quinta-feira, setembro 14, 2006

Crónica da ronda de 10/09/2006 (6º trajecto)

Recentemente li que o voluntariado assenta em dois princípios: o da solidariedade e o da subsidiariedade. A solidariedade traduz-se na nossa sensibilidade em relação a outro ser humano e na vontade consciente de o querer ajudar. A subsidiariedade resulta da capacidade de actuarmos, não remetendo para instâncias superiores acções que estão ao nosso alcance. Todavia, serão palavras suficientes para comportar o que deveras se sente ?

A noite iniciou-se com a habitual reunião dos membros das rondas e organização dos sacos. Antes do começo das rondas, em círculo reflectiu-se metaforicamente sobre a importância do passado, presente, futuro, acerca do realmente importante na vida. O passado, escrito está. O futuro, por escrever ainda. Mas o presente é o que temos pela frente, o que devemos e temos que encarar e viver. E quem é a pessoa mais importante na nossa vida ? É essa pessoa que está aí, bem na tua frente, à qual te podes entregar e ajudar. Esse é o culminar da eterna e incessante busca da felicidade.

De rosto triste nos recebeu a G, a qual não esperávamos encontrar por nos ter dito que ia receber o rendimento mínimo. Ainda não tinha sido naquela semana que recebera o esperado rendimento, nem seria tão cedo. Através de uns pontos em comum, fomos falando com ela. No início ela recusou o saco, o que estranhámos. Com medo de adormecer, ela não queria aceitar o saco. Ela desabafou como eram os seus dias e o seu constante medo de ser atacada, daí não querer dormir.

Na “vivenda” apenas estava acordado o J. Contou-nos como tem passado. Lentamente acordaram a Dona D e o Sr F. Inicialmente a Dona D estava muito triste por ir no dia seguinte para o hospital para desentoxicação e por estar longe dos filhos. Todavia, entre o discurso agitado sobre a sua vida, os filhos, um sorriso se ia esboçando. Alternava entre uma saudade exasperante pelos filhos e o desejo de ter uma vida independente e distante. É complicado chegar a compreender o que vai nas almas destes nossos amigos, escondidas na bruma do álcool e da alienação social. O Sr F estava muito animado e ia na semana seguinte também para desentoxicação.

No fim da ronda reunimo-nos e reflectimos sobre um poema de Alberto Caeiro. Citanto :



PENSAR EM DEUS

Pensar em Deus é desobedecer a Deus,
Porque Deus quis que o não conhecêssemos,
Por isso se nos não mostrou...

Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores,
E Deus amar-nos-á fazendo de nós
Belos como as árvores e os regatos,
E dar-nos-á verdor na sua primavera,
E um rio aonde ir ter quando acabemos! ...



Em nota de aparte, gostaria de referir que estou muito contente de participar nesta iniciativa e neste grupo. Espero com a experiência poder ajudar estes nossos amigos, nem que seja com um simples sorriso e um escutar atento, compreensivo.

“Sejamos simples e calmos,
Como os regatos e as árvores”

Até domingo !

Gabriela Soares

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