Famílias, Aldeias e Sem Abrigo estas são as nossas áreas de acção. Um grupo de jovens do Porto, que no CREU têm uma casa, lançam mãos aos desafios que lhes surgem.
quarta-feira, outubro 26, 2011
FasFamilias - Crónica Setembro
Sara Machado
FasFamilias - Crónica Julho
Na reunião da vertente famílias de Julho tivemos oportunidade de, após a apresentação dos resultados do inquérito que tinha sido previamente preenchido pelos voluntários, propor um desafio a todos os voluntários:
Defender a permanência da ajuda no caso que acompanham, pressupondo existia uma fictícia restrição dos recursos humanos. Assim, teríamos (hipoteticamente) de abandonar todos os casos, excepto um. Após reunirem por equipa, os voluntários tiveram dois minutos para justificar porque é que o seu caso seria o indicado para continuar a ser visitado.
A Inês e o Manel defenderam que nesta fase era essencial apoiar a I. no que diz respeito à procura de trabalho e sobretudo, à recuperação do período depressivo em que tem vivido. Salientaram a importância de manter as visitas ao casal, pois fruto das dificuldades financeiras, corre, eventualmente, risco de ruptura.
O Miguel M e o Miguel C: defenderam que o caso do Z. não poderia ser abandonado devido à sua saúde débil e risco eminente de se refugiar no álcool.
A Teresinha, a Sara e Catarina alegaram convincentemente que nunca poderíamos deixar uma mãe solteira, nesta altura de inquietação e dúvida provocado pelo desemprego. Por outro lado, poderia constituir um problema de imagem para a vertente.
A João e a Sofia crêem que nesta altura é essencial acompanharem a F. na procura de uma oportunidade para levar a sua vida para a frente.
A Catarina, o Nuno, a Rosinha, a Inês S. e a Maria referiram, com toda a determinação, que a família que acompanham envolve 4 crianças, uma avó e uma mãe, o que só por isso conferia prioridade a este caso.
Foi interessante constatar que tanto a Sara a Inês, bem como, o Jorge e a Gabel, reconhecem que os seus casos aproximam-se do fim do acompanhamento, e como tal preferem não defender a permanência dos casos, mas sim reencaminhar os respectivos recursos para casos que mais precisem. A Cecilia e a Sofia, apesar de não terem estado presentes partilharam desta opinião relativamente ao seu caso.
A sorte é que foi apenas um exercício para pensarmos no papel do voluntário junto das pessoas que visita semanalmente, pelo que, desde que nos pareça a melhor opção, manteremos o acompanhamento a estas Famílias
Aproveito para deixar um muito obrigado a todos estes voluntários que muito mais do que exercícios em sede de reuniões de vertente, acompanham semanalmente aqueles que mais precisam, numa luta incansável para mostrar caminhos alternativos que ajudem a quebrar o ciclo vicioso de pobreza (nas suas diversas dimensões), no qual as famílias que acompanhamos estão inseridas.
Ana
Crónica dos imigrantes 23 Outubro 2011
segunda-feira, outubro 24, 2011
Crónica da ronda de Santa Catarina - 16/10/2011
Vanessa Pereira

sexta-feira, outubro 14, 2011
Formação em Voluntariado
Obrigatória para novos voluntários.
Se não tiveste disponbilidade para estar na sessão de esclarecimento, mas tens interesse em conhecer o grupo, comparece na formação.
Se tiveres alguma dúvida envia por favor um e-mail para:
fasrondas@gmail.com
Até breve!
domingo, outubro 09, 2011
Crónica das Aldeias - 24.09.2011 (Crónica de um emigrante)

Crónica dos imigrantes 25 de Setembro de 2011
Desta vez o destino eram os Clérigos (Torre e Igreja) e a Feira dos Passarinhos (que se realiza todos os domingos, de manhã, no largo fronteiro à Cadeia da Relação, atual museu da fotografia).
