terça-feira, janeiro 31, 2006

2.ª Crónica de 29.01.06 (Sta. Catarina)

Domingo, 29 de Janeiro de 2006: "Nevou em Lisboa pela primeira vez em 52
anos…", "…país ultrapassa intensa vaga de frio… ", "… a noite será muito
fria de norte a sul de Portugal…". Os media actualizavam a insólita
situação: temperaturas muito baixas e um país em alvoroço! Neve, frio e
branco regalavam, como rebuçados fora de época, as delícias de todas as
idades, sexos e estados! A noite prometia ser ainda mais gelada e eu…
rezava… para que não nevasse no Porto! Com o frio, a que já estamos
habituados e a "novidade climatérica" que demarcava o dia de hoje, o que
mais queríamos era calor, ruas aquecidas, soleiras quentinhas, pés
aconchegados entre cobertores no chão, corações reconfortados com um espaço
de conversa e corpos o mais abrigados possível do frio tão frio que gela a
alma e casa humana…
Aparentemente pouco quente encontrámos o Sr. C. que, desta vez sem o efeito
do alcóol, com muito pouca vontade estava de palavras. Já deitado, sem
levantar frontalmente o rosto para nós, aceitou o saco de comida e
sucintamente respondeu às nossas perguntas: a semana tinha sido mais ou
menos e sentia-se mais ou menos, mas não precisava de nada, queria só
dormir.
Sta. Catarina estava como sempre: branca. Branca não de neve, mas branca de
vazio. É que a vazia calçada branca ganha sempre outro protagonismo quando
todos já não estão lá e, no vazio branco, a nu, ficam só os corpos de quem
está sempre, de quem vive precisamente na "rua branca" de Sta. Catarina.
Quase a meio da "rua branca" vive o Sr. P., homem de grandes hábitos de
frio e neves a quem as actuais condições climatéricas não causaram grande
surpresa: o nosso simpático alemão, em quem encontro sempre uma expressão
ternurenta, de azul desmaiado no olhar sonolento, e o sonho constante de um
dia voltar a ver actuar os Rolling Stones no seu país natal. A semana tinha
sido boa, não estava com frio, sentia-se bem de saúde, e agradeceu muito o
saquinho… Durma muito bem P.! Durma mesmo bem…!
Pouco mais acima três pontinhos escuros: um "meia dose" ( a nossa D. E.!) e
outros dois mais esticados (o Sr. L. e o jovem E.). A noite estava fria mas
o frio não remove a D. E., à porta à espera de nós, acompanhada pelos seus
amigos que havíamos já conhecido a semana passada. Sr. L., alcóolico em
tratamento, vive com E., jovem sem família, numa residência facultada pela
segurança social, ali perto, na Batalha… "É bom esperar por vocês, sempre
dá para falar um bocadinho abertamente, o que lá na residência é
impossível! Ninguém fala, ninguém sabe, ninguém quer saber e eu também nem
quero falar… Restam-me vocês e as psicólogas que também o fazem por
gosto….". É muito interessante ouvi-lo falar acima de tudo pela tão visível
necessidade que tem de ter ali alguém atento às suas histórias,
experiências, tratamentos, situação actual. E. é "o seu melhor amigo", um
"ser pensante" (3 cadeiras à espera para acabar o seu curso de Filosofia…)
que vive entre prateleiras de livros, uma família ausente, uma depressão
arrastada, o ar de quem deve ser novo, num vulto desamparado. Muito frio na
rua por isso, e estimulados pelo convite de D. E., subimos e por lá
permanecemos largos longos minutos, ouvindo, falando e o Francisco
exercendo a sua actividade médica, ao som de Adriana Calcanhoto e o seu
"Sou eu assim sem você…", que tocava no pequeno rádio. O Carlos é sempre
pergunta, lá a convencemos, mais uma vez, de que não está cá… está pela
Itália! "Ah, eu sei… ele é agricultor!" "Arquitecto, D. E., arquitecto!".
P. e T. mais uma vez ausentes, será isso um bom sinal? Esperemos
sinceramente que sim….
Sr. D. – que até tinha sido filmado pelo telejornal aquando da reportagem
sobre os sem abrigo e vaga de frio no Porto - precisamente devido ao
intenso frio tinha-se mudado de sitio. O Ministério das Finanças é sempre
mais acolhedor!
Sem mais sacos nem mantimentos e sabendo que a ronda do Sr. Fernando não
iria ao Aleixo demos por terminada a nossa ronda de Sta. Catarina… Foi
pequena, acabou bem mais cedo que o usual, éramos só três, mas correu muito
bem!
Uma semana cheia de muito sol para todos!

Beijinhos quentes,
RH

segunda-feira, janeiro 30, 2006

4ª Crónica de 22.01.06 (Batalha)

Partimos, como habitual, para a "Vivenda Silva". Está a ficar muito
concorrida, esta paragem. Uns habituais, outros de passagem. Todos
necessitados de uma palavra de alento.
Dos moradores no prédio abandonado em frente, apenas o J. e o Z.C.
O J, sempre sorridente apesar de todas as dificuldades; continua a árdua
tarefa de procurar emprego, preferencialmente na área da música, que tanto
ama. Soubemos, por ele, que o M. (residente na vivenda há meses atrás) está
bem, tem agora uma namorada (mais detalhes não se sabem... o importante é
que esteja realmente bem!).
O Z.C. também estava muito animado. Tinha ido a uma entrevista no Porto
Feliz e ficou com outra marcada para esta 4ª; havia a possibilidade de
ficar já internado para a desintoxicação. De animado passou a chateado
depois de se ter recusado deixar um saco para um amigo que "tinha ido
buscar da branca". Notei uma grande desilusão e confesso que me doeu dizer
que não. Talvez se colha o fruto deste não na próxima ronda, com a presença
do tal amigo que desta vai levar, não apenas um saco, mas principalmente
palavras e gestos que o recordem que não é nenhum "farrapo humano", mas sim
um homem, irmão, igual a todos os outros, de que Ele não desiste nunca,
sempre a tempo de mudar de vida...
Cheia de genica, lá estava a T. Não sabiamos dela desde a missa de Natal
dos SA. Sedenta de atenção, lá contou os últimos desenvolvimentos da sua
história: continua numa pensão pela SS até ao fim deste mês, já deu entrada
no aluguer de um casita que arrajou prós lados de Gaia, mudou de emprego,
reatou laços com um ex-namorado... Parecia muito feliz e cheia de energia
para andar com a vida para a frente. Indo para Gaia é pouco provável que a
reencontremos. Ficaram os desejos de uma vida cheia de sorrisos genuínos e,
de parte a parte, um obrigada e um "até qualquer dia"...
O L. e a M., casados, também lá apareceram.Com 4 filhos no coração mas
longe da vista (a cargo dos avós), moram numa casa abandonada ali por
perto, que já tornaram "sua". O L. trazia uma excelente notícia: começara
essa semana a trabalhar numa obra em Guimarães (vai e vem todos os dias). A
M., por seu lado, fica a "cuidar da casa" e a preparar o jantar para
consolo do marido, ao fim do dia de trabalho. Estão com vontade de dar um
novo rumo à vida, talvez ir para Espanha (com expectativa de maior
facilidade em arrajar trabalho...). Lá estaremos para a semana para
procurar "iluminar" um pouco esta caminhada...
Com este casal, estavam o M. (romeno) e o F., que acolheram em "sua casa".
O M. é um jovem romeno de 19 anos, que deixou a mãe e um irmão de 17 anos
na Roménia, na esperança de uma vida melhor em Portugal. Está a tratar dos
papeis para poder ir com o L. trabalhar para Guimarães. Sentiu a falta do
Rodrigo, que na sua última ronda conversou imenso com ele, em romeno!
Conosco a conversa não foi tão fluída, mas lá nos entendemos! Elogiou
imenso o nosso trabalho e fez um pedido que nos deixou sem palavras:
"Quando trabalhar e tiver dinheiro, posso participar na vossa ronda?..." Do
F. pouco sabemos. Muito calado, lá esteve a beber um cafézito com uma
companheira nova que não conheciamos ainda. A "investigar" na próxima ronda
se podemos ser úteis de alguma forma.
De passagem, o N. parou e esteve um pouco à conversa. Ex-tox., acompanhado
no CAT de Cedofeita, dorme agora numa pensão desta rua, pela segurança
social. Tem perspectivas de emprego para breve. Ficaram palavras de ânimo e
persistência, com esperança num futuro risonho que se adivinha.
Também de passagem, a A.M. 44 anos de vida, que se adivinha difícil.
Vagueia pelas ruas do Porto, onde sobrevive prostituindo-se, dormindo onde
calha... Olhar aflito, dorido, mas com uma luzinha a brilhar quando fala
dos 2 filhos, que estão num colégio. Que essa luz cresça e a ilumine, nos
caminhos turtuosos que percorre...

