quarta-feira, outubro 26, 2011

FasFamilias - Crónica de Outubro

Partilhar a minha experiência enquanto voluntária do FASFamílias, foi o que me foi pedido. Fácil, pensei…até que, parei um pouco para reflectir sobre estes últimos três anos, assim mais consciente a tarefa assume outra dimensão.

Durante cerca de três anos acompanhámos uma pessoa que havia vivido na rua e em vários sítios dentro e fora do país. Após a saída da rua, aconteceram várias coisas muito boas, emprego, uma casa para ficar, aproximação da família, restabelecer laços, adquirir hábitos de trabalho, tudo corria maravilhosamente bem.

A perda do emprego despoletou um percurso inverso, mais duro pela perda de esperança que daí adveio, já que na subida se criaram muitas expectativas e sonhos, que se desmoronaram com a perda do trabalho, algo essencial na vida de alguém que está a reconstruir e traçar um novo rumo na sua vida.

Alguns meses depois acaba por arranjar novo trabalho, e com este regressa o ânimo, a alegria, a vontade de estar em sociedade, etc..

Têm sido assim estes três anos, muito cheios, de coisas menos boas mas também coisas muito boas, tantas que não cabem aqui nestas letras mas que cabem no nosso coração. Durante este tempo discordámos algumas vezes, aborrecemo-nos, mas também aconselhámos, apoiámos, rimos, conversámos. Mas, acima de tudo fizemos um esforço por respeitar a liberdade desta pessoa que aos poucos foi fazendo parte da nossa vida, e construindo o seu caminho com as suas escolhas. Felizmente, correu bem, já não fazemos falta como voluntárias, o nosso papel terminou. Agora somos mais duas pessoas na vida dele, a quem recorre quando quer dizer Olá como estás"; partilhar uma novidade…

Nós mantemo-nos deste lado, e ao lado, sempre à distância de um telefonema, esperando que este seu percurso seja mais fácil, menos duro e sobretudo com muito mais alegria.

Eu, enquanto voluntária fui aprendendo a calçar os sapatos do outro, é muito fácil dizer e pensar "Mas, como é que ele (a) não sabe calçar os sapatos, é básico?! Quando experimentamos, percebemos e sentimos que há toda uma experiência de vida completamente diferente da nossa que pode tornar tudo tão difícil e complicado. Não nos foram dados os mesmos instrumentos para calçar os sapatos.

Aprendi a respeitar um pouco mais a diferença, a ser mais tolerante, e a colocar-me no lugar do outro, e a percebi que muitas vezes a única coisa que posso fazer é "estar", eu, que às vezes me considero capaz de tudo, perante determinadas situações de vida apenas caminho ao lado, se a pessoa assim o quiser.

Ser voluntário (a) no FASFamílias é procurar alternativas, encontrar soluções, apoiar, aconselhar, mas por vezes, é preciso ter a humildade de perceber que nada podemos fazer, apenas ESTAR. E este "ESTAR" é fundamental na vida das pessoas que acompanhámos, porque muitas vezes é o único que têm.

Sara Gonçalves

FasFamilias - Crónica Setembro

Tendo sido o FAS já uma viagem de mais de um ano, fica a certeza de que se construiu uma relação de confiança, suporte e mesmo amizade entre as pessoas que ajudamos. No início não foi fácil perceber a diferença que se fez e o tamanho do que estávamos a dar, foi talvez como um boomerang e o que nos moveu a lançá-lo foi acreditar que passaria e tocaria nos sítios certos. Para mim, o desafio é naquelas horas oferecidas em que nos voluntariamos conseguirmos mover o nosso umbigo e centrá-lo totalmente no outro sem expectativas e sem julgamentos, ter a coragem de aceitar a outra pessoa tal qual ela é, com uma história de vida tão diferente da nossa no que toca às opções tomadas e às adversidades com que vivem diariamente. No início, é um exercício que pode ser algo difícil mas, com o tempo os gestos e os sorrisos retribuídos valem por tudo, indicando que estamos no caminho. Às vezes não é fácil integrarmos essas opções ao nosso mundo e, ser voluntária neste contexto é estar presente aceitando a pessoa ajudada em tudo o que é e fazê-la perceber que nós estaremos lá em qualquer altura e prontos para a apoiar quando dias menos bons surgirem; tentando indicar-lhe a melhor forma de dar sentido ao que vive mas, sem imposições e com muita paciência tentar ser-se proactivo, ora por se ser uma presença certa, regular e segura, ou por se ajudar na procura de emprego, ou por a acompanhar a uma consulta médica, essencialmente por se criar uma oportunidade de partilhar uma história de vida com alguém. O FAS é feito de pequenos passos consentidos no caminho de me tornar uma pessoa inteira e solidária na nossa missão de fraternidade neste pequenino ponto cósmico que é a nossa casa. Pode parecer um faz de conta mas, acredito mesmo que conta o que se FAS!

