quinta-feira, outubro 06, 2011

O FASRondas precisa das tuas mãos! Queres ajudar?

Neste momento estamos a precisar de pessoas que tenham vontade de ajudar, dar um pouco de si e cuidar do outro. Todos juntos poderemos fazer mais e melhor e contribuir para uma cidade mais solidária e fraterna.

o FASRondas actua em cinco vertentes de acção social: Famílias, Aldeias, Sem-Abrigo, Imigrantes e Séniores.

Se te identificas com esta missão junta-te ao nosso grupo!

Vem conhecer-nos na sessão de apresentação que se realizará no dia 12 de Outubro, pelas 21h15 no CREU (Rua Oliveira Monteiro, 562 Porto).

terça-feira, outubro 04, 2011

Crónica da ronda da Boavista – 25.09.2011

No inicio de mais uma ano é sempre bom pensarmos no que andamos a fazer e porque o fazemos. E, para mim, fazer voluntariado é olhar à nossa volta e abraçar quem está ao nosso lado, quem se cruza connosco. Este abraço pode ter várias formas e feitios… o importante é olhar e estar efectivamente com os nossos amigos da noite… E ao chegar a casa, depois de cada domingo e de cada ronda, pensar valeu a pena o tempo que foi ganho com os sorrisos que encontramos em cada pessoa que visitamos.
Já lá vão 3 nos que entrei para o FASrondas… Muita coisa mudou na ronda da Boavista, mas também muito permaneceu… e uma das coisas que permaneceu é a vontade de fazer sempre mais e melhor. Que bom!!

Manuela Seixas

Crónica da ronda da Areosa - 18.09.2011

Arranca mais um ano... por um lado, parece que tudo muda: voltamos de férias, revemos as pessoas, conhecemos novas pessoas... mas na rua tudo continua igual! As "nossas pessoas" esperam-nos todos os Domingos, no mesmo sítio e à mesma hora, para a conversa do costume. E todas as semanas sabe tão bem poder saber mais um bocadinho da semana de cada um ou mesmo perceber que aos poucos confiam em nós!
É isto que me motiva a continuar... enquanto formos necessários, estaremos lá para as pessoas, mesmo sabendo que podem não nos dizer nada... porque muitas delas gostam tanto de nós como nós delas! No final, o aperto de mão termina a conversa e dá-nos a certeza de que no próximo Domingo estaremos todos juntos!

Maria Freitas

Crónica da ronda de Santa Catarina – 11.09.2011

Poucas coisas na vida são lineares. Tudo é mais complexo do que à primeira vista achamos.
Quando se trata então de percursos de vida, muito mais complexo é.
Podemos pensar, por desconhecer, que há um motivo que despoleta um problema e que se torna a causa de, por exemplo, um abandono.
Nunca é assim linear. Se fosse talvez fosse mais fácil resolver os problemas das pessoas.
Mas andamos nisto para resolver "os problemas das pessoas"? O que é resolver?
É arranjar um quarto, tirá-las da rua?
Podia ser. Eu achava que era.
Por ingenuidade, eventualmente.
Imaginando que um sem-abrigo sai da rua e vai para, seja, um quarto, atingimos - atingiu ele - o quê?
Na manhã do primeiro dia em que acorda na cama vai fazer o quê? E na segunda, terceira e quarta manhãs? E tardes?
E se essas pessoas tiverem um passado - que quase se funde com o presente - que envolve dependências, o que farão elas nesses dias vazios?
Lembremo-nos daquele já famoso dizer chinês sobre dar peixes e ensinar a pescar.
Ainda há muito a fazer.

Hugo Ribeiro

terça-feira, setembro 06, 2011

Crónica Séniores S. João




Olá a todos,


Escrevemos para dar algumas notícias do lar do Bom Pastor por altura das festas de S João que estamos a celebrar. Assim, a exemplo do ano passado em que igualmente tivemos um bom acolhimento, lá fomos no dia 21 de Junho ao centro de dia Bom Pastor celebrar o S. Joao com os nossos idosos. Levamos para o efeito uns mini manjericos (uns 20) muito bonitos e muito perfumados para distribuirmos a cada utente. A ideia foi levar também uma boa quantidade de quadras de S. João (retiradas da Net), bandeirinhas coloridas, papel de crepe vermelho, fita de ráfia e o material necessário de bricolage para montar tudo com a possível participação de alguns ou pelo menos o seu acompanhamento desta actividade.


Foram momentos de muita excitação e alegria. Todos queriam a toda a pressa ter o seu vasinho arranjado e houve até alguma confusão e impaciência neste sentido. À medida que foram ficando prontos estavam radiantes e foram-nos apartando com muito cuidado mas também com algum receio de os perderem de vista… Alguns preferiram mesmo escolher a quadra que queriam colocar na bandeira enquanto para outros foi indiferente desde que a lêssemos e falasse no S João.