Um pouco mais à frente, na Igreja da Batalha, encontramos o J. e a C.
Cheios de "pica", na luta por uma vida melhor. Perseverança é a sua palavra
de ordem! O pai do J. ajudou-o num investimento inicial para voltar às
pinturas e C. continua na mesma loja. Apesar do cansaço e de alguma
revolta, riram muito connosco enquanto o J. nos contava umas peripécias do
passado vividas ao volante...

Descemos a 31 de Janeiro e encontrámos dois novos inquilinos. O Au. e o Ar.
O primeiro vive na rua há cerca de 3 anos. Recebe o rendimento mínimo, mas
depois de tirar uma parte para a filha de 12 anos que vive em Lousada com a
mãe, pouco resta. Vai-se "safando" com trabalhos episódicos em Espanha. O
Ar acompanha o Au há cerca de 1 ano. Aparenta algum atraso mental; não se
sabe de onde é, se tem família e onde... Sabe-se que não tem qualquer
documento ou apoio social e não tem capacidades para cuidar dele próprio. A
estar atentos! Talvez possamos fazer algo para mudar esta situação...

Seguimos para a Rua dos Congregados e daí para o Aleixo, onde nos atrevemos
a dar os 2 saquitos que nos restavam. As palavras agradecidas valeram o
risco que corremos...
E aí terminamos, orando...

Até domingo, Renata.

3.ª Crónica de 22.01.06 (Areosa)

Domingo!...Mais um dia de voluntariado nas ruas da cidade do porto.
Com o dia já vestido de noite, e após a nomeação dos nossos coordenadores
de
ronda, recolhemos âncora e partimos mar fora ao encontro dos náufragos.
Começamos por ir a duas novas paragens, ao encontro do Sr. E. e do Sr.
J., mas infelizmente não os encontramos nos seus locais de abrigo.
Dirigimo-nos assim, sem demora, há paragem "obrigatória" da areosa.
Começámos, como é habitual, pelo Sr. M. que, um pouco indolente,
recebeu-nos com a sua alegre tristeza…bom animador de conversas, como o é
sempre, falou-nos da sua, mais uma, pequena estadia no hospital devido a um

pequeno problema de garganta, entre outras coisas mais. O Sr. J.
recebeu-nos com o seu modesto acordar, de quem dorme para esquecer… na
companhia de um café falou-nos da sua fortuita ida para um quarto, mais uma

vez! Referiu que o que o separa de um quarto é apenas um encontro com
senhora da casa para lhe entregar a chave, podendo assim, posteriormente,
mudar-se para lá. Mesmo sendo uma estranha situação, incentivamo-lo a
originar esse encontro, indo ele ter com a senhora, para assim se mudar o
mais rápido possível. Na hora da despedida, o Sr. M, atemorizou-nos
quando começou a falar da morte e da possibilidade, referindo mesmo o
desejo, de no próximo Domingo poder já não estar entre nós! Retaliámos
instintivamente tais ideias com palavras de apreço pela sua pessoa e de
esperança para um futuro mais risonho (desejamos todos que sim!!), que
há-de
vir!...Ficou patente, no mero acenar de mão, a importância da nossa visita,

e algum tempo depois já habitava em nós saudade e vontade de poder estar um

pouco mais na companhia destes carismáticos amigos…

Partimos ao encontro da D. I. Amorosa como sempre recebeu-nos com
sorrisos e beijos cativantes. Falamos, entre outras coisas mais, do seu
pequeno problema no lábio e do quanto gostaríamos de ver isso resolvido!
Incentivámo-la a tratar disso o mais rapidamente possivel…despediu-se de
nós
com fervor, demonstrando mais uma vez o tão agradecida que fica pela nossa
visita!

Seguimos depois para o prédio abandonado na Fernão Magalhães, nossa última
paragem. Desta vez, para avisar os nossos amigos da nossa chegada, não
bastou o normal buzinar do carro, e o Nuno, sem cerimónia, tratou de apelar

aos sentidos dos nossos amigos, “Ó SENHOR J.”, e passado alguns breves
instantes lá estavam eles a acenar-nos. Estivemos com o Sr. J., o Sr.
E., o N. e a T., um jovem casal novo por estas redondezas. Fomos
recebidos pelo simpático e harmonioso sorriso do Sr. J., e pelo
cumprimentar expectante dos recém chegados. Aproveitamos para preencher as
fichas individuais de cada um e conhecer um pouco mais as suas vidas. O Sr.

E. é de nacionalidade ucraniana e está em Portugal há 5 anos, tendo
trabalhado no seu 1º ano em Portugal mas de há 4 anos para cá encontra-se
desempregado e com pouca vontade de fazer alguma coisa. É portador de HIV e

encontra-se na situação de sem abrigo muito por culpa da falta do seu
passaporte, que sem ter sido furtado, encontra-se na posse do seu último
companheiro de quarto, que do qual não consegue reavê-lo. O N. e a T.
são um casal, jovem e simpático, de Viseu com 26 e 21 anos respectivamente.

Pais de uma menina e ambos toxicodependentes, encontram-se no porto há
3 meses,mas ambos demonstram uma grande vontade de abandonar esta vida. O
N. já realizou alguns tratamentos mas todos eles com sucesso temporário.
Falou-nos ainda da sua relação familiar, que de momento encontra-se
flagelada, e da sua experiência precária no estrangeiro. A T. está-se
preparando para o seu tratamento e, devido ao adiamento desta crónica posso

avançar que ela, com a preciosa ajuda da nossa Joaninha, encontra-se em
Viseu na companhia dos pais onde irá realizar o seu tratamento. Aguardamos
ansiosamente noticias na esperança de que estas sejam boas!!!

...A noite acabou ali mesmo, onde, depois de uma pequena oração de grupo,
partimos com o enorme desejo de voltar...

Daniel Henriques

Aldeia -Reunião 4a (1/02) das 19:45 às 20:30

Olá a todos,
Depois da ida à Aldeia, no passado sábado, o grupo das Aldeias vai
encontrar-se esta Quarta-feira (1 de Fevereiro), no CREU para pôr a par as
pessoas que não poderam ir neste sábado, preencher as fichas, ver se iremos
lá a 11 ou a 18/02, e preparar a reunião com os responsáveis de paróquia.
Até lá
Jorge

sexta-feira, janeiro 27, 2006

Aldeia - Vamos amanhã! - Sábado (28/01)

Olá a todos,
o encontro é às 9:15 em frente à igreja. Sejam pontuais e tragam o vosso melhor sorriso.
Jorge

quinta-feira, janeiro 26, 2006

2ª Crónica de 22.01.06 (Batalha)

Na noite em que ficámos a conhecer o próximo Presidente da República, a Ronda da Batalha - mais uma vez das mais concorridas - voltou por isso a dividir-se em dois grupos/carros de maneira a realizar o maior número de paragens. Esta estratégia tem-se mostrado eficaz dado que vamos a cada vez mais sítios sem, contudo, deixar que as horas se arrastem pela noite fora.

