Famílias, Aldeias e Sem Abrigo estas são as nossas áreas de acção. Um grupo de jovens do Porto, que no CREU têm uma casa, lançam mãos aos desafios que lhes surgem.
terça-feira, dezembro 01, 2009
Crónica da Ronda da Boavista
Esta história que vos proponho ganhará vida numa sala de cinema, bem próxima das vossas casas, imagino, e conta-nos a amizade que se desenvolve entre um jornalista do L.A. Times, Steve Lopes, e um sem-abrigo, Nathanlel Ayers, envolto num misterioso passado musical.
À medida que a trama se vai adensando várias questões são colocadas ao espectador: Será possível a "amizade" entre duas pessoas tão distintas? Quais os limites da ajuda ao próximo? Será possível transformar o outro?
O filme chama-se "O Solista" e transpõe para o grande ecrã um retrato biográfico de Steve Lopes inspirado em factos reais.
Fica o convite!
Um grande abraço,
Rui
Crónica da Visita às Aldeias - 21.11.2009
Nem sempre as disponibilidades são o que queremos, e desta vez Candemil e Basseiros estão apenas com uma pessoa. E como é melhor irmos acompanhados para sermos também melhor companhia, lá nos dividimos e vamos aos pares.
Eu tenho a companhia da Marta, cá em Candemil.
Começamos como sempre, pela casa da D. Aurélia. Hoje ainda está a acabar de limpar a cozinha e diz-nos para nos sentarmos. Puxamos conversa, as histórias surgem, ficamos a saber mais da semana que passou, do frio, de si. Folheamos um álbum de fotografias antigas, e com gosto diz-nos como eram as colegas de trabalho, as saídas pelo Marão, falou dos filhos, do irmão, da família do Brasil. Ganha brilho, vida, e nós com ela.
Hoje é dia de missa e, por isso, esperamos que se arranje para a cerimónia. Ao contrário das outras vezes, demorámo-nos mais nesta casa. Mas ainda há tempo para irmos a casa da D. Alda, vamos as três. Recebe-nos apressada, a missa que é daqui a 45 minutos, mas que é preciso sair com antecedência, pois os paralelos não ajudam à caminhada.
Enquanto troca a roupa, ouvimos "as meninas vieram com esta chuva?!". Fica contente por nos ver, mas a pressa não deixa sermos companhia muito tempo. Ficam os cumprimentos e a certeza de outras vindas.
Ficamos as duas novamente, e ainda temos de passar pela casa da D. Maria do Carmo. Desta vez está no quarto, no sofá. Está bem, satisfeita com a nossa companhia. Vai contando como passa os dias, de como os filhos insistem para que vá para o pé deles, fala do Natal com alegria, a possibilidade de estar com quem ama, de se sentir bem acompanhada. Apesar da conversa fluir bem, na hora de se levantar para comer, fica, mais uma vez, a sensação de impossibilidade… Andar é mais do que um grande esforço, é um desafio que nem sempre corre bem. Despedimo-nos com um "até breve!".
A chuva continua a cair quase até ao Porto, o corpo cede ao cansaço e ao escuro que se pôs. Vêm aí mais dias para recebermos o sol, ou, pelo menos, para levarmos o brilho às nossas aldeias.
Isabel | Candemil
Crónica das Aldeias - 07.11.2009
Desta vez começamos por visitar a D. Conceição, que se encontrava em casa e sentia-se engripada. A lareira já estava acesa e foi junto a ela que durante algum tempo conversamos sobre os mais diversos assuntos. Desde o marido que faleceu há alguns anos, dos problemas que teve com um dos filhos, da forma como vivia antigamente,… e de quanto lhe faz bem receber as visitas dos vários voluntários, … Vimos também algumas fotos e fez questão de mostrar o seu enxoval. Muito contente está por saber que brevemente irá receber o que pede já algum tempo – um cão.
Perguntou-nos como fazíamos para almoçar e assim que soube do nosso piquenique fez questão de nos oferecer presunto para podermos fazer umas boas "sandocas".
A seguir fomos ter com a D. Deolinda e a D. Maria (a D.Aurora encontra-se em França).
Ambas se encontravam na cozinha junto à lareira que não estava acesa (pois a chaminé tinha de ser limpa).
Mais uma vez fomos surpreendidas ao ver a D. Maria "fora da sua cama" e vestida!! Durante algum tempo esteve acamada mas parece que agora deu um rumo diferente à sua vida. Ambas estavam bem-dispostas se bem que com algum frio.
