Famílias, Aldeias e Sem Abrigo estas são as nossas áreas de acção. Um grupo de jovens do Porto, que no CREU têm uma casa, lançam mãos aos desafios que lhes surgem.
quinta-feira, maio 28, 2009
Crónica Aldeias - 09.05.2009
Encontramo-nos no local e hora habitual e partimos rumo ao nosso destino.
O bom tempo proporcionou um piquenique atrás da igreja, e foi uma boa oportunidade para conhecer "um pouco" de cada pessoa do grupo.
A seguir ao almoço fomos até ao café e de seguida cada um dirigiu-se para a sua respectiva aldeia.
A minha aldeia é Basseiros e estou com a Antonieta (minha madrinha) e a Gina.
A primeira visita seria à D. Glória mas, assim como receávamos, não se encontrava em casa. Viemos mais tarde a saber, pela vizinhança, que tinha ido a um baptizado dos gémeos.
Continuamos então rumo à próxima visita e encontramos a D. Aurora e D. Deolinda cá fora a apanhar um solzito.
D. Maria não tive oportunidade de conhecer pois ainda se encontra acamada.
D. Deolinda muito pouco falou. Ao contrário, a D. Aurora tinha conversa para a tarde inteira.
Falou-nos do susto que apanhou quando tentaram arrombar a porta; dos bons momentos que passou em França assim como das suas habilidades em fazer croché (em velhos tempos).
Mostrou-nos os "tarrucos" que está a fazer (são umas meias grossas de lã feitas à mão, muito quentinhas para o inverno). E não consegue conter as lágrimas quando fala no seu marido, que já morreu há uns largos anos.
O tempo estava a escassear e por isso partimos para uma outra visita, à D. Conceição que, por sua vez, não se encontrava em casa.
Fomos então a casa da D. Arminda que também estava cá fora ao sol, com a sua família, incluindo a filha que tinha sido operada há pouco tempo. Após algum tempo de conversa, fomos ter com o restante grupo.
À ida, encontramos a D. Conceição que regressava do cemitério e que falava do seu descontentamento em não saber onde se encontrava o seu animal de estimação.
Como 1º dia, acho que correu muito bem e correspondeu às minhas expectativas.
Penso que, tal como a minha avó, as senhoras que visitamos são pessoas que gostam de conversar com jovens (desde desabafos a histórias da vida) e ficam ansiosas pela nossa próxima visita.
Ana Vareta Machado | Basseiros
terça-feira, maio 19, 2009
CRONICA RONDA DA BOAVISTA - 10.05.09
Carro lotado! Novas entradas!! Grandes mudanças na ronda da Boavista. Casamentos, emigrantes, temporadas no estrangeiro, faculdades tardias….
Saída de uns, entrada de outros!
Mas há algo que se mantém sempre, o amor gratuito aos outros. Aqueles a quem acompanhamos à três anos, que perguntam constantemente por cada um de nós. As saudades são muitas…
Partimos com este pensamento.
Primeira paragem D. G. Lá estava na paragem à nossa espera. Estava entusiasmada por se ter inscrito nas novas oportunidades. Continua sem emprego, às cabeçadas com a filha, com saudades dos netos. Chegada do autocarro, aviso de que o J.P. estava a ver um filme.
Lá fomos ter com o J.P. Continua sem ir ao centro de emprego. Em princípio vai viver para casa da amiga, uma senhora de sessenta e muitos anos que o tem ajudado desde o tempo em que andava pelas ruas caído, a recolher trocos para mais uma dose. Claro que reclamou por causa do saco, será sempre dos nossos sem-abrigo mais exigentes!! Não pode ser sumo de laranja nem de ananás, sugestão do João, levar qualquer coisa para o estômago da próxima visita! Estava relaxado, tinha ido à metadona.
Viramos a esquina e lá encontramos o Sr. A., feliz com o futebol. Mal chegamos avisou-nos logo dos anos que se estão a aproximar, 14 de Junho.
Seguimos para o lar, onde deixamos mais uma vez o pão.
Chegados ao Sr. G. lá nos contou a aventura de sexta. Um colega disse-lhe que lhe dava boleia, quando deu por ela já tinha rodado meia cidade e tinha ido parar a um pinhal. Não ganhou para o susto com a mulher a telefonar-lhe constantemente preocupada. Eram quatro da manhã quando chegou a casa. Solução, voltar a andar armado para qualquer eventualidade.
De partida lá lhe pedimos juízo.
Seguimos e paramos no Sr. Z. Já estava a dormir, não quis conversar, mas quis o saco. Tinha-nos dito à uns domingos a possibilidade de ir viver com um casal de senhores mais velhos, mas até agora não há novidades. Deixamo-lo.
Atravessamos e deparamo-nos com uma verdadeira pocilga. O sitio onde o Sr. A. Dorme está cada vez pior. Depois do último domingo o termos apanhado completamente bebido, este nem rasto.
Passamos na zona do convívio para deixarmos um saco que nos sobrava, quando vemos a ronda da Batalha a falar com um rapaz. Para nossa surpresa era o P. Já deve ter saído da prisão, vamos falar com a Batalha e saber o que ele lhes contou.
Partida para a ultima paragem. A nossa sem-abriga mais exigente de todos!! D. F. lá estava à nossa espera. Da casa não tem novidades. A assistente social que estava com o processo mudou-se e não passou a pasta. A nora tinha ido a Guimarães, já só faltam dois meses para o bebé nascer. No último domingo contou-nos que nunca tinha ido ao médico, desde que estava grávida, que não quer, nem precisa de ajuda. Não sabemos como é possível pensar em ter uma criança naquelas condições, mas estaremos cá para o que for preciso.
O Sr V lá acabou por se levantar e beber também um chá enquanto conversávamos um pouco.
A D.F. durante a semana apanhou mais um susto com os diabetes. Nada de novo.
Acabou mais um domingo, mais uma ronda, com todos juntos dentro do carro em mais uma partilha.