Como tem sido habitual, começámos pelo sr. C, ao lado do Jornal de Notícias. Desta vez foi possível manter uma conversa mais produtiva. Conseguimos mesmo, e finalmente, perceber os apelidos do nosso amigo, úteis para o preenchimento das fichas. Uma série de caras novas foram aparecendo com destaque para o sr. O: sem família – viúvo há cerca de meio ano – e actualmente a viver numa pensão subsidiada pela Segurança Social; bem disposto e “D. Juan” não deixou de distribuir charme quando reparou que além de um rapaz tinha quatro meninas interessadas nas suas histórias.

De seguida, ocorreu-nos que os Sr.s M, normalmente na Praça D. João I, pudessem estar a “trabalhar” (arrumar carros) ao pé da Câmara aproveitando o movimento dos festejos presidenciais. Bingo! Lá estavam os dois. Para além dos sacos ainda deixámos alguma roupa, trazendo em troca uns sinceros – acho eu – agradecimentos. É difícil não simpatizar com eles constantemente a elogiar o nosso trabalho e atitude. Em especial o M “mais novo”. Parece ser um daqueles casos que aprecia mesmo as nossas visitas.

Já em Santa Catarina, o sr. D. como sempre a dormir e por isso, ou não, rabugento e mal disposto. Também como costume nunca quer nada, mas acaba sempre por aceitar quando insistimos. Assim, depois de recusar um cobertor cor-de-laranja “por causa da cor” lá se reconfortou com um vermelho escuro...

No Silo-Auto, conversa em dia com o P. e o R.. Em relação ao primeiro, as esperanças em relação a um emprego que alguém lhe havia prometido continuam a não passar disso mesmo... por outro lado, e infelizmente, também não conseguimos ver grande iniciativa para modificar as suas situações começando por ir, por exemplo, à Segurança Social.

Em direcção ao encontro final no Bairro do Aleixo, para além de alguém se ter lembrado de testar a “inteligência” dos companheiros de ronda, tempo ainda para relembrar as expressões “à António Variações” do M. “mais novo” da Praça D. João I e filosofar acerca da história da sua vida...

Manuel Coelho

quarta-feira, janeiro 25, 2006

1ª Crónica de 22.01.2006 (Boavista)

Este domingo, o grupo estava um pouco mais reduzido, mas nem por isso a vontade de iniciar a nossa jornada semanal esmoreceu. Muito pelo contrário: partimos cheios de esperança no coração!
A nossa primeira paragem foi em Damião Góis e foi também a primeira vez que lá fomos. Fomos conduzidos pela Joana que mora ali perto e que contou ter visto um senhor que dormia nas arcadas de um prédio naquela zona. Chegados ao local, deparámos com uma pessoa completamente tapada para tentar refugiar-se do frio e, por baixo daquele cobertor velho, encontrámos um senhor muito simpático que nos recebeu com um sorriso enternecedor. Enquanto bebia um cafézinho, disse-nos chamar-se B., é natural de Trás-Os-Montes e é também muito viajado. Já esteve em Espanha e França a trabalhar e diz querer voltar para Espanha na Primavera porque, como ele afirmou: “Em Espanha é que é bom! Em Espanha está-se muito melhor do que aqui!”. Foi também aqui que vieram ter connosco dois rapazes (o André e o Nuno) que nos perguntaram se estávamos a ajudar as Pessoas Sem-Abrigo e se era “tudo pago do nosso bolso”. Como respondemos que sim, eles disseram de imediato que nos queriam ajudar, deram o contacto ao Jorge e ficaram de ir juntos, quarta-feira, dar umas voltas pela Lapa para tentar encontrar possíveis novas paragens. Esperemos que este reconhecimento do terreno corra bem e que já haja boas novidades na reunião de quinta-feira. Quando viemos embora, o Sr. B. ficou a ver-nos entrar no carro sem nunca desviar o olhar e brindou-nos com um aceno e um sorriso enquanto arrancávamos para mais uma paragem.
De seguida, fomos tentar encontrar um senhor que o Jorge já tinha visto a dormir na rua, em Faria Guimarães. Não demorámos muito a encontrá-lo. Não aceitou café, mas desde logo foi muito simpático connosco. É bastante falador e, “aproveitando-se” de lhe termos dito que tínhamos todo o tempo para o ouvir, iniciou uma conversa que durou aproximadamente uma hora. Ficámos a saber que se chama J., trabalhou trinta anos numa churrasqueira e agora arruma carros ali perto. Dorme perto da entrada de um prédio e diz que as pessoas de lá são muito simpáticas com ele, já que o deixam estar ali, deram-lhe o colchão onde dorme e lhe vão oforecendo alguma comida. Afirma gostar de beber, mas nega ser alcoólico; já esteve no programa do Porto Feliz, mas diz que “aquilo não dá! Temos de bufar ao balão cinco vezes ao dia!”. Mas o que o Sr. J. gosta mesmo de contar são histórias do tempo que passou na tropa. Conseguimos ver no seu olhar a nostalgia e alegria que as lembranças desses tempos lhe trazem.
A próxima paragem foi no Bom Sucesso onde o JP estava a arrumar carros. Estava muito mal-humorado porque tinha sido preso naquele dia pela Polícia Municipal. Apesar dos seus pedidos para o soltarem pois já estava a ressacar, só foi solto mais tarde e estava naquele momento a arranjar os últimos trocos para ir comprar a dose. Assim, nem o café fez com que falasse um pouco connosco e depressa fomos “despachados”.
Seguimos então para a bomba de gasolina perto da Casa Agricola, já que não tínhamos encontrado o Sr. J. na Avenida da Boavista, e lá estava ele já deitado no seu saco-cama. Estava muito abatido, com o ânimo em baixo e pediu-nos desculpa porque não queria conversar. Conseguimos, pelo menos, saber que agora está sempre naquele local.
Decidimos ir ainda ao Foco para ver o M. Como já tinha recebido um saco do grupo do Fernando, não lhe deixámos um, mas oferecemos-lhe um café que ele aceitou. Aqui a visita também foi curta, pois ele estava cansado e queria ir dormir.
Assim, finalizámos mais uma ronda no Aleixo com uma oração que eu, e certamente todos nós, já consideramos essencial. É o momento da noite em que todos juntos pensamos nas pessoas com quem estivémos, nas suas realidades e no que nós gostraíamos que fossem os seus futuros. É o momento que alivia a nossa angústia e que nos inunda de esperança. É o momento em que nos sinto a todos como um só, relembrando que esta é uma tarefa que não termina ali, naquele momento.

Miriam Penha

sexta-feira, janeiro 20, 2006

2ª Crónica de 15.01.06 (Batalha)