Sara Machado

FasFamilias - Crónica Julho

Na reunião da vertente famílias de Julho tivemos oportunidade de, após a apresentação dos resultados do inquérito que tinha sido previamente preenchido pelos voluntários, propor um desafio a todos os voluntários:

Defender a permanência da ajuda no caso que acompanham, pressupondo existia uma fictícia restrição dos recursos humanos. Assim, teríamos (hipoteticamente) de abandonar todos os casos, excepto um. Após reunirem por equipa, os voluntários tiveram dois minutos para justificar porque é que o seu caso seria o indicado para continuar a ser visitado.

A Inês e o Manel defenderam que nesta fase era essencial apoiar a I. no que diz respeito à procura de trabalho e sobretudo, à recuperação do período depressivo em que tem vivido. Salientaram a importância de manter as visitas ao casal, pois fruto das dificuldades financeiras, corre, eventualmente, risco de ruptura.

O Miguel M e o Miguel C: defenderam que o caso do Z. não poderia ser abandonado devido à sua saúde débil e risco eminente de se refugiar no álcool.

A Teresinha, a Sara e Catarina alegaram convincentemente que nunca poderíamos deixar uma mãe solteira, nesta altura de inquietação e dúvida provocado pelo desemprego. Por outro lado, poderia constituir um problema de imagem para a vertente.

A João e a Sofia crêem que nesta altura é essencial acompanharem a F. na procura de uma oportunidade para levar a sua vida para a frente.

A Catarina, o Nuno, a Rosinha, a Inês S. e a Maria referiram, com toda a determinação, que a família que acompanham envolve 4 crianças, uma avó e uma mãe, o que só por isso conferia prioridade a este caso.

Foi interessante constatar que tanto a Sara a Inês, bem como, o Jorge e a Gabel, reconhecem que os seus casos aproximam-se do fim do acompanhamento, e como tal preferem não defender a permanência dos casos, mas sim reencaminhar os respectivos recursos para casos que mais precisem. A Cecilia e a Sofia, apesar de não terem estado presentes partilharam desta opinião relativamente ao seu caso.

A sorte é que foi apenas um exercício para pensarmos no papel do voluntário junto das pessoas que visita semanalmente, pelo que, desde que nos pareça a melhor opção, manteremos o acompanhamento a estas Famílias

Aproveito para deixar um muito obrigado a todos estes voluntários que muito mais do que exercícios em sede de reuniões de vertente, acompanham semanalmente aqueles que mais precisam, numa luta incansável para mostrar caminhos alternativos que ajudem a quebrar o ciclo vicioso de pobreza (nas suas diversas dimensões), no qual as famílias que acompanhamos estão inseridas.