Benedita Salinas
terça-feira, abril 21, 2009
Crónica Aldeias - 04.04.2009
Hoje foi mais um dia de visitas, às nossas avozinhas emprestadas…
Como é costume saímos pelas 11h…todos bem dispostos e cheios de vontade de chegar a Candemil, para o famoso repasto atrás da Igreja…
Os quentes dias com que Março nos brindou deram lugar a um Abril mais frio e menos convidativo ao exterior…mas lá se almoçou com umas novidades …tortilha (é só pôr no micro) e um ananás cortado (que as senhoras do Pingo Doce preparam…) e uns saborosos bombons de Natal, Páscoa e quem sabe de Natal outra vez, e um bolinho caseiro para a sobremesa.
Pelas 14 horas fomos andando para as nossas aldeias, mas sem dispensar o cafezinho que sabe tão bem…pelo menos a alguns, e a casa de banho tão preciosa para outros.
Cada grupo seguiu para a sua aldeia…Ansiães já nos esperava assim como a Tia Rita, a Tia Olívia e a Tia Carminda.
Como de costume a primeira visita foi à Tia Rita que sempre animada…falou do seu festejo Pascal, do convite para o casamento da sua sobrinha (ao qual não quer ir nem arrastada!) entre muitas outras coisas. Durante a visita recebeu um telefonema do filho que despachou com rapidez, dando a desculpa que os seus amigos estavam com ela…As conversas iam surgindo até que nos tivemos de ir embora por causa do tempo que restava para visitar as nossas restantes Avozinhas.
A Tia Olívia estava cá fora na sua cadeira a apanhar os raios de Sol que iam aparecendo e desaparecendo. Tem andado com pouca força… o que faz parte dos seus 101 anos!
Mais tarde chegou a vizinha que lhe leva as refeições e que nos disse que a Tia Olivia se tem alimentado mal o que a leva a andar mais fraquinha…Pelo menos enquanto lá estivemos ainda comeu um iogurte.
Por vezes a conversa não é muito fácil pois os problemas auditivos da Tia Olívia já são grandes, o que dificulta uma conversa mais fluente. Deixamo-la na companhia da vizinha, que por lá ficou a arranjar a casa.
Ao chegar a casa da Tia Carminda ela parecia já estar à nossa espera…estava bem disposta e fartou-se de cantar. Vir passear cá para fora é que não, pois estava muito desagradável. O encontro foi quase todo a tirar a letra da música que com maior ou menor dificuldade, mais lógica ou menos lógica lá ficou registada no telemóvel do Jorge. As aventuras amorosas do carvoeiro era o tema da música…podia não dar um “Gremy” mas tinha ritmo!!! A hora estava adiantada e tínhamos de ir embora, não sem antes a Tia Carminda quase nos obrigar a comer qualquer coisa, lá se trouxe umas peças de fruta e fomos embora.
Siga para Basseiros...passámos primeiro em Candemil para dar boleia ao grupo que lá estava.
Mais um dia nas Aldeias…com amizade e serviço.
As nossas avozinhas emprestadas não dependem de nós, mas as nossas visitas quinzenais alegram um pouco mais as suas vidas de solidão. Diferente de outros serviços de voluntariado, o que levamos não se come…não se bebe ou se veste…apenas se sente e se vive!
Façamos então este serviço com alegria que não é mais que … “levar mais um pouco de vida a vidas já tão vividas…”
Frederico Faria | Ansiães
sexta-feira, abril 17, 2009
Crónica Aldeias - 21.03.2009
Mais um Sábado, mais uma visita à pacata aldeia de Bustelo. Conto desta vez com a companhia do Jorge e da Cláudia que “acudiram” de pronto, mal souberam do contratempo que deixou em terra a minha colega de equipa. O dia faz jus ao início da Primavera: céu azul e um sol quente e brilhante. Bom prenúncio!
Hesitamos na 1ª visita. A D. Pedra não tem estado e até já tínhamos especulado se andava a fugir de nós (eu, pelo menos, nunca a tinha conhecido em quase em um ano de visitas). Decidimos tentar mais uma vez e… tivemos sorte! Estava na casa da sobrinha, mesmo em frente à dela, e recebeu-nos com simpatia, falando imenso da família (com quem tem sempre estado nos últimos Sábados das visitas). O Jorge, o único que já a tinha visitado, ficou pasmado! Nunca a tinha visto tão bem disposta e com tão boa relação com a família… Um pequeno milagre para início de tarde!!!
Seguimos e encontramos a D. Celeste que regressava a casa com água fresca da fonte. Foi bom falar com ela, sempre simpática e atenta. Pareceu-nos em forma!
Mais uns metros e somos chegados a casa da D. Fernanda. Não estava nem ali nem na sua horta. Soubemos mais tarde que estava num campo mais abaixo a plantar umas batatas. Com 70 e tal anos… Dá que pensar não é?
Continuamos rumo a casa do casal Aurélio e Emília. Ela sempre de sorriso aberto; ele, um vivaço nos seus 80 anos, sempre pronto a discutir a actualidade (menos futebol que o Benfica não ajuda…). E resume tudo num dos provérbios do seu longo reportório: “lá em cima manda Cristo; cá em baixo manda isto” (o dinheiro bem entendido)! Saímos bem dispostos e com pena de não poder prolongar a conversa.
Para terminar, a D. Maria. Domina a paisagem de Bustelo sentada à varanda na sua cadeira de rodas. Nada escapa aos seus olhos vivos e tem muitas histórias para contar. Como disse o Jorge, nem é preciso falar muito, a D. Maria faz as despesas da conversa, a uma velocidade que nos deixa a pensar o que seria se pudesse caminhar nas ruas da sua aldeia. Que reboliço!
E pronto, mais uma tarde cheia em Bustelo! Os colegas regressam das outras aldeias e juntamo-nos a eles de volta ao Porto… com um sorriso nos lábios.
Missão cumprida!
Nuno Afonso
segunda-feira, abril 13, 2009
Crónica da visita aos imigrantes - 08.03.2009
Perde-se a noção do tempo e acabámos por sair já tarde com as despedidas de reconhecido agradecimento e sorrisos que fazem valer a pena o esforço de continuar apesar da tristeza de se saber do encerramento.