Dois episódios curiosos a registar; apareceram mais utentes nesse dia no Centro pelo que os Manjericos não chegaram para todos. Assim o único casal de idosos do Centro (marido e mulher) teve que partilhar o mesmo, o que inicialmente lhes causou algum desagrado, apesar de lhes termos explicado o motivo, mas por fim lá foram aceitando o facto.


Também faltou aparentemente para uma outra senhora que ficou muito desolada pelo facto, então uma outra utente, que entretanto se apercebeu da situação, ofereceu-lhe o seu próprio manjerico dizendo que o mais importante era alegrá-la e fazê-la feliz e que não se importava de ficar sem ele. Foi uma atitude muito bonita que registámos com muita admiração. O que é certo é que no fim depois de estarem já todos os manjericos prontos, quando já vínhamos embora, lá apareceu um manjerico a mais! Assim esta ficou particularmente feliz por poder levar afinal também um manjerico atribuindo a DEUS essa graça e lá foi dizendo que não interessa mesmo sermos gananciosos pois Deus no fundo está atento àquilo que merecemos!
Foi mais uma visita ao Centro em que viemos muito contentes por lhes termos proporcionado mais alguns momentos de felicidade.



Até breve.



Fátima Pinto – Séniores

segunda-feira, setembro 05, 2011

FasFamilias Crónica de Junho 2011

Porquê Voluntário?
Muitas vezes questionamos "Porquê Voluntário?". Esta questão tem toda a legitimidade de ser feita. Cada vez mais a competitividade e as exigências impostas pelo meio que nos rodeia, levam-nos a concentrar apenas em nós próprios. Cada vez temos menos disponibilidade para pensar nos outros, focando-nos unicamente nos nossos problemas. O foco apenas do "eu" leva-nos a ignorar e a negligenciar as realidades que ocorrem a par das nossas vidas.

Será que vale a pena ser voluntário? Será que vale a pena, depois de um dia pesado de trabalho, dispensarmos 1 ou 2h a uma pessoa que necessita de nós? Será que vale a pena conhecermos realidades diferentes das nossas?

Na minha opinião todas estas questões têm como resposta comum "SIM". Sem dúvida ser voluntário não é fácil, temos de assumir responsabilidades, investir tempo, trabalho e dedicação. Mas vale a pena apostar!!. Nestes meus primeiros passos como voluntário, tenho recebido testemunhos de vida maravilhosos, os quais nunca vou esquecer. Pessoas a quem a vida tirou o sorriso, mas mesmo assim arranjaram forças para a contrariar e hoje esse tão aguardado sorriso já existe. Isto faz com que voluntariado seja realmente um trabalho muito gratificante que dá mais sentido à nossa vida.

No meu caso particular I. e Z. são ex-presidiários, ex-toxicodependentes, ex-mundo da prostituição, ex-sem-abrigo…. Da vida quase só trazem memórias que gostariam de ter deixado algum dia, em algum lado. A sua força de vontade, persistência, coragem e dedicação, levou-os a neste momento terem emprego (Z), casa e uma vida digna. Sempre que estou com eles levo comigo algum ensinamento. Não é preciso pré-requisitos para ajudar… ajudar é um gesto tão simples, não magoa, não fere… mas conforta!!

Entrei para o voluntariado, porque quis que ele fizesse parte da minha vida, porque me deu oportunidade de dedicar o tempo que me faz falta a ajudar os outros.

Ao ser voluntário adquire-se uma maior consciência social, consciência que podemos ter um papel activo e útil na sociedade a que todos pertencemos.

Tudo isto para responder à questão inicial "Porquê Voluntário?" A minha visão é evidente e espero que seja coincidente com a vossa.

Manuel Brandão

FasFamilias Crónica de Maio de 2011

Esta é uma história de retrovisor, olhando o tanto que já passamos.
Numa ronda em Novembro de 2006 o M, que dormia na Batalha em caixotes
de cartão junto a uma das paredes do Teatro Nacional S. João, aceitou
o desafio de querer entrar num programa de metadona. Já passaram mais
de 4 anos e meio.
No entretanto tivemos uma montanha-russa de dificuldades, desesperos,
desamparos, alegrias e vitórias e recomeços.
Neste tempo contamos 4 empregos em que todos duraram apenas poucas
semanas, 2 recaídas, 1 vez que voltou à estaca zero de dormir de novo
na rua por um mês, um falecimento à distância, 3 visitas à família
disponível, vários telefonemas à família indisponível para ele.
Muitas ocasiões de desespero, de "vou acabar com tudo de uma vez", de
"vou emigrar"…
Mantivemo-nos sempre presentes, mesmo quando o telefone era a única
forma. Mesmo quando transmitir esperança não conseguia ser mais do que
estar presente e calado acompanhando a dor.
Aprendi muito com ele e como é tão fácil exigir aos outros o que
exigimos a nós, pensando que fomos feitos da mesma história e temos as
mesmas ferramentas.
Sei que temos o meu mesmo valor, mas não temos as mesmas ferramentas e
o mesmo passado, e isso só aprendi ao esforçar-me por o ajudar e
compreender:
a nossa localização presente depende sempre de um percurso, e não se
transforma um peixe na água num pássaro nos céus sem o tempo para que
ele o ambicione e depois deixe crescer e fortalecer as asas.
Hoje a história está no seu melhor de todos estes anos: emprego há
mais de 2 meses (e paga razoavelmente!), companheira recente com quem
refaz a vida, família com mais laços reactivados, metadona deixada há
mais de um mês. Melhor era difícil!
São tempos bons. Habituei-me neste tempo a saboreá-los para que quando
as adversidades nos visitarem sejam um farol que ajude.
Estará a nossa montanha russa a chegar ao fim? Queremos muito que sim,
mas ninguém sabe, o certo é que continuaremos cá para ti.
Assinado: o Mano