Próxima e última visita foi às irmãs D. Dulce e D. Arminda. Em casa apenas estava a D. Dulce e a D. Arminda que lhe estava a fazer companhia enquanto restante família tinha ido à missa. Como estava frio e estava a descansar acabamos por conversar durante algum tempo no seu quarto.
Assim que terminamos as visitas e a nossa oração, partimos rumo ao Porto.
Ana Machado | Basseiros
terça-feira, novembro 24, 2009
precisamos voluntários!
Um abraço.
segunda-feira, novembro 23, 2009
Crónica da Visita aos Imigrantes - 15.11.2009
Crónica da Visita aos Imigrantes - 8.11.2009
Como sempre, somos bem recebidos pelos seguranças, que já nos conhecem. Dirigimo-nos à sala onde guardamos o nosso material e já pelo corredor vemos caras familiares de indivíduos que, infelizmente, ainda aguardam a decisão do tribunal quanto à sua saída, quer da UHSA, quer de Portugal.
Dos cerca de 20 e poucos detidos presentes na sala de convívio, pelo menos 15 já nos são conhecidos, recebendo-nos ora com um sorriso, ora com um abraço. Alguns, até do nosso nome se lembram, o que nos deixa bastante orgulhosos do nosso trabalho: a nossa presença não lhes passa despercebida e é apreciada. Como já nos foi dito várias vezes…"obrigado por virem cá, ter connosco! é bom ver caras novas, faz com que o tempo passe mais rapidamente…". Sim, porque o tempo ali é como que se estivesse parado.
Conversamos com eles, partilhamos as suas preocupações, aborrecimentos, queixas, mas também rimos com eles: ouvimos as suas alegrias, coisas engraçadas que aconteceram nas suas histórias de vida tão turbulentas e, no final, apercebemo-nos de que, afinal, cada um de nós voluntário tem coisas em comum com cada um destes imigrantes ilegais detidos, o que nos relembra o quão iguais todos nós seres humanos somos.
Na despedida, estamos conscientes de que possivelmente algumas daquelas faces nunca mais veremos na vida (ou quem sabe, e por ironia do destino, os encontremos quer noutro contexto, quer, por exemplo, numa visita nossa aos seus países de origem). Contudo, sentimos que embora o nosso contacto tenha sido efémero, não foi sem dúvida supérfluo ou inútil, e ainda que nada possamos fazer para melhorar as suas situações cá fora, acreditamos que as nossas palavras de força, optimismo e coragem fazem diferença nas suas vidas.
Cláudia Henriques
Formação toxicodependência dia 3 de Dezembro 21h15 CREU
quinta-feira, novembro 19, 2009
Crónica das Aldeias 24.10.2009
Vamos lá falar um bocadinho das senhoras de Bustelo
Começando pela D. Maria, admiro a sua força de vontade. Estando "presa" a uma cadeira de rodas, surpreende-se a ela própria e aos outros quando faz as suas "caminhadas" agarrada ao varandim ou mesmo ao seu andarilho. Ela adora vestir-se com cores garridas e dos tons quentes - vermelho e laranja. Foi com estas cores que fez as suas primeiras pinturas com aguarelas. Sempre bem-disposta e alegre, gosta de recordar os tempos em que se dedicava ao trabalho no campo e da casa onde vivia, um grande quartel.
A D. Celeste gosta e precisa de se manter ocupada e foi com grande genica e entusiasmo que fez as vindimas deste ano, juntamente com a família. Tem a sorte de ter uma vizinha e amiga que mora em frente (D. Maria, também) que lhe faz muita companhia. Ela tem muita preguiça para comer, mas parece-me que faz uns bons petiscos quando quer!
A D. Fernanda adora os netos e preocupa-se muito com eles. Encontramo-la desta vez a dar de comer às galinhas e a uns lindos pintainhos, outra das suas paixões. Quando voltamos com ela para casa estava o jantar já ao lume, deviam ser umas 16:30 – que cedo! E era cá um cheirinho. Estivemos a conversar junto à lareira e passamos ali uns minutos agradáveis.
E chegamos a casa do nosso querido casal – D. Emília e Sr. Aurélio. Ele estava um pouco atrapalhado com a asma e também voltou a falar da leucemia que o obriga a ir periodicamente ao hospital. Estiveram a contar os tempos difíceis que passaram e os sacrifícios que ambos tiveram que fazer para sustentar a família, mas é com orgulho que o Sr. Aurélio percebe que conseguiu passo a passo fazer o melhor por eles.
