quarta-feira, junho 21, 2006

Crónica da Ronda de 18.6.2006 ( Batalha)

Quem efectua as rondas neste pequeno grupo de jovens que tem como objectivo ajudar pessoas que por qualquer razão não têm posses para subsistirem sozinhas, sabe que há noites boas e outras menos boas. Um sorriso ou uma palavra de qualquer das pessoas que tentamos a todo o custo ajudar e integrar numa sociedade que nem sempre as compreende é algo incontrolável e que pode condicionar todo o prolongar do resto da noite.
No passado domingo, 18 de Junho, o grupo constituído pelo Pedro, a Manuela, a Inês e o Luís fizeram-se à estrada, mais concretamente à Batalha, visto ser o ponto do Porto no qual a nossa tarefa se incide. Tínhamos como primeiro objectivo visitar o Sr e o P, mas ao que parece era ainda muito cedo, cerca das dez e vinte, pois não se encontravam no seu lugar habitual (perto do bar Lusitano). Devido a este facto, procuramos visitar o Sr.F, que permanece perto do Jornal de Notícias e que é uma figura já característica destas rondas. A sua figura simpática e o seu sorriso sempre foram uma constante, muito devido ao seu problema com o álcool, o que dificultava em muito a comunicação. Contudo, esta noite, o grupo haveria de ter uma surpresa, visto o Sr.F se encontrar completamente sóbrio e ter sido possível manter uma pequena conversa. Foram esboçados sorrisos por entre o grupo, pela pequena luz no túnel se ter avistado. Encontrar este homem sóbrio significou que o trabalho que andavam a fazer estava a ser recompensado de alguma forma e que este havia tomado consciência de que todos os Domingos alguém estava disposto a ouvi-lo e que por isso era melhor recebe-los de maneira a estar apto a conversar.
Contudo, a substituir a alegria constante, encontramos a melancolia, própria de quem está ainda em fase de ressaca.
Depois deste bom momento, os constituintes da ronda foram visitar o Sr.D. Este encontrava-se muito ensonado já, tendo avisado que os cobertores haviam-lhe sido tirados. Este é um caso de um senhor que tem mais de 70 anos e que vive na rua e que de cada vez que alguém o tenta levar à segurança social, este esquiva-se sempre. A tosse é cada vez mais presente e é um caso a ter em conta e a dar especial relevância, devido à sua já avultada idade.
Ao procurar uma vez mais o Sr. E e o P, que ainda não tinham voltado para o seu local habitual, a ronda encontrou o Sr. J, que havia ido tentar a sua sorte em França, mas que havia desistido. Como muitos, espera ser chamado para ser inserido numa clínica de reabilitação de droga. O que doeu mais, foi o facto de ouvir dizer que sabia que não merecia a ajuda os pais, visto os ter desiludido tantas vezes.
O fim da noite acabou com o Sr. M, que está à semelhança do Sr, J à espera de ser chamado para ser tratado. Apesar disso, vive já num quarto concedido pela Segurança Social e confessou que está dependente da metadona há já 7 anos, outro tipo de drogas.
O percurso acabou com nova visita ao local do Sr. E que como ainda não se encontrava no seu local habitual, o grupo achou por bem deixar o saco com a comida que todas as semanas é entregue.
Finalizada mais uma ronda, por volta da meia-noite e apesar de todas as “estórias” ouvidas durante o percurso, o grupo voltou ao local de encontro, perto do CREU para finalizar o percurso com uma oração sentida e com um sentimento de confiança no futuro por terem visto um pequeno progresso nas pessoas visitas, o que significa por si só uma grande vitória.
Esperemos que todas as noites se tornem ainda mais enriquecedoras e que o objectivo destes jovens se torne numa constante.

Luis Silva

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Luís: Boa estreia nas crónicas. Gostei da tua ronda! Bem vindo. A perseverança é, como transpareces naquilo que connosco partilhas, uma das nossas palavras chave.

Um abraço,

Nuno

Anónimo disse...

Luis, bem vindo ao grupo da Batalha!! :)
Obrigada pela tua visão do nosso trabalho, e pela bela forma com que recordaste esta nossa ronda.

A esperança e um sorriso têm de estar sempre presente, isso é bem verdade!
O Sr F, hoje de manhã, mais uma vez se mostrou sóbrio para falar comigo quando lá fui. É óptimo ver progressos!

Bjs e até a próxima ronda,
Manela