Amélia
quarta-feira, abril 08, 2009
Crónica da visita aos imigrantes - 05.04.2009
Ana Pinho
sexta-feira, abril 03, 2009
sessão de acolhimento / esclarecimento a novos voluntários
Se estiveres interessado em comparecer envia-nos um e-mail para:
fasrondas@gmail.com
Aparece!
segunda-feira, março 30, 2009
Crónica da visita à UHSA - 22.03.2009
Saímos a pensar em cada um. O coração apertado. E eu não faço nada, não faço mais nada além desta curta visita? E se arranjássemos um trabalho para o Rax? No dia seguinte a Cláudia telefonou à responsável pelo Serviço Jesuíta de Apoio aos Refugiados, nosso contacto dentro da UHSA. Ficámos a saber que ao Rax já tinha sido proposto um trabalho, mas não quis, não quer um emprego. Arranjar empregos não é a nossa tarefa, ser voluntário não é pensar que vamos mudar o mundo, ser voluntário não é ser voluntarioso. Mas foi bom saber que há alguém lá dentro cuja função é ajudar os detidos, que conhece cada um pelo nome e sabe a sua história. O nosso papel ali é procurar ajudar a passar uma boa tarde de domingo. Parece pouco? Talvez. Conseguimos? Acredito que sim. Mas o que tenho a certeza é que estas visitas fazem mudar algo dentro de mim, algo que muda para melhor.
Ana Aguiar
domingo, março 29, 2009
3ª Crónica das Famílias - Março de 2009
Na passada quarta feira, véspera do Dia do Pai, tivemos a nossa reunião mensal, que correu especialmente bem dada a amável presença de 3 dos nossos casos de família acompanhados. O Sr. F., o ZM1 e o M. foram verdadeiros protagonistas e mestres nos testemunhos simples, genuínos e transparentes que deram, e nas palavras e emoções que transmitiram.
Nesse mesmo dia uma voluntária nova, que passou por este blog, resolveu aparecer para "espreitar" o funcionamento do grupo e integrou a nossa vertente! Mais uma ajuda em boa hora, numa fase de algumas desistências por indisponibilidades várias e pessoas a precisarem sempre de algum tipo de conforto…
Pegando no ponto de situação logística aproveito então para informar que, ao dia de hoje, são 13 as "flores da nossa estação" que acompanhamos com cerca de 30 "colaboradores de Jardineiro" vestidos de voluntários e 10 "adubadores" em apadrinhamento.
Nesse Jardim imenso, há uma certa flôr chamada B. de quem vos falarei hoje, entre o voo das andorinhas.
A B. tem hoje 26 anos e continua no seu processo de tratamento e reconstrução pessoal e social, iniciado connosco há cerca de 2 anos e meio atrás. Decorria o ano de 2005 quando, numa das viagens de ronda dominical, começamos a estabelecer algum contacto com ela; contacto esse que foi sendo aprofundado nos tempos seguintes como quem rega, protege do vento, ou deixa entrar os primeiros raios de sol. Depois de algumas lutas complicadas e primeiros desafios ultrapassados a B. entusiasmou-se verdadeiramente com a ideia de tentar mudar de vida, mais uma vez… Em 2007 aceitou iniciar um processo de desintoxicação com a força de vontade interior de quem já viveu o que muitos adultos, felizmente, nunca viverão. Com esse passo, ainda em processo, outros bagos foram surgindo e sendo colhidos, devagar, devagarinho... Uma família retoma, ao de leve, a ínfima presença de quem avança ainda desconfiado; um ente querido desabrocha suave no contacto e arrisca votos de fé no novo ciclo; um distante transporte ganha contornos de concretização futura deixado no canto a velha cadeira de rodas; o corpo torna-se mais composto e robusto; o olhar ganhando foco; um dia "request" porque houve compromisso e verdade… Como a alternância das estações os passinhos da B. têm sido feitos de ciclos de avanços "em círculos", onde "à frente" e "atrás" se tocam inúmeras vezes em linhas que não são rectas e desenhos que não se fazem dessas certezas e objectividades com que algumas vidas humanas são estabelecidas. A B. tem o seu próprio clima, o seu próprio tempo, a usa própria estação.
No final do ano de 2008 algumas alterações no estabelecimento onde está em tratamento, bem como na vida dos outros utentes que a rodeavam, proporcionou nova meteorologia - desta vez mais chuvosa, podemos dizê-lo com segurança… - condizendo com a estação invernal que decorria pela altura. O seu comportamento tomou posturas menos correctas, foi necessário algum espaço para a reflexão, para a hibernação.
Actualmente mudou de vaso, mantendo-se no mesmo jardim. Continua em tratamento na mesma instituição mas numa outra zona. Essa mudança impôs-nos, mais uma vez, um tempo de espera e necessária distância. A vida é toda ela feita destes ritmos… Nós é que muitas vezes teimamos em relógios pessoais que de pouco ou nada servem. As estações são senhoras do seu próprio tempo e ora é Primavera… ora chove torrencialmente. Nelas continuamos presentes, amando-a diariamente. Na sua árdua terra em que tem sido raiz em busca de humidade e aprofundamento, o Calor é Silêncio… e será sempre no seio mais íntimo desse chilrear interior que a B. poderá florir verdadeiramente.
sexta-feira, março 27, 2009
"Mankind Is No Island"
O Tropfest e o maior festival de curtas metragens do mundo. Começou há 17 anos atrás em Sydney e no ano passado teve a sua primeira edição em Nova York. O vencedor do ano passado foi este filme que foi totalmente filmado com um telemóvel. O seu orçamento foi de 40 dólares (cerca de 30 euros)!
sexta-feira, março 20, 2009
Crónica das Aldeias - 07.03.2009
Paragem em Candemil, o nosso local de almoço nestes dias de Inverno, instalámo-nos confortavelmente na varanda da casa da paróquia a saborear a bela sopa de espargos enquanto a conversa fluía entre todos, animada pelos raios de sol.
Partimos em direcção às aldeias, dividimo-nos, para mais tarde, nos encontrarmos em Bustelo e partilharmos a nossa tarde e a nossa vivência.
Com um até já a todos, vou para Basseiros, uma aldeia pequena e simpática, as flores já começam a aparecer, ouvem-se os pássaros chilrear, tudo parece começar a florescer…
Vou até à casa da D. Deolinda que encontro sentada à porta ao sol, não me reconheceu, mas após uma breve explicação identificou-me (afinal só lá tinha estado uma vez há 15 dias atrás), falou-me da doença que a afecta e da sua fragilidade e debilidade física, mas aos poucos lá começou a sorrir e a sentir-se de cada vez mais à vontade, e eu a agradecer aquele desbloqueio.
