sorriso com muita vontade de voltar e conhecer mais.
Fomos ao Peso, onde nos esperava a D. Aldina com um sorriso. Ela já nos conhecia! Tinha participado na festa de Natal em Bustelo, onde tinha dado o xaile ao menino Jesus no teatro que fizemos.
O marido faleceu no ano passado, e a família deu-lhe imenso apoio, em especial a neta de quem tanto se orgulha. Contou-nos como é tão importante o trabalho da Progredir, e como são tão boas as visitas das funcionárias que lhes levam o almoço e as ajudam na higiene nos dias da semana.
Mais uma vez falamos um pouco de nós e do que fazemos, e a D. Aldina contou-nos sobre a única vez que, por duas semanas, foi a França estar com o filho, e foi a Paris, mas não subiu à torre Eiffel. Falou-nos do tempo em que a vida era dura de trabalho, em só havia trabalho na floresta, com a carqueija ou o carvão. No final despedimo-nos com um grande abraço e um sorriso que nos encheu o coração.
Terminamos o dia sentindo totalmente que ajudamos um pouco com a solidão destas pessoas, e que recebemos tanto sem perceber!
Agradecidos por ter conhecido estas três senhoras que nos receberam tão bem, sem reticências ou receios, e com sorrisos tão grandes que nos encheram de vontade de voltar.
Obrigado às três!
Jorge Mayer | Ansiães
A Sofia da Progredir (associação que faz apoio domiciliário na região), levou-nos e apresentou-nos às pessoas que já aguardavam a nossa chegada. No Casal, encontramos a D. Ondina e a D. Cidália, ambas muito amorosas, com vontade de falar e de nos conhecer. Ficamos a saber um pouco das suas vidas e dos graus de parentes com outras senhoras que visitamos. Aliás na Aldeias todas as pessoas tem ligações
entre uns lugares e outros, basta ver que a D. Ondina é cunhada da D. Maria do Carmo de Candemil, ambas conhecidas como sapateiras!
Depois de animada conversa, despedimo-nos, e ainda ouvimos um “ Adeus, minha filha!” dedicada à Marta, que nos trouxe um sorriso com muita vontade de voltar e conhecer mais.
Fomos ao Peso, onde nos esperava a D. Aldina com um sorriso. Ela já nos conhecia! Tinha participado na festa de Natal em Bustelo, onde tinha dado o xaile ao menino Jesus no teatro que fizemos.
O marido faleceu no ano passado, e a família deu-lhe imenso apoio, em especial a neta de quem tanto se orgulha. Contou-nos como é tão importante o trabalho da Progredir, e como são tão boas as visitas das funcionárias que lhes levam o almoço e as ajudam na higiene nos dias da semana.
Mais uma vez falamos um pouco de nós e do que fazemos, e a D. Aldina contou-nos sobre a única vez que, por duas semanas, foi a França estar com o filho, e foi a Paris, mas não subiu à torre Eiffel. Falou-nos do tempo em que a vida era dura de trabalho, em só havia trabalho na floresta, com a carqueija ou o carvão. No final despedimo-nos com um grande abraço e um sorriso que nos encheu o coração.
Terminamos o dia sentindo totalmente que ajudamos um pouco com a solidão destas pessoas, e que recebemos tanto sem perceber!
Agradecidos por ter conhecido estas três senhoras que nos receberam tão bem, sem reticências ou receios, e com sorrisos tão grandes que nos encheram de vontade de voltar.
Obrigado às três!
Jorge Mayer | Ansiães
quinta-feira, junho 25, 2009
Crónica da Ronda da Areosa - 7.06.2009
O P. vai voltar para cá...
Há umas semanas conhecemos o P. Veio, a medo, com um amigo, e sentimos desde o primeiro aperto de mão a química que se sente com futuros-bons-amigos.
Falámos da vida dele e da nossa, e deixámo-nos levar pela empatia até não notarmos que o tempo passara.
Parece o início de um Amor... e daí se calhar Amor é simples como querer bem a quem partilha connosco um copo de leite ou de sopa ao Domingo.
Falámos de pais e de irmãs e namoradas, de empregos, livros e receitas de sopa.
Um dia, disse-nos que éramos a ligação dele ao mundo que fora o dele; e que vai voltar a ser, assim a força e a vontade das palavras se tornem actos corajosos.
Todos falhamos tantas vezes, e o P. continuará a falhar; mas não tarda, há de estar inteiro do nosso lado do mundo, que é o dele também. Obrigado!
Pedro Pardinhas
Há umas semanas conhecemos o P. Veio, a medo, com um amigo, e sentimos desde o primeiro aperto de mão a química que se sente com futuros-bons-amigos.
Falámos da vida dele e da nossa, e deixámo-nos levar pela empatia até não notarmos que o tempo passara.
Parece o início de um Amor... e daí se calhar Amor é simples como querer bem a quem partilha connosco um copo de leite ou de sopa ao Domingo.
Falámos de pais e de irmãs e namoradas, de empregos, livros e receitas de sopa.
Um dia, disse-nos que éramos a ligação dele ao mundo que fora o dele; e que vai voltar a ser, assim a força e a vontade das palavras se tornem actos corajosos.
Todos falhamos tantas vezes, e o P. continuará a falhar; mas não tarda, há de estar inteiro do nosso lado do mundo, que é o dele também. Obrigado!
Pedro Pardinhas
terça-feira, junho 23, 2009
Crónica das Aldeias - 20.06.2009
Mais um sábado, muito calor no Porto, avizinha-se um dia ainda mais quente nas aldeias do Marão. Estamos poucos, contudo os suficientes para assegurar as visitas, Por vezes, não nos é fácil conseguir conciliar todos os nossos compromissos, e lá temos de tomar a difícil decisão de não ir às aldeias. No entanto, independentemente do número de pessoas que vão leva-se sempre um bocadinho de todos, e o espírito do grupo está sempre presente! Uma das pequenas maravilhas deste grupo de aldeões!
Dada a temperatura decidimos almoçar na praia fluvial, a primeira vez este ano, o areal está um pouco descuidado, o nível de água em baixo, no entanto, o mesmo encanto de sempre, o verde, os pássaros, o barulho da água cheia de vida que corre, e estes sons maravilhosos que vão preenchendo o nosso almoço e abrindo caminho até casa de todas as pessoas que vamos visitar.
A Isabel e eu vamos para Candemil, chegamos um pouco cedo a D. Aurélia ainda está nas suas lides domésticas, oferece-nos umas cerejinhas fresquinhas enquanto dobra a roupa e nos vai contando do seu sobrinho do Alentejo que está de visita.
Lá vamos as três até casa da D. Alda que está um pouco melhor e nos recebe muito bem, como habitualmente. Apenas lamenta não nos poder oferecer o chá mas ainda não pode estar muito tempo de pé.
Despedimo-nos com uma troca de sorrisos e em até breve e vamos até casa da D. Maria do Carmo que continua num estado físico muito debilitado, mas presenteia-nos sempre com um sorriso.
Entre as várias conversas ficamos a saber que na próxima semana também decorrerão os festejos do S. João, e há duas belas sardinhadas, uma delas na praia fluvial. Esperemos que todas se divirtam e que seja um espaço de lazer, mas também de amizade e partilha. Assim, a solidão vai-se esbatendo…
Enquanto calcorreávamos as ruelas de Candemil ouvíamos uma rola, e dizia-nos a D. Aurélia que a rola dizia “ju di te”, e não é que parecia mesmo que ouvimos a rola a dizer “ju di te!”. Agora sempre que ouço a rola ao pé de minha casa, ouço o que ela tem para dizer e sorrio!
Sara Gonçalves | Candemil
Dada a temperatura decidimos almoçar na praia fluvial, a primeira vez este ano, o areal está um pouco descuidado, o nível de água em baixo, no entanto, o mesmo encanto de sempre, o verde, os pássaros, o barulho da água cheia de vida que corre, e estes sons maravilhosos que vão preenchendo o nosso almoço e abrindo caminho até casa de todas as pessoas que vamos visitar.
A Isabel e eu vamos para Candemil, chegamos um pouco cedo a D. Aurélia ainda está nas suas lides domésticas, oferece-nos umas cerejinhas fresquinhas enquanto dobra a roupa e nos vai contando do seu sobrinho do Alentejo que está de visita.
Lá vamos as três até casa da D. Alda que está um pouco melhor e nos recebe muito bem, como habitualmente. Apenas lamenta não nos poder oferecer o chá mas ainda não pode estar muito tempo de pé.
Despedimo-nos com uma troca de sorrisos e em até breve e vamos até casa da D. Maria do Carmo que continua num estado físico muito debilitado, mas presenteia-nos sempre com um sorriso.
Entre as várias conversas ficamos a saber que na próxima semana também decorrerão os festejos do S. João, e há duas belas sardinhadas, uma delas na praia fluvial. Esperemos que todas se divirtam e que seja um espaço de lazer, mas também de amizade e partilha. Assim, a solidão vai-se esbatendo…
Enquanto calcorreávamos as ruelas de Candemil ouvíamos uma rola, e dizia-nos a D. Aurélia que a rola dizia “ju di te”, e não é que parecia mesmo que ouvimos a rola a dizer “ju di te!”. Agora sempre que ouço a rola ao pé de minha casa, ouço o que ela tem para dizer e sorrio!
Sara Gonçalves | Candemil
Crónica das Aldeias - 23.05.2009
Dia Tranquilo!
Depois de um almoço muito animado onde tivemos oportunidade de nos deliciar com tomate coração-de-boi e com os hungaros que iam virando mousse de chocolate, partimos para a nossa aldeia...o Sol teimava em espreitar e quando conseguia mostrava bem o seu poder calorífico!
Já iamos a caminho da casa da D. Fernanda quando um incidente ocorreu. Trinquei a língua! - já não me acontecia há alguns anos, pelo menos desta maneira tão feroz :) ... fiquei contente por me recordar da minha infância e me sentir autêntica - cá estava a Sofia destravada! Sinceramente, deve ter sido castigo do divino...A minha salvação no momento foi o meu padrinho - Nuno Afonso, que felizmente teve sangue frio, e por isso mesmo, não me levou logo para o Hospital de Amarante! Depois do estancamento, estava pronta para a partilha.