Jorge Mayer

FasFamilias Crónica de Abril 2011

Tu, meu amigo, tu que me perguntas: " O que é ser voluntário?", não sabes o mal que me fazes, pois a mais franca resposta que te poderei dar será, sem tirar nem pôr: "pergunta, por favor, noutra freguesia e, se a obteres, transmite-a pois também eu por ela anseio.

Mesmo sendo verdadeiro o facto de eu ter formação na área, mesmo sendo real a minha entrega activa no voluntariado, e por mais que continue a tê-la e a sê-lo, nunca o saberei de forma concisa, clara e imediata.

Saramago afirmava que "direitos só o são integralmente nas palavras com que tenham sido enunciadas e no pedaço de papel em que hajam sido consignados". O mesmo acontece com a definição de voluntário, bem como aos direitos e deveres a ela inerentes.

Não obstante, poder-te-ei dizer que são características fundamentais a entrega livre, espontânea e desinteressada; a capacidade de aceitação e compreensão; uma boa dose de bom senso e, por fim, uma estrutura de princípios humanos desenvolvida e bem consolidada.

O senhor que acompanho (Sr. A), já há três anos e meio, é, mesmo tendo em consideração a sua dura e complicada personalidade devido ao seu histórico de vivências, dores e desilusões, e a sua "carteira profissional", é uma pessoa com um suporte de valores humanos, de princípios e sensibilidade espantosos. É interessante e altamente construtivo e recompensador, verificar que, mesmo estando desprovido de parte da dignidade humana que lhe era suposto, este Homem não se descartou da sua humanidade, agraciando-nos com os seus ensinamentos.

Cheguei a um ponto, sou-te franco, em que já não sei quem é que ajuda e quem é ajudado, quem ensina ou quem aprende, quem desenvolve ou quem é suporte de desenvolvimento. Reduzo-me, portanto, à velha questão do "quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha" ou, em simplificação científica (mas não necessariamente equivalente), quem foi avistado primeiro: o ovo ou a sua progenitora. Tal comparação baseia-se no facto de não existir resposta linear, sendo um complexo paradoxo em que cada resposta me repete para a oposta. Bem, e nos termo metafóricos, poderei dar-me à liberdade de afirmar que a galinha, quando foi avistada estava nesse mesmo momento a chocar um ovo, sendo, portanto, os dois avistados em simultâneo pela primeira vez; isto é, e remetendo-me ao concreto caso, ambos (eu e o Sr. A) somos voluntários um do outro, vivendo em parceria voluntária e, espero, amplamente benéfica.

Em suma, a prática da ajuda exterior, implica, ela própria, uma ajuda interior, um crescimento e desenvolvimento não só humano, mas também intelectual.

Miguel Machado

domingo, julho 31, 2011

Crónica das Aldeias - 16.07.2011

Um regresso sentido!
Devido aos desafios do meu emprego deixei de ir às Aldeias no Verão de
2009, e neste Julho quis regressar, porque as saudades das "nossas
senhoras" [como costumo dizer em brincadeira] era muitas e sabia que
perguntavam por mim.
Tudo avançou e mudou. Almoço num sítio bonito que não conhecia, com o
nosso grupo do qual eu só reconhecia duas caras! Companheiros de
visitas que me viam pela primeira vez mas que tinham já uma ideia
sobre mim pelo que lhes era contado do passado pelas senhoras.
Nas visitas a alegria do reencontro! Os meus olhos que brilham e os
delas que alegres me saúdam, me perguntam pelo casamento e pela nova
fase da vida.
Na conversa rapidamente se encurta o tempo que passou e sinto a mesma
alegria de sempre, de saber que levamos um pouco de alegria, esperança
e amor a estas senhoras.
As cumplicidades regressam com os pequenos carinhos de mãos e até com
os conselhos e advertências maternalistas de quem se preocupa e para
quem somos um pouco de netos adoptivos.
No final regressei com o sentimento, que tão bem conheço, de que um
dia assim é pleno e cheio de sentido, mesmo quando tantas vezes no
passado requereu sacrifícios e abdicar de coisas boas como o descanso,
sempre me foi dado a perceber no final das visitas que esta é a forma
de um dia ser plenamente vivido. Um dia com sentido!
Ter ajudado a fundar o grupo e conhecer a sua história desde 2005
faz-me hoje um dinossauro agradecido a Deus pelo que decidiu fazer por
intermédio de nós e agradecer a entrega de cada um dos voluntários que
hoje continuam a levar esta alegria e esperança à Serra do Marão.
Muita força e alegria!
Obrigado a todos!
Jorge Mayer