Mas, entretanto uma agradável surpresa, a Amália disponibilizou-se para fazer as visitas comigo, uma jovem de 17 anos que traz sempre um sorriso no rosto e uma palavra de carinho e conforto para todos!
Despedimo-nos da D. Deolinda, não antes de termos dado dois dedos de conversa com a D. Celeste, que é vizinha e vem sempre receber-nos com um beijo e um sorriso, nestes momentos sinto que existe uma partilha muito genuína entre o ser humano, mesmo quando não conhecemos muito bem as pessoas.
A D. Glória não estava em casa, pelo que fomos ter com a D. Hermínia, que nos recebeu de braços abertos e nos convidou a entrar, falámos sobre os seus filhos, netos, a sua vida, partilhámos também um pouco das nossas vidas com esta senhora de ar feliz e bem com a vida, e continuámos animadas pelos sorrisos que íamos recebendo.
Subimos até à casa da D. Conceição que estava ao sol, e ficou muito feliz ao ver-nos, estava à nossa espera, perguntou pelas outras meninas, como estavam, porque não tinham vindo. E resolveu oferecer-nos uma pulseirinha que tinha comprado numa das suas visitas a Amarante, enquanto dizia "não é nada de especial", o objecto pode não ser especial, mas o gesto é generoso e carinhoso, por parte daquela senhora dos seus 80 anos, que numa das suas idas ao médico a Amarante se lembra das meninas que a vão visitar ao sábado. São estes pequenos, grandes gestos que nos enchem o coração, e nos fazem acreditar que estas visitas são um dar e receber constante, por vezes, sinto que recebo muito mais do aquilo que dou!
Depois de um beijinho, lá vamos encosta acima rumo à casa da D. Dulce, que está rodeada pelo marido, pela filha e pelo neto, mais dois dedos de conversa e vamos embora.
A Amália e eu despedimo-nos, e vou ter ao ponto de encontro com o resto do grupo.
Enquanto caminho e olho para aquela paisagem maravilhosa sinto-me feliz, pela tarde, pela forma como as pessoas me receberam, pela preciosa ajuda da Amália, pela pulseirinha da D. Conceição, e por todos os abraços e sorrisos que fui recebendo ao longo daquela tarde e que me vão tornando mais enriquecida, mais consciente, mais atenta, e, especialmente mais grata pela vida de todas estas pessoas que cruzam a minha de formas tão diferentes mas tão boas e tão cheias de alegria e generosidade.
No final da tarde, já no regresso a casa sinto que tudo faz sentido, e trago a esperança de que posso ser um bocadinho melhor, com estes pequenos presentes que vou recebendo ao longo da minha vida, e dou graças por isso!
Sara Gonçalves | Aldeia de Basseiros
sábado, março 14, 2009
2ª Crónica das Famílias - Fevereiro de 2009
Estamos a “apadrinhar” 5 casos, com novas voluntárias a começarem a dar os primeiros passos em todos eles. O apadrinhamento é o nome que damos ao acompanhamento que fazemos dos novos voluntários, quer seja para começar casos novos (dois neste momento), quer seja para melhor ajudar o caso em questão, quer para fazer transição entre pessoas que acompanham um caso.
Este é o relato de um caso com alto e baixos, com momentos de passos em frente e alegrias e também passos atrás e desilusões, acompanhando o Paulo (nome fictício) na sua luta para reconstruir a sua vida.
Falemos então do Paulo, jovem de trinta e qualquer coisa anos, que a ronda dos Aliados conheceu junto ao Teatro S. João no Outono de 2006. Na altura falou-se apenas ao de leve (ainda mais que ainda não o conhecíamos) em desintoxicação, e ele não se mostrou reticente, ou evasivo como tantas vezes acontece, quando as pessoas ainda não se decidiram se querem tentar virar as costas à droga ou não.
Ficou o compromisso de recolher informação e ver em que poderíamos ajudar. No domingo seguinte, falou-se directamente com um técnico amigo do FAS (que é sempre uma grande ajuda) e marcou-se encontro para a manhã seguinte às 8h.
Assim começou este caso de Famílias, nesse dia em que o Paulo lá estava à espera nervoso e com receio. Passadas 4 horas saía do CAT integrado num programa de Metadona.
Nos primeiros tempos não se manteve contacto pois ainda demorou um mês e meio a arranjar um quarto, e por isso mudava sempre de local, a pensar na sua vida futura e que isso facilitaria a sua reintegração.
Passados alguns meses conseguiu uma primeira oportunidade de trabalho, mas que não se manteve durante muito tempo.
Após algum tempo reataram-se os laços com a família, em que o voluntário que o acompanha foi com ele visitar a família, foi um passo importante!
Comemorou-se o aniversário do Paulo com um coração cheio, pela primeira vez desde alguns anos, fora da rua.
Mais tarde entrou uma nova voluntária para ajudar neste caso, diminuindo os tempos de solidão profunda do Paulo que estava longe da família e sem qualquer apoio, sem ser o da Segurança Social e o do FAS.
Depois apareceu uma segunda oportunidade de trabalho e parecia que o céu era o limite! Mas durou pouco… Sete semanas mais tarde voltava-se à procura de trabalho, e o pior momento foi quando um mês mais tarde, umas confusões com as pessoas de onde dormia o fizeram voltar a dormir na rua, o seu pior pesadelo! Em dois meses, foi-se da grande alegria pelo Paulo à angústia profunda… Muitos telefonemas e conversas depois, apareceu um novo quarto um mês mais tarde.
A morte de um familiar com quem tinha uma ligação forte foi outro momento difícil e que lentamente provocou uma mudança, surgiu a vontade de internamento prolongado para desintoxicação e o mesmo 3 meses depois foi aprovado…
E… a história pára aqui, aguarda-se os próximos passos, com muita esperança!
Os dois voluntários empenham-se muito neste caso já com história, criando uma rede de contactos habituais com as pessoas com quem o Paulo interage, isso ajuda muito e é muito importante em alturas difíceis. Assim são pivots de ajuda e um pouco de família.
Já ajudaram em mudanças de quarto umas quatro vezes e assistiram a conquista e a perda de dois empregos, e continuam a acreditar no Paulo e a querer estar lá, para o que der e vier.