Ana

Crónica dos imigrantes 23 Outubro 2011

Neste 23 de Outubro de 2011, primeiro dia com meteorologia de Outono, tivemos mais uma saída com os utentes de S Cirilo. Desta vez fomos visitar algumas das igrejas centrais do Porto.
Saímos cerca das 10h10, como usualmente pela rua de Cedofeita em direção à Pr. Carlos Alberto (nome que lhe foi dado em honra de Carlos Alberto rei de Piemonte e da Sardenha que faleceu no Porto, na Quinta da Macieirinha, onde está o atual Museu Romântico).
O grupo integrava pessoas de várias crenças religiosas que interagem com respeito pelas convicções de cada um sem excluir ninguém.
Fizemos um périplo pelas ruas centrais da cidade moderna, visitando algumas das igrejas mais representativas da nova centralidade da cidade. As igrejas são um repositório de arte impossível de ignorar e um centro de religiosidade popular impressionante.
Começamos pela Igreja dos Congregados, talvez a igreja que maior afluência de Cristãos da cidade, seguimos para Igreja de Stº Ildefonso, Capela dos Alfaiates ou Nª Srª de Agosto (assim chamada por ter pertencido à Confraria dos Alfaiate cuja santa padroeira é a Nª Srª da Assunção que tem as suas festividades no dia 15 de agosto), Igreja de Stª Clara (que integrava o Convento de Stª Clara) e a Catedral da Sé. Algumas das visitas ficaram "prejudicadas" por se estarem a realizar cerimónias religiosas (missas dominicais).
O retorno feito pela Estação S Bento onde nos cruzamos com Joel Cleto que andava a fazer um programa televisivo do Porto Canal sobre Jorge Colaço, autor de inúmeros painéis de azulejos que cobrem algumas Igrejas e outros monumentos do Porto.
Revisitamos a Igreja dos Congregados, onde na altura da primeira passagem decorriam cerimónias religiosas, e regressamos a S Cirilo.
Foi uma manhã bem passada, alegre em amena cavaqueira em que até a meteorologia ajudou, embora ameaçando chuva, o tempo manteve-se seco e uma temperatura bastante amena.
A chegada deu-se pelas 12h35, fica a impressão que todos ficaram satisfeitos com a saída e à espera do magusto que se realizará brevemente.
Manuel

segunda-feira, outubro 24, 2011

Crónica da ronda de Santa Catarina - 16/10/2011

Este domingo começou o Outono. A chuva e o vento exigiram protagonismo e os agasalhos mais resistentes foram resgatados dos armários. A mudança de estação arrasta uma mudança de disposição. Os sem-abrigo tornam-se mais vulneráveis e as suas necessidades expostas às intempéries. Não se trata apenas do frio e da fome, da necessidade de uma sopa quente e do um casaco seco, falamos de exigências mais profundas: a de calor humano. Relembro algo que a Ana diz na nossa viagem de regresso: "a importância do compromisso" e estabeleço uma ligação imediata com a homilia de Domingo: a exortação a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. O padre diz que é fácil amar a Deus, porque não se vê. O verdadeiro desafio está em amar aqueles que estão ao nosso lado. Aqueles com os quais convivemos todos os domingos e que nos chamam "amigos das rondas". É difícil amar o que está mais perto, porque mais complicado se torna mantermos a nossa individualidade preservada. É um risco e uma aventura. Uma corda bamba sem rede de segurança e sem treino de equilíbrio. Uma montanha russa na qual acredito que vale a pena embarcar. Porque existe um momento (ou vários) em que o tempo pára. Não se ouve nada e tudo grita. Os medos dissipam-se e paira-se num momento em suspenso. Só fica a plenitude. Suspiro em êxtase. Consigo dar o próximo passo?

Vanessa Pereira

sexta-feira, outubro 14, 2011

Formação em Voluntariado

Formação em voluntariado - dia 20 de Outubro, pelas 21h15 no CREU.

Obrigatória para novos voluntários.

Se não tiveste disponbilidade para estar na sessão de esclarecimento, mas tens interesse em conhecer o grupo, comparece na formação.

Se tiveres alguma dúvida envia por favor um e-mail para:

fasrondas@gmail.com

Até breve!

domingo, outubro 09, 2011

Crónica das Aldeias - 24.09.2011 (Crónica de um emigrante)

Prezados e mártires leitores:

