segunda-feira, agosto 21, 2006

Crónica da Ronda de 20/08/2006 (Batalha)

O que determina as nossas acções é aquilo que fazemos com o tempo que cada um de nós tem. Foi assim que tudo começou, ontem 20 de Agosto, na Ronda da Batalha, que tentou fazer aquilo que melhor sabe : ajudar os que mais precisam.
A incursão haveria de começar pela zona da ribeira. Já com o destino traçado, para facilitar as manobras e já que cada minuto é precioso para estas pessoas que contam com estes jovens, a ronda da batalha, constituída pela Inês Bessa, Manuela, Luís e excepcionalmente neste dia, pela Maria João e pela Teresa, foi de encontro ao primeiro lugar onde estaria a primeira pessoa a quem prestariam auxílio.
De facto, ser sem-abrigo é muito mais do que não ter uma casa, é não ter um espaço fixo, um limite, em que cada beco pode ser um mundo a ser explorado e talvez por isso a primeira paragem não tenha sido bem sucedida já que não foi encontrado o Sr. E e a sua carismática cadela.
Um pouco desalentado por este pouco auspicioso começo, a ronda da Batalha prosseguiu para a próxima paragem a fim de visitar o Sr. N., junto do bar Lusitano, que apesar de normalmente se encontrar com um companheiro, neste dia estava sozinho. Ri-se e diz-nos que foi ter com uma amiga. Entre a conversa com os cinco jovens, P recorda a vida que tinha antes de se tornar sem-abrigo, com espaço para mostrar a sua boa pronúncia italiana e para nos ensinar um bocado ainda. É um jovem, de facto e talvez por isso os elementos que o acompanham estejam sempre esperançosos de encontrarem a “tal” carta que P diz que estará lá para eles, quando ele tiver ido trabalhar para sair das ruas rapidamente.
Foi uma boa meia-hora que ali estiveram todos à conversa. Se no início P se mostrava um pouco desconfiado com os elementos da ronda, hoje é difícil interromper a conversa, o que infelizmente tem de acontecer porque outras pessoas esperam a mesma visita.
Seguiu-se uma paragem pela D. S, no jardim junto ao quartel. Os elementos acharam por bem não irem todos, já que esta senhora era altamente desconfiada e que isso podia dificultar a comunicação. Assim, foram só três elementos do grupo. Incluída neste grupo, ia a Maria João, que pôs em prática uma técnica diferente da normalmente usada. Ao invés de fazer perguntas à dona S., esta relatou de uma maneira apelativa todas as suas férias, fazendo com que fosse a D. S, a fazer todas as perguntas e integrando-se na conversa curiosa. Passado um pouco, a D. S, já foi capaz de contar o que havia feito e mesmo onde trabalhava, acabando por convidar outro elemento para almoçar. Foi de facto uma abordagem diferente e que parece ter resultado, o que deixou todos os elementos um pouco mais satisfeitos.
Apôs este bom momento , porque aqui todos os pequenos passos se tornam gigantescos, procuramos o Sr. J, que já há alguns dias a ronda não encontra e que este domingo não foi excepção. Suspeita-se que este aconteça devido ao facto de ter mentido em alguns pormenores e de elementos da ronda terem descoberto. Apesar das buscas por St. Catarina, o sr. J não foi encontrado.
Com o Sr. J desaparecido, procuramos um casal que a ronda tem vindo a ajudar recentemente e que se fixou junto à batalha. A ronda encontrou apenas o marido e mais duas pessoas. Este encontrava-se num estado debilitado, visivelmente doente e a precisar de cuidados urgentes, pois apesar de ter tido já medicação, esta parecia não estar a surtir efeito.
A ronda continuou o seu percurso. Faltava visitar ainda dois senhores conhecidos da ronda, já há algum tempo. O primeiro era o Sr. Francisco. Apesar de antigamente se encontrar embriagado sempre que a ronda por lá passava, ultimamente tem-se encontrado sóbrio. Apesar disso, o seu estado mental parece que tem piorado. Se o problema na semana passada era o facto de o habitual saco com comida poder ser roubado por um eventual ladrão que estava escondido por detrás da coluna, ontem já nem a ronda podia lá estar porque o Sr. F, querer perceber “quem andava a brincar”. A ronda, preocupada com esta situação haveria de lá passar a tentar averiguar o que realmente se passava, mas não antes de visitar o Sr. D, que se mostrou mais conversador do que o habitual, falando sobre os turistas que havia visto. Bem, talvez mais sobre as turistas, mas o que interessa é que havia sido mais simpático, o que nem sempre é comum.
Houve ainda tempo, como anteriormente referido, para tentar perceber o que se passava com o Sr. F. Ao que parece, este fala sozinho, discute e articula, parece mesmo exaltado. Por isso, a hipótese de existir alguém a molestá-lo acaba por ser posta de lado.
A ronda acabou perto da meia-noite e meia, sendo que a oração final centrou-se na importância que cada um de nos dá ao tempo, sendo variavelmente diferente daquela que cada uma destas pessoas dá, já que o tempo se perde dentro da sua própria contingência, talvez por não existir rotinas ou horários previamente marcados. E quem sabe se não é talvez esse um dos factores que faz com que muitos acabem por permanecer nesse modo de vida.

Luís Silva

4 comentários:

Anónimo disse...

Essa aproximação foi grande ideia! Pensar e variar formas de ajudar a comunicação com determinadas pessoas é muito importante.
Um abraço
jorge

Anónimo disse...

Que bom reviver a noite nesta partilha! Obrigada Luis!

Ainda n consegui ir almoçar ao restaurante onde a G trabalha. Mas em principio amanha (quarta) irei.

Qt ao Sr F, tentarei passar por lá a ver se ele reage da mesma forma, precisamos de nos informar melhor sobre como agir nesta situação.

Bjs
Manela

Anónimo disse...

Já reparei nisso.. fui lá hj e nao a vi! Calculei...
Vá lá, pelo menos come-se bem :D n se perdeu tudo..
Manela

Anónimo disse...

é bom regressar e ver que os noites de domingo continuam povoadas pelos nossos gestos. abraço grande a todos