Batalha: A ronda do Yoga, dos puzzles e do queijo com vinho

O desânimo de saber que não podemos, por muitas forças que tenhamos, proporcionar uma vida mais cor-de-rosa a quem só precisa de uma primeira ajuda, percorre os pensamentos durante as parcas horas semanais que dedicamos a cada ronda, não é facilmente superado, e atormenta o sono de qualquer mente mais conscienciosa. No entanto, a percepção de que fazemos mais do que lamentar em frente ao televisor a vida de algumas pessoas que não conseguem superar o tormento da vivência em sociedade, acalma esse desânimo e dá-nos forças para querermos cada vez mais e tentarmos sempre mais do que proporcionar uma refeição.
Não perdi a esperança de ver o Sr. R. a desenhar outdoors, de ver o Sr. D. numa cama quentinha, acompanhado por amigos com os mesmos anos de vida, ou de ver o Sr. P. a encontrar o amor que o traga de volta à sociedade que eles tanto desprezam.
A cada ronda que passa os laços reforçam-se, a vontade e o ânimo aumentam. E o último Domingo foi marcante nesse sentido. Nem o atribulado começo com um "bem-disposto" Sr. F. conseguiu deitar por terra a vontade que o frio teima em combater. Deliciado com os contorcionismos de dois praticantes de yoga expostos num pilar do edifício Camões, o angolano, que mesmo quando decide falar não é perceptível, pouco se importou com o café que parecia querer escorregar para o passeio, ou com o bolo de amêndoa que deve ter tido o seu fim numa valeta. Animados com a boa disposição do Sr. F., mas convencidos de que qualquer conversa seria infrutífera, seguimos (as duas Anas, a Sofia, o Pedro e o Manuel) para o Silo-Auto. Foi aqui que encontramos os nossos amigos.
É difícil não gostar do Sr. R., não querer levá-lo para casa, dar-lhe o mimo que ele nunca teve e explorar as capacidades às quais nunca ninguém deve ter dado valor. A vida difícil que teve, e que no passado Domingo percebemos que não se deve apenas a um casamento mal conseguido, mas que cresce desde uma infância atormentada, com irmãos predilectos e pais difíceis, fizeram-no preferir a vida solitária das ruas, onde não encontra os “amigos” que lhe fizeram mal, mas onde ainda tem vergonha de quem o reconheça e o possa ver "assim". O Sr. R. tem aproveitado os domingos para desabafar, e nós apreciamos, mas tenho a consciência da impossibilidade de o ajudar completamente. Nada nos garante que, voltando à vida activa, não tenha outra desilusão que pode ter efeitos ainda piores do que voltar para a rua. O que faz alguém perder as forças como ele perdeu não se cura com conversas dominicais, mas tem solução…
No Silo-Auto, a dificuldade esteve em repartir atenções. Estávamos interessados na história do Sr. R., mas não podíamos esquecer o Sr. P., um homem de 40 anos a quem misteriosamente um advogado tudo prometeu e que da mesma forma o abandonou de novo à sua sorte. O que será que leva alguém a de forma espontânea, oferecer uma nova vida a alguém e depois desaparecer, deixando o Sr. P. pior do que estava quando já não tinha esperanças. Habituado à vida sem regras e sem horários, o Sr. P. não quer ajuda que o condicione, assim como nenhuma das PSA.
Divertida foi a história que contaram de quando tentaram furtar, num supermercado, “um queijinho para acompanhar o pacote de vinho”. Na primeira experiência de roubo foram apanhados de imediato, realidade que os levou a reforçar a consciência de que “não sabemos roubar”.
Seguimos para o Sr. D.. Com “sessenta e tal anos”, este senhor não tem consciência de que tem direito a uma vida mais confortável. Talvez por isso rejeite sempre qualquer hipótese de uma ida à Segurança Social e, quando finalmente aceitou, fugiu com medo do monstro que é a burocracia e os bichos do funcionalismo público. Depois de muito insistirmos, no passado Domingo acabou por aceitar tentar mais uma vez, mas para isso foi preciso “deixá-lo à vontade”. Como? Quando lhe prometi que ia connosco sem qualquer obrigação de aceitar fosse o que fosse e com a reserva de que quando quisesse podia debandar, a resposta foi imediatamente positiva. Mas esta é a única hipótese de lhe conseguirmos proporcionar uma vida melhor, não podemos falhar, correndo sempre o risco de ele tornar a fugir do monstro e das regras.
Na Praça D. João I, conhecemos o “M. dos puzzles”, pelo menos é assim que penso nele. Homem novo, que sempre trabalhou na área da hotelaria (muitas vezes associada à prostituição), diz não ter vícios e denunciou uma vontade de não permanecer no mesmo sítio muito tempo. Mas enquanto fica, distrai-se com os seus puzzles e os seus jogos. Sem mais nada para fazer, cronometra no relógio da Igreja o tempo que demora a fazer um puzzle e todos os dias tenta superar o seu record. Aplicado em diversas áreas, este empenho e vontade de se superar daria um excelente profissional. Mas M. vive assim, rejeita as regras e nem sequer aceita ser condicionado por um vício. Enquanto seguíamos para o Aleixo, discutíamos se ele falaria verdade ou se fantasiou acerca da sua vida, das suas prioridades. Quando sugeri que o espírito dele seria o de um eremita, que vai tentando aprofundar os seus conhecimentos e com isso fortalecer o seu espírito, disseram-me que eu é que estaria a fantasiar e que alma dele não chegaria tão longe. É provável...

Até Domingo
Ana Maria Lima

quinta-feira, janeiro 19, 2006

Trabalhos do grupo da Aldeia

No Sábado (21/01), por volta das 15h, a Luísa, a Teresa e Benedita vão encontrar-se no CREU, para tratar das fichas de visita, orçamento e outras coisas do grupo da Aldeia.
Quem quiser aparecer é muito bem vindo!

terça-feira, janeiro 17, 2006

1ª Crónica de 15.01.06 (Areosa)

Este Domingo éramos muitos, estávamos 32 ao todo. Assim, decidiu-se dividir cada uma das quatro rondas em dois, para termos mais tempo para cada pessoa que visitamos.
A nós coube-nos o Sr. M. e o Sr. J., na rotunda da Areosa, a D. I. e, por último, a “exploração” do Hospital São João.
Começamos pelo Sr. M., que nos recebeu com a boa disposição habitual. Oferecemos-lhe um café quente e conversamos sobre a semana que passou. Aproveitámos para fazer algumas perguntas e preencher a Ficha da Pessoa sem Abrigo. Tal como todos os outros, o Sr. M. mostrou-se muito disponível para responder e acabou por nos contar até um bocadinho mais da sua vida. Ficámos a saber que tem 43 anos e já vive na rua há cerca de 20. Sobre a sua família, contou-nos apenas que a sua mãe ainda é viva e que tem um filho de 18 anos, que o visita de vez em quando.
O Sr. J. já estava a dormir quando lá chegámos, mas acabou por acordar e aceitar um café com leite. Disse-nos mais uma vez que está prestes a deixar “esta vida”, precisa apenas de falar com uma senhora que lhe vai entregar a chave do seu quarto. O problema desta vez é que a senhora tem tido muito trabalho e pouco tempo. Tal como aconteceu com o Sr. M., as respostas do Sr. J. às nossas perguntas permitiram-nos conhecer um bocadinho melhor a sua vida. Contou-nos que foi trolha e teve um acidente, que o impediu de tornar a fazer aquilo que fazia (e gostava de fazer).
Encontrámos a D. I. perto do sítio do costume, estava só à espera que o dono da loja de fotografias saísse para se ir deitar (ele não gosta que ela fique lá a dormir). Estava com os pés encharcados e, ao contrário do que nos tinha dito na semana passada, ainda não tinha ido tratar do cravo no lábio. Ia esta semana sem falta, mas desta vez à farmácia, porque no hospital não sabia o que lhe iam fazer e tinha algum receio.
Os outros, que tinham ido ao prédio abandonado e ao CAT Oriental, foram ter connosco e juntos rumámos ao Hospital São João, à procura de um senhor que sabemos dormir lá, na sala de espera das urgências ou no jardim. Procurámos mas em vão. Conseguimos apenas que um polícia se oferecesse para o avisar da nossa visita e lhe dizer que estaremos lá na próxima semana.
Terminamos a ronda no Aleixo, bem quentes apesar do frio.
Boa semana e até ao próximo Domingo,
Maria Manuel

segunda-feira, janeiro 16, 2006

4ª Crónica de 08.01.06 (Boavista)

