No último Domingo, o vento da noite envolveu o tambor das nossas vivências. Mãos de diferentes cores fizeram-no falar...
Um azul intenso, de pinceladas largas, quentes que respiraram elos de ternura e saudades na despedida feita ao Daniel! Foi para longe estudar, mas continua perto porque a sua mansidão ganhou raízes em nós;
um rosa de descoberta, acolhedora, generosa, estampado no rosto do Padre Nuno, que chegou a uma nova casa e a enfeitou de sorrisos;
um cinzento de tempestade, que não avizinhávamos, refugiado na expressão de aço da G. Fomos arranhados pelos picos da sua armadura e mandados embora sem contemplações. Insinuou, a G., que lhe fizemos mal...Na sua falta de espaço pessoal ela delineou fronteiras psicológicas que não integram o nosso tempo;
um verde pálido na face do J. que se deixa arrastar por um coração que sobrevive, mas que não consegue, ou não sabe, que pode fazer viver! Tentamos ouvir com os nosso olhos o que a sua boca não diz: o seu olhar muda de cor quando nos vê a chegar. Nele, brota um grito tímido de contentamento. (O João ficou com os seus dados pessoais e pediu a sua certidão de nascimento pela net).
Ainda, na "Vivenda Silva", soubemos que a Dn. não chegou a aparecer no hospital de modo a fazer a desintoxicação do álcool...
Conhecemos, ainda, o V., emigrante de Leste, que nos pediu comida. Mora numa pensão, que não paga há meses. O patrão mandou-o dar uma volta de mãos a abanar...A sua magreza descarada e o suor que limpava constantemente do rosto pareciam querer ser a fotografia do que dizia: "A minha vida é como uma rua sem saída";
um laranja vivo, (já no Aleixo), de brincadeira pegada, a trepar sem vergonhas por nós acima!Disparámos risos de cumplicidade sem olhar a custos...
Poderia terminar esta crónica dizendo: "A noite terminou com...", todavia, passei a semana a ler os ecos das cores libertadas pelo tambor: "Fazemos o que podemos e, não, o que queremos fazer..."
Mónica Claro
5 comentários:
Gostei, muito bonito e poético :=)
Gostei do uso da palavra 'tambor', que me fez lembrar um poema de José Craveirinha :
"
QUERO SER TAMBOR
[...]
Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!
"
Talvez não tenha muito a ver, mas ao ler a crónica lembrei-me disto, dos sentimentos despertados :=)
Até domingo
Gostei tanto!!!...Obrigado querida=)...mil beijinhos**Joaninha
Gabriela, q bonito esse poema...N conhecia...
Joaninha, força aí nesses preparativos...
Para vocês,as duas, aqui, fica:
"Ainda q os teus passos pareçam inúteis, vão abrindo caminho, como a água q desce cantando da montanha.
Outros te seguirão".
(Saint-Exupéry)
2 grandes beijinhos! :-) :-)
Obrigada, p ti tb 1 beijinho, Nuno!
...parabens monica...tao perfeita que quase se ve as cores e se ouve o tambor...azul intenso?!concordo:)...bjnhs
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