Pouco passava das dez horas da manhã quando saímos de S Cirilo em direção ao jardim da Cordoaria. Os primeiros passos foram dados quase em silêncio, havia caras novas. Timidamente foram sendo trocadas as primeiras informações, é preciso ir com algum cuidado, o português não é a língua materna de todo o grupo e, por vezes, aparecem algumas dificuldades de comunicação que vão sendo ultrapassadas com o recurso a alguns elementos do grupo que, servindo de intérpretes de ocasião, desempenham um importante papel.
A primeira visita foi à Torre dos Clérigos, compradas as entradas, lá foi o grupo escalando os 225 degraus da torre. Tivemos uma desistência que por problemas nos joelhos, não conseguiu atingir o cimo desta. A vista é, de facto, impressionante, consegue-se ver uma considerável parte da baixa da Cidade, Câmara, Estação de S Bento, Pavilhão Rosa Mota, várias Igrejas (Sé, Congregados, Stº Ildefonso, Lapa, Carmo, Carmelitas e outras de que não me lembro de momento) e outros patrimónios construídos que fazem parte da história da cidade.
A esta visita, necessariamente curta, fruto da grande afluência de visitantes que se fazia sentir na altura, seguimos para a Feira dos Passarinhos. Deambulamos nos corredores da feira admirando a imensa variedade de animais de estimação que se encontravam à venda. Havia preços para todas as bolsas, desde pequenas aves ou hámsteres a 5 € até uma Arara que atingia a "módica" quantia de 950 €. Dada a diversidade de proveniências dos integrantes do grupo, ficou claro que um pássaro exótico é somente um pássaro que se encontra fora do seu lugar (habitat natural), para alguns as araras, papagaios e outros, são aves que existem nos seus lugares de origem aos milhares e como tal, de exótico pouco têm.
O retorno já foi bastante mais animado, já tinha havido algumas conversas cruzadas e a timidez inicial havia-se dissipado a interação foi mais fluida e natural, já todos estávamos muito mais à vontade e participativos.
Nunca se perde umas horas de domingo, ganhamos um mundo de experiência.
Manuel
Crónica dos imigrantes Julho de 2011
Ficou combinado na nossa troca de mails com o que cada um contribuía, e lá fomos nós, só que desta vez a Sara foi de carro com todas coisa que se reuniram para o almoço.
Como de costume, há sempre caras novas, pessoas que chegaram a S Cirilo há pouco tempo, que estão numa vida transitória até à estabilidade, e aproveitam esta estadia para organizarem as suas vidas.
Gostei de conhecer a P e o seu filho, que aguardavam a passagem para regressarem a Cuba. O A., que também queria regressar ao Brasil. Foi muito fácil começar a conversar, falamos de muito enquanto caminhávamos até ao Palácio.
Depois o D. sempre com calma, porque não é preciso andar tão rápido, que se tem tempo. E ficámos a saber como está a sua saúde, se anda a fazer todos os tratamentos como deve ser. A língua ainda é uma barreira, mas prefere sempre que diga tudo em português, para ir aprendendo.
A N. foi-me contando que só pode visitar o seu filho duas vezes por semana e como ele não está no Porto, anda cerca de três horas para ir e outra três para vir, para estar com ele pouquinho tempo.
Falo aqui das pessoas com quem conversei. O Manuel e o David também iam entretidos a falar com as outras pessoas.
E chegamos, ajudamos a carregar tudo e a fome já dava alguns sinais. Partilhamos o que levamos e devo confessar que as sandes feitas pelo A., estavam magníficas.
Depois do almoço, fomos dar um passeio pelos jardins, aproveitar para conversarmos mais um pouco e partilhar as experiências de cada um. São mundos tão distintos, vidas tão diferentes.
Foi um domingo bem passado, diferente das saídas habituais, recheado de laços, recheado de outras vivências.
