segunda-feira, março 12, 2007

Crónica da ronda de 04/03/07 (Sta Catarina)

Actualizámos as crónicas, suspensas desde Dezembro.

Até agora, a ronda começava em Alexandre Herculano, na pensão da D.E. e do Sr.F. Eles saíram agora da pensão, paga pela S.Social, por motivos próprios, de incompatibilidade com vizinhos, voltando para a 'casa velha' em Santa Catarina. Na 2ªfeira dia 5, pela primeira vez, entrámos nesta casa, cantámos os parabéns com bolão de chocolate e velas e flores. Era já noite e o escuro acentuava o sinistro da casa, velha a cair de podre. Estamos receosos que haja acidentes e a puxar pelas cabecinhas por alternativas. Com o casal na ‘casa velha’ está o Sr.M., rei das advinhas e da boa disposição, que faz anos 4ªfeira e que está a ser ajudado pelos Médicos do Mundo: a nível de dentista mas também a nível de S.Social, arranjando o rendimento mínimo e esperando assim vir a poder pagar um quarto.

Com o M. e o I. continua a falar-se de CATs. O I. já foi a Matosinhos, já se afastou, enfim, está na metadona mas sem convicção. Mas de algum modo foi um ganho: as idas ao CAT, os banhos, as comidas, as amizades do Fernando, minha, de um suposto primo que puxou por ele, fizeram-lhe bem e foram ao menos contacto com a 'normalidade'. Claro que a distância, se por um lado os afasta do sítio onde habitualmente estão (mal) metidos, não ajuda em termos de deslocações. O M. está para ir... Os encontros com ele são é sempre muito divertidos, gargalhadas em conjunto connosco - gosta especialmente das da Mafalda!

Com o R. e o M. não se fala de CATs! Fala-se pouco aliás porque estão sempre a correr. O M. está enterradíssimo mas aí quer continuar. O R. está porém a reduzir e diz-se capaz de deixar a droga a frio - parece que já o fez antes. Mas a relação é de sorrisos e forte amizade. Dois episódios: 1. num jantar de semana, à subida passei em Sta. Catarina - onde dormem - e deixei um arroz de polvo, interrompendo a injecção; à descida, passei de novo e estavam de pé a comer e disseram que estava bestial, que um casalinho lhes tinha deixado jantar - o casalinho era eu, repliquei! 2. numa ronda de domingo fui presenteado com o colar de peito do R., um Sol peruano!

Pontualmente aparecem ao domingo o E. e o Sr.L. com o Sr.J. O E. está num quarto em Santos Pousada e muito em breve entrará em tratamento psiquiátrico arranjado pela Mafalda. Os outros dois na pensão da Rua do Sol, num ambiente muito degradado, todos alcoólicos. O Sr.L está a caminho de tratamento, a cargo da Raquel. O Sr.J. porém não bebe e está a trabalhar como trolha. Os três bem, afinal, em termos de cama-comida-roupa pelo que estamos a trabalhar sobretudo a nivel emocional.

O J. e a T. estavam juntos até à semana passada, zangaram-se. Ele apareceu com outra senhora, não dando para perceber a relação entre eles. O J. dorme num quarto em Alexandre Herculano e tem uma história de vida gira: de drogado, preso mas, depois, de recuperado e cooperante na Legião da Boa Vontade. A T. não apareceu; é 'a filha do Z.' e isso foi engraçado porque facilitou a nossa aproximação, porque nós sabíamos tudo sobre o 'pai' que tínhamos ajudado - mas que agora é visitado pela ronda que faz a Trindade, onde dorme com a A.M.

O 'padeiro de Valongo' foi caso de sucesso, entrou numa clínica de desintoxicação e apoio psiquiátrico, por isso já náo aparece. Sentimos falta da diversão que trazia.

Deixando a Batalha, com o P. e a F. temo-nos encontrado à porta da pensão da Rua Formosa. Ela claramente com mais problemas, de saúde (estômago), físicos (perna curta) e de limitação mental - mas surpreendentemente mais activa e animada do que ele! Deu-nos a novidade de que vai fazer curso de Ajudante de Cozinha no restaurante onde vão, pagos pela S.Social. Ele não só não arranja trabalho como pareceu relutante em que ela o fizesse... Depois de procurar em obras - porque restauração não quer - e de esperar eternamente pelo Centro de Emprego, começou agora a inscrever-se nas Juntas de Freguesia para trabalhos tipo varredor ou jardineiro.

Paragem em Sta. Catarina, no sítio da T. que nunca mais apareceu, estão dois personagens com o mesmo nome, E.. Um preto, quarentão e um miúdo de 19anos. Aquele faz justiça à sua antecessora porque, senão esquizofrénico, é muito surreal, grandes divagações mas com sensibilidade e diversão. O miúdo vem revelando as verdades mas ainda não sabemos tudo. Tem casa do pai onde não vai há um ano, casa de um irmão comando, enfim apoios que não agarra. Droga-se.

Ao Aleixo nem sempre temos ido, apesar de levarmos ultimamente mais comida do que há uns meses atrás. É que na Batalha, para além dos falados, aparecem uns muitos, 'rápidos', que esgotam os sacos. Indo ao Aleixo: não temos cruzado o grupo do Fernando; são poucos os sacos que deixamos; caras conhecidas só o L.

Pedro Cruz

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