A D. Fernanda não estava, viemos a saber mais tarde que se encontrava num campo onde nunca tinhamos ido. Fomos então ter com a D. Celeste e a sua vizinha D. Maria. Estivemos os 4 muito bem a falar sobre a vida - foi uma reflexão profunda, com muita risota à mistura. Falamos sobre fruta, doces, legumes, homens e mulheres, vida de solteira e de casada, filhos e o que vinha na sua sequência...Nunca tinha visto a D. Celeste tão animada :) Moral da história - falamos sobre tudo e sobre nada, mas foram uns minutos muito calorosos que nos deixaram satisfeitos.
Depois de voltarmos à realidade, fomos ter com a D. Maria que já nos tinha presenteado com uma caminhada, avistada ao longe, ao longo da sua varanda. A D. Maria tem muita vontade de viver e por isso mesmo não desiste de voltar a andar - que Deus a ajude. Estava igual a ela mesma, com o seu fato rosa choc e respectivo cachecol que fazem parte do seu guarda-roupa com mais de cem peças! - ela é tão engraçada. Estivemos a encorajá-la a ir às festas que se avizinham porque já percebemos que ela tem algum receio. O que mais me alegrou foi ver que a D. Maria já começou a dar valor ao que tem e mostrou-se feliz por poder avistar toda a paisagem em seu redor e receber toda a atenção do filho e da nora. Notou-se que queria que ficassemos mais tempo e isto sem dúvida foi muito reconfortante. Deixamos a D. Maria numa aberta de Sol...
Fomos então ter com a D. Emília e o Sr. Aurélio, e combinamos que iriamos desviar a conversa se voltassem a focar o tema da crise económica - aqui tenho que dar os parabéns ao meu padrinho!
Conseguimos...ficamos a conhecer a história do seu encontro, pelos vistos já se conheciam antes de começarem a namorar, talvez dos bailaricos que frequentavam. O Sr. Aurélio, segundo conta, tinha muita corda, aliás ainda hoje é uma pessoa com genica, principalmente mental. Já a D. Emília muito religiosa e sossegada ficava a ver o marido aos "pinchos" nas festas:) E o que é mais admirável é que o Sr. Aurélio ia todos os dias trabalhar para Amarante de bicicleta, quer fizesse frio quer calor, e por vezes até tinha que apanhar os parafusos da bicicleta que ficavam pelo caminho!
Ao regresso ainda tivemos a sorte de encontrar a D. Fernanda em casa. Estava a preparar o jantar para comer antes de sair para a missa e estava bem disposta - foi uma visitinha de médico.
Eram 17:15, eis chegada a hora de ir ter com o resto do pessoal ao ponto de encontro. Estavamos todos com boa moral, e num ambiente de alegria e calor partilhamos o lanchinho das sobras antes de nos metermos ao caminho...
Até à próxima aldeias dos nossos corações. Fiquem todos bem!
Sofia Meister | Bustelo
Depois de um almoço muito animado onde tivemos oportunidade de nos deliciar com tomate coração-de-boi e com os hungaros que iam virando mousse de chocolate, partimos para a nossa aldeia...o Sol teimava em espreitar e quando conseguia mostrava bem o seu poder calorífico!
Já iamos a caminho da casa da D. Fernanda quando um incidente ocorreu. Trinquei a língua! - já não me acontecia há alguns anos, pelo menos desta maneira tão feroz :) ... fiquei contente por me recordar da minha infância e me sentir autêntica - cá estava a Sofia destravada! Sinceramente, deve ter sido castigo do divino...A minha salvação no momento foi o meu padrinho - Nuno Afonso, que felizmente teve sangue frio, e por isso mesmo, não me levou logo para o Hospital de Amarante! Depois do estancamento, estava pronta para a partilha.
A D. Fernanda não estava, viemos a saber mais tarde que se encontrava num campo onde nunca tinhamos ido. Fomos então ter com a D. Celeste e a sua vizinha D. Maria. Estivemos os 4 muito bem a falar sobre a vida - foi uma reflexão profunda, com muita risota à mistura. Falamos sobre fruta, doces, legumes, homens e mulheres, vida de solteira e de casada, filhos e o que vinha na sua sequência...Nunca tinha visto a D. Celeste tão animada :) Moral da história - falamos sobre tudo e sobre nada, mas foram uns minutos muito calorosos que nos deixaram satisfeitos.
Depois de voltarmos à realidade, fomos ter com a D. Maria que já nos tinha presenteado com uma caminhada, avistada ao longe, ao longo da sua varanda. A D. Maria tem muita vontade de viver e por isso mesmo não desiste de voltar a andar - que Deus a ajude. Estava igual a ela mesma, com o seu fato rosa choc e respectivo cachecol que fazem parte do seu guarda-roupa com mais de cem peças! - ela é tão engraçada. Estivemos a encorajá-la a ir às festas que se avizinham porque já percebemos que ela tem algum receio. O que mais me alegrou foi ver que a D. Maria já começou a dar valor ao que tem e mostrou-se feliz por poder avistar toda a paisagem em seu redor e receber toda a atenção do filho e da nora. Notou-se que queria que ficassemos mais tempo e isto sem dúvida foi muito reconfortante. Deixamos a D. Maria numa aberta de Sol...
Fomos então ter com a D. Emília e o Sr. Aurélio, e combinamos que iriamos desviar a conversa se voltassem a focar o tema da crise económica - aqui tenho que dar os parabéns ao meu padrinho!
Conseguimos...ficamos a conhecer a história do seu encontro, pelos vistos já se conheciam antes de começarem a namorar, talvez dos bailaricos que frequentavam. O Sr. Aurélio, segundo conta, tinha muita corda, aliás ainda hoje é uma pessoa com genica, principalmente mental. Já a D. Emília muito religiosa e sossegada ficava a ver o marido aos "pinchos" nas festas:) E o que é mais admirável é que o Sr. Aurélio ia todos os dias trabalhar para Amarante de bicicleta, quer fizesse frio quer calor, e por vezes até tinha que apanhar os parafusos da bicicleta que ficavam pelo caminho!
Ao regresso ainda tivemos a sorte de encontrar a D. Fernanda em casa. Estava a preparar o jantar para comer antes de sair para a missa e estava bem disposta - foi uma visitinha de médico.
Eram 17:15, eis chegada a hora de ir ter com o resto do pessoal ao ponto de encontro. Estavamos todos com boa moral, e num ambiente de alegria e calor partilhamos o lanchinho das sobras antes de nos metermos ao caminho...
Até à próxima aldeias dos nossos corações. Fiquem todos bem!
Sofia Meister | Bustelo
sexta-feira, junho 05, 2009
Crónica da Ronda da Boavista - 31.05.09
Ainda novata nestas andanças, mas com cada vez mais vontade de DAR nestes finais de domingo…
Eram quase dez da noite quando os rondeiros se começaram a juntar, acompanhados pelo cheiro a doces e salgados, que são divididos pelos sacos. A equipa, como sempre bem disposta. Desta vez, um chefe diferente, novo para mim, já bem conhecido para o resto dos companheiros.
A oração apelou à maravilha do trabalho em conjunto, de todas as etapas por que passam, por exemplo, os alimentos da nossa refeição, também eles fruto desse trabalho.
Uma noite fantástica, um início de ronda promissor…
Desta vez, a D.G. aguardava-nos com a grande notícia de que tinha conseguido uma entrevista nas novas oportunidades. Era já nessa semana. No entanto, a neta ia ser operada e isso trazia-lhe alguma preocupação. Oferecemos-lhe um "vai correr tudo bem". Parece ter ficado mais tranquila.
O J.P. trocou os seus filmes por largas horas deitado, a dormir. Estava, no entanto, bem disposto. Brincou com os novos partidos políticos, mostrou o telemóvel. Nesse dia não foi à metadona. Foi bom ver que, mesmo assim, recebeu-nos bem! Há um mês que não lhe alteram a dose. Tem tido força de vontade e aquele optimismo colou-se a nós. Lá fomos embora, sem antes lhe garantirmos que o sumo não era de laranja nem de ananás.
Na mesma rua encontramos um novo sem-abrigo. Uma mulher. Disse apenas estar de passagem e quis logo saber que tipo de comida lhe levávamos. Parecia um pouco desconfiada do que estaríamos a oferecer. Se a voltarmos a encontrar, vamos tentar saber melhor a história que terá para contar!
O S.A. estava todo fresco, uma t-shirt, cabelo cortado. Desanimado com o pouco que lhe têm dado. Mas lá lhe soltamos uns sorrisos com a nossa curiosidade sobre pássaros. Disso ele percebe e gosta muito! Falou-nos dos seus três canários, de como trata deles. Gostava muito de ter uma Zagaia e não gosta de piriquitos.
O S.G. está realmente preocupado em arranjar a cura para não termos de usar óculos. Repetiu a receita milagrosa algumas vezes. Estava todo entusiasmado com a reportagem em que interveio para o "Nós por cá". Tinham mudado o sinal da rua para o lado oposto. Enquanto ia contando a história, a esposa, que está adoentada, ligou-lhe algumas vezes. Precisava que a fosse ajudar a preparar a medicação.
Chamamos várias vezes pelo S.Z.. Não estava. Optamos por deixar apenas o saco e seguir. Mas não tardou em o avistarmos a descer a rua. Trazia uma fisga e a história do seu novo negócio de fisgas. São feitas por ele (e bem giras!). Na realidade, adora fisgas desde pequenino. Falou-nos com saudade desses tempos e até nos relatou uma das suas últimas fisgadas: uma lâmpada da rua estava avariada e, de bem longe, ele acertou-lhe em cheio. Embora a protecção não tivesse ficado em muito bom estado, até hoje aquela lâmpada dá luz toda a noite! Um dos momentos altos da noite, sem dúvida!
Mais uma vez, o S.A. não estava.
Seguimos até à D.F.. Estava com dores de dentes e com os diabetes altos. Ainda não tem novidades da casa. A nora estava lá de novo, já com uma barriga que se nota bem. Continua sem querer ir ao médico e não hesitou em acender um cigarro. Continuamos com a enorme dificuldade de lhe mostrar o quão importante é cuidar da saúde do bebé, de ser seguida por um médico. Mas, mais uma vez, ergueu-se ali uma barreira que não deixa que as nossas palavras sejam entendidas.