Valentina
quinta-feira, outubro 06, 2011
O FASRondas precisa das tuas mãos! Queres ajudar?
o FASRondas actua em cinco vertentes de acção social: Famílias, Aldeias, Sem-Abrigo, Imigrantes e Séniores.
Se te identificas com esta missão junta-te ao nosso grupo!
Vem conhecer-nos na sessão de apresentação que se realizará no dia 12 de Outubro, pelas 21h15 no CREU (Rua Oliveira Monteiro, 562 Porto).
terça-feira, outubro 04, 2011
Crónica da ronda da Boavista – 25.09.2011
No inicio de mais uma ano é sempre bom pensarmos no que andamos a fazer e porque o fazemos. E, para mim, fazer voluntariado é olhar à nossa volta e abraçar quem está ao nosso lado, quem se cruza connosco. Este abraço pode ter várias formas e feitios… o importante é olhar e estar efectivamente com os nossos amigos da noite… E ao chegar a casa, depois de cada domingo e de cada ronda, pensar valeu a pena o tempo que foi ganho com os sorrisos que encontramos em cada pessoa que visitamos.
Já lá vão 3 nos que entrei para o FASrondas… Muita coisa mudou na ronda da Boavista, mas também muito permaneceu… e uma das coisas que permaneceu é a vontade de fazer sempre mais e melhor. Que bom!!
Manuela Seixas
Crónica da ronda da Areosa - 18.09.2011
Arranca mais um ano... por um lado, parece que tudo muda: voltamos de férias, revemos as pessoas, conhecemos novas pessoas... mas na rua tudo continua igual! As "nossas pessoas" esperam-nos todos os Domingos, no mesmo sítio e à mesma hora, para a conversa do costume. E todas as semanas sabe tão bem poder saber mais um bocadinho da semana de cada um ou mesmo perceber que aos poucos confiam em nós!
É isto que me motiva a continuar... enquanto formos necessários, estaremos lá para as pessoas, mesmo sabendo que podem não nos dizer nada... porque muitas delas gostam tanto de nós como nós delas! No final, o aperto de mão termina a conversa e dá-nos a certeza de que no próximo Domingo estaremos todos juntos!
Maria Freitas
Crónica da ronda de Santa Catarina – 11.09.2011
Poucas coisas na vida são lineares. Tudo é mais complexo do que à primeira vista achamos.
Quando se trata então de percursos de vida, muito mais complexo é.
Podemos pensar, por desconhecer, que há um motivo que despoleta um problema e que se torna a causa de, por exemplo, um abandono.
Nunca é assim linear. Se fosse talvez fosse mais fácil resolver os problemas das pessoas.
Mas andamos nisto para resolver "os problemas das pessoas"? O que é resolver?
É arranjar um quarto, tirá-las da rua?
Podia ser. Eu achava que era.
Por ingenuidade, eventualmente.
Imaginando que um sem-abrigo sai da rua e vai para, seja, um quarto, atingimos - atingiu ele - o quê?
Na manhã do primeiro dia em que acorda na cama vai fazer o quê? E na segunda, terceira e quarta manhãs? E tardes?
E se essas pessoas tiverem um passado - que quase se funde com o presente - que envolve dependências, o que farão elas nesses dias vazios?
Lembremo-nos daquele já famoso dizer chinês sobre dar peixes e ensinar a pescar.
Ainda há muito a fazer.
Hugo Ribeiro
terça-feira, setembro 06, 2011
Crónica Séniores S. João
Escrevemos para dar algumas notícias do lar do Bom Pastor por altura das festas de S João que estamos a celebrar. Assim, a exemplo do ano passado em que igualmente tivemos um bom acolhimento, lá fomos no dia 21 de Junho ao centro de dia Bom Pastor celebrar o S. Joao com os nossos idosos. Levamos para o efeito uns mini manjericos (uns 20) muito bonitos e muito perfumados para distribuirmos a cada utente. A ideia foi levar também uma boa quantidade de quadras de S. João (retiradas da Net), bandeirinhas coloridas, papel de crepe vermelho, fita de ráfia e o material necessário de bricolage para montar tudo com a possível participação de alguns ou pelo menos o seu acompanhamento desta actividade.