Um pouco tarde, mas… chegou!
A nossa ronda teve a sua estreia no Domingo: percorrer a Av. da Boavista desde a rotunda ao Castelo do Queijo. Começamos pelas Alcatifas, poiso do Sr. J., mas não estava. Fomos então procurá-lo na Casa Agrícola. À ida, conhecemos o JPG que, mesmo enquanto recebia o nosso saco, não deixava de olhar para os carros que passavam à procura de uma "moedinha".
Com ele, o Sr. C., falava-nos que na 4ªf iria para França com o sobrinho, para arranjar a sua vida, como "trolha"!
Um pouco mais à frente cruzamo-nos com o L., o homem forte que costumamos ver no Aleixo. Inesperadamente começou a chorar… É preciso estar inspirado pelo Espírito Santo para saber o que dizer a alguém que teve tudo na vida para ser feliz e há 20 anos que se meteu na droga e que sabe que ela o está
a vencer e por isso sente uma frustração tão grande, por já não conseguir dominar-se, que se meteu no álcool para esquecer a frustração. Alguém que disse ter desistido pois já não quer/consegue voltar atrás...!
Após este encontro, voltamos ao Sr. J., já estava na sua "casa". Ao contrário do L., ele nunca esteve tão bem. Foi bom vê-lo com uma força gigante de quem sabe que vai vencer! Esta semana vai saber se sempre tem casa para onde ir. Se tiver, é certo que lhe arranjam o empréstimo para realizar o seu sonho: montar um restaurante de comida grega!
Depois de deixarmos o Sr. J., passamos pelo Foco à procura do M., mas não o vimos.
Fomos então para o Aleixo, esperar pelos outros grupos. No meio da conversa, surgiu uma frase brilhante do Jorge: "Homem que é homem sabe quanto é que o seu carro gasta!" Quando chegaram os outros, juntamo-nos na esquina de cima do Aleixo. Como não havia mais sacos, demos dois dedos de conversa, já que não nos víamos desde o ano passado ;) e acabamos a noite com a inspiração da madre Teresa de Calcutá, trazida pela Mafalda.
Correu muito bem esta nova ronda! É um método bem escolhido!
Um beijo e até Domingo,
Ana Barbosa de Carvalho

3ª Crónica de 08.01.06 (Stª Catarina)



"Os pobres que buscamos podem morar perto ou longe de nós. Podem ser material ou espiritualmente pobres. Podem estar famintos de pão ou de amizade. Podem precisar de roupas ou do senso de riqueza que o amor de Deus representa para eles. Podem precisar do abrigo de uma casa feita de tijolos e cimento ou da confiança de possuírem um lugar em nossos corações." Madre Teresa de Calcutá

(Foi com um outro pensamento de Madre Teresa de Calcutá que demos início à ronda mas achei significativo começar a minha crónica assim, já que, enquanto procurava "o pensamento original" acabei por encontrar este, que além de belo achei bastante adequado.)

Após o momento de oração com Madre Teresa de Calcutá e após alguns reajustes na reorganização de carros, circuitos e sacos para dar, partimos 7 no jipe da Mafalda para a "Ronda de Sta. Catarina". Tínhamos como destinos a rua de Sta. Catarina, a Trindade, o Silo Auto, o JN, e, o habitual Aleixo -para remate final.

A nossa primeira paragem foi na Trindade. O Sr. C., que na maioria das vezes não gosta de falar, desta vez, movido pelos copos, tagarelava entre monólogos indecifráveis, palavras arranhadas e discursos imperceptíveis! Bem nos podiamos esforçar por entende-lo mas era sempre um esforço em vão! Comunicar era, de facto, uma tarefa muito difícil (senão impossível!) naquele momento, pelo que fomos obrigados a nos ficar pelos "abanar a cabeça em sinal de sim", e retribuições de passou-bens que insistia em dar. As primeiras caras novas surgiram aqui: um casal dos seus 30 e tal anos, com uma história escondida entre aparentes bordéis, exclusão social, discriminação e denúncias… Ela chamava-se C., calada, tímida, insegura até, ali brevemente reconfortada por um café quentinho e desconfortável com o cobertor à vista num saco de plástico transparente... Ele era o P., bem mais falador que ela contou: "esta é a mulher que eu amo, não posso levá-la para casa de meu tio porque não seria aceite, por isso passo a noite cá fora com ela"…Contou que era vendedor da revista Cais, e disse que se por lá já não estivessem no próximo domingo seria bom sinal..

Sta. Catarina estava deserta… Acho sempre engraçado chegar àquela rua comercial diariamente tão cheia de gente frenética e ainda com as luzes de natal a cintilar por toda seu corpo acima, e encontrá-la assim, a nu, com as suas maiores características expostas, a cru… P. já dormia, desta vez num novo patamar de entrada de uma loja, já tantas vezes utilizado por outros sem abrigo, como o Sr. Z.… Um copo de café, quente, com pouco açúcar e a deitar fumo ali ficou, entre ""See you next Sunday! Have a nice week".

D. E. já lá estava, à porta de casa, à nossa espera, com ar algo zangado, mas só cheia de vontade de desabafar as suas histórias dos dias anteriores: a polícia que tinha ido levantar o corpo morto de uma rapariga toxicodependente na "casa" dos seus vizinhos do r/ch, os seus problemas de sáude e recente mau estar de coração e dificuldade em respirar, o marido que também precisava de ir ao médico, o Sr. M. que ainda não se consegui levantar… e o "Carrlos", sempre o seu Carlos, que não estava, e quando vinha afinal… Entre risos, abraços, desabafos, fomos ficando, e ouvindo, e falando, e aquecendo. Algo incomodados, ou só querendo incomodar, os seus vizinhos do r/ch deram-se a ver entre meia luz e vultos escuros dificéis de decifrar. Numa janela sem vidro apareceram umas mãos entre a persiana, abre-se um buraco e começam a falar connosco. Sacos de comida para eles também, entre pratas de alumínio numa mão, isqueiros no quarto escuro, tentativas algo insistentes para entrarmos "que eles também precisavam de falar", e uma parede ao fundo como remate de todo o cenário, ironicamente cheia de cores e serigrafias de mãos amarelas, vermelhas, verdes… algo que despropositadamente enchia o espaço oco. D. E. sempre a relatar seu dia a dia, ele entre as persianas, quadros cruzados, pessoas comuns de não terem o real abrigo…

O "segundo P." cruzou-se connosco num sinal de vermelho. Enquanto parávamos demos-lhe as boas noites e um saco de comida. Íamos a caminho do JN, onde iríamos encontrar o Sr. D.. Aqui mais 4 caras novas, mais distribuição de sacos e dedos de conversa: uma rapariga, um rapaz, um senhor branco e um outro senhor de cor. O R., o Rc, o A. e ela, que peço desculpa não recordo o nome… Mais uma vez histórias de quem até tinha um trabalho e de repente viu-se sem nada, de famílias desencontradas, de exploração de emigrantes ucranianos na construção civil e por isso fáceis despedimentos… Nenhum deles se conhecia anteriormente e no entanto, pareciam todos tão próximos uns dos outros, fruto da comum realidade que os referenciava… Nesta altura já quase não tínhamos sacos, tivemos que recorrer a uma estratégia de partilha e tudo se resolveu. O Sr. Rc. mostrou interesse em que o informássemos acerca da possibilidade de ter direito (ou não) a usufruir do rendimento mínimo, e como se desenvolvia este processo na segurança social. Ficámos de falar, investigar, e depois voltar a contactá-lo com informações mais certas.

