Após umas semanas de ausência, a crónica do 6º trajecto está de volta ao blog. A noite começou amena com a habitual visita ao J. que encontramos como sempre no seu beiral descansadamente a fumar o seu cigarro. A mesma conversa de sempre e as mesmas perspectivas de sempre, muitas poucas… Continua resignado às suas “longas férias” a viver na rua, tropeçando na monotonia dos dias, carregados de horas plagiadas definidas numa simples expressão “Está tudo na mesma”. O João conversou ainda com mais dois amigos que passam por ali esporadicamente e que não são muito dados a conversas. Deixámos também dois sacos para os vizinhos do J. que amontoavam nos respectivos locais um monte de cartões.
Seguimos para Sá da Bandeira ao encontro do Sr. V. que não víamos há umas semanas. Desta vez encontrava-se no seu lugar habitual e já dormia envolvido em cartões. Acordámo-lo e acompanhando o saco deixámos um cobertor e um casaco para poder dignificar um pouco mais a sua noite. O seu olhar triste não escondia o desânimo de uma vida resumida ao álcool, e trauteando escassas palavras numa mistura de português e castelhano, conseguimos perceber que ainda não procurou a assistência social. Para a semana teremos que estar atentos, pois caso ele se mostre disposto, seria importante alguém o acompanhar à assistente social.
Entretanto, o João e o Alexandre ficaram à conversa com um novo amigo, o M., um conhecido do Pedro, que demonstrou a sua vergonha por não ter aparecido a um encontro marcado com ele na Quarta passada que o levaria a uma consulta no CAT de Matosinhos. De qualquer forma, procurou redimir-se e marcou ele próprio uma consulta para Segunda desta semana no CAT de Gaia. Esperamos boas notícias deste amigo.
A noite terminou como sempre em Cedofeita, onde junto com a ronda do Bonfim encontrámos o habitual grupo de amigos, sempre bem dispostos e sedentos de conversa. Desta vez encontravam-se com uma velha conhecida das ruas do Porto, a Dona B. que como sempre, falou indiscriminadamente sobre tudo, atropelando as suas próprias palavras intercaladas com pequenas porções de versos cantarolados. O Sr. D. encontrava-se bem disposto, como sempre, e extremamente optimista quanto ao seu projecto do jornal. Esta semana será preponderante sendo que aguardamos ansiosamente por boas notícias, já que todos desejamos que esta pessoa com tanto para dar saia rapidamente da rua. Pessoalmente tenho uma convicção profunda que isso irá acontecer em breve. A Maria Antónia falou bastante tempo com a D. que se encontrava também bastante bem disposta. Terminámos a noite com a alegria afogada característica do final de ronda, recordando os olhares tristes e os sorrisos mascarados, mas com a certeza que não podemos parar, e que esta cidade esquecida precisa verdadeiramente de nós.
Fernando Pires
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