Foram momentos de muita excitação e alegria. Todos queriam a toda a pressa ter o seu vasinho arranjado e houve até alguma confusão e impaciência neste sentido. À medida que foram ficando prontos estavam radiantes e foram-nos apartando com muito cuidado mas também com algum receio de os perderem de vista… Alguns preferiram mesmo escolher a quadra que queriam colocar na bandeira enquanto para outros foi indiferente desde que a lêssemos e falasse no S João.
Dois episódios curiosos a registar; apareceram mais utentes nesse dia no Centro pelo que os Manjericos não chegaram para todos. Assim o único casal de idosos do Centro (marido e mulher) teve que partilhar o mesmo, o que inicialmente lhes causou algum desagrado, apesar de lhes termos explicado o motivo, mas por fim lá foram aceitando o facto.
Também faltou aparentemente para uma outra senhora que ficou muito desolada pelo facto, então uma outra utente, que entretanto se apercebeu da situação, ofereceu-lhe o seu próprio manjerico dizendo que o mais importante era alegrá-la e fazê-la feliz e que não se importava de ficar sem ele. Foi uma atitude muito bonita que registámos com muita admiração. O que é certo é que no fim depois de estarem já todos os manjericos prontos, quando já vínhamos embora, lá apareceu um manjerico a mais! Assim esta ficou particularmente feliz por poder levar afinal também um manjerico atribuindo a DEUS essa graça e lá foi dizendo que não interessa mesmo sermos gananciosos pois Deus no fundo está atento àquilo que merecemos!
Foi mais uma visita ao Centro em que viemos muito contentes por lhes termos proporcionado mais alguns momentos de felicidade.
Até breve.
Fátima Pinto – Séniores
segunda-feira, setembro 05, 2011
FasFamilias Crónica de Junho 2011
Muitas vezes questionamos "Porquê Voluntário?". Esta questão tem toda a legitimidade de ser feita. Cada vez mais a competitividade e as exigências impostas pelo meio que nos rodeia, levam-nos a concentrar apenas em nós próprios. Cada vez temos menos disponibilidade para pensar nos outros, focando-nos unicamente nos nossos problemas. O foco apenas do "eu" leva-nos a ignorar e a negligenciar as realidades que ocorrem a par das nossas vidas.
Será que vale a pena ser voluntário? Será que vale a pena, depois de um dia pesado de trabalho, dispensarmos 1 ou 2h a uma pessoa que necessita de nós? Será que vale a pena conhecermos realidades diferentes das nossas?
Na minha opinião todas estas questões têm como resposta comum "SIM". Sem dúvida ser voluntário não é fácil, temos de assumir responsabilidades, investir tempo, trabalho e dedicação. Mas vale a pena apostar!!. Nestes meus primeiros passos como voluntário, tenho recebido testemunhos de vida maravilhosos, os quais nunca vou esquecer. Pessoas a quem a vida tirou o sorriso, mas mesmo assim arranjaram forças para a contrariar e hoje esse tão aguardado sorriso já existe. Isto faz com que voluntariado seja realmente um trabalho muito gratificante que dá mais sentido à nossa vida.
No meu caso particular I. e Z. são ex-presidiários, ex-toxicodependentes, ex-mundo da prostituição, ex-sem-abrigo…. Da vida quase só trazem memórias que gostariam de ter deixado algum dia, em algum lado. A sua força de vontade, persistência, coragem e dedicação, levou-os a neste momento terem emprego (Z), casa e uma vida digna. Sempre que estou com eles levo comigo algum ensinamento. Não é preciso pré-requisitos para ajudar… ajudar é um gesto tão simples, não magoa, não fere… mas conforta!!