Muito provavelmente estariam Vós à espera que começasse este mui pequeno excerto respeitante a algumas horas da minha vida com o facto de nos termos encontrado todos no ponto de encontro do costume e à hora do costume (a situação que qualquer mãe desejaria para um filho e apanágio de todas as crónicas presentes no nosso blog) antes de mais uma extasiante ida às aldeias, mas... não! Não irei copiar ninguém! E não copiarei, unicamente porque à hora do costume me apresentava a ressonar ferozmente e de boca aberta (por favor tentem imaginar o cenário antes de prosseguirem com a leitura). E foi esta feroz ressonadela que me fez, uma vez mais, chegar a tempo de chegar atrasado às aldeias... (ui!)
Não sendo eu exemplo para ninguém, lá apareci então uns segunditos mais tarde do que o habitual no sítio onde todos estavam a almoçar. Desta vez decidiram pausar num parque de merendas perto do Restaurante Silva (que toda a gente certamente conhecerá pelo extraordinário parque de estacionamento que possui). Quando escrevo todos, refiro-me obviamente ao grupo das aldeias que ali manjava com as mãos e de boca aberta e também a um grupo de magnatas que ali se encontrava com a sua cozinheira contratada a comer de faca de peixe, carne, pinça/alicate para marisco, etc... O único pormenor que achei curioso foi o facto de todos deixarem o protocolo de relações internacionais de lado para beberem pela sua: sempre cheia caneca de vinho tinto!
Posto isto ou findo que estava o almoço, decidiram que estava na hora de queimar as calorias até à altura adquiridas, uma vez que as meninas lá presentes preveram que o Verão estava para durar e queriam ver se até ao fim do mesmo conseguiam vestir um fato-de-banho tamanho L em vez do habitual XL. Sendo eu um apoiante da recuperação da boa forma física, acedi sem qualquer atrito. Mas o pior estava para vir... É que quando me informaram da decisão da queima de calorias, nunca pensaria eu que para mencionada queima teria de atravessar uma ponte de madeira inteira de um lado a outro (!!!) a pé e com um rio por baixo e depois ainda, atravessar a correr uma curva de uma estrada nacional onde não havia visibilidade. Bom; honestamente poderia tê-la atravessado a passo e a um ritmo normal, mas não me parece que o camião que passou a toda a velocidade logo a seguir a eu ter atravessado fosse gastar travões num animal racional tão inofensivo quanto eu e para mais só para me deixar atravessar! Até porque seria apenas mais um mosquito participante no genocídio animal existente no pára-brisas daquele camião.

Mas lá me safei...

Gastas então que estavam as calorias, fomos directamente ao objectivo secundário de toda esta nossa visita: a ingestão de café para os dependentes em cafeína e a deglutição de gelado para os que gastaram as calorias todas a atravessar pontes e curvas de estradas nacionais! Obviamente que aqui o kamikaze comeu o seu geladinho de modo a restablecer energias para o que se avizinhasse. Com este grupo, temos de estar preparados para tudo! Sou até da opinião de que em vez de fazermos castings ou acolhermos possíveis voluntários no CREU, deveríamos começar a fazer castings conjuntos com os realizadores dos filmes RAMBO ou INDIANA JONES...

VISITA ÀS ALDEIAS

Após o cenário de risco extremo e desumano a que fui exposto, eis que havia chegado o momento do nosso objectivo principal – visitar os experientes e vividos jovens (aka idosos). As saudades de quem é emigrante e de quem anseia saber novidades sobre pessoas tão especiais como as que visitamos estavam a vir ao de cima...
Começamos com a visita à casa da D.ª Emília e do Sr. Aurélio, que infelizmente e doravante ficará apenas a ser conhecida como a casa da D.ª Emília, devido ao falecimento do Sr. Aurélio. Alguns de nós já desconfiavam que isto poderia vir a acontecer dado ao débil estado de saúde em que o Sr. Aurélio se encontrava na última visita tida, mas honestamente e como não participei na última visita, a única situação de que poderia desconfiar na altura era se teria ou não de ser submetido a mais uma prova de fogo, como por exemplo: atravessar um cruzamento na Tailândia de gatas e com um sinal a dizer “Acertem-me, se conseguirem!”.
Mas brincadeiras à parte e voltando à perda que nos surpreendeu, o Sr. Aurélio deixará saudades pelas conversas que tínhamos e pela imagem que me deixou. Imagem essa de um homem com uma austeridade moderada, talvez fruto das partidas que a vida lhe pregou e de uma simpatia ímpar, talvez fruto das partidas que pregou à vida e que o ensinaram a ser assim: simpático, idealista e afável.

