segunda-feira, janeiro 30, 2006

4ª Crónica de 22.01.06 (Batalha)

Partimos, como habitual, para a "Vivenda Silva". Está a ficar muito
concorrida, esta paragem. Uns habituais, outros de passagem. Todos
necessitados de uma palavra de alento.
Dos moradores no prédio abandonado em frente, apenas o J. e o Z.C.
O J, sempre sorridente apesar de todas as dificuldades; continua a árdua
tarefa de procurar emprego, preferencialmente na área da música, que tanto
ama. Soubemos, por ele, que o M. (residente na vivenda há meses atrás) está
bem, tem agora uma namorada (mais detalhes não se sabem... o importante é
que esteja realmente bem!).
O Z.C. também estava muito animado. Tinha ido a uma entrevista no Porto
Feliz e ficou com outra marcada para esta 4ª; havia a possibilidade de
ficar já internado para a desintoxicação. De animado passou a chateado
depois de se ter recusado deixar um saco para um amigo que "tinha ido
buscar da branca". Notei uma grande desilusão e confesso que me doeu dizer
que não. Talvez se colha o fruto deste não na próxima ronda, com a presença
do tal amigo que desta vai levar, não apenas um saco, mas principalmente
palavras e gestos que o recordem que não é nenhum "farrapo humano", mas sim
um homem, irmão, igual a todos os outros, de que Ele não desiste nunca,
sempre a tempo de mudar de vida...
Cheia de genica, lá estava a T. Não sabiamos dela desde a missa de Natal
dos SA. Sedenta de atenção, lá contou os últimos desenvolvimentos da sua
história: continua numa pensão pela SS até ao fim deste mês, já deu entrada
no aluguer de um casita que arrajou prós lados de Gaia, mudou de emprego,
reatou laços com um ex-namorado... Parecia muito feliz e cheia de energia
para andar com a vida para a frente. Indo para Gaia é pouco provável que a
reencontremos. Ficaram os desejos de uma vida cheia de sorrisos genuínos e,
de parte a parte, um obrigada e um "até qualquer dia"...
O L. e a M., casados, também lá apareceram.Com 4 filhos no coração mas
longe da vista (a cargo dos avós), moram numa casa abandonada ali por
perto, que já tornaram "sua". O L. trazia uma excelente notícia: começara
essa semana a trabalhar numa obra em Guimarães (vai e vem todos os dias). A
M., por seu lado, fica a "cuidar da casa" e a preparar o jantar para
consolo do marido, ao fim do dia de trabalho. Estão com vontade de dar um
novo rumo à vida, talvez ir para Espanha (com expectativa de maior
facilidade em arrajar trabalho...). Lá estaremos para a semana para
procurar "iluminar" um pouco esta caminhada...
Com este casal, estavam o M. (romeno) e o F., que acolheram em "sua casa".
O M. é um jovem romeno de 19 anos, que deixou a mãe e um irmão de 17 anos
na Roménia, na esperança de uma vida melhor em Portugal. Está a tratar dos
papeis para poder ir com o L. trabalhar para Guimarães. Sentiu a falta do
Rodrigo, que na sua última ronda conversou imenso com ele, em romeno!
Conosco a conversa não foi tão fluída, mas lá nos entendemos! Elogiou
imenso o nosso trabalho e fez um pedido que nos deixou sem palavras:
"Quando trabalhar e tiver dinheiro, posso participar na vossa ronda?..." Do
F. pouco sabemos. Muito calado, lá esteve a beber um cafézito com uma
companheira nova que não conheciamos ainda. A "investigar" na próxima ronda
se podemos ser úteis de alguma forma.
De passagem, o N. parou e esteve um pouco à conversa. Ex-tox., acompanhado
no CAT de Cedofeita, dorme agora numa pensão desta rua, pela segurança
social. Tem perspectivas de emprego para breve. Ficaram palavras de ânimo e
persistência, com esperança num futuro risonho que se adivinha.
Também de passagem, a A.M. 44 anos de vida, que se adivinha difícil.
Vagueia pelas ruas do Porto, onde sobrevive prostituindo-se, dormindo onde
calha... Olhar aflito, dorido, mas com uma luzinha a brilhar quando fala
dos 2 filhos, que estão num colégio. Que essa luz cresça e a ilumine, nos
caminhos turtuosos que percorre...

Um pouco mais à frente, na Igreja da Batalha, encontramos o J. e a C.
Cheios de "pica", na luta por uma vida melhor. Perseverança é a sua palavra
de ordem! O pai do J. ajudou-o num investimento inicial para voltar às
pinturas e C. continua na mesma loja. Apesar do cansaço e de alguma
revolta, riram muito connosco enquanto o J. nos contava umas peripécias do
passado vividas ao volante...

Descemos a 31 de Janeiro e encontrámos dois novos inquilinos. O Au. e o Ar.
O primeiro vive na rua há cerca de 3 anos. Recebe o rendimento mínimo, mas
depois de tirar uma parte para a filha de 12 anos que vive em Lousada com a
mãe, pouco resta. Vai-se "safando" com trabalhos episódicos em Espanha. O
Ar acompanha o Au há cerca de 1 ano. Aparenta algum atraso mental; não se
sabe de onde é, se tem família e onde... Sabe-se que não tem qualquer
documento ou apoio social e não tem capacidades para cuidar dele próprio. A
estar atentos! Talvez possamos fazer algo para mudar esta situação...

Seguimos para a Rua dos Congregados e daí para o Aleixo, onde nos atrevemos
a dar os 2 saquitos que nos restavam. As palavras agradecidas valeram o
risco que corremos...
E aí terminamos, orando...

Até domingo, Renata.

1 comentário:

Anónimo disse...

Já está :)