Centro Comunitário de São Cirilo, 15h30, a Valentina já lá estava, a Sónia chegou pouco depois. Este fim-de-semana adiantamos os relógios uma hora. Sol mas com ameaça de alguns chuviscos, nada que nos demova da nossa vontade de estar com as pessoas que se inscreveram para visitar a exposição de Darwin no Jardim Botânico.
Não faço parte da vertente, aceitei o desafio de acompanhar o grupo nesta primeira visita, apenas conheço os relatos dos contactos com os Imigrantes feito pelos meus pares.
Do grupo que nos irá acompanhar fazem parte quatro ucranianos e um guineense. Os primeiros já estão no país há algum tempo e falam um pouco de português, o último está cá por motivos de saúde do filho e dele próprio, mas sempre com um sorriso nos lábios embora não perceba quase nada da língua.
Questiono-me sobre quem são estas pessoas, com uma cultura diferente da nossa, língua, crenças, etc… como é estar num país que não é o nosso, numa comunidade que desconhecemos, numa família re-inventada. Este estar não é por opção, como quando viajamos em férias ou trabalho, ou vamos estudar para outro país, é uma obrigação, uma luta por mais dignidade e melhores condições de vida. É a esperança num amanhã melhor a quilómetros de casa, daqueles que lhes são mais queridos, de tudo aquilo que faz parte da nossa entidade enquanto seres enraizados num dado local.
Surpreende-me a abertura destas pessoas, que num domingo à tarde resolvem acompanhar um grupo de desconhecidos, para verem uma exposição.
Surpreende-me a capacidade de adaptação às dificuldades e a um modo de vida completamente diferente.
Surpreende-me a entrega e a partilha.
Surpreende-me a forma de comunicar e utilizar a linguagem não verbal, o sorriso. Nuns casos mais contido dado os hábitos culturais, noutros mais expansivo.
E, assim o olhar fala. Por gestos.
Percebo claramente que embora a linguagem verbal seja muito importante na nossa inter-acção com os outros seres humanos, há uma forma de comunicar invisível, que também se aprende, e que por vezes, não é devidamente utilizada, que é o AMOR.
No fim do dia, voltámos para casa ainda mais gratas por todos aqueles que nos rodeiam, e estão física e emocional muito perto, e por aquelas pessoas que num domingo à tarde, longe de casa, e dos seus, se entregaram e partilharam um pouco da sua vida naquela vista à exposição de Darwin.
Enquanto escrevo isto recordo toda aquela tarde, desde o percurso que fizemos, das pequenas conversas, e sobretudo os olhares de quem espera fazer parte e acredita num amanhã melhor!
Sara Gonçalves
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