Um até sempre, Sr. Aurélio...

Após a notícia, que a todos nos tinha entristecido, era então altura de disfarçar; dar alguma atenção e mostrar boa disposição à D.ª Emília tinha sido colocado naquele momento como objectivo a atingir! E atingimos, até que começamos a falar e divagar tanto, que as minhas compinchas de visitas quando se aperceberam, estavam a falar somente entre elas e de lojas de roupa, viagens, etc... Aqui se pode ver a diferença entre alguém com poder de compra e sem poder de compra. Tal como escrevi anteriormente, enquanto as compinchas deambulavam entre conversas de roupas e marcas de roupa, eu observava a filha da D.ª Emília a coser sapatos mesmo à minha frente, sempre na expectativa de mais tarde poder coser os meus e assim poupar dinheiro. É a crise e a vida é uma selva, por isso safe-se quem puder! Infelizmente, terei é de me safar por outro lado pois receio não ter ficado a dominar muito bem a técnica da força e a força da técnica com que a filha cosia os sapatos...
Estarão neste momento os venerados leitores a indagar: E o que se passou depois? (Pelo menos indagam aqueles que não desistiram logo no início do texto quando eu pedi para me imaginarem a ressonar de boca aberta)
Bom; depois estava na altura de passarmos pela casa da D.ª Fernanda. Para quem não conhece, a D.ª Fernanda é mais difícil de encontrar do que o coronel Khadafi! Ou está na sua horta escondida entre as couves, tal e qual como um agente especial, ou está a passear pela aldeia, ou está a ler mais uma edição de “Onde está o Wally?”, ou então... ninguém sabe onde está. Mas pronto; desta vez e com a ajuda dos serviços secretos da aldeia, pudemos encontrar a D.ª Fernanda a tratar dos seus feijõezitos à entrada da sua horta.
Lá nos rimos um pouco e trocamos informações sobre as nossas vidas, enquanto apanhávamos um sol sentadinhos num muro de pedra fresquinho, altura em que de um momento para o outro; verificamos que a gestão de tempo que até à data tinha sido responsabilidade da Teresa se estava a desviar calamitosamente do programado. Geralmente quando me atribuem a gestão de tempo nas visitas às aldeias, costumo levar uma folha de Excel com os vários cenários possíveis e estou sempre a fazer iterações matemáticas de modo a que à hora combinada possamos comparecer no ponto de encontro ou não haver desvios, mas a Teresa... apenas olhava para o relógio! Enfim; é o que acontece quando delegamos a gestão de tempo a amadores...
Após muitos beijinhos de despedida à D.ª Fernanda, fui ouvinte de mais uma triste notícia: a D.ª Celeste foi vítima de um AVC não há muito tempo. Tentamos visitá-la até porque todos desejáva-mos revê-la, mas pelos vistos não se encontrava na sua habitação que também não há muito tempo foi pintada de fresco e aumentada de modo a que o casal (D.ª Celeste e marido) pudesse usufruir com qualidade dos restantes anos de vida. Enfim... Muito prezo eu agora para que a recuperação desta partida que a saúde lhe pregou seja tão rápida quanto a rapidez com que nos mostra um sorriso sempre que nos vê.

Rápida recuperação D.ª Celeste!

