segunda-feira, maio 22, 2006

Crónica da ronda de 21.5.2006 (Bonfim)

Com a intenção de ficar a conhecer todas as sub-rondas do nosso trabalho junto dos sem-abrigo do Porto no Domingo à noite, decidi acompanhar a equipa do Bonfim, apelidada na última reunião geral de "A Ronda", dado o empenho dos seus membros e a eficácia em termos de organização e horários: Na realidade é a ronda que se prepara mais depressa, parte imediatamente após a oração inicial e termina o percurso mais cedo.

Ontem, começámos a juntar-nos às 21:40h. A oração foi pouco depois das 10:10h e partimos a seguir. O primeiro destino da noite foi a igreja do Bonfim e o sr. A, que dorme no jardim em frente. Não queria acreditar quando, ao nos aproximarmos, avisto um guarda-sol colorido, aos gomos, iluminado pela luz amarela dos candeeiros da rua. Lá estava o sr. A., "aquele que nunca precisa de nada", ensanduichado em plásticos e tapetes, rodeado de poças de água da chuva e o tal guarda-sol a proteger-lhe a cabeceira da cama improvisada.

Seguimos para a Baixa. Na Rua de Camões avistámos o sr. R. e o sr. P. Já os conhecia de outras rondas em paragens diferentes. O sr. P. estava mais desanimado e continua sem se conseguir libertar do vício. O sr. R., sempre pacato, ouvia. Veio ter connosco um casal que descia a rua: O sr. A. e a D. M. Gerou-se um desentendimento inicial, por uma certa desconfiança da D. M: Não nos quis dizer o seu nome e o companheiro ficou muito perturbado. Acabaram por nos explicar que ocuparam uma casa onde têm condições mínimas de higiene e conforto, mas que ficaram sem uma filha de 11 meses cuja guarda lhes foi tirada. A D. M. emocionou-se muito e comoveu-me. Chorou copiosamente... Mesmo sem hipótese de tratar com dignidade um filho, deve ser um sofrimento enorme ver-se privada do contacto com ele, principalmente por ainda ser bebé. A D. M. disse-nos que a criança estava numa instituição em Matosinhos e que não tinha dinheiro para a ir ver... Muito complicado e comovente!

Entretanto intersectou-nos a ronda da Batalha que procuravam pelo sr. F. Ainda trocámos uns galhardetes, claro!

A próxima paragem foi a Praça D. João I e o edifício sede do Banco. Avistámos um casal numa das entradas desactivadas do prédio, que não é costume estar por ali. Dirigimo-nos primeiro à entrada da sucursal com um "apartamento" feito de cartão. Lá estava o sr. J., sózinho. O sr. T. não se encontrava: Até apareceram outras pessoas à procura dele. Entretanto caíu um forte aguaceiro. Depois fomos ter com o referido casal, que terá ficado bastante molhado. O sr. J. A. também é conhecido, mas de outros locais. Estava com uma amiga que protegia. Dormem naquela porta do Banco, sem serviço, há duas noites. Falámos com ele, enquanto ela continuava a dormir e deixámos-lhes um saco para cada um.

"A Ronda" acabou, pacificamente, às 23:40h. Foi um gosto! Ainda deu tempo para procurar pelos da ronda da Areosa, nas suas últimas paragens, mas ainda lá não tinham chegado...

Boa semana para todos e até Sábado no encontro geral.

Beijos e abraços,

Nuno Sacadura

3 comentários:

Anónimo disse...

E foi "um gosto" levar-te pelos caminhos que nos habituamos a percorrer todos os Domingos.. A crónica está perfeita!
Beijinho
Ana Lima

Anónimo disse...

Nuno, és o maior! (a sede DO BANCO!) o único que existe :) e ainda viste o pessoal da ronda da Boavista no CREU que ainda ia a meio... não é a Ronda é a Equipa!

Anónimo disse...

Super color scheme, I like it! Good job. Go on.
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