Antes de voltarmos ao nosso cantinho, pedimos especialmente por ela, pelo bebé. Partilhamos também o que mais tinha preenchido o nosso coração, naquela noite. Mais uma vez, muito Amor.
Angela
Eram quase dez da noite quando os rondeiros se começaram a juntar, acompanhados pelo cheiro a doces e salgados, que são divididos pelos sacos. A equipa, como sempre bem disposta. Desta vez, um chefe diferente, novo para mim, já bem conhecido para o resto dos companheiros.
A oração apelou à maravilha do trabalho em conjunto, de todas as etapas por que passam, por exemplo, os alimentos da nossa refeição, também eles fruto desse trabalho.
Uma noite fantástica, um início de ronda promissor…
Desta vez, a D.G. aguardava-nos com a grande notícia de que tinha conseguido uma entrevista nas novas oportunidades. Era já nessa semana. No entanto, a neta ia ser operada e isso trazia-lhe alguma preocupação. Oferecemos-lhe um "vai correr tudo bem". Parece ter ficado mais tranquila.
O J.P. trocou os seus filmes por largas horas deitado, a dormir. Estava, no entanto, bem disposto. Brincou com os novos partidos políticos, mostrou o telemóvel. Nesse dia não foi à metadona. Foi bom ver que, mesmo assim, recebeu-nos bem! Há um mês que não lhe alteram a dose. Tem tido força de vontade e aquele optimismo colou-se a nós. Lá fomos embora, sem antes lhe garantirmos que o sumo não era de laranja nem de ananás.
Na mesma rua encontramos um novo sem-abrigo. Uma mulher. Disse apenas estar de passagem e quis logo saber que tipo de comida lhe levávamos. Parecia um pouco desconfiada do que estaríamos a oferecer. Se a voltarmos a encontrar, vamos tentar saber melhor a história que terá para contar!
O S.A. estava todo fresco, uma t-shirt, cabelo cortado. Desanimado com o pouco que lhe têm dado. Mas lá lhe soltamos uns sorrisos com a nossa curiosidade sobre pássaros. Disso ele percebe e gosta muito! Falou-nos dos seus três canários, de como trata deles. Gostava muito de ter uma Zagaia e não gosta de piriquitos.
O S.G. está realmente preocupado em arranjar a cura para não termos de usar óculos. Repetiu a receita milagrosa algumas vezes. Estava todo entusiasmado com a reportagem em que interveio para o "Nós por cá". Tinham mudado o sinal da rua para o lado oposto. Enquanto ia contando a história, a esposa, que está adoentada, ligou-lhe algumas vezes. Precisava que a fosse ajudar a preparar a medicação.
Chamamos várias vezes pelo S.Z.. Não estava. Optamos por deixar apenas o saco e seguir. Mas não tardou em o avistarmos a descer a rua. Trazia uma fisga e a história do seu novo negócio de fisgas. São feitas por ele (e bem giras!). Na realidade, adora fisgas desde pequenino. Falou-nos com saudade desses tempos e até nos relatou uma das suas últimas fisgadas: uma lâmpada da rua estava avariada e, de bem longe, ele acertou-lhe em cheio. Embora a protecção não tivesse ficado em muito bom estado, até hoje aquela lâmpada dá luz toda a noite! Um dos momentos altos da noite, sem dúvida!
Mais uma vez, o S.A. não estava.
Seguimos até à D.F.. Estava com dores de dentes e com os diabetes altos. Ainda não tem novidades da casa. A nora estava lá de novo, já com uma barriga que se nota bem. Continua sem querer ir ao médico e não hesitou em acender um cigarro. Continuamos com a enorme dificuldade de lhe mostrar o quão importante é cuidar da saúde do bebé, de ser seguida por um médico. Mas, mais uma vez, ergueu-se ali uma barreira que não deixa que as nossas palavras sejam entendidas.
Antes de voltarmos ao nosso cantinho, pedimos especialmente por ela, pelo bebé. Partilhamos também o que mais tinha preenchido o nosso coração, naquela noite. Mais uma vez, muito Amor.
Angela
quinta-feira, maio 28, 2009
Crónica Aldeias - 09.05.2009
Este dia foi a minha estreia como voluntária nas aldeias.
Encontramo-nos no local e hora habitual e partimos rumo ao nosso destino.
O bom tempo proporcionou um piquenique atrás da igreja, e foi uma boa oportunidade para conhecer "um pouco" de cada pessoa do grupo.
A seguir ao almoço fomos até ao café e de seguida cada um dirigiu-se para a sua respectiva aldeia.
A minha aldeia é Basseiros e estou com a Antonieta (minha madrinha) e a Gina.
A primeira visita seria à D. Glória mas, assim como receávamos, não se encontrava em casa. Viemos mais tarde a saber, pela vizinhança, que tinha ido a um baptizado dos gémeos.
Continuamos então rumo à próxima visita e encontramos a D. Aurora e D. Deolinda cá fora a apanhar um solzito.
D. Maria não tive oportunidade de conhecer pois ainda se encontra acamada.
D. Deolinda muito pouco falou. Ao contrário, a D. Aurora tinha conversa para a tarde inteira.
Falou-nos do susto que apanhou quando tentaram arrombar a porta; dos bons momentos que passou em França assim como das suas habilidades em fazer croché (em velhos tempos).
Mostrou-nos os "tarrucos" que está a fazer (são umas meias grossas de lã feitas à mão, muito quentinhas para o inverno). E não consegue conter as lágrimas quando fala no seu marido, que já morreu há uns largos anos.
O tempo estava a escassear e por isso partimos para uma outra visita, à D. Conceição que, por sua vez, não se encontrava em casa.
Fomos então a casa da D. Arminda que também estava cá fora ao sol, com a sua família, incluindo a filha que tinha sido operada há pouco tempo. Após algum tempo de conversa, fomos ter com o restante grupo.
À ida, encontramos a D. Conceição que regressava do cemitério e que falava do seu descontentamento em não saber onde se encontrava o seu animal de estimação.
Como 1º dia, acho que correu muito bem e correspondeu às minhas expectativas.
Penso que, tal como a minha avó, as senhoras que visitamos são pessoas que gostam de conversar com jovens (desde desabafos a histórias da vida) e ficam ansiosas pela nossa próxima visita.
Ana Vareta Machado | Basseiros
Encontramo-nos no local e hora habitual e partimos rumo ao nosso destino.
O bom tempo proporcionou um piquenique atrás da igreja, e foi uma boa oportunidade para conhecer "um pouco" de cada pessoa do grupo.
A seguir ao almoço fomos até ao café e de seguida cada um dirigiu-se para a sua respectiva aldeia.
A minha aldeia é Basseiros e estou com a Antonieta (minha madrinha) e a Gina.
A primeira visita seria à D. Glória mas, assim como receávamos, não se encontrava em casa. Viemos mais tarde a saber, pela vizinhança, que tinha ido a um baptizado dos gémeos.
Continuamos então rumo à próxima visita e encontramos a D. Aurora e D. Deolinda cá fora a apanhar um solzito.
D. Maria não tive oportunidade de conhecer pois ainda se encontra acamada.
D. Deolinda muito pouco falou. Ao contrário, a D. Aurora tinha conversa para a tarde inteira.
Falou-nos do susto que apanhou quando tentaram arrombar a porta; dos bons momentos que passou em França assim como das suas habilidades em fazer croché (em velhos tempos).
Mostrou-nos os "tarrucos" que está a fazer (são umas meias grossas de lã feitas à mão, muito quentinhas para o inverno). E não consegue conter as lágrimas quando fala no seu marido, que já morreu há uns largos anos.
O tempo estava a escassear e por isso partimos para uma outra visita, à D. Conceição que, por sua vez, não se encontrava em casa.
Fomos então a casa da D. Arminda que também estava cá fora ao sol, com a sua família, incluindo a filha que tinha sido operada há pouco tempo. Após algum tempo de conversa, fomos ter com o restante grupo.
À ida, encontramos a D. Conceição que regressava do cemitério e que falava do seu descontentamento em não saber onde se encontrava o seu animal de estimação.
Como 1º dia, acho que correu muito bem e correspondeu às minhas expectativas.
Penso que, tal como a minha avó, as senhoras que visitamos são pessoas que gostam de conversar com jovens (desde desabafos a histórias da vida) e ficam ansiosas pela nossa próxima visita.
Ana Vareta Machado | Basseiros
terça-feira, maio 19, 2009
CRONICA RONDA DA BOAVISTA - 10.05.09
Domingo, 10 de Maio, partida da ronda da Boavista.
Carro lotado! Novas entradas!! Grandes mudanças na ronda da Boavista. Casamentos, emigrantes, temporadas no estrangeiro, faculdades tardias….
Saída de uns, entrada de outros!
Mas há algo que se mantém sempre, o amor gratuito aos outros. Aqueles a quem acompanhamos à três anos, que perguntam constantemente por cada um de nós. As saudades são muitas…
Partimos com este pensamento.
Primeira paragem D. G. Lá estava na paragem à nossa espera. Estava entusiasmada por se ter inscrito nas novas oportunidades. Continua sem emprego, às cabeçadas com a filha, com saudades dos netos. Chegada do autocarro, aviso de que o J.P. estava a ver um filme.
Lá fomos ter com o J.P. Continua sem ir ao centro de emprego. Em princípio vai viver para casa da amiga, uma senhora de sessenta e muitos anos que o tem ajudado desde o tempo em que andava pelas ruas caído, a recolher trocos para mais uma dose. Claro que reclamou por causa do saco, será sempre dos nossos sem-abrigo mais exigentes!! Não pode ser sumo de laranja nem de ananás, sugestão do João, levar qualquer coisa para o estômago da próxima visita! Estava relaxado, tinha ido à metadona.
Viramos a esquina e lá encontramos o Sr. A., feliz com o futebol. Mal chegamos avisou-nos logo dos anos que se estão a aproximar, 14 de Junho.
Seguimos para o lar, onde deixamos mais uma vez o pão.
Chegados ao Sr. G. lá nos contou a aventura de sexta. Um colega disse-lhe que lhe dava boleia, quando deu por ela já tinha rodado meia cidade e tinha ido parar a um pinhal. Não ganhou para o susto com a mulher a telefonar-lhe constantemente preocupada. Eram quatro da manhã quando chegou a casa. Solução, voltar a andar armado para qualquer eventualidade.