Foi só atravessar a rua e estávamos na casa da D.ª Maria. Desta vez atravessei confiante e de peito inchado, devido à ausência de perigosas curvaturas na estrada.
Subimos a pouco fatigável escadaria da casa e no cume, tal como qualquer outro tesouro perdido no fundo dos mares, lá estava o nosso... a D.ª Maria. D.ª Maria que para quem não conhece é uma verdadeira fashion victim. Desta vez optou por um tailleur a simular um pijama cor-de-rosa propício para a época e ocasião em questão. Esta nossa D.ª Maria é indubitavelmente uma musa inspiradora para qualquer produtor de moda. Pena é que as portagens e ex-SCUT sejam caras e os mesmos considerem também que não seja economicamente viável a visita a casa da D.ª Maria para poderem copiar ou inspirarem-se em próximas tendências.
Cumprimentados então que estávamos, tentei sentar-me o mais rápido possível, na convicção de que o meu corpo curvado não transmitisse a paupérrima indumentária que tinha escolhido para aquele dia (jeans que tinha usado na noite anterior para sair e que ainda cheiravam a tabaco devido ao ambiente salutar em que me encontrava + t-shirt). Não estava minimamente trajado a rigor para me apresentar em frente de tamanha montra de moda internacional! E pela primeira vez naquela tarde, creio ter obtido sucesso...
Seguidamente, passamos à conversa e à lavagem de roupa suja, com bastantes indicações gestuais da D.ª Maria até que chegou a Ana... Este momento da chegada da Ana foi marcante, pois na altura estávamos a degustar vagarosamente um pequeno cacho de uvas entre vários que uma vizinha tinha oferecido à D.ª Maria. Mas; e não é que a partir da Sua chegada, a Ana assumiu o monopolismo da comidela dos cachos de uvas? Prezados leitores: Permitam-me que Vos informe que este ser-vivo do sexo feminino nem teve mãos para agarrar tamanha quantidade de uva que lhe aparecia à frente. Júlio Isidro apresentou há uns anos atrás um programa onde tentava colocar o maior número de pessoas dentro de um Mini. Nas aldeias temos actualmente a Ana que tenta colocar o maior número de cachos de uvas nas mãos. Mas obviamente tive de interpelar pois achei que a nossa colega podia apanhar diabetes com tanta frutose/sacarose! (prometo que vou deixar de ver o Dr. Oz).
Estavam terminadas as visitas e era altura da Teresa olhar pela última vez para o relógio e anunciar as sábias e seguintes palavras: “Ups... Está na hora!”. E lá caminhamos para o ponto de encontro final...
No que sobejamente muitos esperavam que fosse um dos pontos altos do dia, até porque caminhar também cansa e a mala do carro estava carregada com alimentos calóricos e gordurosos que todos adoramos; verifica-se que o grupo num acto desmesurado e plenamente insconsciente, elege o Diogo para proferir algumas palavras sobre o dia que passamos e as visitas que tivemos. Ora; qualquer ser-vivo no seu pleno estado de saúde (a Ana podia obviamente ser exclusão devido à enorme quantidade de açúcar ingerido) nunca elegiria o Diogo para proferir seja o que fosse. Mas lá aguardamos para ver o que iria sair... E o que saiu, estimados leitores, foi algo tão aboninavelmente dúbio quanto os discursos do Presidente da República Popular da China em directo para a TVI e sem a tradução em rodapé! Muitos de nós pensaram em suicídio, pois atrás de nós tínhamos um monte com uma inclinação acentuada; outros pensaram em correr desenfreadamente com o objectivo de nem a Rosa Mota os conseguir apanhar e eu... ri-me. Ri-me, de felicidade por ali estar, por não ser exemplo para ninguém, e porque a Joana também se riu (sempre a queimar o pessoal!)

Não termino este excerto sem mencionar que temos um novo visitado que tive todo o prazer em conhecer: o Sr. Lima. Pelos vistos naquele dia também não estava em grande forma, mas deu para perceber que gosta da nossa companhia e que é uma pessoa extremamente simpática. Simpático e fofinho era também o Seu cão. Aliás, era tão fofinho, tão fofinho, tão fofinho que devia ser embalsamado e colocado numa caixa forte de modo a que ninguém o roubasse! A Teresa também ficou apaixonada pelo canídeo e até o queria trazer para casa, mas devido ao seu elevado porte e força mandibular, entendi que não era uma boa opção. De seguida, apresento uma fotografia de um familiar do animal anteriormente referido.


E são assim as visitas às nossas aldeias... Desde vindimar a viajar numa viatura motorizada onde só tocava uma música dos Coldplay repetidamente e durante a viagem toda, já quase passamos por tudo.
Mas são este tipo de convívios e o companheirismo inerente aos mesmos que nos acrescentam valor como indivíduos, pois como poderia muito bem citar o Eng.º Diogo Costa:

“...só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos.”