Sofia Meister | Bustelo
terça-feira, novembro 10, 2009
Crónica da Ronda da Areosa - 1.11.2009
Joana Sampaio
segunda-feira, novembro 09, 2009
Crónica das Famílias - 10.09
Comecemos pelos rostos novos. No momento presente inicia-se mais um ano no FASrondas, estamos na "estação dos novos voluntários". Nas Famílias temos seis pessoas recém chegadas. Sejam todos muito bem-vindos!
Ao longo deste tempo os casos acompanhados também adquiriam novos estados e novos corpos.
A F., por exemplo, é uma família "fresca" já que o acompanhamento e as visitas regulares começaram em Agosto deste ano. A F. tem demonstrado grande apatia com as voluntárias e sincero gosto em poder contar com elas na sua vida. Além disso parece-nos que já foram importantes os esclarecimentos dados em matérias de Novas Oportunidades.
A B., por outro lado, optou por prescindir da presença dos "seus" voluntários na sua vida. Fê-lo com toda a liberdade e legitimidade a que tem pleno direito. Este foi um dos casos que regrediu bastante. Como em qualquer outra história do nosso quotidiano e das nossas relações uns com os outros, também nas Famílias as vidas, e seus trajectos, não são lineares. E nós devemos (temos que) respeitar e aceitar.
O E. mantém-se como um caso especial, onde o papel dos voluntários não passa tanto por uma ajuda sistemática, mas sim por uma espécie de "provocação" que nutra reacções do mesmo perante a vida. Os encontros não têm sido ocorrentes, mas há um contacto relativamente regular que permite saber como está. Actualmente mantém-se no trabalho que tinha conseguido arranjar e… o contrato foi renovado por mais uma temporada! Está de parabéns!
No caso D.E. e Sr. F. nada de novo há a apontar. Mantém-se como uma família essencialmente acompanhada pelas rondas de domingo.
A família F. tem tido alguns precalços na continuidade dos voluntários, o que tem deixado a Filomena um pouco sobrecarregada, dado tratar-se de um caso com muito elementos na família. Tenta-se iniciar novos voluntários neste acompanhamento.
A L. mantém os seus problemas de sáude, o que infelizmente é habitual desde a nascença.
A L. esteve uma temporada prolongada no Alentejo. Já regressada ao Porto, veremos como tudo corre daqui em diante…
O M. acabou o tratamento de desintoxicação alcoólica e das drogas (10 dias), com sucesso. No entanto acabou por surpreender toda a gente ao renunciar a sua ida para a comunidade terapêutica, e a querer arriscar-se sozinho no caminho muito difícil que é "manter limpo" sem um trabalho direccionada e especializado nesse sentido... Aguardando e vendo como tudo evolui.
A M. conseguiu, finalmente, adquirir os desejados dentes novos! O regressai à família em Vila Real poderá ser um teste complexo, mas ela parece indicar o desejo de abraçar esse desafio. Assim, poderá este ser o passo final para o início da integração familiar de alguém que há dois anos visitávamos nas rondas e que andava pelo Aleixo….
O Sr. O. aguarda a vinda de novos voluntários.
A D. R. tem tido menos visitas, já que a Inês aguarda pela ajuda de mais voluntários. Actualmente parece também viver uma fase de maior necessidade económica.
O ZM1 está há um mês sem medicação, o que é muito preocupante. Já conseguiu pagar as dívidas e a sua casa tem vindo a ganhar recheio. O Miguel aguarda a entrada de um novo voluntário para o ajudar neste caso.
O ZM2 aparenta estar mais estável… É hora de velar com calma.
O voluntariado é um permanente estado de respeito, apoio, atenção e consideração. Não são só eles quem "pede". Também nós sentimos a permanente condição de aprendizes. Creio que é bom que assim seja. No fundo é sinal de que lidamos com os próprios desafios da individualidade de cada um, o que poderá igualmente significar que o fazemos então de modo realmente vivo.
Bem hajam a todos.