De partida lá lhe pedimos juízo.
Seguimos e paramos no Sr. Z. Já estava a dormir, não quis conversar, mas quis o saco. Tinha-nos dito à uns domingos a possibilidade de ir viver com um casal de senhores mais velhos, mas até agora não há novidades. Deixamo-lo.
Atravessamos e deparamo-nos com uma verdadeira pocilga. O sitio onde o Sr. A. Dorme está cada vez pior. Depois do último domingo o termos apanhado completamente bebido, este nem rasto.
Passamos na zona do convívio para deixarmos um saco que nos sobrava, quando vemos a ronda da Batalha a falar com um rapaz. Para nossa surpresa era o P. Já deve ter saído da prisão, vamos falar com a Batalha e saber o que ele lhes contou.
Partida para a ultima paragem. A nossa sem-abriga mais exigente de todos!! D. F. lá estava à nossa espera. Da casa não tem novidades. A assistente social que estava com o processo mudou-se e não passou a pasta. A nora tinha ido a Guimarães, já só faltam dois meses para o bebé nascer. No último domingo contou-nos que nunca tinha ido ao médico, desde que estava grávida, que não quer, nem precisa de ajuda. Não sabemos como é possível pensar em ter uma criança naquelas condições, mas estaremos cá para o que for preciso.
O Sr V lá acabou por se levantar e beber também um chá enquanto conversávamos um pouco.
A D.F. durante a semana apanhou mais um susto com os diabetes. Nada de novo.
Acabou mais um domingo, mais uma ronda, com todos juntos dentro do carro em mais uma partilha.
Benedita Salinas
Carro lotado! Novas entradas!! Grandes mudanças na ronda da Boavista. Casamentos, emigrantes, temporadas no estrangeiro, faculdades tardias….
Saída de uns, entrada de outros!
Mas há algo que se mantém sempre, o amor gratuito aos outros. Aqueles a quem acompanhamos à três anos, que perguntam constantemente por cada um de nós. As saudades são muitas…
Partimos com este pensamento.
Primeira paragem D. G. Lá estava na paragem à nossa espera. Estava entusiasmada por se ter inscrito nas novas oportunidades. Continua sem emprego, às cabeçadas com a filha, com saudades dos netos. Chegada do autocarro, aviso de que o J.P. estava a ver um filme.
Lá fomos ter com o J.P. Continua sem ir ao centro de emprego. Em princípio vai viver para casa da amiga, uma senhora de sessenta e muitos anos que o tem ajudado desde o tempo em que andava pelas ruas caído, a recolher trocos para mais uma dose. Claro que reclamou por causa do saco, será sempre dos nossos sem-abrigo mais exigentes!! Não pode ser sumo de laranja nem de ananás, sugestão do João, levar qualquer coisa para o estômago da próxima visita! Estava relaxado, tinha ido à metadona.
Viramos a esquina e lá encontramos o Sr. A., feliz com o futebol. Mal chegamos avisou-nos logo dos anos que se estão a aproximar, 14 de Junho.
Seguimos para o lar, onde deixamos mais uma vez o pão.
Chegados ao Sr. G. lá nos contou a aventura de sexta. Um colega disse-lhe que lhe dava boleia, quando deu por ela já tinha rodado meia cidade e tinha ido parar a um pinhal. Não ganhou para o susto com a mulher a telefonar-lhe constantemente preocupada. Eram quatro da manhã quando chegou a casa. Solução, voltar a andar armado para qualquer eventualidade.
De partida lá lhe pedimos juízo.
Seguimos e paramos no Sr. Z. Já estava a dormir, não quis conversar, mas quis o saco. Tinha-nos dito à uns domingos a possibilidade de ir viver com um casal de senhores mais velhos, mas até agora não há novidades. Deixamo-lo.
Atravessamos e deparamo-nos com uma verdadeira pocilga. O sitio onde o Sr. A. Dorme está cada vez pior. Depois do último domingo o termos apanhado completamente bebido, este nem rasto.
Passamos na zona do convívio para deixarmos um saco que nos sobrava, quando vemos a ronda da Batalha a falar com um rapaz. Para nossa surpresa era o P. Já deve ter saído da prisão, vamos falar com a Batalha e saber o que ele lhes contou.
Partida para a ultima paragem. A nossa sem-abriga mais exigente de todos!! D. F. lá estava à nossa espera. Da casa não tem novidades. A assistente social que estava com o processo mudou-se e não passou a pasta. A nora tinha ido a Guimarães, já só faltam dois meses para o bebé nascer. No último domingo contou-nos que nunca tinha ido ao médico, desde que estava grávida, que não quer, nem precisa de ajuda. Não sabemos como é possível pensar em ter uma criança naquelas condições, mas estaremos cá para o que for preciso.
O Sr V lá acabou por se levantar e beber também um chá enquanto conversávamos um pouco.
A D.F. durante a semana apanhou mais um susto com os diabetes. Nada de novo.
Acabou mais um domingo, mais uma ronda, com todos juntos dentro do carro em mais uma partilha.
Benedita Salinas
terça-feira, abril 21, 2009
Crónica Aldeias - 04.04.2009
Caro Diário,
Hoje foi mais um dia de visitas, às nossas avozinhas emprestadas…
Como é costume saímos pelas 11h…todos bem dispostos e cheios de vontade de chegar a Candemil, para o famoso repasto atrás da Igreja…
Os quentes dias com que Março nos brindou deram lugar a um Abril mais frio e menos convidativo ao exterior…mas lá se almoçou com umas novidades …tortilha (é só pôr no micro) e um ananás cortado (que as senhoras do Pingo Doce preparam…) e uns saborosos bombons de Natal, Páscoa e quem sabe de Natal outra vez, e um bolinho caseiro para a sobremesa.
Pelas 14 horas fomos andando para as nossas aldeias, mas sem dispensar o cafezinho que sabe tão bem…pelo menos a alguns, e a casa de banho tão preciosa para outros.
Cada grupo seguiu para a sua aldeia…Ansiães já nos esperava assim como a Tia Rita, a Tia Olívia e a Tia Carminda.
Como de costume a primeira visita foi à Tia Rita que sempre animada…falou do seu festejo Pascal, do convite para o casamento da sua sobrinha (ao qual não quer ir nem arrastada!) entre muitas outras coisas. Durante a visita recebeu um telefonema do filho que despachou com rapidez, dando a desculpa que os seus amigos estavam com ela…As conversas iam surgindo até que nos tivemos de ir embora por causa do tempo que restava para visitar as nossas restantes Avozinhas.
A Tia Olívia estava cá fora na sua cadeira a apanhar os raios de Sol que iam aparecendo e desaparecendo. Tem andado com pouca força… o que faz parte dos seus 101 anos!
Mais tarde chegou a vizinha que lhe leva as refeições e que nos disse que a Tia Olivia se tem alimentado mal o que a leva a andar mais fraquinha…Pelo menos enquanto lá estivemos ainda comeu um iogurte.
Por vezes a conversa não é muito fácil pois os problemas auditivos da Tia Olívia já são grandes, o que dificulta uma conversa mais fluente. Deixamo-la na companhia da vizinha, que por lá ficou a arranjar a casa.
Ao chegar a casa da Tia Carminda ela parecia já estar à nossa espera…estava bem disposta e fartou-se de cantar. Vir passear cá para fora é que não, pois estava muito desagradável. O encontro foi quase todo a tirar a letra da música que com maior ou menor dificuldade, mais lógica ou menos lógica lá ficou registada no telemóvel do Jorge. As aventuras amorosas do carvoeiro era o tema da música…podia não dar um “Gremy” mas tinha ritmo!!! A hora estava adiantada e tínhamos de ir embora, não sem antes a Tia Carminda quase nos obrigar a comer qualquer coisa, lá se trouxe umas peças de fruta e fomos embora.
Siga para Basseiros...passámos primeiro em Candemil para dar boleia ao grupo que lá estava.
Mais um dia nas Aldeias…com amizade e serviço.
As nossas avozinhas emprestadas não dependem de nós, mas as nossas visitas quinzenais alegram um pouco mais as suas vidas de solidão. Diferente de outros serviços de voluntariado, o que levamos não se come…não se bebe ou se veste…apenas se sente e se vive!
Façamos então este serviço com alegria que não é mais que … “levar mais um pouco de vida a vidas já tão vividas…”
Frederico Faria | Ansiães
Hoje foi mais um dia de visitas, às nossas avozinhas emprestadas…
Como é costume saímos pelas 11h…todos bem dispostos e cheios de vontade de chegar a Candemil, para o famoso repasto atrás da Igreja…
Os quentes dias com que Março nos brindou deram lugar a um Abril mais frio e menos convidativo ao exterior…mas lá se almoçou com umas novidades …tortilha (é só pôr no micro) e um ananás cortado (que as senhoras do Pingo Doce preparam…) e uns saborosos bombons de Natal, Páscoa e quem sabe de Natal outra vez, e um bolinho caseiro para a sobremesa.
Pelas 14 horas fomos andando para as nossas aldeias, mas sem dispensar o cafezinho que sabe tão bem…pelo menos a alguns, e a casa de banho tão preciosa para outros.
Cada grupo seguiu para a sua aldeia…Ansiães já nos esperava assim como a Tia Rita, a Tia Olívia e a Tia Carminda.
Como de costume a primeira visita foi à Tia Rita que sempre animada…falou do seu festejo Pascal, do convite para o casamento da sua sobrinha (ao qual não quer ir nem arrastada!) entre muitas outras coisas. Durante a visita recebeu um telefonema do filho que despachou com rapidez, dando a desculpa que os seus amigos estavam com ela…As conversas iam surgindo até que nos tivemos de ir embora por causa do tempo que restava para visitar as nossas restantes Avozinhas.
A Tia Olívia estava cá fora na sua cadeira a apanhar os raios de Sol que iam aparecendo e desaparecendo. Tem andado com pouca força… o que faz parte dos seus 101 anos!
Mais tarde chegou a vizinha que lhe leva as refeições e que nos disse que a Tia Olivia se tem alimentado mal o que a leva a andar mais fraquinha…Pelo menos enquanto lá estivemos ainda comeu um iogurte.
