segunda-feira, maio 22, 2006

Crónica da ronda de 14.5.2006 (Batalha)

Na nossa última ronda houve alguém que veio connosco pela 1ª vez: a Mª Antónia! “Obrigada!” (Nestas últimas semanas, temos tido dificuldade, por vezes, em ter gente suficiente para fazer as diferentes rondas, por isso, foi refrescante
acolher 2 caras novas!!”Bem-vinda, Ana!”).
A 1ª paragem que fizemos foi em frente ao viaduto do J.N. Por lá, encontrámos o L, arrumador de uma célebre casa que abre as suas portas quando o Sol dorme, e que, de uma forma emotiva e enérgica, diz ter sido a sua tábua de salvação em momentos difíceis que viveu!.
O L. dorme numa pensão, por isso, não leva o saco, mas ficou com um miminho: uns doces…Entretanto, lá começou a opinar sobre quem teria o direito de levar os nossos sacos: toxicodependentes, sim! Mas, não, os alcoólicos…
Enquanto o L. mantinha esse ponto de vista com pés de barro, ao lado, estava uma parte da equipa a tentar conversar com o sr X., (que é conhecido de L.)...Estava ali um quadro de difícil contemplação!
O sr X estava efusivo, quando lhe fazíamos uma pergunta directa desatava a rir-se como se lhe desse gozo que não entendêssemos quase nada do que nos respondia…No entanto, percebeu-se que queria saber como se chamava uma pessoa que vivia lá no alto e que era violinista…(E aquela sua mão tão gentil, que tantas vezes se passeia nas nossas em repetidos “Passou bem”, não deixava de estar pousada sobre um pequeno inchaço, camuflado sob o Kispo, numa forma que nos é familiar…Estaria a proteger o seu tesouro ou a esconder o seu segredo? (Só agora reparei que nunca o encontramos a beber ou o tenta fazer à nossa frente!!).
A seguir, dirigimo-nos para o Lusitano: o P. dormia profundamente e, pela 2ª vez, encontrámos o sr E. que revelou um espantoso sentido de humor e lucidez face à situação em que escolheu viver! Ele disse que o seu lugar é a “Pensão estrela” e que não valia a pena viver triste, todavia, aquele olhar transparente e profundamente afectuoso, por breves instantes, teimava em tingir-se de poços cinzentos, sem fundo, daqueles em que se cai a uma velocidade vertiginosa quando um vazio insustentável devora alguém por dentro ou quando a própria sombra o sufoca…
Revelou que o único momento da semana em que conversa, e no qual, tem as ideias ordenadas é o da nossa companhia…
Deixou no ar a ideia de querer voltar para a sua terra (não aguentaria + 1 Inverno na rua!).
Curiosamente não deixou de enfatizar que, para ele, estar na rua é tão normal como mudar de emprego…(Que motivos o levarão a punir-se desta forma?!).
Terminámos esta noite orando com a poesia de Cesariny e ouvindo alguém que Lhe pedia para perceber melhor qual era o seu papel neste trajecto… Orámos com a escuta e, através do silêncio, acolhemos todas essas palavras fazendo-as nossas também…


Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto, tão perto, tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

(crónica escrita pela Mónica Claro)

3 comentários:

Anónimo disse...

Olá! Boa crónica sobre a nossa noite de visita!!
Obrigada tb pelo tempo que estivemos no carro a receber algumas informações uteis sobre saúde. (nomeadamente tuberculose)

Beijinhos
Manela

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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