Raquel H.
sexta-feira, outubro 30, 2009
Crónica Boavista – 25.10.2009
Durante este ano os meus domingos à noite foram preenchidos com encontros e desencontros com aqueles a quem um dia a vida pregou uma partida. Sim, porque também há desencontros: o Sr. Ar que nem sempre estamos com ele e que há 2 meses que tem agrafes na cabeça e ainda não os foi tirar; o Sr. An que não encontramos há já muito tempo e que da última vez que estivemos com ele estava completamente embriagado; o ZC que anda sempre a correr para ajudar a estacionar mais um carro ou até com flores na mão para vender e assim arranjar mais algumas moedas. Mas também há os encontros com a partilha da semana, com os sorrisos que encontramos apesar da vida que levam. E são tantos os sorrisos que recebemos… O JP que esta muito mais comunicativo; o Sr. Al que está sempre a nossa espera; o Sr. G que continua com as suas mezinhas; a D. Fátima que passou a dormir na rua por causa dos ratos que estavam na sua barraca e que continua a espera de uma casa; o Sr. Z que tem andado mais triste desde que foi “desalojado” do seu T0+0 (como ele mesmo dizia) e que neste domingo recebeu a boa notícia de que a bicicleta que dois polícias lhe tiraram vai-lhe ser devolvida por ordem do tribunal; a D. G que já obteve o 9º ano pelas Novas Oportunidades e que continua entusiasmada e com vontade de apostar na sua formação a informática e também a obter o 12º ano. Foi e são assim as noites de domingo…
E, como sempre, o que não se diz, não se escreve, sente-se!
Manuela Seixas
quinta-feira, outubro 29, 2009
Crónica da Ronda da Batalha - 18.10.2009
Chamo-me Francisco, e estou nas Rondas desde Abril deste ano. E embora o receio de não ser capaz de cumprir a tarefa me tivesse assaltado antes de a começar (por nunca a ter feito), a verdade é que as palavras que o Jorge me dirigiu na sessão de esclarecimento se revelaram muito verdadeiras. Dizia-me ele que se eu tinha MESMO vontade de fazer este género de voluntariado, ainda que pensasse não ter a capacidade de o fazer, o melhor era lançar-me em frente, e talvez viesse a descobrir que afinal as ferramentas já cá estavam, eu é que as não conhecia.
Durante este tempo ganhei amigos e amigas, no FAS e na rua, e tenho descoberto todas as noites de Domingo (mas também durante a semana) o que é afinal isto de ser voluntário, quer nos bons momentos de boa conversa e sorrisos, mas também (e sobretudo) quando as coisas não correm como desejaríamos, quando as dificuldades aparecem. Para mim, tem sido precisamente aí que tenho descoberto quais são realmente as ferramentas que eu e todos temos (ou desencantamos) para fazer face aos silêncios, ao sofrimento, à vida dos amigos que encontramos na rua.
No início encontrámos o N. Costuma estar sozinho, no seu lugar habitual, mas hoje estava com outra pessoa. O N. tem 25 anos, é toxicodependente, e deixou a casa dos pais já há alguns anos, e conhecemo-lo há alguns meses. Diz-nos que está farto desta vida, que quer mudar, que já está à espera de uma vaga numa comunidade. No N. chamou-nos sempre à atenção o factor idade, e a possibilidade de uma vida que o mesmo ainda tem pela frente. Insistimos com ele para não desistir de se tentar tratar. Um dia encontrámo-lo tão em baixo, que ficámos cerca de 1 hora a conversar com ele, e o tempo passou quase sem darmos por isso, com poucas palavras, mas com a nossa presença e a procura de deixar alguma luz de esperança. Hoje essa esperança parece maior. Despedimo-nos com trocas de sorrisos, e um obrigado.
Depois, fomos ter com o Sr. F., que tem 57 anos, e tem problemas de alcoolismo. Embora não muito conversador, conseguimos, na última semana, bater o record de tópicos de conversa abordados. Sendo a nossa intenção unicamente ganhar o "à vontade" das pessoas para melhor as poder ajudar, o desenrolar de algumas perguntas foi o suficiente para ouvirmos do Sr. F. algumas coisas da sua vida passada e presente, com algum humor à mistura. É visível uma grande revolta do Sr. F. para com a vida e o mundo, mas também já vamos sentindo que a nossa presença vai contando para ele nestas noites. Nesta, porém, encontrámo-lo a dormir profundamente, e depois de algumas tentativas para nos ouvir, assim o deixámos.