Por vezes a conversa não é muito fácil pois os problemas auditivos da Tia Olívia já são grandes, o que dificulta uma conversa mais fluente. Deixamo-la na companhia da vizinha, que por lá ficou a arranjar a casa.
Ao chegar a casa da Tia Carminda ela parecia já estar à nossa espera…estava bem disposta e fartou-se de cantar. Vir passear cá para fora é que não, pois estava muito desagradável. O encontro foi quase todo a tirar a letra da música que com maior ou menor dificuldade, mais lógica ou menos lógica lá ficou registada no telemóvel do Jorge. As aventuras amorosas do carvoeiro era o tema da música…podia não dar um “Gremy” mas tinha ritmo!!! A hora estava adiantada e tínhamos de ir embora, não sem antes a Tia Carminda quase nos obrigar a comer qualquer coisa, lá se trouxe umas peças de fruta e fomos embora.
Siga para Basseiros...passámos primeiro em Candemil para dar boleia ao grupo que lá estava.
Mais um dia nas Aldeias…com amizade e serviço.
As nossas avozinhas emprestadas não dependem de nós, mas as nossas visitas quinzenais alegram um pouco mais as suas vidas de solidão. Diferente de outros serviços de voluntariado, o que levamos não se come…não se bebe ou se veste…apenas se sente e se vive!
Façamos então este serviço com alegria que não é mais que … “levar mais um pouco de vida a vidas já tão vividas…”
Frederico Faria | Ansiães
sexta-feira, abril 17, 2009
Crónica Aldeias - 21.03.2009
Uma tarde em Bustelo
Mais um Sábado, mais uma visita à pacata aldeia de Bustelo. Conto desta vez com a companhia do Jorge e da Cláudia que “acudiram” de pronto, mal souberam do contratempo que deixou em terra a minha colega de equipa. O dia faz jus ao início da Primavera: céu azul e um sol quente e brilhante. Bom prenúncio!
Hesitamos na 1ª visita. A D. Pedra não tem estado e até já tínhamos especulado se andava a fugir de nós (eu, pelo menos, nunca a tinha conhecido em quase em um ano de visitas). Decidimos tentar mais uma vez e… tivemos sorte! Estava na casa da sobrinha, mesmo em frente à dela, e recebeu-nos com simpatia, falando imenso da família (com quem tem sempre estado nos últimos Sábados das visitas). O Jorge, o único que já a tinha visitado, ficou pasmado! Nunca a tinha visto tão bem disposta e com tão boa relação com a família… Um pequeno milagre para início de tarde!!!
Seguimos e encontramos a D. Celeste que regressava a casa com água fresca da fonte. Foi bom falar com ela, sempre simpática e atenta. Pareceu-nos em forma!
Mais uns metros e somos chegados a casa da D. Fernanda. Não estava nem ali nem na sua horta. Soubemos mais tarde que estava num campo mais abaixo a plantar umas batatas. Com 70 e tal anos… Dá que pensar não é?
Continuamos rumo a casa do casal Aurélio e Emília. Ela sempre de sorriso aberto; ele, um vivaço nos seus 80 anos, sempre pronto a discutir a actualidade (menos futebol que o Benfica não ajuda…). E resume tudo num dos provérbios do seu longo reportório: “lá em cima manda Cristo; cá em baixo manda isto” (o dinheiro bem entendido)! Saímos bem dispostos e com pena de não poder prolongar a conversa.
Para terminar, a D. Maria. Domina a paisagem de Bustelo sentada à varanda na sua cadeira de rodas. Nada escapa aos seus olhos vivos e tem muitas histórias para contar. Como disse o Jorge, nem é preciso falar muito, a D. Maria faz as despesas da conversa, a uma velocidade que nos deixa a pensar o que seria se pudesse caminhar nas ruas da sua aldeia. Que reboliço!
E pronto, mais uma tarde cheia em Bustelo! Os colegas regressam das outras aldeias e juntamo-nos a eles de volta ao Porto… com um sorriso nos lábios.
Missão cumprida!
Nuno Afonso
Mais um Sábado, mais uma visita à pacata aldeia de Bustelo. Conto desta vez com a companhia do Jorge e da Cláudia que “acudiram” de pronto, mal souberam do contratempo que deixou em terra a minha colega de equipa. O dia faz jus ao início da Primavera: céu azul e um sol quente e brilhante. Bom prenúncio!
Hesitamos na 1ª visita. A D. Pedra não tem estado e até já tínhamos especulado se andava a fugir de nós (eu, pelo menos, nunca a tinha conhecido em quase em um ano de visitas). Decidimos tentar mais uma vez e… tivemos sorte! Estava na casa da sobrinha, mesmo em frente à dela, e recebeu-nos com simpatia, falando imenso da família (com quem tem sempre estado nos últimos Sábados das visitas). O Jorge, o único que já a tinha visitado, ficou pasmado! Nunca a tinha visto tão bem disposta e com tão boa relação com a família… Um pequeno milagre para início de tarde!!!
Seguimos e encontramos a D. Celeste que regressava a casa com água fresca da fonte. Foi bom falar com ela, sempre simpática e atenta. Pareceu-nos em forma!
Mais uns metros e somos chegados a casa da D. Fernanda. Não estava nem ali nem na sua horta. Soubemos mais tarde que estava num campo mais abaixo a plantar umas batatas. Com 70 e tal anos… Dá que pensar não é?
Continuamos rumo a casa do casal Aurélio e Emília. Ela sempre de sorriso aberto; ele, um vivaço nos seus 80 anos, sempre pronto a discutir a actualidade (menos futebol que o Benfica não ajuda…). E resume tudo num dos provérbios do seu longo reportório: “lá em cima manda Cristo; cá em baixo manda isto” (o dinheiro bem entendido)! Saímos bem dispostos e com pena de não poder prolongar a conversa.
Para terminar, a D. Maria. Domina a paisagem de Bustelo sentada à varanda na sua cadeira de rodas. Nada escapa aos seus olhos vivos e tem muitas histórias para contar. Como disse o Jorge, nem é preciso falar muito, a D. Maria faz as despesas da conversa, a uma velocidade que nos deixa a pensar o que seria se pudesse caminhar nas ruas da sua aldeia. Que reboliço!
E pronto, mais uma tarde cheia em Bustelo! Os colegas regressam das outras aldeias e juntamo-nos a eles de volta ao Porto… com um sorriso nos lábios.
Missão cumprida!
Nuno Afonso
segunda-feira, abril 13, 2009
Crónica da visita aos imigrantes - 08.03.2009
No dia 8 de Março decorreu mais uma visita à UHSA . Fomos quatro: eu, a Sónia, a Ana e a Katy. À chegada pareceu complicado estabelecer interacção. Estavámos poucas e o grupo era grande e constituído quase só por homens. Começámos a cantar músicas tradicionais portuguesas e todos prestaram atenção e até cantarolaram o refrão. Depois alguns deles cantaram músicas dos seus países, o que foi um momento muito especial de partilha. De seguida jogámos quase todos Uno. À medida que cada um ia terminando o jogo, conversámos com alguns dos imigrantes que contaram histórias de vida. Como se celebrava o dia da Mulher oferecemos uma flor a todas que lá estavam.
Perde-se a noção do tempo e acabámos por sair já tarde com as despedidas de reconhecido agradecimento e sorrisos que fazem valer a pena o esforço de continuar apesar da tristeza de se saber do encerramento.
Amélia
Perde-se a noção do tempo e acabámos por sair já tarde com as despedidas de reconhecido agradecimento e sorrisos que fazem valer a pena o esforço de continuar apesar da tristeza de se saber do encerramento.
Amélia
quarta-feira, abril 08, 2009
Crónica da visita aos imigrantes - 05.04.2009
“Vocês vêm e trazem alegria mas depois vão e a gente fica mais triste ainda”… Foi com estas palavras, emolduradas por um sorriso e adocicadas por um sotaque brasileiro, que deixamos a UHSA no último Domingo… Palavras que traduzem na perfeição aquilo que nós próprias sentimos durante as 3 horas que ali passamos e, depois, nos tempos indeterminados que levamos a ‘digerir’ tudo aquilo que ali vivemos…Foram só 180 minutos, mas durante esses (sempre tão curtos quanto irrepetíveis) momentos passamos o horror de uma guerra sem aviso, atravessamos um mar debaixo de um camião, sentimos na pele o arrepio de um sonho de uma vida que acaba num instante só… Como em alguns segundos vidas podem mudar… Como o tempo é uma coisa tão misteriosa quanto a vida, capaz de nos unir em apenas algumas palavras… Foi uma tarde de conversas profundas, de palavras sentidas, de histórias de medo e esperança, de rostos marcados com cicatrizes e sorrisos, olhares tocados pela revolta mas sem qualquer sombra de ressentimento… O talento do ‘Jr’, as aventuras dos marroquinos, as palavras de sentido agradecimento do ‘gangsta’ angolano, a alegria estampada na cara das croatas na sua ‘table dance’, os olhares apaixonados dos meninos indianos, a simpatia constante do senhor palestiniano… Quem dera que os pudéssemos levar a todos connosco para um lugar onde as fronteiras não existam…De cada vez que passamos aquelas portas rumo à ‘nossa vida’ deixamos sempre um bocadinhos da nossa alma desfeita pela maldade de uma civilização onde um papel vale mais que um nome, o cumprimento da lei mais que uma vida…Este foi um daqueles dias…em que tudo vale a pena mas a única coisa que queremos se afirma como algo que ‘não é possível’: mudar o mundo…
Ana Pinho
Ana Pinho
sexta-feira, abril 03, 2009
sessão de acolhimento / esclarecimento a novos voluntários
No próximo dia 07 de Abril pelas 21h30, no CREU, haverá uma sessão de acolhimento / esclarecimento a novos voluntários que pretendam conhecer melhor o FASRondas, e quem sabe integrar o grupo!
Se estiveres interessado em comparecer envia-nos um e-mail para:
fasrondas@gmail.com
Aparece!