Jorge Mayer (subcoordenação Famílias)
sexta-feira, fevereiro 27, 2009
Crónica das Aldeias - 21.02.2009
Desta vez mais alegres, novas chegadas, novos voluntários.
A par do almoço, partilha-se um pouco de nós, um pouco do sol, antes de nos dividirmos.
Eu e o Diogo ficamos em Candemil.
“Ando devagar porque já tive pressa, levo este sorriso porque já chorei demais…”
Lembro-me desta música enquanto passeamos com a D. Aurélia. Passo certo, pelos altos e baixos do caminho, cara alegre, boas palavras, como se o que não é bom pesasse demais para ser carregado. Vai falando, contando episódios dos seus noventa e três anos, perguntando pelos nossos pais, nossos avós, dando sustento à verdade de “recebe mais, quem mais partilha”! E nós vamos também partilhando. “Sempre fui bem disposta, mas às vezes as pessoas não sabiam e só percebiam quando falavam mais comigo!”
Findas as voltas, rumamos à próxima casa, D. Alda. Pelo caminho encontrámos a D. Maria do Carmo, a aproveitar o sol. Depois de a sentarmos melhor, ficou um “até já”.
A gripe ainda não foi de vez. D. Alda levanta-se num ápice, fazendo a oferta de praxe - um cházinho. A cara vai-se alegrando, entre mágoas, choros e cantigas tudo se leva, a quem foi brindado com a inteligência, a acutilância e o humor. Não se esquecem os que vão passando…
Al – O João está bom? Qual é a morada dele? E o D. João II?
Passa-se dos contratempos do Natal, para as cantigas e a conversa rola…
Al – Acho que os cegos têm muito jeito para a música!
Aur – É para apagar a nostalgia. (…)
Nesta visita ouviu-se Frei Hermano da Câmara (FHC), a cassete já gasta ainda alegra. Lembram, da rádio, histórias que nos vão contando como parte do seu dia.
Al – Numa entrevista, ouvi um repórter perguntar ao FHC: - “Não sente saudade do tempo dos bailes, de andar a tocar nos salões?”, FHC - “Nessa altura tinha muitos aplausos, mas chegava a casa e sentia-me muito só.”
E a propósito disso vai cantarolando “Entreguei-me todo a Cristo, nunca mais me sinto só”.
D. Maria do Carmo ainda lá estava, apesar do sol menos quente. Fomos para dentro de sua casa, à velocidade que o corpo deixa. Entretanto já somos cinco. Caras que se animam, trocas de palavras entre “tias” e “meninas”, aproximando histórias, acelerando a tarde.
Ficou um até breve, um novo brilho que trazemos e temos esperança de deixar.
A mim ficou uma de tantas canções que a cassete passou nessa tarde…
“As nossas capas
rotas, velhinhas
Todas negrinhas
Também no ar
São andorinhas
Que se preparam
Para emigrar.”
Isabel Teixeira Gomes | Aldeia de Candemil
quarta-feira, fevereiro 25, 2009
Crónica da Ronda da Boavista - 15.02.2009
Preparação dos sacos... Oração inicial... Partida...
Partida para uma ronda em que o carro estava lotado. Erámos 5! E fomos ao encontro com todos aqueles que já fazem parte das nossas vidas.
Hoje não estivemos com a D.F pois no domingo passado disse-nos que iria a Torres Vedras. Mesmo assim passamos pelo parque de estacionamento onde costuma estar para deixar um saco de ternura, tal como tinhamos combinado.
Depois seguimos para o Lar das irmazinhãs dos Pobres onde já é costume deixar o pão que sobra depois de fazermos os sacos para os sem-abrigo que visitamos. Passamos o saco do pão para o lado de dentro do lar e fomos ao encontro do Sr. G. Estava bem disposto e falou-nos do seu carro que já anda em circulação. Também nos falou das novas mezinhas que tem e que está a fazer para o coração.
Entretento a D. G avisou que estava na paragem a nossa espera e que estava doente, pelo que fomos logo ter com ela. Quando a encontramos disse-nos que se sentia muito cansada e como apareceu logo o seu autocarro não falamos muito mais.
Uma vez que estavamos no Bom Sucesso aproveitamos para estar com o Sr. Al e com o JP. O sr. Al já acabou o seu trabalho comunitário e falou-nos do filho que não lhe ligou desde que foi para o Brazil. Também nos mostrou um cartão que tinha com a fotografia do filho. O JP continua a não ir ao Centro de Emprego e como já vem sendo hábito ao Domingo não vai à metadona.
Após estas visitas fomos terminar a ronda no Campo Alegre. O Sr. Z já estava a dormir por isso não falamos muito. Aceitou um copo de chá mas não aceitou o nosso saco pois já lhe tinham dado muita coisa. Com o Sr. A falamos de futebol embora ele não tenha ouvido o relato pois está sem rádio. Também incentivamos o Sr. A a fazer uma limpeza ao local onde dorme pois o sítio está com muito lixo espalhado.
E assim terminamos a ronda com um momento de partilha e com os desejos de uma boa semana para todos.
Manuela Seixas
quarta-feira, fevereiro 18, 2009
Crónica das Aldeias - 24.01.2009
Mas o Homem planeia e Deus troca-nos as voltas. Chegamos à casa da Dona A., que habitualmente está bem-disposta, e encontramo-la muito cabisbaixa. Para além da gripe, estava sem telefone há uma série de dias. Isolada do mundo e da família. Logo nos dispusemos a ajudar. Uma chamada para os familiares do Porto para ver como estavam de saúde e um telefonema para o operador de modo a solucionar o problema. A família estava bem, Dona A. descansou. Até já se levantou da cama para oferecer um cálice de vinho do Porto.
Com o operador é que foi mais complicado. "É o sistema, diriam alguns". A chamada não surtia resultados. Sugeri que o restante grupo continuasse as visitas e fiquei ali pelo menos 20 minutos à espera que me atendessem o telefone! Descrevi o problema, "o telefone não faz chamadas e ao atender não se ouve." Sugestão do lado de lá da linha e de quem não conhece a realidade do Marão. "Não tem outro aparelho para substituir de modo a apurarmos se é do aparelho ou da linha?!" Ao que respondi calmamente, embora remoída por dentro: "Não, não temos aparelho. Têm de enviar um técnico aqui para ver o que se passa, pois a senhora vive sozinha e este é o único meio de contacto com o mundo."