O Aleixo ficou-se, desta vez, só pela oração, visto o grupo do Sr. Fernando ainda não ter chegado e todos nós, inclusive os restantes carros das outras rondas, estarmos sem praticamente nada para dar… A ronda deu-se por terminada, mais uma vez com a mesma frase de Madre Teresa de Calcutá no momento da oração. Termino a minha crónica com a frase de um grande senhor português. "O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis, e pessoas incomparáveis." Fernando Pessoa

Que os pequenos momentos em que estamos na ronda sejam, também eles, sempre momentos inesquecíveis, com coisas inexplicáveis, de e para pessoas incomparáveis…

Até à próxima ronda!
Raquel Henriques

domingo, janeiro 15, 2006

2ª Crónica de 08.01.06 (Batalha)

Começamos a ronda com uma frase inspiradora de Madre Teresa de Calcutá e lá partimos para mais uma visita aos nossos amigos.
Antes da 1ª paragem, passamos na Sé para confirmar se continuava a não estar lá ninguém. Encontramos um agente da Polícia que nos informou que o Sr. E. tinha sido internado para uma desintoxicação devido ao seu problema com o álcool. Disse-nos também que na Travessa dos Congregados dormiam algumas pessoas – decidimos mais tarde passar lá.
Lá seguimos até à Vivenda Silva. Neste momento apenas dorme lá o ZL. Aceitou o nosso café mas foi-se deitar porque estava com muito sono. Neste mesmo sítio tivemos a conversar com o C., o I. e mais dois – todos toxicodependentes que dormem no prédio em frente. Ficou uma promessa no ar: esta semana iam passar no CAT!
Soubemos por eles que o J. (Madeirense) tinha sido preso por ter posto fogo nesse mesmo prédio. A C., a T. e o J. não apareceram. Do M. não temos tido notícias.
Próxima paragem – Travessa dos Congregados
Entrámos numa rua escura e sem saída. A meio encontrámos o Sr. M., que costuma ir para lá só “namorar”. Contou-nos que consome uma grande quantidade de droga por dia… mas não arruma carros!! Segundo ele “bate coros”! Onde? A quem? Hospitais, Paragens de autocarro, todos os sítios e a todas pessoas “mais inocentes”. Diz que tem cerca de 50 “coros” preparados e que resulta sempre.
Descobrimos que ninguém dorme nesta travessa, mas a partir deste Domingo vamos começar a parar lá,, pois temos novos “amigos” – o N., o R., o O. e mais um que não descobrimos o nome.
Arrumam carros naquela zona e ficaram contentes com a nossa presença.
Durante o tempo que lá estivemos, distribuímos alguns sacos e café a SA que passavam e pediam.
Antes do Aleixo passámos em D. João I. Estava o L. e a F. (uma amiga deste, que dorme numa pensão na rotunda da Boavista, ao pé da Tmn – combinamos que a ronda que faz a Boavista, este Domingo estaria atenta quando passassem na Casa da Música! Esperemos que a encontrem). Quanto ao Sr. M. ainda não tinha chegado.
O resto do pessoal que lá dormia foi “expulso” porque, segundo o L., “sujavam tudo!”.
O que eles não contavam era com a notícia de que também iam ser “despejados”. Desde o dia 9 deste mês que não podem dormir lá. Combinamos que passávamos lá este domingo para saber onde é que o Sr. M. dorme, já que, se tudo correr bem, o L. vai dormir para casa duma amiga! J
Última paragem – Aleixo. Desta vez não tínhamos nada para dar, portanto decidimos ficar no cimo da rua a contar como tinha corrido a noite! Encerrou-se mais uma Ronda com as sábias palavras de Madre Teresa de Calcutá.
Até Domingo!!!
Raquel Mota

quinta-feira, janeiro 12, 2006

Uma ajudinha para os sacos de Domingo

Umas queridas irmãzinhas carmelitas ficaram todas contentes por nos poder ajudar com as coisas que lhes dão com tanta alegria.

Umas reuniões atrás falamos sobre ajudas de comidas que poderiamos arranjar. Ultimamente parece que o banco alimentar "está na moda" porque toda a gente recorre ao banco alimentar para conseguir comida (o que é optimo e eles ajudam todos contentes) mas chegámos à conclusão que poderiamos procurar novas fontes e é isso que temos vindo a fazer.

As irmãzinhas do carmelo recebem frequentemente comida de várias instituições, fabricas e amigos! Costumavam ajudar o banco alimentar mas agora saíram do Porto e mais longe é mais dificil de ajudar. Não recebem com dia marcado mas ficaram de ligar sempre que tivessem comida.
Desta vez não quis abusar e trouxe só alguma comida e principalmente coisas que estavam a ficar fora de prazo mas para a próxima, quando soubermos que rumo podemos dar a comida trago mais de certeza!

Para este domingo e até com alguma urgência (porque estão a ficar fora de prazo) deixei no Creu:

+Muitos yogurtes franceses (acho eu!) que são mais queijinhos frescos que yogurtes. Era importante que fossem lá buscar ao frigorifico e aproveitassem para fazer os sacos com eles

+massas (para quem conhecer casos que têm casa e possam cozinhar)

+alheiras enlatadas (que já foram bastante cobiçadas!!)

+leite em pó

+sopas concentradas (em lata que só é preciso um bocadinho de agua e nem é preciso aquecer muito)

+café (num frasco, para quem costuma fazer café... durante um tempo nao precisa de comprar café de mistura!)

+peras e kiwis.... estes tembem era bom que fossem nos sacos este domingo!

+Nesquik verde (com sabor a maça)

bem.... as coisas estão no frigorifico e na despensa do Creu! quem puder vá lá buscar antes de domingo para poupar no que gasta nos sacos e para levar para a ronda o que sobrar.... no Aleixo agradecem sempre!

UM BEIJINHO BEM SORRIDENTE PARA TODOS!!
mafalda

gente disponivel precisa-se

abrigoOlá pessoal! Bom ano a todos com que ainda não tive oportunidade de falar, isto é, quase todos vós!!
Antes de mais gostava de partilhar convosco o seguinte: tenho estado muito ausente nos últimos tempos, mas não esmoreci! E foi com imensa alegria que durante este tempo vi o projecto a percorrer com sucesso o seu caminho, através das mensagens que se trocam neste grupo. Trabalhemos para que assim continue!
Eu e o Francisco temos acompanhado regularmente o Sr.Mário, Sr.Francisco e D.Emilia (ronda Sta Catarina). Faço aqui um ponto da situação para todos estarem dentro do assunto, em particular os que fazem esta ronda.
Sr.Mário: Tem um tornozelo doloroso há algumas semanas. Acompanhei-o a uma consulta de Ortopedia (que "cravei" a um colega do Sto António, Rui Claro, que ajudou com muito gosto). As articulações do tornozelo e pé esqs estão em mto mau estado. Ficou com outra consulta marcada para a dia 20/02 às 11h45m, no CICAP, HGSA. Nesse dia será marcada a cirurgia para retirar o material ("ferros" que lá tem há 7 anos, altura em que teve um acidente com fractura grave), dalí a 1 ou 2 semanas, e já fará o estudo pré-operatório. É necessário que alguém o acompanhe, de preferência alguém que o possa levar de carro porque está complicado mobilizar-se. Precisa de repouso. Assim e com a medicação que lhe dei se controlarão as dores até à cirurgia. Entretanto, deixou de poder "ganhar o seu". Não recebe qualquer tipo de subsídio. Encontra-se neste momento dependente (para comer, dormir) da D.Emilia e Sr.Francisco, que têm sido impecáveis com ele, partilhando o pouco que têm (admirável!). Portanto, precisa urgentemente de ajuda por parte da assistência social. Nunca procurou esse tipo de ajuda desde que está no Porto. É necessário que alguém o acompanhe até às 12 casas, o mais depressa possível. Os casos "novos" como o dele, têm prioridade e são atendidos entre as 9h45m e as 13h, de 2a a 6a. Era bom saber-se quem e quando o acompanharão para na ronda deste domingo se dar recado e ficar marcado com ele. As manhãs são de todo impossíveis para mim por causa do trabalho...
D.Emilia: Aquela tosse persistente e recorrente... Temos tentado tratá-la, mas necessita de fazer exames (cardiacos, resp) porque não está esclarecida a causa e "sem ovos não há omoletes"! Para isso tem de ir ao Centro de Saúde. Está inscrita na Batalha, assim como o marido, e têm uma Médica atribuída. Problema: Não têm o cartão do SNS (aquele azul); foram pedi-lo ao CS mas precisam de um papel qualquer da Seg Social para serem isentos. Pediram para alguém os acompanhar às 12 casas quando fosse possível. Penso que este papel (?!?!) se conseguirá na secção que está aberta das 9h ás 16h30m, de 2a a 6a (também na hora de almoço). Insisti para eles irem, para cultivar um bocado a sua autonomia, mas acho que sem ajuda a coisa não vai lá... Depois do cartão, marcar consulta no C.Saúde à qual vamos procurar acompanhá-la. Um passo depois do outro, havemos de lá chegar!
Sr.Francisco: Tal como o Sr.Mário também foi operado a uma perna há uns anos e quando o tempo vira, lá vem uma dorzita. Mediquei-o e tá tudo bem. Se todos os casos fossem simples como este...
Quem estiver disponível para as situações de que falei responda ao mail ou tlfon-me (965689743 / 914444424), pr se organizarem as coisas do melhor modo.
Obrigada! Beijinhos, Renata.

