No final da habitual oração eu, a São e a Lígia (minha amiga) partimos em direcção ao Sr. D. No entanto, e como o F. C. P. tinha ganho o campeonato, a agitação da cidade era muita, o que nos dificultou o acesso às paragens que desejavamos fazer. Visto isto, decidimos parar o carro no Silo Auto e fazer todo o percurso a pé.
Apesar de todo o barulho circundante, o Sr. D. estava a dormir. Decidimos acordá-lo na mesma e ele mostrou-se muito bem disposto, não se recusando a falar connosco. Estendeu-me a mão e, quando o cumprimentei, decidiu fazer a sua “brincadeira” do costume: puxar-me para ele. A conversa nessa noite rodou sempre à volta do mesmo sítio: mulheres boas, bailaricos connosco, “eu quero é uma mulher pra casar”...e, claro, as habituais “comichões” nos sítios mais baixos!
Despedimo-nos dele antes que a conversa descesse totalmente de nível e partimos em direcção ao Sr. F. Este encontrava-se sóbrio mas muito bem disposto, aceitando perfeitamente a presença de uma estranha. Estava calmo, mostrando-se um pouco abstraído da multidão, mas ao mesmo tempo fazendo notar que não tinha gostado da invasão do seu espaço por parte de toda aquela gente. Falámos um pouco com ele sobre a semana, as notícias que ele costuma ler, o banho que insistimos que tome e sobre os passeios que costuma dar. Como ele sabia que estavamos a fazer a ronda a pé e como a sua preocupação para connosco é uma constante, disse-nos que era melhor irmos andando para não acabarmos muito tarde, mas como as saudades são muitas, não resistiu a pedir para que passassemos lá no fim para ver se ele ainda estava acordado. =)
Mais abaixo, no sítio do “grande grupo”não se encontrava ninguém...é provável que estivessem também a festejar, já que a maioria deles é do clube campeão, por isso decidimos continuar a nossa marcha, sempre acompanhados por todos os festejos.
Chegadas a casa do Sr. J., batemos à porta e logo nos respondeu uma voz feminina: foi a V. que nos veio abrir a porta, vestida de uma maneira muito caricata: um top, uma mini-saia de folhos, meias brancas e socas.
Contou-nos que a sua desintoxicação foi adiada para o próximo mês e que por isso e por ameaçarem tirar-lhe a filha (para adopção ou para um colégio interno) caso continue toxicodependente, está a pensar fazer uma desintoxicação “a frio”, porque o receio de perder a filha é maior do que qualquer outra coisa. No início mostrou-se bastante reservada e distante, mas quando sentiu apoio e carinho da nossa parte, o diálogo tornou-se mais fácil e na cara espelhava a gratidão que sentia naquele momento. Prometemos voltar em busca de novidades e também para lhe tentarmos proporcionar o máximo de apoio de que precisa neste momento.
Por fim, encontrámos o I., um rapaz de apenas 22 anos, que se encontrava a pedir na rua Sá da Bandeira. Tinha uma cara muito jovem, franzina e os seus olhos verdes brilhavam de emoção ao contar-nos a história que o trouxe para a rua. Ficámos chocadas com a sua história e também preocupadas, porque um rapaz novo e há tão pouco tempo na rua, é provável que se meta em caminhos desviantes. Por isso, decidimos marcar um outro encontro com ele na terça feira, para que possamos falar com mais calma. O I. mostrou-se contente por encontrar alguém que provavelmente o poderá ajudar e aceitou o encontro com grande satisfação.
Já de regresso ao carro, voltámos, como prometido, a passar pelo Sr. F., que apenas queria “um beijo de boa noite”, já que aceitou os dois sacos a mais que lhe levámos de presente e não quis muita conversa.
Foi uma noite repleta de emoções e muito gratificante, onde sentimos que conseguimos tocar o coração de algumas pessoas.
Inês Bessa
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