"Ser voluntário, ajudar os outros é bem mais complicado do que alguns possam pensar: é necessário estar presente sem concordar e entender, é preciso apoiar mesmo quando sabemos que esse não será o melhor caminho. É assim a nossa história, uma história com voltas e reviravoltas constantes de idas e chegadas."
Recorrendo às palavras da Sofia e da Cecília, outas voluntárias, torna-se mais fácil transmitir aquilo que sentimos após um ano de partilha e compromisso. Apesar da vontade de Dar/Ajudar ser muita, nem sempre se torna suficiente para termos forças para semanalmente pôr mãos à obra… sobretudo em momentos que não encontramos nos adultos lá de casa a disposição de nos ter presentes ou o reconhecimento de que as crianças, e muitas vezes até mesmo eles, precisam de nós… dar o nosso tempo, carinho e amor para nós não é sacrificio, mas, por vezes, desilude-nos um pouco sentirmos que nem sempre somos bem-vindos…
Mas a verdade é que, embora a D.F. e a L. precisem também de ajuda, as principais razões para que todas as semanas nos desloquemos ao Viso são quatro: E. , P. , C. e N. Eles sim, fazem valer a pena o nosso esforço! Foi esse o objectivo a que nos propusemos e é esse que temos tentado cumprir, e quanto a isso não podíamos estar mais satisfeitos… apesar de a visita ser curta e o tempo passar a voar, ela é preenchida não apenas por lições e trabalhos, ou por conversas e obrigações, mas também por abraços, beijinhos e muita brincadeira .
Apesar de idades muito semelhantes, as quatro crianças são todas diferentes, o que para nós se revelou mais um desafio, descobrir e aprender a conviver com cada uma delas.
O E., é o mais novo e o mais agitado. Nas nossas primeiras visitas era o miudo que se demonstrava mais carente de atenção, tornando-se dificil trabalhar com ele, hoje em dia está mais calmo nas abordagens que nos faz. É um menino inteligente e extremamente doce, que com as nossas visitas tem demonstrado interesse gradual em aprender e brincar connosco.
A P. é das quatro crianças aquela que mais mostrou que a nossa ajuda se tem tornado importante. Recordamos a P. como uma criança com muitas dificuldades de aprendizagem, hoje temos uma P. capaz de lidar com essas dificuldades, reconhecendo as suas fraquezas e tentando ultrapassa-las, há mais vontade de trabalhar e mais esforço para se auto-corrigir.
O C., é o mais infantil no que diz respeito a comportamentos, isso talvez se deva ao facto desta criança ser a mais afectada pelo meio envolvente, é a que procura mais carinho da avó, tornando-o no menino mais mimado. Apresenta sérias dificuldades em exprimir-se oralmente e necessita de recorrer a terapia da fala para corrigir esse problema.
O N., o mais velho, é o menino a quem são atribuídas mais responsabilidades, sendo o menos acarinhado e sendo alvo de comentários menos apropriados por parte da D.F. e L.. Inicialmente ignorava a nossa presença nas visitas, talvez por ser mais timido, contudo, gradualmente aprendeu a conviver connosco, conseguindo fazer-se com que participe em tudo o que desenvolvemos.
As pequenas evoluções de cada um, e sobretudo, os laços criados com estas quatro crianças, são a força que temos e precisamos para ter vontade de continuar.
Nuno Rodrigues e Catarina Barbosa
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