Entrei para o voluntariado, porque quis que ele fizesse parte da minha vida, porque me deu oportunidade de dedicar o tempo que me faz falta a ajudar os outros.
Ao ser voluntário adquire-se uma maior consciência social, consciência que podemos ter um papel activo e útil na sociedade a que todos pertencemos.
Tudo isto para responder à questão inicial "Porquê Voluntário?" A minha visão é evidente e espero que seja coincidente com a vossa.
Manuel Brandão
FasFamilias Crónica de Maio de 2011
Numa ronda em Novembro de 2006 o M, que dormia na Batalha em caixotes
de cartão junto a uma das paredes do Teatro Nacional S. João, aceitou
o desafio de querer entrar num programa de metadona. Já passaram mais
de 4 anos e meio.
No entretanto tivemos uma montanha-russa de dificuldades, desesperos,
desamparos, alegrias e vitórias e recomeços.
Neste tempo contamos 4 empregos em que todos duraram apenas poucas
semanas, 2 recaídas, 1 vez que voltou à estaca zero de dormir de novo
na rua por um mês, um falecimento à distância, 3 visitas à família
disponível, vários telefonemas à família indisponível para ele.
Muitas ocasiões de desespero, de "vou acabar com tudo de uma vez", de
"vou emigrar"…
Mantivemo-nos sempre presentes, mesmo quando o telefone era a única
forma. Mesmo quando transmitir esperança não conseguia ser mais do que
estar presente e calado acompanhando a dor.
Aprendi muito com ele e como é tão fácil exigir aos outros o que
exigimos a nós, pensando que fomos feitos da mesma história e temos as
mesmas ferramentas.
Sei que temos o meu mesmo valor, mas não temos as mesmas ferramentas e
o mesmo passado, e isso só aprendi ao esforçar-me por o ajudar e
compreender:
a nossa localização presente depende sempre de um percurso, e não se
transforma um peixe na água num pássaro nos céus sem o tempo para que
ele o ambicione e depois deixe crescer e fortalecer as asas.
Hoje a história está no seu melhor de todos estes anos: emprego há
mais de 2 meses (e paga razoavelmente!), companheira recente com quem
refaz a vida, família com mais laços reactivados, metadona deixada há
mais de um mês. Melhor era difícil!
São tempos bons. Habituei-me neste tempo a saboreá-los para que quando
as adversidades nos visitarem sejam um farol que ajude.
Estará a nossa montanha russa a chegar ao fim? Queremos muito que sim,
mas ninguém sabe, o certo é que continuaremos cá para ti.
Assinado: o Mano
Jorge Mayer
FasFamilias Crónica de Abril 2011
Mesmo sendo verdadeiro o facto de eu ter formação na área, mesmo sendo real a minha entrega activa no voluntariado, e por mais que continue a tê-la e a sê-lo, nunca o saberei de forma concisa, clara e imediata.
Saramago afirmava que "direitos só o são integralmente nas palavras com que tenham sido enunciadas e no pedaço de papel em que hajam sido consignados". O mesmo acontece com a definição de voluntário, bem como aos direitos e deveres a ela inerentes.
Não obstante, poder-te-ei dizer que são características fundamentais a entrega livre, espontânea e desinteressada; a capacidade de aceitação e compreensão; uma boa dose de bom senso e, por fim, uma estrutura de princípios humanos desenvolvida e bem consolidada.
O senhor que acompanho (Sr. A), já há três anos e meio, é, mesmo tendo em consideração a sua dura e complicada personalidade devido ao seu histórico de vivências, dores e desilusões, e a sua "carteira profissional", é uma pessoa com um suporte de valores humanos, de princípios e sensibilidade espantosos. É interessante e altamente construtivo e recompensador, verificar que, mesmo estando desprovido de parte da dignidade humana que lhe era suposto, este Homem não se descartou da sua humanidade, agraciando-nos com os seus ensinamentos.