Se estiveres interessado em comparecer envia-nos um e-mail para:
fasrondas@gmail.com
Aparece!
segunda-feira, março 30, 2009
Crónica da visita à UHSA - 22.03.2009
Às vezes saímos da visita com um aperto cá dentro, com o coração tão pequenino que até dói. Foi o que aconteceu na última visita à Unidade Habitacional de Santo António (UHSA). Mais de 20 utentes, a maioria homens. Cada um com a sua história de vida: uma brasileira conta que esteve cá 4 anos, tem um namorado "ele diz que pr'ó ano me vai visitar ao Brasil…será que vai?" pergunta-se pouco crente. Um marroquino conta como fugiu, sabe que brevemente vai ser libertado e não tem trabalho: apetece-nos ajudar, arranjar alojamento, trabalho.
Saímos a pensar em cada um. O coração apertado. E eu não faço nada, não faço mais nada além desta curta visita? E se arranjássemos um trabalho para o Rax? No dia seguinte a Cláudia telefonou à responsável pelo Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados, nosso contacto dentro da UHSA. Ficámos a saber que ao Rax já tinha sido proposto um trabalho, mas não quis, não quer um emprego. Arranjar empregos não é a nossa tarefa, ser voluntário não é pensar que vamos mudar o mundo, ser voluntário não é ser voluntarioso. Mas foi bom saber que há alguém lá dentro cuja função é ajudar os detidos, que conhece cada um pelo nome e sabe a sua história. O nosso papel ali é procurar ajudar a passar uma boa tarde de domingo. Parece pouco? Talvez. Conseguimos? Acredito que sim. Mas o que tenho a certeza é que estas visitas fazem mudar algo dentro de mim, algo que muda para melhor.
Ana Aguiar
Saímos a pensar em cada um. O coração apertado. E eu não faço nada, não faço mais nada além desta curta visita? E se arranjássemos um trabalho para o Rax? No dia seguinte a Cláudia telefonou à responsável pelo Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados, nosso contacto dentro da UHSA. Ficámos a saber que ao Rax já tinha sido proposto um trabalho, mas não quis, não quer um emprego. Arranjar empregos não é a nossa tarefa, ser voluntário não é pensar que vamos mudar o mundo, ser voluntário não é ser voluntarioso. Mas foi bom saber que há alguém lá dentro cuja função é ajudar os detidos, que conhece cada um pelo nome e sabe a sua história. O nosso papel ali é procurar ajudar a passar uma boa tarde de domingo. Parece pouco? Talvez. Conseguimos? Acredito que sim. Mas o que tenho a certeza é que estas visitas fazem mudar algo dentro de mim, algo que muda para melhor.
Ana Aguiar
domingo, março 29, 2009
3ª Crónica das Famílias - Março de 2009
Dia 21 de Março, início da Primavera.
Na passada quarta feira, véspera do Dia do Pai, tivemos a nossa reunião mensal, que correu especialmente bem dada a amável presença de 3 dos nossos casos de família acompanhados. O Sr. F., o ZM1 e o M. foram verdadeiros protagonistas e mestres nos testemunhos simples, genuínos e transparentes que deram, e nas palavras e emoções que transmitiram.
Nesse mesmo dia uma voluntária nova, que passou por este blog, resolveu aparecer para "espreitar" o funcionamento do grupo e integrou a nossa vertente! Mais uma ajuda em boa hora, numa fase de algumas desistências por indisponibilidades várias e pessoas a precisarem sempre de algum tipo de conforto…
Pegando no ponto de situação logística aproveito então para informar que, ao dia de hoje, são 13 as "flores da nossa estação" que acompanhamos com cerca de 30 "colaboradores de Jardineiro" vestidos de voluntários e 10 "adubadores" em apadrinhamento.
Nesse Jardim imenso, há uma certa flôr chamada B. de quem vos falarei hoje, entre o voo das andorinhas.
A B. tem hoje 26 anos e continua no seu processo de tratamento e reconstrução pessoal e social, iniciado connosco há cerca de 2 anos e meio atrás. Decorria o ano de 2005 quando, numa das viagens de ronda dominical, começamos a estabelecer algum contacto com ela; contacto esse que foi sendo aprofundado nos tempos seguintes como quem rega, protege do vento, ou deixa entrar os primeiros raios de sol. Depois de algumas lutas complicadas e primeiros desafios ultrapassados a B. entusiasmou-se verdadeiramente com a ideia de tentar mudar de vida, mais uma vez… Em 2007 aceitou iniciar um processo de desintoxicação com a força de vontade interior de quem já viveu o que muitos adultos, felizmente, nunca viverão. Com esse passo, ainda em processo, outros bagos foram surgindo e sendo colhidos, devagar, devagarinho... Uma família retoma, ao de leve, a ínfima presença de quem avança ainda desconfiado; um ente querido desabrocha suave no contacto e arrisca votos de fé no novo ciclo; um distante transporte ganha contornos de concretização futura deixado no canto a velha cadeira de rodas; o corpo torna-se mais composto e robusto; o olhar ganhando foco; um dia "request" porque houve compromisso e verdade… Como a alternância das estações os passinhos da B. têm sido feitos de ciclos de avanços "em círculos", onde "à frente" e "atrás" se tocam inúmeras vezes em linhas que não são rectas e desenhos que não se fazem dessas certezas e objectividades com que algumas vidas humanas são estabelecidas. A B. tem o seu próprio clima, o seu próprio tempo, a usa própria estação.
No final do ano de 2008 algumas alterações no estabelecimento onde está em tratamento, bem como na vida dos outros utentes que a rodeavam, proporcionou nova meteorologia - desta vez mais chuvosa, podemos dizê-lo com segurança… - condizendo com a estação invernal que decorria pela altura. O seu comportamento tomou posturas menos correctas, foi necessário algum espaço para a reflexão, para a hibernação.
Actualmente mudou de vaso, mantendo-se no mesmo jardim. Continua em tratamento na mesma instituição mas numa outra zona. Essa mudança impôs-nos, mais uma vez, um tempo de espera e necessária distância. A vida é toda ela feita destes ritmos… Nós é que muitas vezes teimamos em relógios pessoais que de pouco ou nada servem. As estações são senhoras do seu próprio tempo e ora é Primavera… ora chove torrencialmente. Nelas continuamos presentes, amando-a diariamente. Na sua árdua terra em que tem sido raiz em busca de humidade e aprofundamento, o Calor é Silêncio… e será sempre no seio mais íntimo desse chilrear interior que a B. poderá florir verdadeiramente.
Na passada quarta feira, véspera do Dia do Pai, tivemos a nossa reunião mensal, que correu especialmente bem dada a amável presença de 3 dos nossos casos de família acompanhados. O Sr. F., o ZM1 e o M. foram verdadeiros protagonistas e mestres nos testemunhos simples, genuínos e transparentes que deram, e nas palavras e emoções que transmitiram.
Nesse mesmo dia uma voluntária nova, que passou por este blog, resolveu aparecer para "espreitar" o funcionamento do grupo e integrou a nossa vertente! Mais uma ajuda em boa hora, numa fase de algumas desistências por indisponibilidades várias e pessoas a precisarem sempre de algum tipo de conforto…
Pegando no ponto de situação logística aproveito então para informar que, ao dia de hoje, são 13 as "flores da nossa estação" que acompanhamos com cerca de 30 "colaboradores de Jardineiro" vestidos de voluntários e 10 "adubadores" em apadrinhamento.
Nesse Jardim imenso, há uma certa flôr chamada B. de quem vos falarei hoje, entre o voo das andorinhas.
A B. tem hoje 26 anos e continua no seu processo de tratamento e reconstrução pessoal e social, iniciado connosco há cerca de 2 anos e meio atrás. Decorria o ano de 2005 quando, numa das viagens de ronda dominical, começamos a estabelecer algum contacto com ela; contacto esse que foi sendo aprofundado nos tempos seguintes como quem rega, protege do vento, ou deixa entrar os primeiros raios de sol. Depois de algumas lutas complicadas e primeiros desafios ultrapassados a B. entusiasmou-se verdadeiramente com a ideia de tentar mudar de vida, mais uma vez… Em 2007 aceitou iniciar um processo de desintoxicação com a força de vontade interior de quem já viveu o que muitos adultos, felizmente, nunca viverão. Com esse passo, ainda em processo, outros bagos foram surgindo e sendo colhidos, devagar, devagarinho... Uma família retoma, ao de leve, a ínfima presença de quem avança ainda desconfiado; um ente querido desabrocha suave no contacto e arrisca votos de fé no novo ciclo; um distante transporte ganha contornos de concretização futura deixado no canto a velha cadeira de rodas; o corpo torna-se mais composto e robusto; o olhar ganhando foco; um dia "request" porque houve compromisso e verdade… Como a alternância das estações os passinhos da B. têm sido feitos de ciclos de avanços "em círculos", onde "à frente" e "atrás" se tocam inúmeras vezes em linhas que não são rectas e desenhos que não se fazem dessas certezas e objectividades com que algumas vidas humanas são estabelecidas. A B. tem o seu próprio clima, o seu próprio tempo, a usa própria estação.
No final do ano de 2008 algumas alterações no estabelecimento onde está em tratamento, bem como na vida dos outros utentes que a rodeavam, proporcionou nova meteorologia - desta vez mais chuvosa, podemos dizê-lo com segurança… - condizendo com a estação invernal que decorria pela altura. O seu comportamento tomou posturas menos correctas, foi necessário algum espaço para a reflexão, para a hibernação.
Actualmente mudou de vaso, mantendo-se no mesmo jardim. Continua em tratamento na mesma instituição mas numa outra zona. Essa mudança impôs-nos, mais uma vez, um tempo de espera e necessária distância. A vida é toda ela feita destes ritmos… Nós é que muitas vezes teimamos em relógios pessoais que de pouco ou nada servem. As estações são senhoras do seu próprio tempo e ora é Primavera… ora chove torrencialmente. Nelas continuamos presentes, amando-a diariamente. Na sua árdua terra em que tem sido raiz em busca de humidade e aprofundamento, o Calor é Silêncio… e será sempre no seio mais íntimo desse chilrear interior que a B. poderá florir verdadeiramente.