segunda-feira, julho 18, 2011

Crónica da Ronda da Areosa - 10.07.2011

Vivemos a era do relógio em que tempo é dinheiro. Mas será isso fundamentalmente importante para o nosso processo evolutivo? Quantas vezes no dia-a-dia, depois de um dia desgastante não olhamos em retrospectiva e constatamos um vazio absoluto naquilo que foi feito? Por isso é que todas as semanas, com mais ou menos assiduidade visitamos os nossos amigos e lançamos sementes na expectativa que o fruto resultante possa trazer esperança e a alegria duma vida melhor. É esse o desafio que nos faz mover e dessa forma também completa as nossas vidas.

Todos saímos a ganhar numa espécie de relação simbiótica. Os nossos amigos, que todas as semanas nos aguardam contam connosco. Individualmente procuramos contribuir para que naquele momento se possa transmitir uma mensagem de esperança, para ajudar a ultrapassar mais uma semana, que muitas vezes não passa disso mesmo, mais uma semana. Como cristãos, e ainda que também estejamos num processo evolutivo, cabe-nos a nós ouvir as suas histórias e dar-lhes ânimo, e, tal como foi referido na liturgia da semana passada, lançar a 'semente', para que essas pessoas façam o cultivo da vida utilizando o seu livre arbítrio.

Do nosso lado teremos igualmente a ganhar. Também nós aprendemos com os nossos amigos todas as semanas. Através das suas histórias percebemos muitas vezes que os nossos problemas, provavelmente não serão bem problemas à luz das dificuldades percebidas através daqueles que visitamos. Isso ajuda-nos a nivelar as nossas expectativas e permitirá uma melhor resolução de certos obstáculos que se nos deparam. Isso torna-nos mais fortes e mais atentos para ajudar aqueles que precisam de nós.

Seja em casas particulares ou nos vários locais em que paramos ao longo da nossa ronda, todos os nossos amigos representam já um bocadinho de nós, das nossas vivências, dos nossos pensamentos, das nossas orações. É com muita satisfação que encaramos esta missão, pois acredito ser essa a única forma de o fazer. É com muito prazer que faço esta crónica e apesar da humildade nas palavras empregues, revejo aqui todos os sorrisos colhidos em todos aqueles que visitamos.

José António

domingo, julho 10, 2011

Crónica da Ronda da Batalha - 19.06.2011

Quantos de nós pensou um dia ser Voluntário?
Saberemos o que realmente é ser Voluntário agora que o somos?
Os anos vão passando...
Mantêm-se a vontade de dar...
E de receber...
Pensam muitos que não recebem...
E não receberão, aqueles que não ouvem,
que não sentem...
e que não vivem... cada minuto de noites quentes e frias,
cada conversa, cada momento, cada partilha só nossa e única!

Sem abrigo? Duro este "rótulo"!
Prefiro, "sem destino , ainda!"
Abrigo não é apenas um telhado,
mas uma mão estendida, um amigo, uma palavra!

Dicionário pessoal de algibeira diz:
"voluntário é aquele que sente,
que vive intensamente,
que não é indiferente,
que procura vezes sem fim
a melhor das melhores formas
de apoiar, partilhar, rir e chorar...
De mãos abertas, prontas para ABRIGAR!

Eis que surgimos para tornar
Cada pequeno momento, num grande momento,
numa grande festa... num rumo,
Quem sabe um dia num caminho,
longo, mas de esperança e certeza,
de um destino melhor!

É em ti, N., que pensamos todos os dias,
Quando Domingo após Domingo te vemos "mais dentro"...

Esperamos uma Luz, talvez um sinal,
Para conseguirmos continuar abrigar-te, AMIGO!

Sabina Martins

Crónica das Aldeias - 18.06.2011

Uma nova estação
Já não ia a Bustelo desde Dezembro. Não há como evitar, a vida de um recém-casado traz novas exigências :)

Um dia pleno de surpresas! A começar pela serra onde os traços da nova auto-estrada são já bem evidentes.
Entre os voluntários, foi bom rever as caras conhecidas. Mas há sangue novo na equipa, gente bem disposta e entusiasmada. Parece que estão a gostar!
Os sinais de mudança não ficam, contudo, por aqui. Em “Bustelo de Baixo” duas novas “aquisições” nos aguardavam: o Sr. Lima e a D. Isaura. Cada um à sua maneira revelaram-se pessoas interessantes; gostei de conhecê-los. E acho que apreciaram a nossa visita!
Infelizmente, nem tudo foram boas notícias. Três dos meus “idosos de sempre” não andam bem de saúde e acabei por não os poder ver. Só espero que recuperem rapidamente e que seja possível visita-los em breve.
O dia terminou com uma boa conversa na varanda da D. Maria. O Marão ergue-se no horizonte, numa vista soberba. Está a chegar o Verão e já sinto saudades de Bustelo.