Do Vosso sempre:
Anton Romanovski (nome artístico para a escrita de crónicas)

Crónica dos imigrantes 25 de Setembro de 2011

Dia 25 de setembro de 2011. Domingo. Recomeçaram as visitas à cidade do Porto com os utentes de S Cirilo.
Desta vez o destino eram os Clérigos (Torre e Igreja) e a Feira dos Passarinhos (que se realiza todos os domingos, de manhã, no largo fronteiro à Cadeia da Relação, atual museu da fotografia).
Pouco passava das dez horas da manhã quando saímos de S Cirilo em direção ao jardim da Cordoaria. Os primeiros passos foram dados quase em silêncio, havia caras novas. Timidamente foram sendo trocadas as primeiras informações, é preciso ir com algum cuidado, o português não é a língua materna de todo o grupo e, por vezes, aparecem algumas dificuldades de comunicação que vão sendo ultrapassadas com o recurso a alguns elementos do grupo que, servindo de intérpretes de ocasião, desempenham um importante papel.
A primeira visita foi à Torre dos Clérigos, compradas as entradas, lá foi o grupo escalando os 225 degraus da torre. Tivemos uma desistência que por problemas nos joelhos, não conseguiu atingir o cimo desta. A vista é, de facto, impressionante, consegue-se ver uma considerável parte da baixa da Cidade, Câmara, Estação de S Bento, Pavilhão Rosa Mota, várias Igrejas (Sé, Congregados, Stº Ildefonso, Lapa, Carmo, Carmelitas e outras de que não me lembro de momento) e outros patrimónios construídos que fazem parte da história da cidade.
A esta visita, necessariamente curta, fruto da grande afluência de visitantes que se fazia sentir na altura, seguimos para a Feira dos Passarinhos. Deambulamos nos corredores da feira admirando a imensa variedade de animais de estimação que se encontravam à venda. Havia preços para todas as bolsas, desde pequenas aves ou hámsteres a 5 € até uma Arara que atingia a "módica" quantia de 950 €. Dada a diversidade de proveniências dos integrantes do grupo, ficou claro que um pássaro exótico é somente um pássaro que se encontra fora do seu lugar (habitat natural), para alguns as araras, papagaios e outros, são aves que existem nos seus lugares de origem aos milhares e como tal, de exótico pouco têm.
O retorno já foi bastante mais animado, já tinha havido algumas conversas cruzadas e a timidez inicial havia-se dissipado a interação foi mais fluida e natural, já todos estávamos muito mais à vontade e participativos.
Nunca se perde umas horas de domingo, ganhamos um mundo de experiência.

Manuel

Crónica dos imigrantes Julho de 2011

Para finalizar este ano, resolvemos aproveitar o verão ainda desordenado para fazermos um pic–nic nos Jardins do Palácio de Cristal.
Ficou combinado na nossa troca de mails com o que cada um contribuía, e lá fomos nós, só que desta vez a Sara foi de carro com todas coisa que se reuniram para o almoço.
Como de costume, há sempre caras novas, pessoas que chegaram a S Cirilo há pouco tempo, que estão numa vida transitória até à estabilidade, e aproveitam esta estadia para organizarem as suas vidas.
Gostei de conhecer a P e o seu filho, que aguardavam a passagem para regressarem a Cuba. O A., que também queria regressar ao Brasil. Foi muito fácil começar a conversar, falamos de muito enquanto caminhávamos até ao Palácio.
Depois o D. sempre com calma, porque não é preciso andar tão rápido, que se tem tempo. E ficámos a saber como está a sua saúde, se anda a fazer todos os tratamentos como deve ser. A língua ainda é uma barreira, mas prefere sempre que diga tudo em português, para ir aprendendo.
A N. foi-me contando que só pode visitar o seu filho duas vezes por semana e como ele não está no Porto, anda cerca de três horas para ir e outra três para vir, para estar com ele pouquinho tempo.
Falo aqui das pessoas com quem conversei. O Manuel e o David também iam entretidos a falar com as outras pessoas.
E chegamos, ajudamos a carregar tudo e a fome já dava alguns sinais. Partilhamos o que levamos e devo confessar que as sandes feitas pelo A., estavam magníficas.
Depois do almoço, fomos dar um passeio pelos jardins, aproveitar para conversarmos mais um pouco e partilhar as experiências de cada um. São mundos tão distintos, vidas tão diferentes.
Foi um domingo bem passado, diferente das saídas habituais, recheado de laços, recheado de outras vivências.