Raquel Henriques
sexta-feira, março 27, 2009
"Mankind Is No Island"
O Tropfest e o maior festival de curtas metragens do mundo. Começou há 17 anos atrás em Sydney e no ano passado teve a sua primeira edição em Nova York. O vencedor do ano passado foi este filme que foi totalmente filmado com um telemóvel. O seu orçamento foi de 40 dólares (cerca de 30 euros)!
sexta-feira, março 20, 2009
Crónica das Aldeias - 07.03.2009
Sábado, um sol maravilhoso que nos aquece o coração! Partida rumo às aldeias, para visitar as nossas "senhoras" que poderiam ser nossas avós!
Paragem em Candemil, o nosso local de almoço nestes dias de Inverno, instalámo-nos confortavelmente na varanda da casa da paróquia a saborear a bela sopa de espargos enquanto a conversa fluía entre todos, animada pelos raios de sol.
Partimos em direcção às aldeias, dividimo-nos, para mais tarde, nos encontrarmos em Bustelo e partilharmos a nossa tarde e a nossa vivência.
Com um até já a todos, vou para Basseiros, uma aldeia pequena e simpática, as flores já começam a aparecer, ouvem-se os pássaros chilrear, tudo parece começar a florescer…
Vou até à casa da D. Deolinda que encontro sentada à porta ao sol, não me reconheceu, mas após uma breve explicação identificou-me (afinal só lá tinha estado uma vez há 15 dias atrás), falou-me da doença que a afecta e da sua fragilidade e debilidade física, mas aos poucos lá começou a sorrir e a sentir-se de cada vez mais à vontade, e eu a agradecer aquele desbloqueio.
Mas, entretanto uma agradável surpresa, a Amália disponibilizou-se para fazer as visitas comigo, uma jovem de 17 anos que traz sempre um sorriso no rosto e uma palavra de carinho e conforto para todos!
Despedimo-nos da D. Deolinda, não antes de termos dado dois dedos de conversa com a D. Celeste, que é vizinha e vem sempre receber-nos com um beijo e um sorriso, nestes momentos sinto que existe uma partilha muito genuína entre o ser humano, mesmo quando não conhecemos muito bem as pessoas.
A D. Glória não estava em casa, pelo que fomos ter com a D. Hermínia, que nos recebeu de braços abertos e nos convidou a entrar, falámos sobre os seus filhos, netos, a sua vida, partilhámos também um pouco das nossas vidas com esta senhora de ar feliz e bem com a vida, e continuámos animadas pelos sorrisos que íamos recebendo.
Subimos até à casa da D. Conceição que estava ao sol, e ficou muito feliz ao ver-nos, estava à nossa espera, perguntou pelas outras meninas, como estavam, porque não tinham vindo. E resolveu oferecer-nos uma pulseirinha que tinha comprado numa das suas visitas a Amarante, enquanto dizia "não é nada de especial", o objecto pode não ser especial, mas o gesto é generoso e carinhoso, por parte daquela senhora dos seus 80 anos, que numa das suas idas ao médico a Amarante se lembra das meninas que a vão visitar ao sábado. São estes pequenos, grandes gestos que nos enchem o coração, e nos fazem acreditar que estas visitas são um dar e receber constante, por vezes, sinto que recebo muito mais do aquilo que dou!
Depois de um beijinho, lá vamos encosta acima rumo à casa da D. Dulce, que está rodeada pelo marido, pela filha e pelo neto, mais dois dedos de conversa e vamos embora.
A Amália e eu despedimo-nos, e vou ter ao ponto de encontro com o resto do grupo.
Enquanto caminho e olho para aquela paisagem maravilhosa sinto-me feliz, pela tarde, pela forma como as pessoas me receberam, pela preciosa ajuda da Amália, pela pulseirinha da D. Conceição, e por todos os abraços e sorrisos que fui recebendo ao longo daquela tarde e que me vão tornando mais enriquecida, mais consciente, mais atenta, e, especialmente mais grata pela vida de todas estas pessoas que cruzam a minha de formas tão diferentes mas tão boas e tão cheias de alegria e generosidade.
No final da tarde, já no regresso a casa sinto que tudo faz sentido, e trago a esperança de que posso ser um bocadinho melhor, com estes pequenos presentes que vou recebendo ao longo da minha vida, e dou graças por isso!
Sara Gonçalves | Aldeia de Basseiros
Paragem em Candemil, o nosso local de almoço nestes dias de Inverno, instalámo-nos confortavelmente na varanda da casa da paróquia a saborear a bela sopa de espargos enquanto a conversa fluía entre todos, animada pelos raios de sol.
Partimos em direcção às aldeias, dividimo-nos, para mais tarde, nos encontrarmos em Bustelo e partilharmos a nossa tarde e a nossa vivência.
Com um até já a todos, vou para Basseiros, uma aldeia pequena e simpática, as flores já começam a aparecer, ouvem-se os pássaros chilrear, tudo parece começar a florescer…
Vou até à casa da D. Deolinda que encontro sentada à porta ao sol, não me reconheceu, mas após uma breve explicação identificou-me (afinal só lá tinha estado uma vez há 15 dias atrás), falou-me da doença que a afecta e da sua fragilidade e debilidade física, mas aos poucos lá começou a sorrir e a sentir-se de cada vez mais à vontade, e eu a agradecer aquele desbloqueio.
Mas, entretanto uma agradável surpresa, a Amália disponibilizou-se para fazer as visitas comigo, uma jovem de 17 anos que traz sempre um sorriso no rosto e uma palavra de carinho e conforto para todos!
Despedimo-nos da D. Deolinda, não antes de termos dado dois dedos de conversa com a D. Celeste, que é vizinha e vem sempre receber-nos com um beijo e um sorriso, nestes momentos sinto que existe uma partilha muito genuína entre o ser humano, mesmo quando não conhecemos muito bem as pessoas.
A D. Glória não estava em casa, pelo que fomos ter com a D. Hermínia, que nos recebeu de braços abertos e nos convidou a entrar, falámos sobre os seus filhos, netos, a sua vida, partilhámos também um pouco das nossas vidas com esta senhora de ar feliz e bem com a vida, e continuámos animadas pelos sorrisos que íamos recebendo.
Subimos até à casa da D. Conceição que estava ao sol, e ficou muito feliz ao ver-nos, estava à nossa espera, perguntou pelas outras meninas, como estavam, porque não tinham vindo. E resolveu oferecer-nos uma pulseirinha que tinha comprado numa das suas visitas a Amarante, enquanto dizia "não é nada de especial", o objecto pode não ser especial, mas o gesto é generoso e carinhoso, por parte daquela senhora dos seus 80 anos, que numa das suas idas ao médico a Amarante se lembra das meninas que a vão visitar ao sábado. São estes pequenos, grandes gestos que nos enchem o coração, e nos fazem acreditar que estas visitas são um dar e receber constante, por vezes, sinto que recebo muito mais do aquilo que dou!
Depois de um beijinho, lá vamos encosta acima rumo à casa da D. Dulce, que está rodeada pelo marido, pela filha e pelo neto, mais dois dedos de conversa e vamos embora.
A Amália e eu despedimo-nos, e vou ter ao ponto de encontro com o resto do grupo.
Enquanto caminho e olho para aquela paisagem maravilhosa sinto-me feliz, pela tarde, pela forma como as pessoas me receberam, pela preciosa ajuda da Amália, pela pulseirinha da D. Conceição, e por todos os abraços e sorrisos que fui recebendo ao longo daquela tarde e que me vão tornando mais enriquecida, mais consciente, mais atenta, e, especialmente mais grata pela vida de todas estas pessoas que cruzam a minha de formas tão diferentes mas tão boas e tão cheias de alegria e generosidade.
No final da tarde, já no regresso a casa sinto que tudo faz sentido, e trago a esperança de que posso ser um bocadinho melhor, com estes pequenos presentes que vou recebendo ao longo da minha vida, e dou graças por isso!
Sara Gonçalves | Aldeia de Basseiros
sábado, março 14, 2009
2ª Crónica das Famílias - Fevereiro de 2009
Com um ligeiro atraso, continuo o caminho lançado pela Raquel, com o arranque deste novo ano, de darmos a conhecer um pouco mais o que faSemos nas Famílias.
Estamos a “apadrinhar” 5 casos, com novas voluntárias a começarem a dar os primeiros passos em todos eles. O apadrinhamento é o nome que damos ao acompanhamento que fazemos dos novos voluntários, quer seja para começar casos novos (dois neste momento), quer seja para melhor ajudar o caso em questão, quer para fazer transição entre pessoas que acompanham um caso.
Este é o relato de um caso com alto e baixos, com momentos de passos em frente e alegrias e também passos atrás e desilusões, acompanhando o Paulo (nome fictício) na sua luta para reconstruir a sua vida.
Falemos então do Paulo, jovem de trinta e qualquer coisa anos, que a ronda dos Aliados conheceu junto ao Teatro S. João no Outono de 2006. Na altura falou-se apenas ao de leve (ainda mais que ainda não o conhecíamos) em desintoxicação, e ele não se mostrou reticente, ou evasivo como tantas vezes acontece, quando as pessoas ainda não se decidiram se querem tentar virar as costas à droga ou não.
Ficou o compromisso de recolher informação e ver em que poderíamos ajudar. No domingo seguinte, falou-se directamente com um técnico amigo do FAS (que é sempre uma grande ajuda) e marcou-se encontro para a manhã seguinte às 8h.
Assim começou este caso de Famílias, nesse dia em que o Paulo lá estava à espera nervoso e com receio. Passadas 4 horas saía do CAT integrado num programa de Metadona.
Nos primeiros tempos não se manteve contacto pois ainda demorou um mês e meio a arranjar um quarto, e por isso mudava sempre de local, a pensar na sua vida futura e que isso facilitaria a sua reintegração.
Passados alguns meses conseguiu uma primeira oportunidade de trabalho, mas que não se manteve durante muito tempo.
Após algum tempo reataram-se os laços com a família, em que o voluntário que o acompanha foi com ele visitar a família, foi um passo importante!
Comemorou-se o aniversário do Paulo com um coração cheio, pela primeira vez desde alguns anos, fora da rua.
Mais tarde entrou uma nova voluntária para ajudar neste caso, diminuindo os tempos de solidão profunda do Paulo que estava longe da família e sem qualquer apoio, sem ser o da Segurança Social e o do FAS.
