sexta-feira, maio 05, 2006

Crónica de 30.04.2006 (St. Catarina)

Acredito que vale sempre a pena investir nas pessoas… e que por vezes, enquanto investimos, somos surpreendidos por um intenso brilho interior de grande valor… Não me considero ninguém para julgar mas sei apreciar, na minha singeleza, o que considero ser essencial, raro, especial… E há sem abrigos assim: que em momentos, no que dizem e fazem, vão além do valor comum…

Nunca deixa de ser uma constante redescoberta ouvi-los dizer o que sentem com um amor tão imenso que comove e que vai além daquilo que sou capaz de ser…

No domingo a nossa ronda foi simples mas cheia destas descobertas. Nós éramos só três: eu, Mafalda e Filipe; os com quem estivemos foram só quatro: a D. E., o Sr. F, o E. e o Sr. L, que fazia 46 anos. Um trio para duas duplas: nós os três para eles os quatro, em conjuntos de dois.

A primeira dupla foi o casal D.E e Sr.F., no cenário da agradável Praça da Batalha: uma noite já quentinha sabendo levemente a verão, entre apitos e buzinadelas de um Porto Campeão, e com as luzes da presença carismática do Cine Batalha, recentemente reavivado, enquadrando esta confortável “sala de estar” ao ar livre…
Momentos intensos de um riso carinhoso difícil de conter quando se está cerca de uma hora a ouvir a D.E (entre outras histórias…) a exasperar com o telemóvel “a luz verde que, passado um bocado, se apaga e tenho sempre que estar a carregar neste botão para acende-la de novo!” - o botão é o de desligar e a “luz verde” nada mais que a luz de ecrã activo! Enquanto resmunga vai retirando o telemóvel de dentro de uma bolsinha fechada com um alfinete-de-ama, por sua vez dentro de um saco plástico de nó bem apertado, bem escondidinho e enfiadinho na mala… as loucas fobias de uma ingenuidade e cuidado rural impossível de não ser, por nós, carinhosamente saboreado! Um boné verde fluorescente com flores laranjas e vermelhas, o cabelo felpudo que sobressai porque já está demasiado grande (a nossa Mafalda disponibilizou-se para colocar os seus melhores serviços de “designer de cabelos” à prova segundo os critérios da exigente D. E!), um frasco de perfume oferecido pelo Filipe que se parte e deixa um cheiro futuro nos bancos fixos da praça - acredito que durante mais uma ou duas semanas lá estará! -, um rapaz que passa e faz perguntas e conta uns trocos, um espaço e tempo nosso pela agradável “conversa de café”… O Sr. F amoroso que, bem disposto, sorria com os desabafos das zangas da mulher com a dona da pensão ou com o malcriadão do andar de cima, mais para o calado mas nem por isso menos atento, coloca uma expressão vitoriosa quando se diz que é muito bom cozinheiro, ou marotamente afirma que “agora é quase rico porque até tem três casas!”. E… o Carlos! Claro, o Carlos! O eterno amor do coração da D.E sempre presente...!

Algum tempo depois de termos chegado E. aparece e aproxima-se de nós. É uma personagem muito curiosa este rapaz… de uma amizade e amor gratuito muito bondoso e descomprometido, nunca à espera…! Sr.L tinha ficado no quarto, o dia era de anos mas o seu humor estava pesado… E. vem avisar que o amigo não virá e desabafa as suas angústias, os seus desânimos, as novidades - “consegui um trabalhinho a distribuir o Destake!”- e a sua tristeza por se sentir algo impotente perante a situação do amigo… Tínhamos um “semi - bolo” de aniversário (“semi” porque a cozedura e consistência deixavam muito a desejar! - note-se que fui eu que o fiz portanto a liberdade para o avaliar pela negativa é total! ) com luzinhas e 1 sumo (sem copos!) para brindar! Entrar no quarto requereu os seus jeitinhos mas com algum tempinho Sr.L lá foi desanuviando, entregando-se na conversa, ficando mais leve, mais alegre, mais satisfeito…! Rimos muito porque é incrivelmente engraçado o contraste entre os dois amigos, as expressões que usam, as realidades diferentes que os estruturam e o intenso laço que os une… Rimos muito porque para beber o sumo tivemos que recorrer a algumas acrobacias, porque o E. saia-se, muito naturalmente, com autênticos sketches à escala de um eventual episódio de “Gato Fedorento” e porque o bolo era uma pastilha difícil de mastigar e de cortar que eles até repetiram! Rimos muito e saboreámos muito porque essa noite foi uma noite literalmente entre amigos! Uma noite daquelas que enchem porque se deixa tudo só fluir entre agradáveis e cómicas conversas de amigos, no café…

Nessa noite o Sr.L, o aniversariante, deve ter dormido muito feliz ou, de certeza, mais aliviado …

O E. mais tranquilo porque amigo estava mais “compensado”, por hora…

D.E mais descansada porque lidar com telemóvel até não é assim tão complicado …

E Sr.F esclarecido quanto à quarta-feira em que se iriam encontrar com Filipe…

Eram já 2 da manhã quando chegámos ao Aleixo, que estava deserto: ronda do Sr. Fernando já tinha passado e carros de polícia judiciária mantinham escondidos quem não se quer deixar ver… Pouco conseguimos distribuir na altura devido a tais factos pelo que demos a ronda por finalizada tendo, no dia seguinte, eu e Tiago ido ao Aleixo distribuir as águas e bolachas Maria e bolos que tinham ficado à espera, na noite anterior…

Havia uma só garrafa de Guaraná! Haviam de ver a alegria daquele a quem calhou….


Bom resto de semana para todos!
Muito sol!

Raquel Henriques

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