Valentina

quinta-feira, outubro 06, 2011

O FASRondas precisa das tuas mãos! Queres ajudar?

Neste momento estamos a precisar de pessoas que tenham vontade de ajudar, dar um pouco de si e cuidar do outro. Todos juntos poderemos fazer mais e melhor e contribuir para uma cidade mais solidária e fraterna.

o FASRondas actua em cinco vertentes de acção social: Famílias, Aldeias, Sem-Abrigo, Imigrantes e Séniores.

Se te identificas com esta missão junta-te ao nosso grupo!

Vem conhecer-nos na sessão de apresentação que se realizará no dia 12 de Outubro, pelas 21h15 no CREU (Rua Oliveira Monteiro, 562 Porto).

terça-feira, outubro 04, 2011

Crónica da ronda da Boavista – 25.09.2011

No inicio de mais uma ano é sempre bom pensarmos no que andamos a fazer e porque o fazemos. E, para mim, fazer voluntariado é olhar à nossa volta e abraçar quem está ao nosso lado, quem se cruza connosco. Este abraço pode ter várias formas e feitios… o importante é olhar e estar efectivamente com os nossos amigos da noite… E ao chegar a casa, depois de cada domingo e de cada ronda, pensar valeu a pena o tempo que foi ganho com os sorrisos que encontramos em cada pessoa que visitamos.
Já lá vão 3 nos que entrei para o FASrondas… Muita coisa mudou na ronda da Boavista, mas também muito permaneceu… e uma das coisas que permaneceu é a vontade de fazer sempre mais e melhor. Que bom!!

Manuela Seixas

Crónica da ronda da Areosa - 18.09.2011

Arranca mais um ano... por um lado, parece que tudo muda: voltamos de férias, revemos as pessoas, conhecemos novas pessoas... mas na rua tudo continua igual! As "nossas pessoas" esperam-nos todos os Domingos, no mesmo sítio e à mesma hora, para a conversa do costume. E todas as semanas sabe tão bem poder saber mais um bocadinho da semana de cada um ou mesmo perceber que aos poucos confiam em nós!
É isto que me motiva a continuar... enquanto formos necessários, estaremos lá para as pessoas, mesmo sabendo que podem não nos dizer nada... porque muitas delas gostam tanto de nós como nós delas! No final, o aperto de mão termina a conversa e dá-nos a certeza de que no próximo Domingo estaremos todos juntos!

Maria Freitas

Crónica da ronda de Santa Catarina – 11.09.2011

Poucas coisas na vida são lineares. Tudo é mais complexo do que à primeira vista achamos.
Quando se trata então de percursos de vida, muito mais complexo é.
Podemos pensar, por desconhecer, que há um motivo que despoleta um problema e que se torna a causa de, por exemplo, um abandono.
Nunca é assim linear. Se fosse talvez fosse mais fácil resolver os problemas das pessoas.
Mas andamos nisto para resolver "os problemas das pessoas"? O que é resolver?
É arranjar um quarto, tirá-las da rua?
Podia ser. Eu achava que era.
Por ingenuidade, eventualmente.
Imaginando que um sem-abrigo sai da rua e vai para, seja, um quarto, atingimos - atingiu ele - o quê?
Na manhã do primeiro dia em que acorda na cama vai fazer o quê? E na segunda, terceira e quarta manhãs? E tardes?
E se essas pessoas tiverem um passado - que quase se funde com o presente - que envolve dependências, o que farão elas nesses dias vazios?
Lembremo-nos daquele já famoso dizer chinês sobre dar peixes e ensinar a pescar.
Ainda há muito a fazer.

Hugo Ribeiro