Cheguei a um ponto, sou-te franco, em que já não sei quem é que ajuda e quem é ajudado, quem ensina ou quem aprende, quem desenvolve ou quem é suporte de desenvolvimento. Reduzo-me, portanto, à velha questão do "quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha" ou, em simplificação científica (mas não necessariamente equivalente), quem foi avistado primeiro: o ovo ou a sua progenitora. Tal comparação baseia-se no facto de não existir resposta linear, sendo um complexo paradoxo em que cada resposta me repete para a oposta. Bem, e nos termo metafóricos, poderei dar-me à liberdade de afirmar que a galinha, quando foi avistada estava nesse mesmo momento a chocar um ovo, sendo, portanto, os dois avistados em simultâneo pela primeira vez; isto é, e remetendo-me ao concreto caso, ambos (eu e o Sr. A) somos voluntários um do outro, vivendo em parceria voluntária e, espero, amplamente benéfica.
Em suma, a prática da ajuda exterior, implica, ela própria, uma ajuda interior, um crescimento e desenvolvimento não só humano, mas também intelectual.
Miguel Machado
domingo, julho 31, 2011
Crónica das Aldeias - 16.07.2011
Devido aos desafios do meu emprego deixei de ir às Aldeias no Verão de
2009, e neste Julho quis regressar, porque as saudades das "nossas
senhoras" [como costumo dizer em brincadeira] era muitas e sabia que
perguntavam por mim.
Tudo avançou e mudou. Almoço num sítio bonito que não conhecia, com o
nosso grupo do qual eu só reconhecia duas caras! Companheiros de
visitas que me viam pela primeira vez mas que tinham já uma ideia
sobre mim pelo que lhes era contado do passado pelas senhoras.
Nas visitas a alegria do reencontro! Os meus olhos que brilham e os
delas que alegres me saúdam, me perguntam pelo casamento e pela nova
fase da vida.
Na conversa rapidamente se encurta o tempo que passou e sinto a mesma
alegria de sempre, de saber que levamos um pouco de alegria, esperança
e amor a estas senhoras.
As cumplicidades regressam com os pequenos carinhos de mãos e até com
os conselhos e advertências maternalistas de quem se preocupa e para
quem somos um pouco de netos adoptivos.
No final regressei com o sentimento, que tão bem conheço, de que um
dia assim é pleno e cheio de sentido, mesmo quando tantas vezes no
passado requereu sacrifícios e abdicar de coisas boas como o descanso,
sempre me foi dado a perceber no final das visitas que esta é a forma
de um dia ser plenamente vivido. Um dia com sentido!
Ter ajudado a fundar o grupo e conhecer a sua história desde 2005
faz-me hoje um dinossauro agradecido a Deus pelo que decidiu fazer por
intermédio de nós e agradecer a entrega de cada um dos voluntários que
hoje continuam a levar esta alegria e esperança à Serra do Marão.
Muita força e alegria!
Obrigado a todos!
Jorge Mayer
segunda-feira, julho 18, 2011
Crónica da Ronda da Areosa - 10.07.2011
Vivemos a era do relógio em que tempo é dinheiro. Mas será isso fundamentalmente importante para o nosso processo evolutivo? Quantas vezes no dia-a-dia, depois de um dia desgastante não olhamos em retrospectiva e constatamos um vazio absoluto naquilo que foi feito? Por isso é que todas as semanas, com mais ou menos assiduidade visitamos os nossos amigos e lançamos sementes na expectativa que o fruto resultante possa trazer esperança e a alegria duma vida melhor. É esse o desafio que nos faz mover e dessa forma também completa as nossas vidas.
