segunda-feira, setembro 05, 2011

FasFamilias Crónica de Abril 2011

Tu, meu amigo, tu que me perguntas: " O que é ser voluntário?", não sabes o mal que me fazes, pois a mais franca resposta que te poderei dar será, sem tirar nem pôr: "pergunta, por favor, noutra freguesia e, se a obteres, transmite-a pois também eu por ela anseio.

Mesmo sendo verdadeiro o facto de eu ter formação na área, mesmo sendo real a minha entrega activa no voluntariado, e por mais que continue a tê-la e a sê-lo, nunca o saberei de forma concisa, clara e imediata.

Saramago afirmava que "direitos só o são integralmente nas palavras com que tenham sido enunciadas e no pedaço de papel em que hajam sido consignados". O mesmo acontece com a definição de voluntário, bem como aos direitos e deveres a ela inerentes.

Não obstante, poder-te-ei dizer que são características fundamentais a entrega livre, espontânea e desinteressada; a capacidade de aceitação e compreensão; uma boa dose de bom senso e, por fim, uma estrutura de princípios humanos desenvolvida e bem consolidada.

O senhor que acompanho (Sr. A), já há três anos e meio, é, mesmo tendo em consideração a sua dura e complicada personalidade devido ao seu histórico de vivências, dores e desilusões, e a sua "carteira profissional", é uma pessoa com um suporte de valores humanos, de princípios e sensibilidade espantosos. É interessante e altamente construtivo e recompensador, verificar que, mesmo estando desprovido de parte da dignidade humana que lhe era suposto, este Homem não se descartou da sua humanidade, agraciando-nos com os seus ensinamentos.

Cheguei a um ponto, sou-te franco, em que já não sei quem é que ajuda e quem é ajudado, quem ensina ou quem aprende, quem desenvolve ou quem é suporte de desenvolvimento. Reduzo-me, portanto, à velha questão do "quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha" ou, em simplificação científica (mas não necessariamente equivalente), quem foi avistado primeiro: o ovo ou a sua progenitora. Tal comparação baseia-se no facto de não existir resposta linear, sendo um complexo paradoxo em que cada resposta me repete para a oposta. Bem, e nos termo metafóricos, poderei dar-me à liberdade de afirmar que a galinha, quando foi avistada estava nesse mesmo momento a chocar um ovo, sendo, portanto, os dois avistados em simultâneo pela primeira vez; isto é, e remetendo-me ao concreto caso, ambos (eu e o Sr. A) somos voluntários um do outro, vivendo em parceria voluntária e, espero, amplamente benéfica.

Em suma, a prática da ajuda exterior, implica, ela própria, uma ajuda interior, um crescimento e desenvolvimento não só humano, mas também intelectual.

Miguel Machado

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