Mais um domingo acontece. Um dia diferente porque é passado com os imigrantes que estão retidos na UHSA.
Apesar de não termos tido férias, o presente domingo parecia o “regresso” da equipa, na medida em que pudemos contar com 9 dos elementos do grupo. Nomeadamente a Ana Aguiar, Ana Sampaio, Ana Deiros, Ana Pinho, Diogo, Salomé, Nuno, Miguel e eu, a Sónia.
Quanto aos imigrantes, apesar de poucos, contamos desta vez com uma grande diversidade em termos culturais, visto que era cada um de seu país. Um chinês, um italiano a residir em Espanha, um ucraniano, um angolano e por último, já nosso conhecido da última visita, um marroquino. Este último não muito participativo, devido ao facto de ser muçulmano e estar a cumprir o “Jejum Espiritual” – o Ramadão.
Notamos que estavam presentes mais pessoas, no entanto estas descansavam no quarto.
No inicio, à nossa chegada, somos nós próprios os imigrantes. Os estranhos que invadem um espaço onde quem lá está, geralmente joga de uma forma pacifica, num dialogo surdo, cartas ou xadrez e não raramente assiste à televisão.
É pela motivação de lhes proporcionar um momento agradável que avançamos. Sempre com o cuidado de tentar que as actividades eleitas sejam abrangentes em termos culturais, mas neutras em termos de convicções e valores. Isto porque a sociedade já é suficientemente agressiva a este nível. Não obstante o facto de que para tentar colmatar essa agressividade, esforçamo-nos por estar o mais disponível possível para receber o que eles têm para nos dar. E num limite posso mesmo dizer que recebemos muito mais do que aquilo que damos.
Como sabemos bem, as diferenças no mundo originam deslocações de pessoas de uns lugares para outros, em função das oportunidades que se lhes mostram mais ajustadas para melhorarem a sua vida. Neste plano não existe qualquer lei que impeça seja quem for de imigrar. O povo português sabe que esta é uma questão incontornável, pois apesar das muitas leis que os proibiam de emigrar, nenhuma delas foi capaz de os impedir de tomar tal decisão. Esta é a ideia que tentamos passar numa das actividades que desde o primeiro dia esteve presente – a da rede (novelo de lã).
Esta actividade consiste em fazer desenrolar um novelo de lá, que vai sendo atirado de uns para os outros, que em simultâneo vão dizendo o seu nome, idade e naturalidade. Como a ordem é aleatória, o resultado final é uma rede. E a mensagem que passamos é precisamente a de que “apesar de sermos todos de sítios diferentes, estamos naquele dia ali todos juntos, ligados pela rede”.
Neste domingo decidimos que cada um podia expressar o seu desejo ou o seu sonho depois da leitura de um poema aquando ainda da rede formada. O ideal colectivo que ali emergia era sem dúvida o da liberdade. Liberdade esta, que se traduzia no sonho de viver numa sociedade multicultural, assente na igualdade de direitos e respeito pela diferença de todos os seres humanos, independente da sua nacionalidade, etnia, crença, condição social, etc…
Os resultados desta actividade levam-me assim a pensar que a imigração não pode ser dissociada da garantia dos direitos humanos universais.
Penso que para eles será mais um dia que têm de permanecer lá… para nós uma tarde a cumprir o nosso dever. E é neste ciclo de solidariedade e troca de experiências que nos vamos cruzando com o Mundo…
Sónia Ferreira
2 comentários:
SÓNIA:
muitos parabéns! acho que foi isto mesmo!
gostei muito.
beijos,
é sempre com prazer e, com alguma emoção que leio estas crónicas!
beijinhos.
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