Todos saímos a ganhar numa espécie de relação simbiótica. Os nossos amigos, que todas as semanas nos aguardam contam connosco. Individualmente procuramos contribuir para que naquele momento se possa transmitir uma mensagem de esperança, para ajudar a ultrapassar mais uma semana, que muitas vezes não passa disso mesmo, mais uma semana. Como cristãos, e ainda que também estejamos num processo evolutivo, cabe-nos a nós ouvir as suas histórias e dar-lhes ânimo, e, tal como foi referido na liturgia da semana passada, lançar a 'semente', para que essas pessoas façam o cultivo da vida utilizando o seu livre arbítrio.
Do nosso lado teremos igualmente a ganhar. Também nós aprendemos com os nossos amigos todas as semanas. Através das suas histórias percebemos muitas vezes que os nossos problemas, provavelmente não serão bem problemas à luz das dificuldades percebidas através daqueles que visitamos. Isso ajuda-nos a nivelar as nossas expectativas e permitirá uma melhor resolução de certos obstáculos que se nos deparam. Isso torna-nos mais fortes e mais atentos para ajudar aqueles que precisam de nós.
Seja em casas particulares ou nos vários locais em que paramos ao longo da nossa ronda, todos os nossos amigos representam já um bocadinho de nós, das nossas vivências, dos nossos pensamentos, das nossas orações. É com muita satisfação que encaramos esta missão, pois acredito ser essa a única forma de o fazer. É com muito prazer que faço esta crónica e apesar da humildade nas palavras empregues, revejo aqui todos os sorrisos colhidos em todos aqueles que visitamos.
José António
domingo, julho 10, 2011
Crónica da Ronda da Batalha - 19.06.2011
Saberemos o que realmente é ser Voluntário agora que o somos?
Os anos vão passando...
Mantêm-se a vontade de dar...
E de receber...
Pensam muitos que não recebem...
E não receberão, aqueles que não ouvem,
que não sentem...
e que não vivem... cada minuto de noites quentes e frias,
cada conversa, cada momento, cada partilha só nossa e única!
Sem abrigo? Duro este "rótulo"!
Prefiro, "sem destino , ainda!"
Abrigo não é apenas um telhado,
mas uma mão estendida, um amigo, uma palavra!
Dicionário pessoal de algibeira diz:
"voluntário é aquele que sente,
que vive intensamente,
que não é indiferente,
que procura vezes sem fim
a melhor das melhores formas
de apoiar, partilhar, rir e chorar...
De mãos abertas, prontas para ABRIGAR!
Eis que surgimos para tornar
Cada pequeno momento, num grande momento,
numa grande festa... num rumo,
Quem sabe um dia num caminho,
longo, mas de esperança e certeza,
de um destino melhor!
É em ti, N., que pensamos todos os dias,
Quando Domingo após Domingo te vemos "mais dentro"...
Esperamos uma Luz, talvez um sinal,
Para conseguirmos continuar abrigar-te, AMIGO!
Sabina Martins
Crónica das Aldeias - 18.06.2011
Já não ia a Bustelo desde Dezembro. Não há como evitar, a vida de um recém-casado traz novas exigências :)
Um dia pleno de surpresas! A começar pela serra onde os traços da nova auto-estrada são já bem evidentes.
Entre os voluntários, foi bom rever as caras conhecidas. Mas há sangue novo na equipa, gente bem disposta e entusiasmada. Parece que estão a gostar!
Os sinais de mudança não ficam, contudo, por aqui. Em “Bustelo de Baixo” duas novas “aquisições” nos aguardavam: o Sr. Lima e a D. Isaura. Cada um à sua maneira revelaram-se pessoas interessantes; gostei de conhecê-los. E acho que apreciaram a nossa visita!
Infelizmente, nem tudo foram boas notícias. Três dos meus “idosos de sempre” não andam bem de saúde e acabei por não os poder ver. Só espero que recuperem rapidamente e que seja possível visita-los em breve.
O dia terminou com uma boa conversa na varanda da D. Maria. O Marão ergue-se no horizonte, numa vista soberba. Está a chegar o Verão e já sinto saudades de Bustelo.
Nuno Afonso