quarta-feira, maio 10, 2006

Crónica de 7.05.2006 (Batalha)

Eu, a Mónica e o João, partimos da Nª Sra Fátima rumo à Trindade. Lá encontramos o L que se mantém na mesma situação da semana passada. Queixou-se que o fim-de-semana não estava a ser nada rentável e que por isso se sentia um pouco mais atrapalhado que o normal. Nós já não lhe damos o saquinho mas desta vez abrimos uma excepção pois estava a fazer-lhe falta, mais uma vez mostrou-se muito simpático e sempre a aceitar de bom grado tudo o que possamos dar - nem que seja só a companhia.

Fomos de seguida ao encontro do Sr X que nos deixou um pouco desanimados, pois estava deitado no seu canto - cada vez menos agradável - a escrever numa folha. Aparentava estar mais sóbrio que o normal e, talvez por esse motivo, evitou o diálogo connosco. Mal recebeu o saco, acenou em forma de agradecimento e fez-nos sinal para irmos embora. Lá ficou na sua escrita – de riscos, bolas ou números, sabe-se lá! Ficamos preocupados por nos momentos em que não está sobre o efeito da sua companheira fiel (a bebida) se tornar tão distante e fechado. Falamos ainda da possibilidade de o tentar deslocar um pouco de sitio, mas talvez ainda não seja muito sensato, tendo em conta que é difícil estabelecer comunicação com ele. Vamos tentar trabalhar este ponto de forma a ver se ele nos compreende, e se se mostra receptivo à ideia.

Seguimos para o Sr D. Dormia profundamente e com espanto nosso acordou extremamente calmo e simpático. Quando lhe estendi a mão para o cumprimentar fê-lo com um sorriso ternurento e deu-me um beijo na mão. Ficamos todos admirados pelo sorriso e simpatia com que nos recebeu – pessoalmente também me marcou imenso o seu olhar sereno. Pela segunda vez consecutiva mostrou-se interessado em ir à Segurança Social, vamos tentar durante a semana ir com ele lá, a ver se aproveitamos esta maré de esperança. Enquanto conversávamos ele foi adormecendo, acabamos assim por vir embora mais contentes por vê-lo assim tranquilo e alegre pela nossa visita.

Por último fomos a José Falcão ao encontro do P e do H. Este último não se encontrava lá pois tinha ido visitar a mãe, mas estava um terceiro companheiro desde terça passada, o Sr. E.
O P encontrava-se muito em baixo – física (devido à droga) e psicologicamente (tinha estado durante a semana com a mulher, e tinha ido visitar a mãe que está muito doente. Dois motivos que, por razões diferentes, o abalaram muito). Em nenhum dos casos pudemos ajudar concretamente mas após a longa conversa estava já com um sorriso que o pode ter ajudado a dormir melhor. Na quinta feira desta semana irá ter uma consulta no CAT de Matosinhos - esperamos ter notícias agradáveis para a semana!
O Sr. E tem uma história extremamente surpreendente: tem 53 anos, é divorciado, tem filhos (e já tem netos) e trabalhava num Hospital onde está com Licença Sem Vencimento. Ainda lhe restam 3 anos até a licença caducar. Vive na rua há +/- 1 ano e até terminarem os anos da licença tenciona continuar a viver na rua por opção, e não diz aos filhos onde está para que eles não o venham buscar. Não aparenta sinais de droga nem álcool e tem uma conversa fluente, contudo a história deixou-nos a pensar.. Uma situação estranha, que caso ele se mantenha por lá tentaremos perceber um pouco melhor!

Manuela

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