quarta-feira, abril 20, 2011

Crónica Março 2011 FasFamilias

Muito Pouco

Todo o percurso, quase uma viagem, ainda sem porto de chegada, quase sem casa de partida, mas todo o percurso, até longo, por vezes penoso, mas todo o percurso portanto que partilhei com a R. pode ser descrito em poucas palavras. Destas, a mais fiel talvez seja precisamente essa: "pouco".

Foi muito "pouco" o meu papel na vida da R., foi quase insuficiente a minha presença para a tornar um bocadinho melhor, foi "pouco" o meu tempo, "pouca" a minha disponibilidade, "pouca" a minha iniciativa, "pouco" o meu cuidado e a minha assistência, "pouca", muito "pouca" até a minha capacidade para fornecer a tal cana que o voluntário tanto ouve falar, "pouca" afinal a minha diferença, se é que alguma na vida da R..

Agora sei no entanto que a dimensão da ajuda que prestamos, se "pouca", "muita" ou "assim-assim", não depende apenas de nós. Aprendi que "pouco tempo" se torna muitas vezes "essencial" apenas por se tornar "insubstituível" e que "pouca iniciativa" se torna muitas vezes "instrutiva" apenas por promover o "ser independente". Aprendi que "a tal cana" se encontra muitas vezes em sítios tão ocultos, impossíveis de alcançar, mas que é a viagem para a alcançarmos que se torna, tantas vezes "a nossa pesca". Aprendi, muito recentemente, que o "pouco" de que falo se pode tornar "enorme" apenas por ser "possível".

E que é apenas por ser possível, que estes "poucos" se tornam "tantos" na presença e com a ajuda sempre de quem ajudamos.

Por isso sei, agora, e tal como foi lido há algum tempo numa reunião mensal da vertente: "a caridade faz bem a quem a pratica mas nem sempre a quem precisa verdadeiramente de ser ajudado". Se para mim a experiência com a R. foi um "POUCO" de aprendizagem e de apreensão de consciência do mundo desumanizado que vivemos, espero que para a R. o "POUCO" que foi tenha sido pelo menos "POSSIVEL".

Inês Sá

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