E lá marcaram, com algum custo, a vinda do técnico (que segundo a Dona A. me disse a posteriori esteve lá logo no início da semana).
A Dona A. agradeceu profundamente e eu levei o sorriso e as palavras no coração.
Seguimos viagem. De Candemil para Ansiães. Aqui não cantamos na casa da Dona R., porque não entra música dentro dela desde que o marido e o filho se foram. Ainda assim, recebeu-nos bem, como sempre. A Dona O. estava dentro de casa, o que não é habitual, por causa do frio. Escutou-nos alegremente, ainda, que os ouvidos já a atraiçoem. Com um pulinho já estávamos com a Dona C., a nossa "cantora-mor". Infelizmente não estava nos seus dias, "está fraquinha", comentavam os visitadores de Ansiães. Apesar disso, ouviu-nos atentamente, muitas vezes batendo palmas e, ainda, arranjou força para "gritar": "levem, levem, levem uma laranja."
Basseiros foi a paragem seguinte. Não encontramos duas senhoras em casa. Às vezes acontece, ou porque vão para casa dos filhos, ou porque se deslocam para os seus afazeres. Mas a Dona C. estava em casa. A visita levou calor ao seu coração que ainda lembra o marido, falecido há dois anos, com lágrimas nos olhos. "Gostei muito, muito obrigada" repetia insistentemente, perguntando se tinha de dar alguma coisa como é tradição nas Janeiras. "É claro que não!" (pelo menos material, porque emocional já estava a dar muito). A Dona D., estava junto à lareira para se aquecer. Encontrava-se adoentada e agradecendo a visita foi-nos pedindo para não cantarmos muito, não estava com muita disposição.
Dali rumamos a Bustelo. A Dona P. também não estava em casa. Seguimos para a casa da Dona C. e da irmã, a Dona M. Na varanda fomos entoando os cânticos festivos que chamavam a atenção de quem passava na rua "estas meninas não parecem deste tempo", ouviam-se algumas vozes. Seguiu-se a casa da Dona F. que, ao fim de uma música, já tinha entrado no ritmo e acompanhava-nos nas cantorias. A casa do Senhor A. e da Dona E. foi a última a ser presenteada. Fechamos ao rubro, com as gargantas ainda afinadas, a dar conta de todo o repertório do dia. E a abrir a porta aos curiosos que iam entrando para perceber o porque das guitarras e das canções. O dia terminou com a oração e partilha em Bustelo, com o frio a arrefecer o corpo, mas com o coração quente de tanta alegria. Para o ano, esperamos, há mais.
Claúdia Gonçalves
sexta-feira, fevereiro 13, 2009
Crónica da Visita aos Imigrantes - 08.02.2009
Há um ano (um ano!) que o nosso grupo faz o que pode para amenizar, por pouco que seja, o clima de sofrimento que se abate sobre as vidas daqueles que vêem os seus sonhos destruídos e os seus esforços e esperanças reduzidos a nada pelo 'sistema' duma 'civilização avançada'… Esperanças de pessoas de todo o mundo que arriscam tudo o que têm por uma oportunidade no nosso abençoado Portugal, de que tanto nos queixamos, vendo-o como um porto de abrigo, um ponto seguro a partir do qual esperam poder partir para uma nova viagem, começar uma nova vida, iniciar uma nova luta que, no final de contas, nos é comum a todos…
Há um ano que, a cada mês (agora distribuídos em dois grupos), cada um de nós visita os imigrantes que, por algum motivo considerados ilegais, são apanhados pelas autoridades portuguesas por todo o país e aprisionados na Unidade Habitacional de Santo António.
É sensivelmente há um ano que tentamos com eles partilhar um bocadinho de nós mesmos e, quem sabe, fazer um bocadinho parte do mundo daqueles a quem dedicamos este bocadinho das nossas vidas, que às vezes parece tão insignificante mas que em determinados momentos se revela parte de um surpreendente milagre de que todos fazemos parte…
Entre desilusões e alegrias, momentos de emoção e de euforia, já tivemos oportunidade de guardar nas nossas almas e de enriquecer as nossas existências com a alegria e boa disposição de marroquinos e brasileiros, com o respeito e cavalheirismo de ucranianos e bielorrussos, com a calma e simpatia de indianos e paquistaneses, com talentos escondidos e olhares alegres mas profundamente marcados pelo sofrimento de israelitas e bósnios, o ritmo no sangue dos luso falantes dos vários pontos de África ou o à vontade e desembaraço (às vezes demais:) de nigerianos e croatas…
Entre sorrisos e caras de caso há sempre algo que nos marca: a frustração perante a impossibilidade de fazer o que quer que seja além do pouco que tentamos fazer e que às vezes nos leva a duvidar da utilidade do nosso esforço, e, por outro lado, a alegria incomparável que é ouvir de alguém, cujos olhos marejados exprimem uma gratidão indescritível, um "Obrigado, hoje fizeram-me feliz" que nos faz crer que vale sempre a pena dar tudo o que temos, por pouco que seja, porque recebemos sempre muito mais.
Sejam quais forem as dificuldades com que nos deparemos, serão sempre momentos como este que nos darão força para continuar. Momentos como os que tivemos na visita de hoje… Depois de um mês de ausência (por razões alheias à nossa vontade) são visitas como a última que nos fazem ter a certeza do quanto tudo isto significa…
Éramos 4 à porta da UHSA…4 mulheres à chuva à espera que as portas da 'casa' que já tão bem conhecemos se nos abrissem para mais uma 'aventura' (que o é, sempre) no mundo dos sonhos desfeitos… Sem saber muito bem o que fazer perante mais de 20 utentes de várias nacionalidades que já sabíamos que estariam lá dentro, cuja intimidade íamos, de certa forma, invadir durante as duas horas que se seguiriam, entramos, quase a medo, munidas com o bom humor da nossa nova 'sub-coordenadora', a simpatia da nossa algarvia de serviço, a calma da nossa menina alentejana e, claro, a bela da minha viola desafinada ás costas! :)
Não esperávamos nada, só que a visita corresse bem…e correu melhor ainda!