Quem somos?

O FASrondas (Famílias, Aldeias e Sem-abrigo) é um grupo de jovens voluntários do Porto, que desenvolve trabalhos de acção social junto dos mais carenciados do Grande Porto. O grupo foi fundado já antes de 2003 por um pequeno núcleo de voluntários, tendo vindo a crescer desde então, contando actualmente com cerca de 80 voluntários. É um grupo católico, aberto a todas as pessoas, independentemente das suas crenças, e está ligado ao Centro de Reflexão e Encontro Universitário - Inácio de Loyola (CREU-IL) dos Jesuítas portugueses.

Actualmente actua em cinco vertentes:

Apoio a Famílias – visitas a famílias ou pessoas singulares da cidade do Porto. O apoio pode ser dado a pessoas que vivam em solidão, a doentes, alguém com problemas psico-motores, ou ainda a crianças. Abrange actividades variadas com os objectivos de combater a solidão, ajudar nas tarefas domésticas, dar explicações ou ajudar ao desenvolvimento pedagógico infantil, entre outros. As visitas são feitas por pares de voluntários, com frequência semanal e horário a combinar com o visitado.

O objectivo é construir com essa(s) pessoa(s) uma relação contínua, assente no apoio e na ajuda concreta das necessidades em causa.

O FASFamílias é um voluntariado personalizado onde os voluntários se adaptam à especificidade da realidade em causa, através de visitas necessariamente contínuas e rotineiras, em horários elásticos e flexíveis porque combinados com o(s) próprio(s) visitado(s). Ocorrem com o mínimo de 1 visita semanal, sendo que tempos de visitas, regularidades, necessidades de entrega e disponibilidades são variáveis consoante as disponibilidades dos voluntários e a exigência do caso acompanhado.

Com a experiência reparámos que é possível, em poucos meses, criar laços de amizade que fazem a diferença, quer nas pessoas visitadas quer nos próprios voluntários. Sem dúvida um trabalho de entrega muito gratificante que tem dado frutos. Cada voluntário leva um pouco de si junto a alguém que, da sua carência, faz nascer uma família.


Apoio às Aldeias – trabalho semelhante ao da vertente das famílias. Intervenção de âmbito mais alargado tentado conjugar esforços entre a comunidade, a paróquia, o centro de saúde e outras entidades, para ajudar a suprimir necessidades identificadas em conjunto.
O 1.º objectivo é o combate à solidão existente e o 2º, a colaboração com os agentes locais na concretização de pequenos eventos (festas). Para isso reunimo-nos com as diversas entidades de acção social, locais e vizinhas, na busca de sinergias e melhorias para as pessoas que acompanhamos.

Os eventos pontuais ocorrem ocasionalmente (em datas marcadas e comunicadas com a devida antecedência) e os voluntários, paralelamente à tal calendarização, efectuam, divididos em grupos, as chamadas visitas quinzenais a idosos e pessoas carenciadas, em quatro locais distintos (Candemil, Bustelo, Basseiros e Ansiães), sempre ao sábado, num horário entre as 10h00 - partida do Porto - e as 18h30 - chegada ao Porto. O local de partida e de chegada é a Igreja de Nossa senhora de Fátima, na Rua Nossa Senhora de Fátima. Cada voluntário assume o compromisso de ir um sábado por mês, mais dois sábados extra por ano. O grupo está dividido em duas metades que alternam quinzenalmente, e que de dois em dois meses reúnem de forma a manter o espírito de grupo e a receberem eventuais novos voluntários.

Durante os anos de execução do projecto foram realizadas diversas actividades para jovens e crianças (festas de Natal, caminhadas, festas de encerramento da catequese com torneio de jogos variados, festas de Magusto e acção de formação para adultos sobre educação) e o acompanhamento de idosos e pessoas carenciadas. Paralelamente reunimo-nos com diversas entidades da acção social locais e vizinhas, com resultados muito positivos.

Apoio aos Sem-abrigo - levada a cabo por 30 voluntários, efectua visitas semanais (aos Domingos à noite – 21:45) tentando criar laços com a população sem-abrigo (visitamos cerca de 50) da cidade do Porto. Ao mesmo tempo assegura assistência alimentar, de vestuário, e de reencaminhamento para instituições de apoio social, ajudando à reintegração. Tem como objectivo principal construir uma relação de confiança com a pessoa sem-abrigo de forma a restituir-lhe valor e dignidade, respeitando a sua total liberdade.
A coordenação deste trabalho com outros grupos permite prestar assistência a toda a população sem-abrigo da cidade (cerca de 200 pessoas).


Apoio a Imigrantes – projecto que arrancou em Novembro de 2007, onde se pretende dinamizar actividades para as pessoas detidas na Unidade Habitacional de Santo António (UHSA) que, na maioria dos casos, aguardam repatriamento. As pessoas têm faixas etárias variáveis (com prevalência da faixa 20-40 anos) podendo haver pessoas de ambos os sexos, todos os continentes, diversas etnias e religiões. A UHSA tem capacidade para 30 pessoas, sendo o seu tempo de permanência sempre inferior a 60 dias.
O objectivo é a realização de diferentes actividades com as pessoas de forma a ocupar parte do seu tempo livre na UHSA; procura-se assim aliviar um pouco o momento difícil por que estão a passar e facilitar uma melhor integração e estadia na UHSA.
As visitas são quinzenais sendo efectuada uma visita mensal por grupo, (as duas metades do grupo alternam de forma a serem garantidas visitas quinzenais) ao domingo à tarde.

Apoio a Séniores - projecto que iniciou a sua actividade em Janeiro de 2009, onde se pretende dinamizar actividades de animação para as pessoas que frequentam o Centro de Dia do Bairro do Bom Pastor da Cruz Vermelha (CDBBPCV). As cerca de 15 pessoas têm mais de 65 anos e passam os dias úteis no Centro.
O objectivo é a realização de diferentes actividades com as pessoas de forma a trazer um pouco de animação ao seu dia.
O grupo está dividido em dois, pelo que são feitas visitas quinzenais, no entanto, cada grupo faz uma visita mensal. As visitas ocorrem em horário laboral, das 10-12h ou das 14-16h.
Para saber mais detalhes sobre o funcionamento do grupo e de cada vertente em particular poderá ainda consultar o separador Práticas Internas.


vídeo de apresentação:
Ver em ecrã inteiro (Recomendado)

Para mais informações, contacte-nos!

quarta-feira, janeiro 11, 2006

1ª Crónica de 08.01.2006 (Areosa)

Este Domingo começou num lugar diferente. Na Praça Rainha D.Amélia (junto ao CAT oriental), fomos encontrar o Sr JC. Está na rua provisoriamente, segundo ele, até esta semana, já que está prestes a receber “uns dinheiros em atraso”. O café é, sem dúvida, uma excelente forma de os fazer falar um bocadinho sobre a vida. De regresso ao carro, veio ao nosso encontro o Sr O. Já trabalhou como picheleiro, mas agora, com a falta de trabalho que há, só vai fazendo uns biscatezinhos, de vez em quando. Encontrou uma porta aberta numa casa velha em frente à praça. Apesar de a casa estar ocupada com os pertences de alguém, ia tentar passar a noite lá. Aceitou o saco e o café quente. Depois de mais uns dedos de conversa, partimos para o edifício abandonado. Estivemos, como de costume com o J., que mostrou mais uma vez a vontade “de sair desta vida”, e com a companheira dele. A D. gritou pela janela por um saco de comida para ela e para o marido, mas dissemos que isso só seria possível se eles descessem. Como esta situação já aconteceu, desta vez não demos mesmo. Estivemos com duas pessoas novas: a T. e o N.. São muito novos (a T. tem 22 anos), têm duas filhas que vivem com os avós. Ela já trabalhou na pizza hut, na Suiça, mas teve que voltar porque o contrato acabou. Diz que tem procurado emprego mas como “nós vamos ficando mais sujos por viver na rua” torna-se muito difícil. Ficou de me dar um papel (tipo carta de recomendação que trouxe da Suiça) que está escrito em alemão, para eu traduzir. Poderá ser uma ajuda para procurar trabalho, por enquanto.