Nuno Afonso

segunda-feira, maio 30, 2011

Crónica da Ronda da Batalha - 15.05.2011

"Encontramos sem nunca realmente te termos perdido"

Foi um encontro incrível…

Uma surpresa inesperada…

Um momento imprevisto…

Sentimentos baralhados…

Será verdade? Parece verdade?

Isso mesmo…

Lá estava ele, depois de dias de recuperação,

De esperança de vida, de renovação, …

Abordagem, palavras, conversa longa…

Um odor invejável, um aspecto notável,..

Disposição de menino jovem…

Foi um momento único, real, …

Mas até quando?

Esperaremos mais uma semana…

Mais uma espera, mais uma esperança!

Terminou a noite repleta de emoções partilhada de uma outra forma!


Sabina Martins

Crónica Aldeias - 28.05.2011

E chegou a minha vez de escrever a tal crónica, vamos lá ver se a coisa corre bem!!!

À hora do costume e no sitio habitual lá nos encontramos para mais uma visita às nossas princesas :) Saídos do Porto em rumo ao Marão, fizemos a nossa primeira paragem no parque de merendas habitual. Depois do escolhe, escolhe lá nos decidimos onde "abancar", uma bela sombra, isto porque o calor apertava e de que maneira, diria que o meu termómetro apontava uns 30ºC à sombra. Depois da mesa pronta, toca a saborear o nosso belo repasto, carregado de iguarias e com direito a um belo Vinho do Porto, oferta da nossa Carminda. Barriguinha cheia, seguimos em direcção ao café para repor os níveis de energia. Agora sim, prontos para as nossas visitas!!!
Chegamos a Candemil e o calor apertava, fomos de encontro à D. Aurélia que já nos esperava de chapéu e óculos de sol, prontíssima para o nosso passeio. Bem, deviam ver a alegria da D. Aurélia ao ver o nosso Diogo :) Como o calor apertava, ficamos um pouco em casa da D. Aurélia a ouvir as ultimas novidades, os passeios, os problemas de saúde, as coisas do dia a dia e até de política falamos!!! Resumindo a D. Aurélia apesar dos seus problemas de saúde, típicos da idade, encontra-se bem e com aquela boa disposição que a caracteriza. Mas não pensem que nos livramos do passeio, mesmo com o calor lá fomos nós passear pelos recantos de Candemil. Depois de uma paragem na fonte para nos refrescarmos, seguimos em direcção a casa da D. Alda, que também nos aguardava com aquele sorriso delicioso:) Ficamos por lá um pouco à conversa, até que conseguimos arrancar a D. Alda de casa para uma bela sombra. Com a brisa que corria, por lá ficamos à conversa e com direito a música da banda local que por lá andava, não era como a banda de Chico Buarque que cantava coisas de amor, era a banda que tocava bombos e acordeão mas que também alegrava Candemil. E depois de muita conversa e cantoria, chegava a hora da despedida. Com o tempo a mudar de cara seguimos em direcção a Basseiros para apanharmos o Marcelo e a Ana. A caminho de Bustelo demos de caras com uma bela cerejeira, que por sinal, estava carregadinha de cerejas. Era difícil não atacar aquela cerejeira, tão difícil que não resistimos... E lá foi o nosso Diogo, em busca das cerejas perdidas, melhor dizendo dos ramos da cerejeira, isto porque o Diogo presenteou-nos com dois belos ramos de cerejeira, carregadinhos de deliciosas cerejas!!!! Depois desta breve paragem, continuamos a nossa viagem até Bustelo, o ponto de encontro habitual. Como fomos os primeiros a chegar, resolvemos ocupar o nosso tempo enquanto esperávamos pelos restantes. Agora adivinhem a fazer o quê???? Pois, mais uma vez lá fomos nós atacar as cerejeiras de Bustelo. Bem, não há coisa melhor do que comer cerejas directamente da árvore, que maravilha, eram mesmo muito boas, docinhas !!!!! E com isto tudo, chegou a chuva que nos fez companhia durante a partilha. Visitas feitas e sorriso no rosto, seguimos em direcção ao Porto, desta vez acompanhados pela chuva ...