Para começar, fomos recebidas de braços abertos por um grupo que, de imediato, se reuniu à nossa volta pronto a escutar tudo o que tivéssemos a dizer. Nunca tal nos aconteceu até hoje!
Um senhor angolano tratou de chamar toda a gente que na altura se encontrava no salão principal para 'ouvir as meninas'. Só uma pessoa não se juntou ao grupo (e foi especialmente doloroso ver que o facto causou desconforto entre os residentes…), mas de resto todos eles se sentaram juntos esperando pelo que pensavam que seria um espectáculo de variedades ou coisa que o valha… Ainda bem que não pagavam bilhete… Saiu dali um verdadeiro assassinato da canção 'Don't Give Up'… mas foram os próprios que nos pediram uma 'modinha' portuguesa, e então lá nos safamos com uma 'Laurindinha' improvisada mas que conseguiu animar o nosso 'público' a tocar e a cantar connosco, com batuque africano à mistura e tudo!
Depois da introdução, em que também os 'obrigamos' a cantar o nosso já mais que conhecido 'No Xukurelá' – foi especialmente bonito ver os chineses, que raramente participam, a torcer a língua o mais que puderam para nos acompanhar:) –, seguimos com o jogo do novelo – que não chegou para todos, tantos eram os participantes! :) – e, feitas as apresentações, seguimos diferentes caminhos consoante a tarde correu…
Adorei ver o grupo que se juntou para jogar às cartas e chamou (!) a Cláudia para os acompanhar numa sueca; a animação com que quase se destruíram as prateleiras da sala durante o jogo de pontaria conduzido pela Amélia; a expressão de felicidade dos argelinos enquanto ensinavam à Sónia algumas entoações em línguas diferentes:); a forma como se divertiram os chineses com a minha falta de jeito para pronunciar palavras em chinês ou para lhes explicar o que era um dragão…que vergonha…mas rimo-nos tanto!... :) Não esquecerei também as raparigas bósnias, que só não dançavam porque o pai duma delas havia falecido pouco tempo antes… a confiança que demonstraram ao partilhá-lo comigo… A alegria de um croata a cantar o 'La shate mi cantare' a plenos pulmões enquanto o 'grupo dos cd's' fazia uma lista de 'discos pedidos' para a próxima visita…
Quase todos eles, incluindo aqueles com quem não conseguimos estabelecer uma maior proximidade ao longo das duas horas que ali passamos, se deslocaram à porta da 'nossa' salinha, e criaram ali um verdadeiro 'corredor do adeus' quando saímos… Só se ouvia 'Au revoir's, 'Adiós' e até 'Taitié' (que é chinês, já aprendi!) … Tenho a certeza que nenhuma de nós se importaria de atrasar aquela despedida por mais umas horas…
Tenho certeza que todas nós saímos de lá mais motivadas que nunca para enfrentar as dificuldades que se nos depararem ao longo deste caminho que escolhemos percorrer… Por aqueles que não têm outro remédio senão percorre-lo, fazemos por acreditar que os pequenos gestos podem, realmente, fazer a diferença para eles…
Para nós fazem, sem dúvida…
Ana Pinho
quarta-feira, fevereiro 11, 2009
Crónica da Ronda da Batalha - 25.01.2009
Uma noite de chuva… Encontrar o Sr. D. na rua, com aquela idade é mesmo de partir o coração, mas tem de ser. Falamos um pouco, aproveitei a oportunidade para o tapar com um cobertor – que bem lhe fez, aconchegado. Pediu para que o deixasse dormir e seguimos viagem para a próxima paragem.
O P. no seu novo sítio que não deixa de ser bastante original e acima de tudo bastante quentinho – nada de chuvas, mas… obviamente que um armário suspenso não é o melhor local para pernoitar! O P. está a aguardar a ajuda da assistente social apesar de se mostrar bastante impaciente. O outro "pequeno problema" que o incomoda bastante é a excessiva quantidade de cabelo pelo que fomos incumbidos da árdua tarefa de arranjar uma máquina de cortar cabelo a pilhas e um gorro (e "já agora" umas meias bem quentinhas). A promessa de melhor tentativa para arranjar todas estas coisas ficou a certeza de regresso na semana a seguir.
O Sr. F. estava bastante confuso e a falar com "os seus amigos"…. Conversamos durante uns minutos, conversas bastante vagas e confusas, pois o Sr. F. estava bastante aluado, mas sabemos que aqueles momentos são bastante preciosos.
Já o Sr. M. continua na expectativa de ter o resultado dos exames, os medicamentos não injectáveis para ir ao encontro da família em África… Temos ajudado o quanto possível – aguardamos notícias de uma nova semana com mais e boas notícias.
Sem dúvida vamos para casa com o coração cheio por saber que levamos um bocadito de cada um de nós em noites tão sombrias como estas.Sabina Martins
segunda-feira, fevereiro 02, 2009
1ª Crónica das Famílias - Janeiro de 2009
As Famílias são uma vertente muito particular onde lidamos ainda mais de perto com as pessoas ajudadas. A regularidade, o tempo e continuidade das visitas estabelecem linhas de especial aprofundamento afectivo e de particular empenho estrutural. Acompanhamos situações diversas e, em cada uma delas, integramos parte de uma crónica que é inteira, imensa e única. Todas possuem momentos variados, difíceis e crescentes, de empenhos necessariamente mais assertivos, mais esforçados e “conquistazinhas”, efectivamente… gigantes.
Neste momento somos 31 voluntários, 13 padrinhos e 13 Famílias. Acompanhamos o E., a B., o Z.M1., a D.E. e Sr. F., o Sr. F.A., o Sr. O., a M., o Z.M2, o M., a Le., a D.R. e Sr. D. e D.C., a Li. e a D.G.. A Fi., a Fe. e o Sr. E constituem três novos casos a tomar início durante o mês de Fevereiro. O grupo tem margem de manobra para crescer e alargar os braços da ajuda mas procuramos ir dando um passo de cada vez, com o ritmo imposto pela realidade do que somos e das pessoas com quem assumimos compromissos de cuidado, ajuda e Amor. Há uma natural evolução nos laços e nos afectos estabelecidos que exige aprofundamento e descoberta permanente se queremos estar, com a verdade, ao lado da “nossa família”.