A seguir encontrámos o Sr. F., já conhecido desta ronda há anos, mas que presentemente tem a sua situação ainda mais complicada. O Sr. F. tem vivido num conjunto de papelões onde guarda todas as suas coisas, com uma higiene muito deficiente, e sabemos nós, com uma alimentação também ela limitada. Sofre de esquizofrenia, e alterna momentos de lucidez, com aqueles em que se embrenha nos seus escritos e histórias que dificilmente conseguimos compreender o sentido, e outros momentos em que o álcool faz a sua entrada. No entanto, recebe-nos sempre de uma forma simpática, gentil mesmo, e se não nos quer junto dele naquela noite, diz-nos que se quisermos não temos que ficar, que sabe que temos que ir ter com mais gente que precisa. Hoje estava fora do seu local habitual, porque junto ao seu sítio abriu um Hotel e uma loja, que o obrigaram a ficar sem sítio, e assim vagueia pelo passeio abaixo e acima, na rua. Encontrámo-lo lúcido, mas apreensivo com o que está a acontecer, para além de não conseguir dormir por o lugar onde está ser inclinado. Falámos-lhe então da hipótese de ir para uma habitação. Estando há tantos anos na rua, e à espera de uma resposta negativa, surpreendeu-nos com um sim, tal o medo que sente neste momento. Dissemos-lhe que, sem compromisso, iremos ver as possibilidades. No final, oferecemos-lhe um chá quente, que agradeceu com um sorriso a que já nos habituou, e que nos aquece o coração. Disse-nos que tinha sido uma boa ideia. Despedimo-nos.
Para terminar, rumámos até junto do J. Outro rapaz novo, também toxicodependente, que na semana passada fez anos, mas que não encontrámos. Desta vez sim, demos-lhe os parabéns, e ele brindou-nos com a notícia de que se inscreveu no programa da metadona. Já será um começo. O J. é de Estarreja, fez 31 anos, e até há algumas semanas estava acompanhado de um irmão, também visitado por nós naquele mesmo sito, o L, mais velho, e que presentemente está preso em Aveiro por acumulação de multas de comboio sem pagar. "Pecados" inevitáveis devido ao sorvedouro de dinheiro que é canalizado para uma dependência sempre acima de necessidades básicas como alimentação ou transporte para visitar a família. Ambos ainda a têm em Estarreja. Perguntamos ao J. pelas suas filhas que lá estão, e disse que as visitou no seu dia de anos. Aqui sentimos que não são muitas mais as ferramentas que temos, que a nossa presença e o nosso conselho são praticamente o que de melhor podemos fazer. O mais importante terá que ser feito por eles.
No fim da noite, encontramos outro caso semelhante ao do J. Trata-se do P., com 36 anos, que costuma andar nas suas lides de arrumador também por aqueles lados. Uma personalidade mais complicada de entender, mas que mesmo tendo a noção de que nem tudo o que diz é exacto, sabemos que a nossa presença pode ajudar a alterar alguns comportamentos, e quem sabe, como uma gota num regato, encaminhar para uma mudança que poderá ocorrer mais cedo ou mais tarde, mas que não podemos prever.
Francisco
segunda-feira, outubro 19, 2009
Crónica das Aldeias 10.10.2009
Eu sou o Diogo, desde Setembro de 2007 que faço voluntariado nas Aldeias, entrei para o FAS, para uma experiência diferente, Ser Voluntário!, desde então, que acordo, aos sábados, de quinze em quinze dias, ou uma vez por mês, para algo diferente, para algo que sei que aquele dia vai ser para aquilo, e sobretudo para aquelas queridas pessoas. Lembro as primeiras vezes que visitei as aldeias, toda aquela cumplicidade que já se sentia,... os rituais,... algo que ainda hoje é assim... e que é sempre bom e é sempre novo, de cada vez que fazemos mais alguns quilómetros até lá, conversas na viagem, o almoço, o cafézinho ou então a sorna, depois a partida para as nossas queridas senhoras, depois um encontro e a partida para o Porto... isto é mesmo giro...
Gostava hoje de partilhar uma história que me lembro muitas vezes durante as nossas visitas... os rituais...
O principezinho voltou no dia seguinte.
- Era melhor teres vindo à mesma hora - disse a raposa. Se vieres, por exemplo, às quatro horas, às três, já eu começo a ser feliz. E quanto mais perto for da hora mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já hei-de estar toda agitada e inquieta: é o preço da felicidade! Mas se chegares a uma hora qualquer, eu nunca saberei a que horas é que hei-de começar a arranjar o meu coração, a vesti-lo, a pô-lo bonito.
São precisos rituais.
- O que é um ritual? - perguntou o principezinho.