Sandra Cardoso - Candemil

quinta-feira, maio 26, 2011

Crónica das Aldeias - 14.05.2011

Cá vou escrever outra vez, em três anos de visitas, esta é a terceira!!
Sou a Joana, tenho 20 anos, a ex-mais nova do grupo (agora a Clarisse com 19) e pertenço ao grupo que vai a Ansiães.
Desta vez, ainda éramos alguns e conseguimos ir aos pares às várias aldeias, Ansiães foi a única aldeia em que íamos três: eu, a Alexandra e a Clarisse. Antes de irmos visitar as nossas senhoras, lá fomos piquenicar todos para ao pé da igreja e, como estava óptimo tempo, e com novas voluntárias (ou seja, com comida óptima – só para quem não sabe, sempre que há novas voluntárias lá vêm cheias de bolos caseiros, frutas deliciosas, o caso de cerejas e morangos divinais, e depois, todos nos começamos a desleixar um bocado...), estivemos muito bem a conversar e a carregar baterias.
Depois, lá fomos cada grupo para as suas visitas, combinando encontrarmo-nos todos em Bustelo, como de costume. Lá fui com a Alexandra e a Clarisse, as duas umas porreiras, e começámos logo pela Tia Rita. Íamos cheias de medo, porque na última visita estava doente e na cama, o que não é nada normal. Entrámos a medo e não é que lá estava ela sentada na cama, toda gira e bem-disposta como se nada fosse? Esta senhora é uma força da natureza e, com já 91 anos, está sempre impecável e tem sempre alguma coisa para nos ensinar! Desta vez a visita foi diferente porque estava também uma das filhas, brasileira, toda simpática (não a conheciamos), e uma vizinha. Estivemos todas à conversa e entre cozinhados, votar ou não no Sócrates, laços de família, "esta é filha desta e casada com aquele e tal", lá estivemos todas entretidas! Não demos pelo tempo passar e a certa altura tivemos mesmo de ir embora (Infelizmente) … Mas a Tia Aldina também precisa de nós! Então, lá fomos nós vê-la, um bocado mais acima da rua, sentada cá fora com uma amiga, as duas a apanhar sol – a sério, as duas todas risonhas dava alta fotografia! Estivemos um bocado as cinco à conversa, a saber como estavam, a falar sobre os filhos, sobre os tempos em que elas eram novas, foi de rir! Adorei quando começaram a falar sobre os tempos em que tinham a nossa idade e a dizer que nós éramos todas "bem-feitinhas, delgadinhas..!"
Entretanto, o tempo já estava a apertar e ainda tínhamos de ir à Tia Ondina. Chegámos lá e estava à nossa espera, sentada numa pedra cá fora! Ficámos um bocado à conversa, esta Tia é uma divertida, fala imenso e nós só precisamos de a ouvir!! Mas, como já estava a chegar a hora, tivemos de vir embora mais cedo, prometemos que para a próxima visita a vínhamos buscar para ir connosco a casa da Tia Aldina. Ficou toda contente!!
Lá fomos então ter com os outros a Bustelo, já estavam à nossa espera, lanchámos qualquer coisa rápida e, todos contentes (reparei logo), lá fomos para o Porto, mas entusiasmados por voltar, uns daqui a 15 dias, outros daqui a 1 mês…

Joana Leite de Castro

segunda-feira, maio 16, 2011

Crónica das Aldeias - 30.04.2011

No dia 30 de Abril fizemos umas visitas às Aldeias diferentes do habitual. Neste dia fomos acompanhados por um grupo de alunos do 12º ano da Escola Secundária Carlos Amarante em Braga que queriam realizar um trabalho sobre voluntariado em meio rural no âmbito da disciplina Área de projecto. Tivemos direito a filmagens, fotografias, entrevistas: uma reportagem à séria!
Os alunos partilharam o almoço com o grupo todo seguindo depois com os voluntários de Bustelo, aldeia onde actualmente visitamos mais pessoas.
Nós voluntários ficámos radiantes com esta iniciativa e os nossos velhinhos e velhinhas adoraram ver o nosso grupo ainda maior que o habitual.
No início havia uma certa timidez com as câmaras mas a simpatia do Tomás, da Daniela e da Maria, alunos que nos acompanharam, fez com que rapidamente o à vontade se instalasse em todas as casas visitadas.
Tinham que ver o Sr. Lima a contar a sua maravilhosa mas difícil história de vida por terras angolanas e a D.Fernanda a recordar o episódio trágico em que deu um trambolhão com um balde de milho e outro de veneno de rato mesmo em frente às galinhas, acabando estas por ter um triste fim...
Também as irmãs D.Maria e D.Celeste foram ilustres entrevistadas e a D.Maria contou aos nossos repórteres o episódio em que o seu filho com 2 anos declamou na igreja "A 13 de Maio na cova da Iria apareceu brilhando a Virgem Maria".
Em casa da D.Emília falou-se de uma vida simples mas feliz no campo e de novos ofícios como cozer sapatos.
Apesar da chuva foi um dia muito agradável e pareceu-me que os nossos visitantes gostaram da experiência.
Agora nós esperamos ansiosamente o resultado do trabalho que partilharemos aqui no Blog logo que possível.