A caminho outra vez, fomos ter com o Sr. M.. Encontramo-lo tristinho com a vida, mas nada que dois minutos de conversa e um sumo (já tinha passado a carrinha das bebidas quentes) não resolvesse. Incrível este Sr. M.. Passou por nós um rapaz que costuma dormir perto do Hospital de S. João. Demos-lhe um saco e um cafezinho. O Sr. J. estava perturbado (o “preto”, como ele lhe chama, estava a dormir lá ao lado, completamente pedrado…), mas tomou o segundo café da noite e deixou-nos mais uma vez com a mesma promessa de sempre: “para a semana ninguém me encontra aqui”. Passou mais tarde por nós, enquanto falávamos com a D. I.. Estava mesmo perturbado.
A I. já se preparava para dormir, na lojinha das fotografias, quando lá chegamos. Disse-nos que ia ao hospital tirar a borbulha que tem na boca (cresceu imenso esta semana). Muito conversadora, como sempre, aceitou o saquinho e bebeu um cafezito com leite.

Terminamos a ronda no Aleixo. Foi uma ronda com nova paragem, com mais sorrisos e promessas. O trabalho pela cidade continua :). Boa semana e até domingo.


Joana Simões

sexta-feira, janeiro 06, 2006

Encontro do grupo da aldeia 11/01 às 19:15 no CREU

Olá a todos,
A Luísa falou com a catequista D. Rosa e é melhor irmos no outro fim de semana. Como a D. Rosa só estava contactável à noite, só hoje foi possível transmitir esta informação.
No entanto, já se identificaram 9 casos de pessoas que nos perguntam se nós poderemos visitar.
Assim tendo em conta este cenário decidimos ir lá no domingo dia 15 de Janeiro.
Decidimos, como falado na reunião de 4a, marcar um encontro do grupo das Aldeias, para tomar decisões, criar entrosamentos e afinar motivações.
Esse encontro será na próxima 4a (dia 11) às 19:15 no CREU, inclui jantar partilhado (cada um traz um pouco de comida para partilhar).
Bom fim de semana a todos e se não for antes (tipo domingo) vêmo-nos na 4a feira.
Jorge

terça-feira, janeiro 03, 2006

Crónica 01Janeiro2006 - Areosa

Mais uma vez nos encontrámos à porta da Igreja da N.ª S.ª de Fátima. Éramos poucos. Fizémos as equipes, o que deu um carro por ronda, e para a Areosa ficámos a São, o Pedro Cruz e eu. Começámos com a oração inicial liderada pelo Filipe que, simbolicamente, nos fez partir em missão.

A ronda da Areosa propôs-se começar pela Pç.ª D. João I. Não encontrámos ninguém, eventualmente por estarmos adiantados na hora, em relação ao costume. Seguimos para a Rua Gonçalo Cristovão, onde estivémos com o sr. D. Ele deve estar afastado de uma vida normal há mesmo muito tempo. Tivémos uma discussão enorme, pois considerava já terem passado dois dias desde o início do ano. Para ele um dia tem 12 horas. Foi muito difícil fazer-lhe ver que não. Mesmo assim não ficámos certos de que ele tenha ficado convencido. Pediu-nos botas, mas não estávamos prevenidos. O Pedro encaminhou-o para uma visita a uma instituição que à Quarta-Feira à tarde distribui roupa e calçado pelos mais necessitados.

A paragem seguinte foi com o C., na Rua de Camões que também dorme numas arcadas. O diálogo foi quase impossível: O C. costuma estar embriagado e fala uma lingua que talvez seja algum dialecto africano. Ficou um saco e os votos de bom ano.

Seguiu-se o edifício em construção da Av. Fernão de Magalhães. Três buzinadelas fortes e lá apareceu o sr. J.. Desta vez ainda não se tinha deitado. Estava bem vestido e barbeado e um aspecto asseado, não fosse aquela soadeira permanente na testa. Disse-nos que passa os dias por ali e que há pessoas que, conhecendo-o, lhe vão dando esmolas. Confidenciou-nos que tinha um propósito com a mulher dele para 2006: Vai falar com o Pe. Maia, o pároco da Areosa que desenvolve um excelente trabalho junto de alguns bairros sociais do Porto, designadamente o de S. João de Deus e o do Cerco do Porto e que, até há bem pouco tempo era o presidente das Instituições Particulares de Solidariedade Social. Parece-nos ser a pessoa ideal para dar alento ao que for que o casal quiser vir a fazer. Ainda houve tempo para partilhar connosco que, antes de ter esta vida, era arquitecto, como o Pedro.

Rumámos à Rotunda da Areosa. O sr. M. não reagiu à nossa chegada, ao nosso chamamento e à nossa "boa-noite". Fomos ter com o sr. J.. Acordou, disse-nos que já lá tinham estado umas raparigas muito simpáticas que lhe deixaram iogurtes líquidos, mas que também não tinham conseguido falar com o sr. M., pois ele as tinha escorraçado. Enquanto nos contava que estava a pensar ir para uma casa da Câmara Municipal do Porto, onde já tem um amigo num quarto, ainda esta semana, lá ao fundo levantava-se o sr. M., talvez um pouco enciumado. Contou-nos que tinha sido operado e lhe tinham acabado por lhe cortar o pé doente. Entretanto passa um toxicodepente que regressava do seu consumo no Bairro de S. João de Deus. Foi com ele que passámos os momentos mais fortes da noite: Estava nitidamente emocionado, revoltado, mas contente por se aperceber que aquilo que lhe tinham dito, de haver alguém a distribuir comida gratuitamente, sem pertencer a nenhuma instituição com esse objectivo, era verdade. A conversa foi muito pesada e o desespero do homem era grande. Dorme ao relento nos jardins do Hospital de São João, quando não se consegue introduzir na sala de espera das urgências. Ficou a ideia de tentar mais informação àcerca dos sem-abrigo daquele hospital, para tentarmos passar e parar lá.

Antes do "rendez-vous" final no Aleixo, faltáva-nos a simpática D. I. que dorme perto do Mercado da Areosa. Lá estava ela de olho nuns caixotes de cartão de electrodomésticos que lhe iam servir de abrigo naquela noite. Também ela estava entusiasmada com o novo ano. Ia falar com o Fernando, que nós conhecemos, com quem costuma estar no Bairro de S. João de Deus. A D. I. diz estar a pensar seriamente numa desintoxicação. Pedímos-lhe ajuda na identificação e localização dos tais sem-abrigo do hospital para a próxima ronda.

No Bairro do Aleixo encontrámos o sr. M. que por lá habita e já quer comandar as tropas... Muito nos alegrou foi a diferença de discurso do sr. P.. Das histórias tristes do passado profissional e familiar, passámos para a sua grande motivação: Está em vias de ser internado para uma desintoxicação, de acordo com as consultas que tem feito no CAT da Boavista.

As rondas começaram cedo e acabaram, também, cedo. Coube ao sr. Fernando do outro grupo fazer a oração final.

Parece-me que foi uma ronda exemplar: Pouca gente por ronda/equipa; início cedo; fim cedo; muitos sem-abrigo com passos importantes no sentido da mudança de vida. Deus queira que 2006 nos reserve muitas assim!

Bom ano para todos,

Nuno Sacadura