- Também é uma coisa de que toda a gente se esqueceu - respondeu a raposa. - É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, têm um ritual. À quinta-feira, vão ao baile com as raparigas da aldeia. Assim, a quinta feira é um dia maravilhoso. Eu posso ir passear para as vinhas. Se os caçadores fossem ao baile num dia qualquer, os dias eram todos iguais uns aos outros e eu nunca tinha férias.
- Adeus - disse a raposa. - Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos - repetiu o principezinho, para nunca mais se esquecer.
[Saint-Exupéry, O Principezinho]
Muitos conhecem... mas é mesmo isto... Chegamos a Casa da D. Alda, chamamos cá de fora... e lá está ela... à nossa espera...
Com a D. Aurélia... nem precisamos de ir ter com ela... encontra-nos sempre, sabe sempre por onde estamos e por onde vamos,...
Com a D. Maria do Carmo... lá está ela... com a sua mantinha sobre as pernas à nossa espera na entrada da sua casa... e é isto... é este o ritual que nós levamos... para estas senhoras... é o bastante... saber que nós lá vamos... para poderem vestir o coração com um sorriso, e "É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias e uma hora, diferente das outras horas."
Aproveito também a crónica para lembrar a D. Cândida... e as suas histórias, e os seus suspiros...
Na última visita foi um dia de muitas recordações, falamos de quando começou o grupo a ir às visitas... a D. Alda lembrou todos os rapazes que por lá passaram nas visitas... o Tiago, os "Joões", o Nuno... das meninas também se falou...
no meio da conversa... falamos de política (eram as autárquicas no dia a seguir), notou-se ali entre a D. Alda e a D. Aurélia, umas pequenas divergências de opiniões, mas ambas sabiam em quem votar no dia a seguir, foi então que eu e a Isabel, decidimos desafiar a D. Alda e a D. Aurélia a um pequeno passeio, que acabou por ser bem maior do que eu julgava, a D. Alda, afinal estava cheia de força, e queria ir sempre "mais ali à frente" dizia ela que já não fazia aquele caminho à muito tempo, e a D. Aurélia... sempre fina... nem parece os seus 94 aninhos, não imaginam o quão forte ela é... é uma grande mulher.
Por fim fomos visitar a D. Maria do Carmo, e como é claro, acompanhados pela D. Aurélia, ali... a conversa rolou muito bem entre elas... enquanto eu aproveitei também para por a conversa em dia com a Isabel =)
Foi assim... mais um dia... um dia marcado pelas recordações, e pela força de jovens senhoras que visitamos.
Com muito mais a dizer... mas talvez fique para uma próxima...
diogoCosta
sábado, outubro 10, 2009
Crónica da Ronda da Areosa - 4.10.2009
Em vez do formato habitual, decidi escrever-vos sobre o que é para mim ser voluntária nos Sem-Abrigo.
1º - é preciso muita entrega e vontade
2º - mais ouvir do que falar
3º - compromisso
4º - estar lá
Depois desta lista parece difícil tudo o resto… mas na verdade é muito fácil… Desde que comecei a fazer rondas, há mais de 2 anos, que não paro de me surpreender com tudo o que acontece à minha volta e com tantos sorrisos e tantas lições que as pessoas que visitamos nos dão. Fui percebendo que as ligações que se criam são muito fortes e que essas pessoas também se interessam por mim, por saber que eu estou bem! Assim, depois de cada Domingo e antes de me deitar, penso em tudo o que aquela ronda me trouxe… é verdade que umas vezes me deito mais contente do que outras mas no Domingo seguinte lá estou para mais uma conversa, mais um copo de leite, mais um monte de novidades ou de notícias repetidas… para visitar os amigos da rua!
Maria Freitas
quinta-feira, outubro 08, 2009
Crónica das Aldeias 26.09.2009
Eu sou a Joana, a mais nova do grupo de visitantes das nossas queridas tias e, se não me engano, tio de Amarante.
Depois de já dois meses de férias, regressei às Aldeias. Apesar de um regresso um bocado confuso, pois só consegui ir ter a Amarante depois do almoço, estava bastante entusiasmada por conhecer as novas senhoras de Ansiães (a "minha" Aldeia). Fui com a Marta e o Adriano e começámos logo pela D. Ondina, uma senhora fora de série, cheia de energia, que falou literalmente a visita toda. Entre política (estavamos em véspera de eleições), mortes, a sua enorme família (tem 8 filhos a viver entre Porto, Lisboa, Algarve e França) e ensinamentos linguísticos, foi difícil conseguir acompanhar o ritmo speedado desta engraçadíssima senhora. Para terminar em beleza, espetou-nos aos três 4 beijos "à francesa" , disse-nos ela.