Teresa Monjardino - Bustelo

quarta-feira, abril 27, 2011

Crónica Imigrantes Março 2011

Centro Comunitário de São Cirilo, 15h30, a Valentina já lá estava, a Sónia chegou pouco depois. Este fim-de-semana adiantamos os relógios uma hora. Sol mas com ameaça de alguns chuviscos, nada que nos demova da nossa vontade de estar com as pessoas que se inscreveram para visitar a exposição de Darwin no Jardim Botânico.
Não faço parte da vertente, aceitei o desafio de acompanhar o grupo nesta primeira visita, apenas conheço os relatos dos contactos com os Imigrantes feito pelos meus pares.
Do grupo que nos irá acompanhar fazem parte quatro ucranianos e um guineense. Os primeiros já estão no país há algum tempo e falam um pouco de português, o último está cá por motivos de saúde do filho e dele próprio, mas sempre com um sorriso nos lábios embora não perceba quase nada da língua.
Questiono-me sobre quem são estas pessoas, com uma cultura diferente da nossa, língua, crenças, etc… como é estar num país que não é o nosso, numa comunidade que desconhecemos, numa família re-inventada. Este estar não é por opção, como quando viajamos em férias ou trabalho, ou vamos estudar para outro país, é uma obrigação, uma luta por mais dignidade e melhores condições de vida. É a esperança num amanhã melhor a quilómetros de casa, daqueles que lhes são mais queridos, de tudo aquilo que faz parte da nossa entidade enquanto seres enraizados num dado local.
Surpreende-me a abertura destas pessoas, que num domingo à tarde resolvem acompanhar um grupo de desconhecidos, para verem uma exposição.
Surpreende-me a capacidade de adaptação às dificuldades e a um modo de vida completamente diferente.
Surpreende-me a entrega e a partilha.
Surpreende-me a forma de comunicar e utilizar a linguagem não verbal, o sorriso. Nuns casos mais contido dado os hábitos culturais, noutros mais expansivo.
E, assim o olhar fala. Por gestos.
Percebo claramente que embora a linguagem verbal seja muito importante na nossa inter-acção com os outros seres humanos, há uma forma de comunicar invisível, que também se aprende, e que por vezes, não é devidamente utilizada, que é o AMOR.
No fim do dia, voltámos para casa ainda mais gratas por todos aqueles que nos rodeiam, e estão física e emocional muito perto, e por aquelas pessoas que num domingo à tarde, longe de casa, e dos seus, se entregaram e partilharam um pouco da sua vida naquela vista à exposição de Darwin.
Enquanto escrevo isto recordo toda aquela tarde, desde o percurso que fizemos, das pequenas conversas, e sobretudo os olhares de quem espera fazer parte e acredita num amanhã melhor!
Sara Gonçalves

quarta-feira, abril 20, 2011

Crónica Março 2011 FasFamilias

Muito Pouco

Todo o percurso, quase uma viagem, ainda sem porto de chegada, quase sem casa de partida, mas todo o percurso, até longo, por vezes penoso, mas todo o percurso portanto que partilhei com a R. pode ser descrito em poucas palavras. Destas, a mais fiel talvez seja precisamente essa: "pouco".

Foi muito "pouco" o meu papel na vida da R., foi quase insuficiente a minha presença para a tornar um bocadinho melhor, foi "pouco" o meu tempo, "pouca" a minha disponibilidade, "pouca" a minha iniciativa, "pouco" o meu cuidado e a minha assistência, "pouca", muito "pouca" até a minha capacidade para fornecer a tal cana que o voluntário tanto ouve falar, "pouca" afinal a minha diferença, se é que alguma na vida da R..

Agora sei no entanto que a dimensão da ajuda que prestamos, se "pouca", "muita" ou "assim-assim", não depende apenas de nós. Aprendi que "pouco tempo" se torna muitas vezes "essencial" apenas por se tornar "insubstituível" e que "pouca iniciativa" se torna muitas vezes "instrutiva" apenas por promover o "ser independente". Aprendi que "a tal cana" se encontra muitas vezes em sítios tão ocultos, impossíveis de alcançar, mas que é a viagem para a alcançarmos que se torna, tantas vezes "a nossa pesca". Aprendi, muito recentemente, que o "pouco" de que falo se pode tornar "enorme" apenas por ser "possível".

E que é apenas por ser possível, que estes "poucos" se tornam "tantos" na presença e com a ajuda sempre de quem ajudamos.

Por isso sei, agora, e tal como foi lido há algum tempo numa reunião mensal da vertente: "a caridade faz bem a quem a pratica mas nem sempre a quem precisa verdadeiramente de ser ajudado". Se para mim a experiência com a R. foi um "POUCO" de aprendizagem e de apreensão de consciência do mundo desumanizado que vivemos, espero que para a R. o "POUCO" que foi tenha sido pelo menos "POSSIVEL".

Inês Sá

quinta-feira, abril 14, 2011

Crónica FasFamilias Fevereiro 2011

"Ser voluntário, ajudar os outros é bem mais complicado do que alguns possam pensar: é necessário estar presente sem concordar e entender, é preciso apoiar mesmo quando sabemos que esse não será o melhor caminho. É assim a nossa história, uma história com voltas e reviravoltas constantes de idas e chegadas."

