sexta-feira, março 31, 2006

Crónica da ronda de 26.3.006 (Areosa)

Do Creu, rumou-se à IURD da Arca d’Água para deixar um saco no sr. J. Na Blockbuster da Rua da Alegria não havia viv’alma. Predispusémo-nos a regressar. No Edifício embargado do gaveto da Rua de St.ª Justa com Fernão de Magalhães ningúem respondeu à nossa chamada. No viaduto da Areosa, o sr. M estava profundamente consternado pela repetida ausência da Juaninha. “Vocês não me querem dizer mas eu sei que ela está internada”; o sr. J estava tranquilo, como sempre. Apareceu ainda a I e o sr. T, com quem conversei sobre as diferenças entre a construção civil em Portugal e Espanha. “lá o hormigón é feito com terra. aquilo não é areia, não é coisa nenhuma”. Regressámos à Rua da Alegria, que continuava desértica. E ali, orámos.

rezar o pai nosso dentro de olhos alheios foi, pela primeira vez, em nós que o sentimos, a experiência que, enfim, nos faltava. porque rezar a um pai, que dizemos ser nosso, de olhos fechados ou a olhar para o chão não nos exige a espiritualidade que, no fundo, as palavras evocam. pela primeira vez, orámos de olhos dentro de olhos, directamente. passaram as palavras. passaram as ideias religiosas e não religiosas: as pagãs. rezar o pai nosso serve, não só “dizer” o pai que é o nosso, serve para “dizer” o embaraço e a dificuldade que é expressar o amor, de mim para ti. serve para perceber que tens uns olhos muito bonitos e que não, nunca tinha reparado na forma como dizes as coisas, na maneira que os teus lábios se movem. “dizer” o pai nosso, assim, de olhos em olhos, serve para cantar esta paz. serve para lhes dizer que há alguém que se importa. serve para lhes dizer que não haver ninguém à nossa espera nem na rua da alegria nem no interior do dinossauro de betão é a razão imediata que me faz olhar-te assim, para dentro de ti. hoje, alguém perguntou por ti. a tua ausência foi notada por todos e a tua presença requerida imediatamente. de certa maneira, também esse alguém, de debaixo de um viaduto gritante e pestilento, rezou-te um pai nosso, destes que rezamos agora, mas eu olho-te nos olhos. ele, não.
ouvir o sr. T falar da arte que trouxe de Espanha, é rezar ao tal nosso pai, áquele pai, a este. ele ouviu e a oração subiu ao céu.
rezar o pai nosso dentro dos teus olhos é reinventar, para sempre, o “amor”.

2 comentários:

Anónimo disse...

Carlinhos: Reinventaste as crónicas; Sem dúvida reinventaste o amor com esta tua artéria coronária poética!

1 ab.,

N

Anónimo disse...

NEm sei o que dizer...n estive na ronda...mas ao ler a crónica senti-me presente..A crónica está linda...Obrigado p esta partilha Carlinhos***