Em seguida, fomos a casa da D. Aldina, também a minha primeira vez, e fomos recebidos com um enorme sorriso desta tia sentada na varanda a apreciar a vista e o alto dia de sol que estava. Conversámos um bom bocado e tratou-nos como se fossemos da família. Insistiu imenso para que bebêssemos a água pura da fonte ao lado da sua casa.
Já atrasados, fomos bater à porta da Tia Rita (por quem eu tenho uma especial empatia, se me é permitido) que estava a lanchar. Ficou furiosa por só estamos a vir agora, já pensava que não vínhamos. Ao contrário das outras tias, a Tia Rita é completamente autónoma e é ela que cozinha e limpa a casa. Além disso, tem a vida toda organizadinha e por isso não gostou muito que lhe viéssemos interromper o lanche. No entanto, depois de nos por na linha, insistiu imenso e lá nos ofereceu um chá de hortelã divinal. Conversámos sobre as eleições, o seu amor (irónico) ao Sócrates, entre outras coisas. O que teve mais piada foi o facto de achar que conhecia o Adriano de algum lado, dizia ela: "Eu tenho a certeza que já vi alguém igual a ele". Sem chegarmos a nenhuma conclusão, tivemos de sair à pressa, porque ainda nos faltava a D. Carminda, com a promessa de na próxima visita estarmos lá às 15h.
Com a Tia Carminda já não conseguimos estar muito tempo, mas ainda conseguimos trocar umas palavras com ela e com os familiares que estavam. Não falou muito, porque estava fraquinha, mas surpreendeu-me carinhosamente com um beijinho na mão. Sentir as mãos daquela senhora, com aquele sorriso encheu-me o dia!
Cansados, mas felizes, juntámo-nos a grupo que nos esperava em Basseiros a comer uvas.
Conversámos um bocado e despedimo-nos cada um de volta ao seu dia-a-dia, mas sempre com estas senhoras connosco, prontos para voltarmos daqui a um mês ou até antes...
Joana Leite de Castro | Ansiães
quarta-feira, outubro 07, 2009
Sessão de Esclarecimento
Dia 08 (quinta-feira), às 20h no CREU.
Se estás interessado(a) em fazer voluntariado, aparece!
Vem conhecer-nos!
Podes enviar um e-mail para:
fasrondas@gmail.com
sexta-feira, setembro 25, 2009
Crónica da Ronda da Boavista - 20.09.09
No Sábado, o José Luís Artur, s.j., contactou-nos dizendo que adoraria acompanhar-nos numa das nossas rondas. O José Luís esteve estes últimos 3 anos em Braga a estudar filosofia e aí, junto do CAB, foi um grande dinamizador das rondas junto dos sem-abrigo.
Obviamente aceite a sua proposta (!) foi com grande entusiasmo que combinamos com o José Luís logo para o dia seguinte!
Já no Domingo, aproveitamos a presença de um s.j. para lhe "cravar" a celebração da nossa oração antes da partida!
No final da ronda, ainda lhe "cravamos" uma "pequenas palavras" em jeito de crónica!
São aquelas que seguem:
Há muito que tinha vontade de conhecer as rondas do Porto. Durante algum tempo fi-las em Braga e tinha curiosidade de ver como é numa cidade bem maior, a uma escala diferente, e com fama de funcionarem muito bem. Na verdade essa escala acabei por não a notar muito, no sentido de que a cidade é dividida por 5 (aí sim) rondas, mas cada uma delas acaba por ser parecida em vários aspectos ao que se faz em Braga. O que claramente me chamou a atenção foi o tempo que dedicam a cada pessoa. Há tempo para cada um se sentir escutado e isso marca a diferença. Num tempo em que se tem pouco tempo de qualidade para escutar o outro, fazê-lo com quem quer que seja, e neste caso particular com os mais pobres é motivo de louvor e um exemplo vivo da mais saudável compaixão. Continuem assim.
José Luís Artur s.j.
quinta-feira, setembro 24, 2009
Crónica das Aldeias 12.09.2009
Regressadas e regressados das tão merecidas férias laborais/estudantis, eis-nos de volta às "nossas" aldeias.