Comecemos com o nosso querido Z.M2. O Z.M2 é um senhor com quase meio século de idade que a ronda da Areosa conheceu nas visitas de domingo à noite, no final do ano de 2006. Nos finais de 2007 entendeu-se tratar de um caso que estaria em condições para integrar a vertente das Famílias. As conversas dominicais haviam permitido o estabelecimento de um contacto sistemático e o Z.M2 demonstrava-se interessado num acompanhamento ainda mais próximo. Com muitos anos de consumo de drogas e de vida na rua este era o momento ideal para darmos esse passo já que ele oferecia provas de começar, afirmativamente, um novo reinício na construção da sua vida. Em Abril de 2008 a Sara G. e a Inês B., voluntárias das Famílias, eram-lhe apresentadas e, nesse encontro, tomava início a história de um laço novo.
Esta é uma narração de um “caso mais feliz”, sendo que, apesar de um ou outro momento mais difícil, o Z.M2 tem mantido grande consistência no tratamento da desintoxicação e na estabilidade individual, familiar e social. Entenda-se, com isto, que os problemas e os desafios têm surgido! Mas que, mais do que isso, o Z.M2 tem demonstrado o essencial para “a felicidade”: a fidelidade aos seus compromissos e objectivos pessoais e colectivos. O positivismo e desportivismo constantes o empenho com que luta e investe no plano de vida que para si mesmo estipulou e a humildade com que solicita uma mão quando está mais fragilizado, tirando partido das ajudas que tem a graça de ter disponíveis e das pessoas próximas que muito o amam, têm sido autênticas armas de conquista.
Em 9 meses o Z.M2. avançou com aprovação no tratamento com metadona, cumpriu assertivamente e pacientemente as regras dos estabelecimentos onde habitou, mudou de estadia, alcançou melhorias na sua vida pessoal, reconquistou confiança dos familiares, alargou contactos com eles, procurou ocupação em cursos, formações ou outras actividades laborais, manteve-se o mais afastado possível de ambientes antigos que não considera positivos, ajudou um velho amigo na venda de algumas miudezas da sua loja enquanto não obtinha respostas às candidaturas e programas em que se inscreveu, estabeleceu graus de conquista de autonomia e disciplina, e foi, entre passinhos pacientes e optimistas, reconstruindo a sua auto estima, estimulando o prazer pela vida e redescobrindo o sabor de cada coisa. Em Agosto de 2008 foi, finalmente, contactado para prestar serviços de manutenção de jardins numa Junta de Freguesia! Este foi um momento especialmente marcante pois permitiu-lhe (re)sentir-se útil, iniciar um novo ciclo de autonomia e responsabilidade financeira e transitar para uma outra fase social do seu processo de reinserção social, em ambientes íntegros e salutares. Presentemente aguarda, ansiosamente e com promissoras expectativas, pela renovação do seu contrato laboral! O Z.M2 é cumpridor e responsável. Este facto tem sido sistematicamente comprovado pelo seu comportamento nesse trabalho, no seu rigor face às regras das instituições onde viveu e no cuidado, carinho e preocupação que demonstra sentir pelos outros.
A Sara e a Inês entregaram-se verdadeiramente a esta nova pessoa nas suas vidas e apaixonam-nos sistematicamente com os seus testemunhos. Em férias ou indisponibilidades forçadas contactam-no através de telefonemas ou envio de mensagens. Encontram-se em sítios habituais para ouvirem e falarem. As histórias do presente e do passado saltam, correm, interpelam-se e projectam-se no futuro, ao ritmo de conversas fluidas e agradáveis entre os três. Falam de música, cantores e concertos, livros, notícias e artigos de jornais, abordam temas religiosos, política, actualidades… Conquistaram, nele, espaços de confiança e naturalidade. Sabem do que gosta, por isso há espaço para as coisas que recolhe nas suas colecções, para toda a espécie de raças de cães, para o futebol, o Sporting, o cinema, o café daquele sítio, a feira tal, o jantar em determinado lado. Ajudaram-no em mudanças, constipações, consultas, currículos e dias mais complicados. Com ele aprendem sobre o funcionamento de um CRI e conversam sobre este último processo da sua desintoxicação. O contacto com as assistentes sociais, e outros técnicos da sua rede social, é efectivo, sendo elas uma ajuda útil no esclarecimento de alguns pontos simples.
O Z.M2 vai-se revelando extremamente sensível em relação ao que o rodeia e às necessidades e carências que observa. É com curiosidade que questiona sobre o voluntariado e as diversas formas de contribuição e ajuda. Por isso no final do ano passado foram, os três juntos, para uma campanha do Banco Alimentar! – experiência que o Z.M2 adorou…
A Sara e a Inês são uma espécie de ponte. Como outras estabelecem-lhe ligações “com o lado de cá”, ligações que foram e são por ele solicitadas e cultivadas. Alimentam-lhe o ânimo, a esperança e o positivismo. Dá-se. Dão-se. Troca-se. E, no seu tempo e caminho, o Z.M2 vai brilhando… e fazendo brilhar.
“Não houvesse pessoas maravilhosas no Mundo… seria Natal todos os dias… Obrigada por serem dessas pessoas…” (Z.M2)
Raquel Henriques
quinta-feira, janeiro 22, 2009
Crónica da Ronda da Areosa - 18.01.2009
Hoje soubemos que perdemos um amigo: chama-se Z. C. e tem um sorriso do tamanho da verdade.
O Z. é rezingão, tem a piada de quem resmunga por tudo e por nada. Tem na voz uma rouquidão que lhe fica mesmo bem.
Tem um gorro vermelho e um sobretudo, porque não pode apanhar frio.
Gosta do café com leite com açúcar, e já não me lembro se gosta de bolachas, mas não faz diferença. Ah, não gosta nada de salsichas, gosta é de atum.
O Z. é um homem bonito, tem pinta, tem charme. Tem dois filhos e uma mulher.
Tem uma vontade de os amar e parte-se todo para poder voltar para eles; levanta-se, cai, volta a levantar-se com o sorriso de quem já caiu muitas vezes e sabe que o caminho se faz de pé.
O Z. C. partiu. Sei que continua a resmungar por aí...
Pedro Pardinhas
quarta-feira, janeiro 21, 2009
Ida às Aldeias - próximo sábado
Agradeço, desde já, a todos pela participação.
Vamos ver se desta o tempo não nos impede!