Depois apareceu uma segunda oportunidade de trabalho e parecia que o céu era o limite! Mas durou pouco… Sete semanas mais tarde voltava-se à procura de trabalho, e o pior momento foi quando um mês mais tarde, umas confusões com as pessoas de onde dormia o fizeram voltar a dormir na rua, o seu pior pesadelo! Em dois meses, foi-se da grande alegria pelo Paulo à angústia profunda… Muitos telefonemas e conversas depois, apareceu um novo quarto um mês mais tarde.
A morte de um familiar com quem tinha uma ligação forte foi outro momento difícil e que lentamente provocou uma mudança, surgiu a vontade de internamento prolongado para desintoxicação e o mesmo 3 meses depois foi aprovado…
E… a história pára aqui, aguarda-se os próximos passos, com muita esperança!
Os dois voluntários empenham-se muito neste caso já com história, criando uma rede de contactos habituais com as pessoas com quem o Paulo interage, isso ajuda muito e é muito importante em alturas difíceis. Assim são pivots de ajuda e um pouco de família.
Já ajudaram em mudanças de quarto umas quatro vezes e assistiram a conquista e a perda de dois empregos, e continuam a acreditar no Paulo e a querer estar lá, para o que der e vier.
Jorge Mayer (subcoordenação Famílias)
Estamos a “apadrinhar” 5 casos, com novas voluntárias a começarem a dar os primeiros passos em todos eles. O apadrinhamento é o nome que damos ao acompanhamento que fazemos dos novos voluntários, quer seja para começar casos novos (dois neste momento), quer seja para melhor ajudar o caso em questão, quer para fazer transição entre pessoas que acompanham um caso.
Este é o relato de um caso com alto e baixos, com momentos de passos em frente e alegrias e também passos atrás e desilusões, acompanhando o Paulo (nome fictício) na sua luta para reconstruir a sua vida.
Falemos então do Paulo, jovem de trinta e qualquer coisa anos, que a ronda dos Aliados conheceu junto ao Teatro S. João no Outono de 2006. Na altura falou-se apenas ao de leve (ainda mais que ainda não o conhecíamos) em desintoxicação, e ele não se mostrou reticente, ou evasivo como tantas vezes acontece, quando as pessoas ainda não se decidiram se querem tentar virar as costas à droga ou não.
Ficou o compromisso de recolher informação e ver em que poderíamos ajudar. No domingo seguinte, falou-se directamente com um técnico amigo do FAS (que é sempre uma grande ajuda) e marcou-se encontro para a manhã seguinte às 8h.
Assim começou este caso de Famílias, nesse dia em que o Paulo lá estava à espera nervoso e com receio. Passadas 4 horas saía do CAT integrado num programa de Metadona.
Nos primeiros tempos não se manteve contacto pois ainda demorou um mês e meio a arranjar um quarto, e por isso mudava sempre de local, a pensar na sua vida futura e que isso facilitaria a sua reintegração.
Passados alguns meses conseguiu uma primeira oportunidade de trabalho, mas que não se manteve durante muito tempo.
Após algum tempo reataram-se os laços com a família, em que o voluntário que o acompanha foi com ele visitar a família, foi um passo importante!
Comemorou-se o aniversário do Paulo com um coração cheio, pela primeira vez desde alguns anos, fora da rua.
Mais tarde entrou uma nova voluntária para ajudar neste caso, diminuindo os tempos de solidão profunda do Paulo que estava longe da família e sem qualquer apoio, sem ser o da Segurança Social e o do FAS.
Depois apareceu uma segunda oportunidade de trabalho e parecia que o céu era o limite! Mas durou pouco… Sete semanas mais tarde voltava-se à procura de trabalho, e o pior momento foi quando um mês mais tarde, umas confusões com as pessoas de onde dormia o fizeram voltar a dormir na rua, o seu pior pesadelo! Em dois meses, foi-se da grande alegria pelo Paulo à angústia profunda… Muitos telefonemas e conversas depois, apareceu um novo quarto um mês mais tarde.
A morte de um familiar com quem tinha uma ligação forte foi outro momento difícil e que lentamente provocou uma mudança, surgiu a vontade de internamento prolongado para desintoxicação e o mesmo 3 meses depois foi aprovado…
E… a história pára aqui, aguarda-se os próximos passos, com muita esperança!
Os dois voluntários empenham-se muito neste caso já com história, criando uma rede de contactos habituais com as pessoas com quem o Paulo interage, isso ajuda muito e é muito importante em alturas difíceis. Assim são pivots de ajuda e um pouco de família.
Já ajudaram em mudanças de quarto umas quatro vezes e assistiram a conquista e a perda de dois empregos, e continuam a acreditar no Paulo e a querer estar lá, para o que der e vier.
Jorge Mayer (subcoordenação Famílias)
sexta-feira, fevereiro 27, 2009
Crónica das Aldeias - 21.02.2009
Mais um sábado rumo às “nossas” aldeias…
Desta vez mais alegres, novas chegadas, novos voluntários.
A par do almoço, partilha-se um pouco de nós, um pouco do sol, antes de nos dividirmos.
Eu e o Diogo ficamos em Candemil.
“Ando devagar porque já tive pressa, levo este sorriso porque já chorei demais…”
Lembro-me desta música enquanto passeamos com a D. Aurélia. Passo certo, pelos altos e baixos do caminho, cara alegre, boas palavras, como se o que não é bom pesasse demais para ser carregado. Vai falando, contando episódios dos seus noventa e três anos, perguntando pelos nossos pais, nossos avós, dando sustento à verdade de “recebe mais, quem mais partilha”! E nós vamos também partilhando. “Sempre fui bem disposta, mas às vezes as pessoas não sabiam e só percebiam quando falavam mais comigo!”
Findas as voltas, rumamos à próxima casa, D. Alda. Pelo caminho encontrámos a D. Maria do Carmo, a aproveitar o sol. Depois de a sentarmos melhor, ficou um “até já”.
A gripe ainda não foi de vez. D. Alda levanta-se num ápice, fazendo a oferta de praxe - um cházinho. A cara vai-se alegrando, entre mágoas, choros e cantigas tudo se leva, a quem foi brindado com a inteligência, a acutilância e o humor. Não se esquecem os que vão passando…
Al – O João está bom? Qual é a morada dele? E o D. João II?
Passa-se dos contratempos do Natal, para as cantigas e a conversa rola…
Al – Acho que os cegos têm muito jeito para a música!
Aur – É para apagar a nostalgia. (…)
Nesta visita ouviu-se Frei Hermano da Câmara (FHC), a cassete já gasta ainda alegra. Lembram, da rádio, histórias que nos vão contando como parte do seu dia.
Al – Numa entrevista, ouvi um repórter perguntar ao FHC: - “Não sente saudade do tempo dos bailes, de andar a tocar nos salões?”, FHC - “Nessa altura tinha muitos aplausos, mas chegava a casa e sentia-me muito só.”
E a propósito disso vai cantarolando “Entreguei-me todo a Cristo, nunca mais me sinto só”.
D. Maria do Carmo ainda lá estava, apesar do sol menos quente. Fomos para dentro de sua casa, à velocidade que o corpo deixa. Entretanto já somos cinco. Caras que se animam, trocas de palavras entre “tias” e “meninas”, aproximando histórias, acelerando a tarde.
Ficou um até breve, um novo brilho que trazemos e temos esperança de deixar.
A mim ficou uma de tantas canções que a cassete passou nessa tarde…
“As nossas capas
rotas, velhinhas
Todas negrinhas
Também no ar
São andorinhas
Que se preparam
Para emigrar.”
Isabel Teixeira Gomes | Aldeia de Candemil
Desta vez mais alegres, novas chegadas, novos voluntários.
A par do almoço, partilha-se um pouco de nós, um pouco do sol, antes de nos dividirmos.
Eu e o Diogo ficamos em Candemil.
“Ando devagar porque já tive pressa, levo este sorriso porque já chorei demais…”
Lembro-me desta música enquanto passeamos com a D. Aurélia. Passo certo, pelos altos e baixos do caminho, cara alegre, boas palavras, como se o que não é bom pesasse demais para ser carregado. Vai falando, contando episódios dos seus noventa e três anos, perguntando pelos nossos pais, nossos avós, dando sustento à verdade de “recebe mais, quem mais partilha”! E nós vamos também partilhando. “Sempre fui bem disposta, mas às vezes as pessoas não sabiam e só percebiam quando falavam mais comigo!”
Findas as voltas, rumamos à próxima casa, D. Alda. Pelo caminho encontrámos a D. Maria do Carmo, a aproveitar o sol. Depois de a sentarmos melhor, ficou um “até já”.
A gripe ainda não foi de vez. D. Alda levanta-se num ápice, fazendo a oferta de praxe - um cházinho. A cara vai-se alegrando, entre mágoas, choros e cantigas tudo se leva, a quem foi brindado com a inteligência, a acutilância e o humor. Não se esquecem os que vão passando…
Al – O João está bom? Qual é a morada dele? E o D. João II?
Passa-se dos contratempos do Natal, para as cantigas e a conversa rola…
Al – Acho que os cegos têm muito jeito para a música!
Aur – É para apagar a nostalgia. (…)
Nesta visita ouviu-se Frei Hermano da Câmara (FHC), a cassete já gasta ainda alegra. Lembram, da rádio, histórias que nos vão contando como parte do seu dia.
Al – Numa entrevista, ouvi um repórter perguntar ao FHC: - “Não sente saudade do tempo dos bailes, de andar a tocar nos salões?”, FHC - “Nessa altura tinha muitos aplausos, mas chegava a casa e sentia-me muito só.”
E a propósito disso vai cantarolando “Entreguei-me todo a Cristo, nunca mais me sinto só”.
D. Maria do Carmo ainda lá estava, apesar do sol menos quente. Fomos para dentro de sua casa, à velocidade que o corpo deixa. Entretanto já somos cinco. Caras que se animam, trocas de palavras entre “tias” e “meninas”, aproximando histórias, acelerando a tarde.
Ficou um até breve, um novo brilho que trazemos e temos esperança de deixar.
A mim ficou uma de tantas canções que a cassete passou nessa tarde…
“As nossas capas
rotas, velhinhas
Todas negrinhas
Também no ar
São andorinhas
Que se preparam
Para emigrar.”
Isabel Teixeira Gomes | Aldeia de Candemil
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