Desta vez, a partida deu-se com a triste noticia de que 3 companheiros não mais nos poderiam acompanhar, por diversos motivos e, por tal, deixo um abraço à Luísa, ao Jorge e ao Frederico, com a devida nota de que as "nossas portas" estarão sempre abertas ao vosso regresso.
Chegados ao local do repasto habitual, tínhamos a nossa espera o "Super cão" que fez questão de nos acompanhar durante as palavras da Cláudia na retrospectiva do ano de visitas de 2008/2009.
Tomadas as novas decisões e dados os respectivos recados e depois de saciada a fome, partimos para as nossas aldeias.
Basseiros, a minha aldeia, da Gina, da Ana e da Beatriz, encontrava-se na mesma pacatez de sempre e claro, mui caliente!
A primeira visita é sempre as três senhoras: a D. Deolinda, a D. Aurora e a D. Maria.
E que bela surpresa tivemos nesta visita! A D. Maria, que se encontrava "acamada" há bastante tempo, estava nem mais nem menos, sentadinha cá fora à sombra e veio pelo seu próprio pé!!!
Segundo a D. Deolinda, que aparentava estar bem e estava bastante conversadora, o que trouxe a D. Maria cá para fora foi mesmo o calor, pois não aguentava mais estar na cama.
Foi uma bela surpresa!
Para esmorecer esta alegria soubemos que a sempre bem disposta D. Aurora foi para França para casa da filha e que só deverá regressar lá pela Páscoa!!!
Aguardemos o seu regresso e o regresso das suas cantigas e histórias!
Mais uma vez não encontramos a D. Glória, mas o marido assegurou-nos que está bem de saúde.
Também a D. Conceição não estava em casa! Terá ido para casa do filho para Amarante.
Dadas as ausências das nossas senhoras, e o facto de que àquela hora a nossa última visita, a D. Dulce, costuma estar a descansar, também nós decidimos descansar da íngreme subida para casa da D. Conceição.
Sentadas a sombrinha e a desfrutar das belas vistas estivemos na "converseta"!.
De novo partimos, desta vez para a visita às irmãs, a D. Dulce e a D. Arminda! A subida nunca é fácil! Se já custa a subida para casa da D. Conceição, para casa da D. Dulce é sem palavras!
A D. Dulce já tinha feito a sesta e estava sentada na sua cadeira de rodas à sombrinha, a ver os netos e as filhas a prepararem-se para ir até ao rio refrescar. A D. Arminda estava em casa de uma filha.
Terminadas as visitas regressamos ao Porto, não sem antes fazermos uma oração especial à D.Cidália, uma das senhoras que recentemente começara a ser visitada em Ansiães, que partiu para junto do Pai.
Antonieta Oliveira | Basseiros
quinta-feira, setembro 17, 2009
Crónica da visita à UHSA - 13-09-2009
Logo à entrada fomos bem recebidas por quem estava no exterior pois alguns continuam lá desde a visita de Agosto. Ao entrar na sala de convívio todos pareciam não querer deixar os filmes e séries. A pouco e pouco fomos conversando com cada um e começaram a aderir, fazendo a apresentação habitual com o jogo do novelo. Mesmo os que de início não queriam participar acabaram por se juntar. Além das nacionalidades que costumamos encontrar havia duas presenças curiosas: da Libéria e da Eritreia, países que depois fomos procurar a localização no mapa.
A maioria do grupo participou no jogo das bolas. Com os restantes fomos conversando, entre pedidos de ajuda e partilha de histórias de vida.
Nesta tarde sentimos em especial uma alegria e união que surgiram naturalmente, sem ser necessário qualquer esforço para "quebrar o gelo".
Despedimo-nos cumprimentando pessoalmente cada um e todos se revelaram agradecidos, alguns com pena de a visita ser curta.
Ao sair já os imigrantes estavam a voltar às suas actividades e nós às nossas vidas mas todos com o coração mais enriquecido com gestos simples que o preenchem.
Amélia Aleixo
terça-feira, setembro 08, 2009
Acolhimento de Novos Voluntários - 17 de Setembro
É já para a semana (Quinta-Feira | 17 de Setembro) que quem quiser conhecer e inscrever-se no FAS o poderá fazer.
O local de encontro será às 21h30, no CREU.
Estaremos lá à espera de todos os interessados para dar a conhecer um pouco o que é, e o que faz o FAS.
Todos os interessados poderão aparecer, e convidem pessoas que vos sejam próximas e que achem que poderão estar interessados no trabalho deste nosso grupo.
Cumprimentos,
FASRondas