“Anda lá…! Vem fazer a ronda…!”
Foi assim que a noite começou.
Depois da oração meteram os sacos na mala do carro e foram todos nas suas diferentes direcções.
No nosso carro iam 3 rondistas e um infiltrado (eu). Pelo caminho decidiu-se mudar de planos e fomos visitar primeiro o Sr. E e a D. D.
Lá no fundo já se encontravam a dormir, mas rapidamente se levantaram para nos receber. Muito bem dispostos fomos conversando sobre vários assuntos, uns mais sérios outros menos. Novas possibilidades de sair novamente da rua estavam a surgir, o que traz uma enorme esperança a toda a gente.
Depois de uma longa conversa o tempo já apertava e demos continuação à ronda. A nossa próxima paragem foi ao encontro do Sr. Z. Mais um a dormir profundamente debaixo dos cobertores, chamamos por ele e acordou. Custou a meter conversa com tanto sono mas lá conseguimos ouvir algumas histórias e desabafos.
De seguida descemos um pouco a rua e lá nos encontramos com o Sr. X. sempre bem disposto e alegre por nos ver. Teve direito a uma nova manta, a outra já se encontrava bem estragada. Deixámos o Sr. X a comer sossegado e fomos procurar o F. No sítio dele encontrava-se a dormir com um companheiro de ‘quarto’. Muito cansado (pois já era bem tarde) conversámos um pouco com o F e notou-se alguma motivação para tentar melhorar a sua situação.
Próxima paragem: Sr D. muito sereno como sempre, embora com alguma tosse preocupante mas quem estava menos preocupado era ele. Estava pouco conversador mas ainda tinha forças para escolher uma roupa que lhe estava a fazer falta.
De volta ao carro e fomos ter com o Sr J. Recebeu-nos no seu canto, canto esse que ele tem estado a construir com muita dedicação. Ficámos muito orgulhosos do que vimos.
Já era hora de terminar a ronda e fomos ao Aleixo entregar os últimos sacos, mas como já se fazia tarde a coisa não correu lá muito bem. De volta ao Creu decidiu-se fazer uma ronda extra na segunda-feira para despachar o que faltava.
O infiltrado era eu, e para além de já ter ouvido muitas histórias sobre as rondas fiquei impressionado. É um mundo diferente com pessoas diferentes. Desejo a todos os rondistas um enorme força para ajudar estas pessoas, pessoas estas que no fundo não se trata apenas de não terem um abrigo, é mais do que isso, é falta de um amigo, uma família, um carinho, uma conversa e bem-estar.
No fim da noite agradeço imenso a oportunidade.
(e um obrigado ao João e São pela ronda extra de segunda-feira, onde foram distribuídos os imensos sacos que sobraram)
Luís Bateira
2 comentários:
Anda lá, vem outra vez... :)
Obrigada pela crónica, gostei especialmente que tenhas partilhado a tua visão sobre a ronda!
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