sexta-feira, abril 13, 2007

Ronda de 8.4.2007 (Sta. Catarina)

Rondei só com a Benedita, o que foi sintoma de noite pouco voluntariosa mas em contrapartida possibilitou arejar a ronda. Para os sem-abrigo, rever uma cara não habitual e sentirem dimensão do grupo; para nós, perceber modos diferentes de abordar e estar, aproximar os percursos.
Com eficácia no início, chegando cedo e adiantando os sacos conseguimos sair às 'e meia'. Deste modo, e ao contrário das últimas semanas, não ouvimos repreensões pelas horas tardias. É mesmo importante manter este horário.
Começámos pela D.E. e Sr.F. na 'casa velha'. Muito o de sempre: recepção e descida de escadas em resmunguice, mas logo cá em baixo sorrisos e abraços. o Sr.F. melhor das dores da perna, mais erguido, com melhor ar. Ela, 'atendeu-nos'!...
Ali ao lado, estivémos com o E. Não aceitou os doces porque está com dores de dentes. A Benedita recomendou-lhe passar na Universidade Independente ao Jardim de Arcad'água - o que foi óptimo porque eu só sabia das enormes listas de espera da Faculdade de Medicina Dentária ao S.João. Percebemos que a sua ausência nas últimas semanas se deveu a uma estadia de trabalho em Vila Real, numa quinta a guardar animais. Comprou calças e sapatilhas e guarda agora 50€ para ir para França ou Espanha, está para decidir...
Seguimos para a Praça e aí acabámos os sacos. Ao fim já houve que roubar aos 'reservados' para não deixar de mãos a abanar tipos com mais necessidade do que a F. e o P. que a seguir visitariamos. A T. apareceu com novo companheiro, que percebemos estar bebido e portanto não nos ter parecido grande aposta... O J. já só o vimos mais tarde quando passávamos só de carro. O M. pediu ajuda para ir ao CAT, desistiu de ir com a mãe, como estava previsto. À partida só para a semana. Com ele estavam dois sujeitos que não conhecíamos mas que também agarraram a ideia. Deixámos morada de Matosinhos e nome do Fernando. A ver.. De resto as pessoas do costume, à velocidade apressada da Praça.
A F. e o P. melhor do que eu esperava. Ele perdeu mesmo o filho mas já não houve aquele discurso de revolta e vingança! Falámos ao contrário de recomeço e procura de trabalho - e de novo a Benedita deixou esperança com o nosso 'banco de empregos'. A F. é um importante equilíbrio pela sua doçura e simplicidade, e intuição para o bem. Queixa-se cada vez mais da perna. Expliquei-lhe do desfalque no saque e ela apoiou! Iam na segunda-feira ver os filhos dela e ele sorriu como que sentindo mais seus os dela! Ao telefone com o rapaz ficou embaraçado porque lhe tinha mandado um beijo..!
Terminámos ao passar de novo na Praça e parar com o I. Outra vez em baixo, para baixo, magro e sujo. Voltei a desafiar para a segunda tentativa no CAT. Sem primo, sem mim, quer fazer por si próprio. Toquei-o e animei-o quanto pude.
Eu e a Benedita conversámos sobre isto de o que dizer a quem perde um filho, nós que não somos pais... O que dizer a quem está enterradíssimo na droga, nós que nunca consumimos sequer e dependência é coisa que não sabemos a que sabe... Rezámos por todos e reconhecemos a ressurreição não como 'acto único' de um Jesus de há dois mil anos, mas de tantos pormenores, de tantas passagens de tristezas para sorrisos, de tantos pequenos avanços, de cedências para esperanças! É aí que está o Ressuscitado, que só foi reconhecido pelos apóstolos por sinais por cima da trivialidade

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei do que escreveste!...

Estiveste bem.

Um bj p ti,
Ana carvalho