Este domingo começou o Outono. A chuva e o vento exigiram protagonismo e os agasalhos mais resistentes foram resgatados dos armários. A mudança de estação arrasta uma mudança de disposição. Os sem-abrigo tornam-se mais vulneráveis e as suas necessidades expostas às intempéries. Não se trata apenas do frio e da fome, da necessidade de uma sopa quente e do um casaco seco, falamos de exigências mais profundas: a de calor humano. Relembro algo que a Ana diz na nossa viagem de regresso: "a importância do compromisso" e estabeleço uma ligação imediata com a homilia de Domingo: a exortação a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. O padre diz que é fácil amar a Deus, porque não se vê. O verdadeiro desafio está em amar aqueles que estão ao nosso lado. Aqueles com os quais convivemos todos os domingos e que nos chamam "amigos das rondas". É difícil amar o que está mais perto, porque mais complicado se torna mantermos a nossa individualidade preservada. É um risco e uma aventura. Uma corda bamba sem rede de segurança e sem treino de equilíbrio. Uma montanha russa na qual acredito que vale a pena embarcar. Porque existe um momento (ou vários) em que o tempo pára. Não se ouve nada e tudo grita. Os medos dissipam-se e paira-se num momento em suspenso. Só fica a plenitude. Suspiro em êxtase. Consigo dar o próximo passo?
Vanessa Pereira
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