Recorrendo às palavras da Sofia e da Cecília, outas voluntárias, torna-se mais fácil transmitir aquilo que sentimos após um ano de partilha e compromisso. Apesar da vontade de Dar/Ajudar ser muita, nem sempre se torna suficiente para termos forças para semanalmente pôr mãos à obra… sobretudo em momentos que não encontramos nos adultos lá de casa a disposição de nos ter presentes ou o reconhecimento de que as crianças, e muitas vezes até mesmo eles, precisam de nós… dar o nosso tempo, carinho e amor para nós não é sacrificio, mas, por vezes, desilude-nos um pouco sentirmos que nem sempre somos bem-vindos…

Mas a verdade é que, embora a D.F. e a L. precisem também de ajuda, as principais razões para que todas as semanas nos desloquemos ao Viso são quatro: E. , P. , C. e N. Eles sim, fazem valer a pena o nosso esforço! Foi esse o objectivo a que nos propusemos e é esse que temos tentado cumprir, e quanto a isso não podíamos estar mais satisfeitos… apesar de a visita ser curta e o tempo passar a voar, ela é preenchida não apenas por lições e trabalhos, ou por conversas e obrigações, mas também por abraços, beijinhos e muita brincadeira .

Apesar de idades muito semelhantes, as quatro crianças são todas diferentes, o que para nós se revelou mais um desafio, descobrir e aprender a conviver com cada uma delas.

O E., é o mais novo e o mais agitado. Nas nossas primeiras visitas era o miudo que se demonstrava mais carente de atenção, tornando-se dificil trabalhar com ele, hoje em dia está mais calmo nas abordagens que nos faz. É um menino inteligente e extremamente doce, que com as nossas visitas tem demonstrado interesse gradual em aprender e brincar connosco.

A P. é das quatro crianças aquela que mais mostrou que a nossa ajuda se tem tornado importante. Recordamos a P. como uma criança com muitas dificuldades de aprendizagem, hoje temos uma P. capaz de lidar com essas dificuldades, reconhecendo as suas fraquezas e tentando ultrapassa-las, há mais vontade de trabalhar e mais esforço para se auto-corrigir.

O C., é o mais infantil no que diz respeito a comportamentos, isso talvez se deva ao facto desta criança ser a mais afectada pelo meio envolvente, é a que procura mais carinho da avó, tornando-o no menino mais mimado. Apresenta sérias dificuldades em exprimir-se oralmente e necessita de recorrer a terapia da fala para corrigir esse problema.

O N., o mais velho, é o menino a quem são atribuídas mais responsabilidades, sendo o menos acarinhado e sendo alvo de comentários menos apropriados por parte da D.F. e L.. Inicialmente ignorava a nossa presença nas visitas, talvez por ser mais timido, contudo, gradualmente aprendeu a conviver connosco, conseguindo fazer-se com que participe em tudo o que desenvolvemos.

As pequenas evoluções de cada um, e sobretudo, os laços criados com estas quatro crianças, são a força que temos e precisamos para ter vontade de continuar.

Nuno Rodrigues e Catarina Barbosa

segunda-feira, abril 04, 2011

Crónica da Ronda de Santa Catarina 20.03.2011

As rondas não são feitas de sacos, de roupas, de comida, de tempo. As rondas são feitas de pessoas. Daqueles que nos esperam debaixo de cobertores puídos de sonhos destruídos, de rosto sujo de indiferença, de olhar cabisbaixo e palavras contadas. De nós que os visitamos de sacos cheios de reservas e esperanças, pensamentos doces, lágrimas salgadas e o pão-nosso de cada dia. Começa por ser um domingo da semana, com pessoas que mal conhecemos e que nos recebem com apreensão. Com o frio e com a chuva, tornamo-nos pessoas movidas por uma obrigação. Com a rotina, e sem nos apercebermos, algo toma conta de nós. De uma forma subtil, que incomoda de tão íntima, tornamo-nos pessoas comprometidas com outras pessoas. Criamos relações. Já não há o meu eu do trabalho, o de casa, o dos amigos, o dos sem abrigo. Aquelas pessoas passam a fazer parte da nossa pessoa. Aquelas pessoas deixam de ser sem-abrigo. A sua casa é na minha preocupação, na minha vontade de saber como correu a semana, no chã que preparamos com cuidado antes de sair de casa, nos objectos que fazem falta, e nos esforçamos por encontrar em conjunto; nos telefonemas aflitos, na discussão de cada caso antes de entrarmos de novo na vida deles. Assim como eles entraram de rompante na nossa. Esta história é feita de compromissos. Comigo próprio, mas sobretudo com as pessoas que me acompanham. Com 4 pessoas de idades diferentes, trabalhos diferentes, gostos e ideias diferentes, mas algo em comum: este domingo, estas horas em que nos tornamos uma equipa com uma missão. Com uma relação. Podemos não ser amigos, como diz a Ana, nem ir jantar à casa do Rodrigo na Foz. Não arranjamos voluntários surfistas para Natália, e não sabemos conduzir como o Hugo, mas existe algo mais profundo que nos une: uma relação re-criada todos os domingos, entre nós…e os outrora sem-abrigo.

Vanessa Pereira