Estou de passagem pelo Porto. Tenho o conhecimento de que a minha irmã faz parte de um grupo de ajuda aos sem abrigo e, visto que tal nunca fiz, resolvo participar e viver uma experiência que não se tem todos os dias.
Chegamos ao ponto de encontro e já algumas pessoas estão lá reunidas. Surpreende-me mas ao mesmo tempo alegra-me o facto da maioria do pessoal ser jovem. Sou apresentada pela minha irmã e toda a gente me recebe com um "bem vinda". Sinto que há vontade por parte do grupo em receber caras novas. Separáramos os sacos, compomos alguns que estão mais incompletos, facilitamos desde de logo o trabalho (cortando bolas em fatias, por exemplo) fazemos uma oração (em circulo e de mãos dadas) desejar-se uma "boa ronda", empacotam-se os carros com o saco e inicia-se a ronda.
A primeira paragem é na Batalha. A ideia do que estava à espera é diferente. Os sem abrigo com quem contactei, embora saiba do percurso pelo qual tiveram de passar para chegar à situação onde estão, são pessoas cujo estado é mais saudável em comparação à ideia de que eu tenho de "sem - abrigos". Embora ao princípio sejam um pouco desconfiados, passado algum tempo começam a ganhar mais empatia para connosco e a abertura é maior. Falam-nos de si próprios, família, vida, desejos, medos, etc. A sua maneira de comunicar transmite o gosto de que sentem por alguém ali estar para falar com eles. A atenção que lhe damos só por estarmos a comunicar com eles parece-me a mim ser uma das coisas que eles mais gostam no que respeita às visitas do grupo ao domingo à noite. Visto que tinha sido o aniversário de um deles há pouco tempo o grupo organizou-lhe os parabéns, enquanto ele agradecia com um sorriso.
Antes de deixarmos a Batalha distribui-se alguns sacos de comida aos que ali estiveram a falar connosco, mas também a outros que, embora desconhecidos, se aperceberam que ali estavam a dar comida e nos vieram pedir sacos.
Antes de chegarmos à próxima paragem, o Aleixo, parámos ainda na casa de um sem abrigo que não estava em condições de ir à rua falar connosco e receber o seu saco. Então fomos nós ter com ele, entregar-lhe a sua parte.
O Aleixo foi a última paragem e o ambiente do convívio foi completamente diferente. A maioria das pessoas que se aproximavam vinha pela comida e nada mais. O contacto e relação a que assisti com os sem abrigo anteriores já não são a mesma que existe no Aleixo. Todo o tipo de pessoas vem buscar o seu saco e descem outra vez em direcção às Torres, sem muitas vezes dizerem "obrigado". Com alguns penso e acredito que poderia ser possível criar-se mais alguma coisa entre eles/ nós, contudo é triste ver que muitos apenas querem a comida e rejeitam qualquer outro tipo de ajuda.
Foi uma experiência chocante mas necessária de se assistir, para se ter consciência de como muitas vidas são e como tanta gente (de todos os tipos, classes, idades, sexos) se encontra associado/ envolvido neste tipo de realidades.
Terminamos a sessão quando todos os sacos são entregues e depois, de mãos dadas e em círculo para a oração final (não só nos próprios mas também em conjunto com os outros grupos de jovens que lá se encontravam).
Embora tenha sido uma experiência que me possa ter chocado em alguns aspectos, penso que foi muito gratificante e benéfica no sentido de poder "olhar" e contactar a vida destas pessoas.
E é de se aplaudir a iniciativa de tantas pessoas envolvidas com o objectivo de se ajudar quem mais precisa…
Seria uma actividade que gostaria de aderir, sem dúvida, se tivesse a oportunidade de passar mais tempo no Porto.
Obrigado!
Claúdia Henriques
2 comentários:
Cláudia: Obrigado pela tua ajuda!
Até breve e beijos,
NSB
o claudia, conheci-te no outro dom mas n deves saber quem sou.
tb participo nas rondas de dom. queria-te sugerir que, se gostaste tantoda experiência, podias tentar, com a ajuda da amigos ou isso, tentar fazer o mesmo no algarve, q dizes?
num ano começam com 4 ou 5 pessoas e, depois, concerteza estará muito + gente! tb foi assim que começámos.
força niss.
um bj, ana
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